Nov 23

Farpas

Passos, em versão militar, cita Lenine, o do “um passo atrás, para dar dois em frente”. Foi a propósito da falhada NEP (nova política económica, que pretendia dar um pouco de capiltalismo ao nascente bolchevismo, mas que falhou rotundamente, principalmente pela lutaq partidocrática entre Trotsky e Estaline…). Seria preferível ser mais antigo e reconhecer, como Montaigne, “Il faut reculer pour mieux sauter”. Mas isto é humanismo antigo, não é revolucionarismo frustrado, o da “révolution d’en haut” e da viradeira, mesmo que seja revolução ao contrário.

 

Mário Soares situou-se. Num manifesto reservado a cidadãos de esquerda. Coisa que não sou. Apostam no bom e velho Estado. São vagos quanto ao projecto europeu. Nada dizem sobre a necessidade de repúblicas universais. Prefiro mais patriotismo democrático, mais federalismo europeu, mais cosmopolitismo, antes de ser de direita ou da esquerda. Apenas li, não me mobilizei. Sou liberal, não sou de esquerda. Só pelas liberdades nacionais, com vontade de sermos independentes é que podemos ter uma democracia de muitas democracias. De forma liberdadeira.

 

O manifesto tem objectivos limitados, os do pretérito perfeito. Reduz-se à habitual conspiração de avós e netos visando o regresso do PS à tradicional função de reciclagem das esquerdas e das direitas, em nome de uma esquerda moderna que, afinal, é muito antiga.

 

Não ser de esquerda não é estar à direita.

 

A caricatura da partidocracia, em ritmo concentracionário, ou a redução da democracia ao mais fechado dos clubismos de reservado direito de admissão, em nome das elites contra a partidocracia, contra o regime. Viva Alberto João, o paradigma do reformismo social-democrata! O Estado são eles, o povo são eles.

 

Não se vislumbram sobressaltos que nos possam perturbar ou mobilizar, nesta “apagada e vil tristeza” em que a cobardia nos enredou. “Ninguém sabe que coisa quere, nem o que é mal, nem o que bem”, mas também não há nevoeiro. Logo, D. Sebastião também não pode regressar. Já não somos quem sempre fomos, pátria antiga, de fibra multissecular. Mas é preciso voltar a ter “saudades de futuro”.

 

Faltam mobilizações ideológicas, à esquerda e à direita, e secaram os mitos, dos amanhãs que cantam ou do regresso ao passado. A democracia vai degenerando, mesmo sem ser por acção dos inimigos da democracia, até porque muitos democratas temem criticar o situacionismo, lavando as mãos como Pilatos.

 

Nestes dias de interregno, sem que se vislumbre qualquer sinal de regeneração, apesar de forte identidade nacional, todos nos diluímos em ambiente de “finis patriae”. Até padecemos daquela temperatura messiânica que nos dava alma, por ocasião de anteriores crises.

 

Se a democracia, através dos partidos e dos outros grandes figurantes do Estado, não assumir uma nova gramática e os apoiantes e opositores não reencontrarem o sentido da palavra, tudo o que disserem pode ser imediatamente desdito, pelos próprios ou pelos seus pretensos superiores hierárquicos. Não gosto do sistema do manicómio em autogestão.

 

Apesar das habituais danças e contradanças que antecedem as grandes greves, incluindo o mito da soreliana, julgo que ainda vai continuar a viver-se em regime de povo de brandos costumes. Não por causa da falta de revolta, mas por insuficiência de faísca. É como a agulha num palheiro, com tanta palha molhada, pela chuva da rotina, a do mais do mesmo. Apenas um acrescento: se pudesse aderia à greve geral.

 

Quando qualquer suprapoder quiser, o nosso poder de quintal, entre comadres e compadres, pode fazer, em cinco minutos, um acordo de governo da actual coligação com o PS. Mas passos seguros já não chegam. Seria mais avisado que, em cinco dias, contratássemos uma adequação da aritmética parlamentar à geometria social. Estamos a pisar as raias da falta de legitimidade, enquanto somos distraídos por casos de polícia, mexericos de deputados e depressões nas bolsas do outro mundo.

 

Na velha Grécia da primitiva democracia, havia grande qualidade de cidadania para a pequena minoria de cidadãos, os que até eram dispensados de trabalhar. A esmagadora maioria, a que trabalhava, o grupo dito dos idiotas, tem agora sufrágio universal, desde o fim do apartheid. E está em vigor a regra de São Paulo, segundo a qual quem não trabalha não come. Pena continuar a ser comido pelos pretensos da casta politiqueira que não quer funcionários a controlá-lá, à pretensa casta, das subvenções vitalícias e medidas de efeito equivalente. Tenham juízo!

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Esperemos que os chefes deste governo sejam mais como o Paulo Bento. Entrem logo a jogar no risco, sem prévio treino. Para que voltemos a ter equipa de todos nós. Até porque, infelizmente, estamos muito dependentes dos jogos dos outros.

 

É evidente que não é, das rápidas análises das autocontemplações curriculares, que podemos fazer adequada avaliação no imediato. Vai ser mais interessante o escrutínio a que irão estar sujeitos. Especialmente por parte de opositores que sofreram esse tipo de exame e que moverão intensamente o bisturi da informação privilegiada para a adequada vindicta…

 

Mas os pesquisadores de perfis ainda não identificaram coisas tão sublimes como a da eventual pertença dos nomeados a entidades místicas como as igrejas protestantes, as obediências maçónicas, o sionismo, as irmandades católicas, as associações recreativas, os anteriores entusiasmos maoístas ou a posição que muitos tomaram no anterior referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Da mesma forma, seria imperioso elencar os que são indefectíveis de Pinto da Costa, quantos torcem pelo glorioso e os eventuais sócios da Briosa. Os cartões laranjas e portistas não chegam!

 

Há, aliás, maçons, de várias obediências maçónicas, que são deputados e ex-deputados, bem como entre actuais e ex-governantes. Mas há muitos outros, que estão de fora e que se celebrizam por declarações antimaçónicas, com real mercado nas parangonas. Sobretudo se estiverem à esquerda. Daí voltarem à ribalta com um problema de falsa consciência, para uso de suas desventuras no PS e no PSD!

 

Para mim, bastava uma dinâmica fotografia dos grupos de interesse e dos grupos de pressão que dependem da subsidiocracia estatense e da habitual empregomania.  Sobre as outras identificações místicas, julgo que o nosso jornalismo comentarista está especialmente desinformado, até tropeçar no primeiro dos sensacionalismos e entrar em vómito analítico sobre o que é óbvio. Obviamente, numa sociedade pluralista, há de tudo. E ainda bem!