Jan 04

Do regresso da guerra e da fome, ao santuário das baleias, em nome do sonho que falta

Noto que ano novo, mas vida velha, porque voltam os velhos cavaleiros do Apocalipse. Não por causa da crise de gripe, mas pela Guerra e pela Fome, mesmo que, por agora, se chame pobreza, sem abrigo e desemprego. Primeiro, a guerra, uma guerra que os judeus dizem total, um pouco à maneira do fantasma hitleriano, que pensava a total como mais curta. Uma guerra dos diabos identitários numa terra triplamente santa para judeus, cristãos e muçulmanos, onde o argumento mobilizador tanto é um bom árabe ser um árabe morto, como vice-versa. Curiosamente, as bombas vão destruindo grande parte da ajuda europeia à Palestina, saída dos nossos bolsos, do mesmo bolo que pretende servir para a sustentação do chamado Estado de Bem Estar. O mal-estar do dito cujo, aqui e agora, são dois milhões de pobres, como revela Isabel Jonet. Os mesmos de há quinze anos, apesar de tantos governos de esquerda, socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos. Com efeito, a Europa de Delors, que este definia como dois terços de remediados da classe média com um terço de excluídos, com desemprego, subsídio de desemprego, reformas, aposentações e caridadezinha contra a exclusão, aqui, em Portugal, caminha para a sul-americanização, numa espécie de jangada de pedra ao contrário. Daí o crescendo do indiferentismo e da não-cidadania, face a ricos que são cada vez menos, mas cada vez mais ricos, pedindo nacionalização dos prejuízos, enquanto nos vamos divertindo como circo da futebol-ítica e o pão ainda não sobe de preço. O sistema é uma grande panela de água a ferver, cujas válvulas de escape parecem ficar entupidas pelo lixo do indiferentismo e da corrupção. O sistema tende a asfixiar o regime e o povo pode colocar-se contra a partidocracia que, para si mesma, reclama o monopólio da democracia. Aliás, os comentadores instalados, apesar de anti-socráticos, apenas servem a águia bicéfala do situacionismo, a que chamamos coabitação de maiorias e falta de cooperação estratégica. Contudo, nenhuma das cabeças de tal águia denuncia a usurpação das forças vivas e da casta banco-burocrática, onde não é importante ser ministro ou partidocrata, mas tê-lo sido. Poucos reparam que, apesar de não haver descamisados, com o perigo real do chamado populismo, pode ser que os jovens desempregados e os velhos sem abrigo continuem a promover uma silenciosa conspiração de avós e netos. Não parece que o apelo ao instinto do estatismo centralista, hoje contra as regiões autónomas, amanhã contra as restantes autarquias, seja mobilizador. Apenas disfarça o essencial e revela como os supremos mandadores são herdeiros do Marquês de Pombal, de Afonso Costa e de Salazar . Espero que não seja pecado alguém poder ser regionalista e federalista a nível interno, assumindo-se frontalmente contra o capitaleirismo, a pior das chantagens que estão a fazer contra a democracia. Deixei uma última palavra de esperança para o futuro, em nome da mãe-terra, dessa mátria que descobriu em Timor um santuário de baleias e golfinhos. Infelizmente, em Portugal, terra de enjoados, dominada por um défice de sonhadores activos, poucos compreendem que só haverá boa política quando voltar o sonho, a criatividade e a imaginação.

Jan 04

Do regresso da guerra e da fome, ao santuário das baleias, em nome do sonho que falta

Noto que ano novo, mas vida velha, porque voltam os velhos cavaleiros do Apocalipse. Não por causa da crise de gripe, mas pela Guerra e pela Fome, mesmo que, por agora, se chame pobreza, sem abrigo e desemprego. Primeiro, a guerra, uma guerra que os judeus dizem total, um pouco à maneira do fantasma hitleriano, que pensava a total como mais curta. Uma guerra dos diabos identitários numa terra triplamente santa para judeus, cristãos e muçulmanos, onde o argumento mobilizador tanto é um bom árabe ser um árabe morto, como vice-versa. Curiosamente, as bombas vão destruindo grande parte da ajuda europeia à Palestina, saída dos nossos bolsos, do mesmo bolo que pretende servir para a sustentação do chamado Estado de Bem Estar. O mal-estar do dito cujo, aqui e agora, são dois milhões de pobres, como revela Isabel Jonet. Os mesmos de há quinze anos, apesar de tantos governos de esquerda, socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos. Com efeito, a Europa de Delors, que este definia como dois terços de remediados da classe média com um terço de excluídos, com desemprego, subsídio de desemprego, reformas, aposentações e caridadezinha contra a exclusão, aqui, em Portugal, caminha para a sul-americanização, numa espécie de jangada de pedra ao contrário. Daí o crescendo do indiferentismo e da não-cidadania, face a ricos que são cada vez menos, mas cada vez mais ricos, pedindo nacionalização dos prejuízos, enquanto nos vamos divertindo como circo da futebol-ítica e o pão ainda não sobe de preço. O sistema é uma grande panela de água a ferver, cujas válvulas de escape parecem ficar entupidas pelo lixo do indiferentismo e da corrupção. O sistema tende a asfixiar o regime e o povo pode colocar-se contra a partidocracia que, para si mesma, reclama o monopólio da democracia. Aliás, os comentadores instalados, apesar de anti-socráticos, apenas servem a águia bicéfala do situacionismo, a que chamamos coabitação de maiorias e falta de cooperação estratégica. Contudo, nenhuma das cabeças de tal águia denuncia a usurpação das forças vivas e da casta banco-burocrática, onde não é importante ser ministro ou partidocrata, mas tê-lo sido. Poucos reparam que, apesar de não haver descamisados, com o perigo real do chamado populismo, pode ser que os jovens desempregados e os velhos sem abrigo continuem a promover uma silenciosa conspiração de avós e netos. Não parece que o apelo ao instinto do estatismo centralista, hoje contra as regiões autónomas, amanhã contra as restantes autarquias, seja mobilizador. Apenas disfarça o essencial e revela como os supremos mandadores são herdeiros do Marquês de Pombal, de Afonso Costa e de Salazar . Espero que não seja pecado alguém poder ser regionalista e federalista a nível interno, assumindo-se frontalmente contra o capitaleirismo, a pior das chantagens que estão a fazer contra a democracia. Deixei uma última palavra de esperança para o futuro, em nome da mãe-terra, dessa mátria que descobriu em Timor um santuário de baleias e golfinhos. Infelizmente, em Portugal, terra de enjoados, dominada por um défice de sonhadores activos, poucos compreendem que só haverá boa política quando voltar o sonho, a criatividade e a imaginação.