Pouco antes de a neve chegar, houve um breve relampejar que nos iluminou de medos…

Sim! A neve caiu na cidade. Foi breve, mas vista, sentida e revista. Apenas não chegou inteira ao chão. E depressa se volveu em pedaço de água. A miudagem ainda tentou deter a queda e abriu a mão, mas não conseguiu pegar no que todos viam, enquanto a gente graúda tentava retratar a circunstância, mas nada deve ter ficado. Foi breve e deixou saudade, enquanto o tempo todo se abriu em abrigo, diante do sol e do sonho. Pouco antes de a neve chegar, houve um breve relampejar que nos iluminou de medos.

 

Enquanto isto, cerca de mil “sem abrigo”, os que não querem institucionalizar-se nos registos dos albergues oficiais, tiveram esta noite direito a ir para três estações do metro. Houve, naturalmente, direito a reportagem televisiva para a caridadezinha oficial, com a esmerada presença do presidente da autarquia e da empresa estadual transportadora. Ficámos todos a saber que foi no dia 2 de Fevereiro de 1954 que caíram os anteriores flocos de neve na capital, os quais até pintaram de branco o parque Eduardo VII.

 

E pensando em Munster (30 de Janeiro de 1648), no fim da Guerra dos Trinta Anos e nos meses negociais que precederam a “westphalische Friede” (24 de Outubro de 1648), olho Angela Merkl, lá para Jerusalém, depois de se encontrar com Chirac, e reparo como ela fala em nome da UE, contra o Hamas, enquanto noto que, num hotel de Coimbra, começaram as negociações de “croissant” para a nossa paz central e bloqueira, sustentadora de um neocorporativismo oligárquico e do consequente feudalismo permanecente, onde o cavaquismo que nos vai presidencializar será simples alteza de uma federação de altos potentados políticos, económicos, financeiros, comunicacionais, intelectuais e editoriais que, por vezes, cabem todos na mesa de um pequeno-almoço de hotel em pacato fim de semana.

 

E reparo também como o desespero palestiniano, que já disparou em Munique, no ano de 1972, deixou de ser pró-moscovita e pró-Internacional Socialista, à Yasser Arafat, depois de ter explodido em corrupção, gerindo fundos da UE. Na altura de Munique, talvez o actual presidente da comissão europeia fosse maoísta, talvez ainda não existisse este nosso doce pensamento único do Bloco Central Mental, onde vamos vivendo a nossa felicidade, talvez o patego lusitano não olhasse para um pretenso balão, sem perceber que o molha-tolos eram pedaços de algodão nevoso que derretiam antes de chegarem ao chão. Prefiro continuar a olhar o país através de um sumo de toranja, com um “croissant” quentinho a dar-me ânimo.

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