Fev 25

Não há política sem metapolítica

Eu que, há poucos meses, peregrinei, com a Ana, pela ilha do Corvo, sentindo, num pequeno barco de borracha, o declive do mar, a partir das Flores, sei que os problemas financeiros apenas se resolvem com medidas financeiras, mas não apenas com medidas financeiras. A pátria, enquanto o principal mobilizador do bem comum, não é captável pelas agências de “rating” e constitui a principal mais valia porque é comunidade de coisas que se amam, coisa que nenhum despacho do despotismo ministerial pode decretar. E a maneira dos madeirenses e açorianos acederem à república maior das liberdades nacionais exige compreensão pela aventura atlântica de resistência insular. A pátria não se mede pelas coisas fungíveis e não se explica apenas por orçamentos e balanços. Um povo é uma comunidade de significações partilhadas e os homens comuns sentem que o valor mais alto é esta solidariedade sentida depois de uma tragédia que baralhou todas as lógicas merceeiras que nos amarfanhavam…

 


Julgo que as boas intenções dos que pretendiam transformar as finanças das regiões autónomas num exemplo de tratamento de choque revelaram a tacanhez infernal dos que não compreendem que as pátrias e, dentro delas, as regiões autónomas que não se fizeram por decreto do estadão ou por despachos mercantilistas de ministros, mas pela vontade dos povos. As pátrias, enquanto repúblicas maiores, são sempre um laço de amor, desde a terra, donde olhamos o mais além, aos próprios mortos que a transformam em memória e saudades de futuro. E ai da política se não resistir na procura do que vai além da física do poder. Não há salvação financeira sem patriotismo e não há patriotismo sem saudável regionalismo! Agradeço aos amigos da blogosfera, nossa casa comum, a solidariedade manifestada, nesta hora de dor pessoal e familiar.