Adelino Maltez: “Portugal é governado pela Troika”

Adelino Maltez: "Portugal é governado pela Troika"

Por Paulo Camões – jpn@icicom.up.pt
Publicado: 15.03.2012 | 17:09 (GMT)
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José Adelino Maltez acredita que não existem condições para um novo 25 de Abril. Numa altura em que Otelo Saraiva de Carvalho volta a apelar a uma atuação das Forças Armadas, o politólogo diz que o país mudou completamente.

O coronel Otelo Saraiva de Carvalho voltou, esta quarta-feira, a lembrar a necessidade de uma tomada de posição mais forte por parte das Forças Armadas. Numa palestra em Coimbra, Otelo considerou que existe, neste momento, “uma perda de alta soberania” em Portugal. O “Capitão de abril” acredita que “há uma submissão grande em relação à grande potência atual da Europa, que é a Alemanha”, e que as Forças Armadas devem estar prontas para atuar, através de “uma operação militar que derrube o governo”.

O politólogo e professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), José Adelino Maltez, não acredita que existam, hoje, condições para um cenário tão radical. “Este é outro país. É um país onde a revolta é completamente inorgânica e que não tem a acompanhá-la um sistema de opinião e de cultura como aquele que procedeu o derrube do regime de Salazar”, afirma.

O docente do ISCSP lembra o 12 de março de 2011, afirmando que, “há um ano, tivemos 300 mil pessoas na rua, algo que nem antes de 1974 tinha acontecido, e pouco mudou”. Adelino Maltez diz que Portugal é, neste momento, um país “governado pela Troika”. Na opinião do especialista em ciência política, qualquer tipo de mudança “implicaria uma mudança europeia”, já que a maioria dos mecanismos de poder “já não são nacionais”.

O JPN falou, também, com José Adelino Carneiro, outro “Capitão de abril”, que, apesar do passado comum, discorda das palavras do coronel Otelo. “Hoje em dia, não existem razões para acontecer aquilo que se passou na altura da revolução de 1974″, diz. O agora coronel não confia nas capacidades dos políticos atuais para resolver a crise que o país atravessa, mas assegura que a “solução não passa por um outro 25 de abril”.

“Os donos do poder sentem-se seguros de que nada vai mudar”

Portugal atravessa uma das piores crises de que há memória e o descontentamento social continua a aumentar, numa altura em que o desemprego atinge máximos históricos. No entanto, José Adelino Maltez considera que hoje existe uma “anomia social” muito grande e que o “sistema partidário é muito conservador”, acrescentando que os “donos do poder”, como refere, “até acham piada a estas declarações do Otelo, porque sabem que nada vai mudar”.

O ministério Público abriu, em janeiro, um inquérito às declarações de Otelo Saraiva de Carvalho, numa entrevista à Agência Lusa em novembro. Na altura, o coronel alertou para a possibilidade de um golpe militar caso fossem ultrapassados certos limites. Desta vez, Otelo afirma que esses limites “estão a ser ultrapassados”. José Adelino Maltez ironiza. “Há 35 anos que o coronel faz parte da nossa paisagem”.

Apesar disso, afirma que não quer entrar no que considera ser um “novo desporto nacional de criticar Otelo”. “Quando há gente que diz o que pensa, pelo menos temos que ouvir e respeitar, e a verdade é que, por um lado, ele faz-nos pensar”, finaliza.

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