Cavaco, finalmente, convoca Conselho extraordinário de todos os principais partidos, parceiros sociais e banqueiros para Belém, ao fim da tarde, apresentando-lhes uma carta mínima de compromisso, a que alguns chamam Pacto Sociedade Civil/Partidos.
O ciclo socrático do teatro de gestão de crises perdeu-se na presente anarquia ordenada. Só um mínimo de patriotismo científico e de humilde sentido de serviço público nos poderia ajudar o regime. Mesmo que não perca, este foi o testamento de um homem que passou. (JAM, O homem que passou, DN, hoje)
Gosto sempre de colaborar com os estudantes da minha velha universidade. A única que é sempre dos meus afectos, como comunidade das coisas que se amam. As que são centros de carreirismo podem ser sucedâneos de hierarquismos e só valem quando imitam a alma da coisa, para quem a compreende. A pátria pertence à mesma essência. Isto é, não pode ter donos (prestei depoimento ao jornal A Cabra).
O desnível a que chegámos: “Perante as declarações do senhor primeiro-ministro só posso dizer que tem um problema de natureza física, como surdez, o que não parece, ou é distraído, o que também não me parece, ou faltou à verdade. Mentiu.” Nota de um conselheiro de Estado-comentador sobre um candidato, chefe do governo.
Tão amigos que eles eram, os antigos parceiros da casta bancoburocrática…na mais recente versão da aliança da dita “esquerda moderna” (assim se autoqualificaram Cavaco e Sócartes) com a efectiva direita dos interesses (a que costuma mudar de feitor, conforme a ameaça de resultados, bem personificada no sucessivo banqueiro de todos os regimes e ciclos políticos). Porque Bancos portugueses não vão dar mais empréstimos ao Estado.
Quem não compreender que os próximos dias serão decisivos para a restauração da república, ou coisa pública, dos portugueses, pode não ser digno dos mínimos de cidadania. Crise sempre foi o espaço que antecede as decisões.
Almeida Santos, conselheiro de Estado, desmente Bagão Félix, conselheiro de Estado, também desmentido por Carlos César, conselheiro de Estado. Tudo porque Bagão desmentiu José Sócrates. Verdade além dos Pirinéus não coincide com a verdade de três responsáveis do Partido Socialista. Se todos forem falando de acordo com o partido, não há mesmo dignidade para o órgão.
Depois do pronunciamento de Carlos Santos Ferreira, ontem, hoje vai pronunciar-se Ricardo Salgado. Perante Judite de Sousa. Todos os dias, mais uma consulta nos sucessivos divã do regime.
Francisco Assis já o admite: “Se porventura a situação se degradar a ponto de termos que encontrar uma solução de ajuda externa é evidente que o deveremos sempre fazer na base de um consenso”. Um problema de simples bom senso.
O senhor banqueiro Salgado não tem nenhuma legitimidade para invocar a “unidade nacional” ou o “projecto europeu”. Tem apenas a obrigação patriótica de cumprir o seu dever como banqueiro. O poder da facção lusa da geofinança está subordinado ao poder político. E ele já demonstrou como não tem legitimidade para aí nos dar sentenças. Nem invocando o estatuto de arrependido.