Mar 25

Do meu quintal em Lisboa…

Manhã de sábado, estremunhado, entre as novas que nos prometem a possibilidade de a ETA poder suspender o último foco terrorista da nossa península e a prisão de polícias e chefes de polícia que eram ladrões, para que o senhor Estado possa assemelhar-se a uma pessoa de bem, até para que o combate ao terrorismo deixe de ser feito pelo terrorismo de Estado e o combate aos ladrões por um Estado Ladrão, conforme tem sido praticado pela santa aliança de neo-maquiavélicos, ditos realistas, e corruptos, ditos democratas, quando não passam de simples devoristas, a quem os donos da comunicação social chamam, para fazerem discursos contra a corrupção.

Noto, nas efemérides, que, neste dia, tanto foram lançadas as bases do nosso Partido Republicano, em 1876, mais de um ano depois de o Partido Socialista ter sido fundado, como em 1957 foi assinado o Tratado de Roma, fundador da CEE e da CEEA que, juntando-se à CECA, constituirão as três comunidades que serviram de fundamento à actual UE. Reparo no presente, passado e futuro estado de coisas do projecto europeu, neste OPNI (objecto político não identificado) que é federação às segundas, quartas e sextas, clamando pela integração, e confederação, às terças e quintas, clamando pela cooperação, para que, ao fim de semana seja atlantista ao sábado e vaticanista no dia do senhor. Considero, contudo, que esta péssima Europa é bem menos péssima do que a não-Europa. E reparo que os jornais portugueses tratam da cimeira de Bruxelas como assunto que faz parte da secção de política internacional.

O meu quintal em Lisboa está ao mesmo tempo em Lisboa, em Portugal e na Europa. O bom regionalismo é amá-lo por ele estar na Europa. Mas quando chego a este regionalismo, sou já português, e já não penso no meu quintal (Fernando Pessoa)