Confissões metapolíticas IV

Dentro da pátria, em pleno exílio, vou cultivando a revolta. Faço parte daqueles grupos que sofrem uma conspiração de silêncio, só porque não gostam de beber água nas fontes das intelectualices que estão na moda. Os outros têm toda uma plateia de patetas, formada principalmente pelos professores dos ensino preparatório e secundário que vão, entre si, fecundando frustrações e desfazendo a cabecinha dos nossos filhos. Estes cultores da opinião dominante, estes carneirinhos intelectualóides que se vão masturbando em grupo. Sou mesmo do contra, mesmo do contra.  Não há revolução cultural possível quando o pretenso contrapoder não passa do mais extremado dos situacionismo. Filhos do iluminismo pombalista, adoradores de um catedratismo saneador, bajuladores de um positivismo serôdio, todas estas teias de aranha não conseguem ensinar ninguém a pensar.  O país dos intelectuais é uma balança sem fiel, onde todos os pesos pendem para o lado canhoto e quer transformar o que resta do Portugal que pensa numa simples colónia cultural da estupidez de uma sub-Europa de exportação para as bolsas terceiro-mundistas das respectivas periferias.  O jornalismo de ideias vigente constitui hoje uma das primeiras cabeças do chamado quarto poder, procura constituir uma nova espécie de catedratismo, desse que outrora foi representado pelas universidades. É a chamada cultura empresarial, medida pelos padrões da compra, esse parecer a que falta o ser e que acaba por ser medido pelo ter. Ele representa o que de mais vácuo há nessa ponte do tédio que vai do poder para a cultura. Representa entre nós de forma suave e gaguejante o que de pior têm os Maxwell, os Murdoch e os Berlusconi, esses que vendendo pornografia e análises de política internacional, conseguem marcar o ritmo dos que pensam pensar. Surge assim um pensamento em Portugal que nada tem de português, constituindo a principal via da nossa nova forma de colonização cultural.  Ele constitui, de facto, um dos principais factores de poluição do nosso ambiente.

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