Dos curandeiros

Noutro dia, fui interpelado por um casal de turistas, um germânico e uma mulata, que procuravam a praça do Marquês, para o homenagearem. Acabámos, todos, louvando Lula e Mem de Sá. Quando confirmei que o Brasil conseguiu transformar alemães em brasileiros de Teresópolis, até eu vou torcer e rezar pelo mais famoso Zé Povinho que a humanidade conheceu: o paulista Luís Inácio Lula da Silva, que bem podia ser da terra de Beatriz Costa!

Os mesmos que transformaram a universidade num decreto de avaliólogos podem produzir mestrados e senhores doutores desempregados, porque disseram descobrir a Índia e que o civilizado teria de ser eunuco, sem a animalidade de fazerem filhos e de serem pais e mães. Eles não sabem criar. Educaram-se para apenas serem criados.

Quando vejo como os pobres sem espírito elevam a sumos-sacerdotes engenheiros de conceitos que há décadas se masturbam com o mais do mesmo, apenas acrescento que os mesmos tomam como adjuntos, de suas jogadas de poder pelo poder, padrecas frustrados que os mestres teólogos remeteram para o submundo das reformas profanas. Daí que até meus genes, adversos a religiões reveladas, advoguem nova e imediata visita do santo padre, para que se possa não dar a César os vendilhões do templo que a ordem de Deus, em boa hora, expulsou de seus claustros. César não pode ficar com o charlatanismo dos sucedâneos de deuses, embora precise de uma religião secular.

No mesmo dia em que na Irlanda um poeta foi eleito presidente, a nossa televisão valeu pela entrevista em que a mulher de Rui Belo nos evocou o profeta da palavra e a memória de Vitorino Nemésio e Jorge Sena, esses incatalogáveis que furaram a criatividade sitiada de outrora, mas que ainda tem presente e nos pode dar futuro. Apenas me foi dado concluir como os salazarentos estão vencendo. Até a pátria da língua portuguesa foi capturada pelos gramáticos das lições ditas de bom português do novo acordo ortográfico…

A geração de encavacados que na pós-revolução triunfou, de tantos cálculos, fichas e análises da conjuntura, transformou os políticos em treinadores de bancada, com belas análises aos jogos, mas na segunda-feira. Não têm o prazer do risco, porque sem lume da profecia, se perdem na encruzilhada, até porque sabem quem é o deus da dita.

Parece-nos por isso claro que o nosso Tribunal Constitucional constitui um órgão político, cujas decisões são políticas, visando essencialmente fins de legitimação política. Ora, tal implica que a defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, nesta época de crise financeira, não esteja assegurada no nosso sistema jurídico. Na verdade, como já se viu, o Tribunal Constitucional considerará todas e quaisquer medidas, por mais atentatórias dos direitos dos cidadãos que sejam, como legitimadas pelo estado de emergência existente, mesmo que o mesmo não tenha sido constitucionalmente decretado. E os tribunais comuns estão impedidos de defender a Constituição, uma vez que, dado que há recurso obrigatório para o Tribunal Constitucional, a jurisprudência permissiva deste acabará sempre por prevalecer”. Luís Menezes Leitão, no Congresso dos Juízes

Há quem fale por médias, onde todos somos simples fungíveis peças de um quadro abstracto, como se pudessem comparar-se as diferenças que nos dão o universal. Coisas vivas que o bacamarte do estadão nunca consegue vislumbrar. Estou farto que insultem meu trabalho e me rebaixem como adjunto da bagunça

Há apenas os que querem a engorda, o favor e a isenção. E quando abrem a boca tanto não entra mosca, como sai logo asneira, deslumbrada. Se tanto é ser liberal, tinha de ser socialista, mas como dizem mesmo que não são liberais, eu posso continuar mesmo liberal, liberdadeiro, e empedernido, contra o mais do mesmo que a si mesmo se deslumbra.

Governo vai, em breve, proceder a uma ampla remodelação designativa. Secretário de Estado da Jumentude e Sports passa a Cérebro sem Fuga, tendo em vista a Emigração e a Dignificação de Portugal. Tal como no regime brasileiro de 1964, parece que vai haver um novo lema, onde, em vez o “Brasil, ama-o ou deixa-o”, vai proclamar-se o “se queres desconforto, pira-te”

Impressionante: quando eu nasci havia apenas 2,6 mil milhões de seres humanos. Já vamos em 7 mil milhões. Vale a pena experimentar.

Os presentes delegados da pretensa propaganda médica, que até pode reunir em congresso lá para Vilar de Perdizes, tanto não curam os que em tal cura acreditam, como tendem a engordar os comissionistas dos unguentos de pouca dura, até que curandeiros se voltem contra o feiticeiro. Estou farto desta banha de cobra que desculpa os culpados e culpa quem deu corpo ao manifesto, sempre em nome do estadão.

O acordo de credores que pretendeu resolver a bancarrota de 1891, além de matar o rei e tramar a república, acabou por nos ensandecer em ditadura das finanças, quando um tecnocrata achou que tinha o monopólio da medicina social e nos engessou a perna da liberdade, quando nos tornámos bons doentinhos, bem amestrados.

 

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