Jun 25

As energias pouco renovadas, a PT, o BCP, Moniz e as eleições do Benfica. O tempo mudou e ela já voltou

Os dois principais líderes do sistema partidocrático vigente, ontem, quase monopolizaram o espaço mediático. Usaram e abusaram da palavra e conformaram silenciosamente as opções que irão ser depositadas na urna em Setembo/Outubro. E todos os que os viram e ouviram ficaram assim plenos daquela hiperinformação que tanto pode gerar a confiança no situacionismo, como uma alternância dentro da mesma betesga.

 

 

Ouvi e vi Sócrates no parlamento e, de tanto o presenciar, fui conseguindo perceber, pelo estilo, os argumentos da respectiva promoção e venda do presente produto governamental. “Oh! Senhor Deputado, como eu o percebo… Pois, não querem ouvir, mas o senhor não pode falar porque foi secretário de Estado do governo anterior ao meu… O Estado não se mete em negócios privados da PT”, mesmo que esta tenha uma “golden share” do Estado! Todos perceberam que o primeiro-ministro tem uma particular vingança a fazer com a linha editorial da TVI, não controla fundações-fantasmas e é capaz de decidir por ministros, como o da agricultura, colocando-o em imediata contradição.

 

 

Passei, depois, para a entrevista de Manuela Ferreira Leite à SIC. E o único comentário que posso imediatamente esboçar tem a ver com o não desgaste da sua imagem, porque tive que ouvir, palavra a palavra, e fiquei surpreendido com a garra que ainda demonstra. Sem ainda me ter convencido, compreendi que se trata de uma respeitável senhora que foi agravada na sua honra de ministra das finanças do primeiro governo PSD pós-Guterres. Preocupou-me a descrição que fez do Portugal económico, totalmente enredado no endividamento e julgo que foi esmagadora na credibilidade que, ontem, reganhou junto dos operadores económicos que ainda acreditam nas actuais circunstâncias. Porque, com este discurso, um confronto directo com Sócrates levaria a KO técnico do secretário-geral do PS.

 

 

As sucessivas notícias sobre casos como o Freeport, o BPP e o BCP, o modo como vai decorrer o inquérito sobre o BCP, as notícias vindas da Procuradoria-Geral da República e os muitos outros casos de polícia poderão tornar esta época estival uma sucessão de parangonas, confirmando um “out of control” que marcam a presente encruzilhada estratégica. Claro que a PT não deve ter contactado formalmente com o Governo, mas ninguém desmentiu os contactos dos decisores da mesma empresa com pessoas, directa ou indirectamente, ligadas ao governo e ao Partido Socialista. Nem o novo porta-voz do PS, com o seu estilo beto, ao repetir o mote do negócio entre privados, nos descansou. Muito menos, a comunicação de Henrique Granadeiro, da PT, repetindo que essa entidade estadualizada em forma de empresa privada “não falou com o Estado”.

 

 

 

Por outras palavras, ninguém desmentiu que uma qualquer pessoa privada da PT terá falado com um qualquer actor, ou intermediador, do socratismo, por causa da linha editorial da TVI. Coisa que, aliás, não poderia naturalmente ser revelada, porque, a ocorrer, se desenrolou naturalmente na face invisível da política. Logo, Sócrates, no recente congresso do PS, nunca deveria ter tido como “leit motiv” o ataque ao telejornal de sexta-feira da TVI. E, muito menos, ter invocado o “povo é quem mais ordena”, quanto a matéria, como a da Freeport, que continua sob a alçada do Ministério Público e das polícias.

 

 

Manuela Ferreira Leite, assentando a sua argumentação na postura analítica do Presidente da República e no demolidor diagnóstico dos 28 economistas, conseguiu insinuar que Sócrates está ao lado de certas grandes empresas, contra as pequenas e médias empresas que representam cerca de noventa por cento da produção portuguesa. Resta colocar-se agora ao lado das instituições de solidariedade social e de todos os sectores sociais que foram perseguidos pelo actual governo, como os funcionários públicos, os professores, os médicos, os magistrados ou os polícias. Com a oposição laranja a tentar federar todos estes “clusters” e com a oposição de esquerda a assumir-se como voz tribunícia de outros marginalizados, não esquecendo o próprio modelo de navegação do CDS, Sócrates corre o risco de semear palavras, gastas pelo uso e prostituídas pelo abuso, em pleno deserto de ideias, com muitas fundações privadas em sítios públicos de muitos milhões de todos que se gerem fora do controlo público.

 

 

Infelizmente já nem Vitalino lhe pode valer, com muitas palavras que nunca disseram nada, mas que tinham a sublime arte de embalar. O jovem Tiago ainda pensa que pode dizer alguma coisa e até conseguiu dizer que, contra Moniz e Manuela Moura Guedes, valia mais a aposta do governo nas energias renováveis. Essa síntese dos ministeriais Costa, o António e o Alberto, talvez por exagero de papa Maizena com Linux, não é Paulo Rangel, apesar de também ser secretário de Estado da área da justiça. Resta saber como conseguirá Manuela Ferreira Leite livrar-se do “lixo tóxico” de uma história partidária que vai mostrando as garras discursivas e pode ser destronada por uma eventual campanha negra que os amigos do PS podem lançar em desespero de causa. O tempo mudou, ela já voltou, acabou, por hoje, o sol a mais e o azul intenso de um horizonte liberto pela esperança cósmica.

Jun 25

Governança sem governo

Os “jamais” de Mário Lino não são causa, mas mero sintoma deste interregno. Porque o estado a que chegámos, pequeno demais para os grandes problemas do nosso tempo e grande demais para para os pequenos problemas do homem comum, tem muita banha, pouca flexibilidade muscular, ossos descalcificados e nervos esfrangalhados, dado que se multiplicou em muitos monstrozinhos, como os do “outsourcing”, da avença, da parecerística e da consultadoria, de acordo com o ritmo daqueles que gostam de nacionalizar os prejuízos e privatizar os lucros… Os recentes adiamentos das obras pouco mestras, que serviram de literatura de justificação para um governo que confunde o crescimento do aparelho de administrativo com o bem comum, servem apenas para ocultar que a maior parte dos factores de poder já não são domésticos e que o principado que asfixia a república é, talvez, o menos eficaz de muitos variados intervencionismos que actuam neste território já sem fronteiras. Assim se confirma que há uma espécie de governança sem governo, bem como um piloto automático cujo “software” é fornecido por forças vivas que temem as decisões do povão e já concluíram que entrámos numa era de risco, não comandável pelo tradicional Bloco Central de interesses, como o demonstrou o silêncio da maioria absoluta do eleitorado, que não quis confundir a democracia com a sondajocracia. Já não manda quem o podia e pode desobedecer quem o merece.