Entre Jacinto Leite Capelo Rego e A. Bramão & H. Raki

Domingo de quase Verão, com carantona de invernia. São poucos os pedaços de azul que vislumbro, mas lá vou procurando, por entre as penumbras cinzentonas deste ambiente de ópera bufa. Reparo que o António Balbino Caldeira corre o risco de tornar-se o numa espécie de simbólico arguido do regime, e logo respondi ao desafio: Meu caro António Balbino Caldeira. Fui sua testemunha, em nome da verdade, na primeira vez em que, através de si, a blogosfera se sentou num banco dos réus. Não o tenho acompanhado nalgum argumentário e no modo como tem defendido algumas causas. Até tenho alinhado em causas que são contra as suas causas. Por isso mesmo, estou profundamente consigo, para poder estar sempre com a liberdade. Vamos todos pedir, viver e praticar justiça! Na próxima barricada, com muitas saudades de futuro.

 

José Adelino Maltez | 16.06.07 – 11:53 am

 

 

 

Temo que o nosso ministério público, perdido em tantas notas pé de página, não consulte o essencial do texto, talvez por não ter suficiente formação em hermenêutica bíblica. Seria interessante que interrogasse D. António Marcelino por causa do artigo que o mesmo publicou no jornal Correio do Vouga, face à denunciada cabala de conspiração contra o regime. Seria curioso que contratasse o Professor Paulo Morais para perito em matérias de pato-bravice. Ou que fizesse uma acareação entre o Professor Marcelo Rebelo de Sousa e o Professor Saldanha Sanches, para que dessem conteúdo probatório a todos os conceitos que utilizam, ao abusarem do epistemológico método indutivo dos casos práticos, oriundos da velha técnica da imaginação criadora dos académicos exemplos.

Aliás, para exemplificarmos o que é um grupo de pressão, nada melhor do que recorrermos às inconfidências de um representante da Associação Comercial do Porto, sobre as recentes movimentações aeroportuárias nos corredores de Belém e de São Bento. Ou notarmos a aflição com que se debate um qualquer recém-chegado conselheiro de uma qualquer grande embaixada, especialista em informações estratégicas, quando tem que mandar, para a respectiva capital, um telegrama a explicar quem é o militante do CDS Jacinto Leite Capelo Rego, que não é especialista em crítica cinematográfica. O recém-chegado conselheiro, que ontem almoçou com o presidente do conselho de administração da firma A. Bramão & H. Raki, apesar de ter tirado um curso de português por correspondência, ainda não compreendeu que somos uma esquizofrénica herança de teorias da conspiração e anedotas porcas, fórmulas que sempre usámos para aliviarmos a pressão dos autoritarismos e micro-autoritarismos que sempre nos esmagaram.

Agora já não podemos usar desse vernáculo nos corredores das repartições públicas, temos que o utilizar no âmbito do direito à manifestação quando o primeiro-ministro faz visitas de fim de semana inaugurativas, a uma qualquer cidade de província, onde tudo como dantes já não dispõe de quartel-general. Mas se acabar por vingar o conceito de poder da directora Margarida Moreira, seremos sucessivamente afogados por mais margaridices e mais providências cautelares, com mais delegados do ministério público a lerem mais memórias de carolinas salgados e mais artigos em jornais regionais de mais bispos resignatários, com mais peças de investigação jornalística sobre a maçonarias, os opus dei e os copus night, escritos por ex-maçons e ex-frades, que se dizem professores universitários, para que a energia criativa de mais paulos portas sejam portizados pelos feitiços que o mesmo semeou e que agora se voltam contra o feiticeiro, por causa de um qualquer jacinto leite capelo rego, enquanto zé ribeiro e castro, de forma pouco cristã, esfrega as mãos de pilatos em odemira sobre o reno.

 

No intervalo, a democracia continuará a ser parodiada, com doze candidatos a presidentes da câmara alfacinha, enquanto Joe Berardo se vai transformando num excelente candidato a presidente da república, em nome de um programa de capitalismo popular para self made men. Há pelo menos seis milhões de benfiquistas que já ficaram convertidos, apesar de não terem visitado a exposição patente na Assembleia da República…

É neste ambiente épico que a pátria lusitana se prepara para assumir a presidência daquela União Europeia, onde a Polónia, donde veio João Paulo II, passou a ser gerida pelos gémeos que não seguem os sábios conselhos de Angela Merkel para a elaboração do minimalista tratado com que Sarkosy se poderia entender com Blair, apesar de Mário Soares não gostar destes dois últimos e nada dizer sobre os gémeos. O futuro da Senhora Europa continua a ser debatido por jovens octogenários e nonagenários, como se estivesse a discutir um testamento ou um regime de inventário…

O recém-chegado conselheiro da tal embaixada, que ainda anda às voltas com a teoria de luta contra o terrorismo, emitida por Almeida Santos, por causa da ponte Vasco da Gama, acabou de transcrever a sessão de homenagem a Pinto da Costa que teve lugar na câmara municipal de Soure, mas não sabe o que quer dizer o símbolo dos dragões. Aconselho-o a visitar a blogosfera lusitana, ou a pedir um relatório sobre a dita, de preferência à Direcção-Regional de Educação do Norte, dado que os gabinetes de imprensa dos actuais membros do governo ainda não dispõem dos necessários consultores blogosféricos, como os manhosos difusores do segredo de justiça, formados nos bares de crimino-lojistas, anexos á Gomes Freire. Les portugais sont toujours gais…

Se a autonomia da nossa sociedade civil e as consequentes relações desta com o nosso querido poder político têm a dimensão daquilo que Rui Moreira vai contar hoje no “Diga Lá, Excelência!”, como posso eu confiar nos gestores do dinheiro dos meus impostos? Não há democracia possível se o Estado for este lui. Por mim, apenas gostaria que um qualquer parlamento pudesse promover uma qualquer comissão de inquérito a estas movimentações, cumprindo as tais regras mínimas de qualquer comunidade política, onde os valores da cidadania são superiores à disciplina partidária e aos cálculos oportunísticos dos que esperam um convite do chefe para serem renomeados como deputados. O Otagate e o Alcochetegate cheiram mesmo a uma water que parece choca e a gates, onde cada um de nós pode dizer que não é o um nem é o outro, mas mero pilar da ponte do tédio que vai de nós para a risada com que nos tratará o futuro.

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