Viva Timor do Sol Nascente

De como os grandes líderes desta Deseuropa acreditam no diálogo directo com o seu povo: “…quando percebeu que o seu relógio em ouro branco estava em risco, decidiu tirá-lo discretamente e guardá-lo no bolso do casaco. Tratava-se afinal de um Patek Philippe 5130G, oferta da primeira dama Carla Bruni em 2008 e que, segundo o preço de catálogo da prestigiada marca suíça custará o equivalente a 55 mil euros”. Convém ampliar a imagem para se confirmar a importância dos Açores. Com Z.

Dois chefes políticos lusitanos fizeram discursos sobre as virtudes militares. Um em 30 de Dezembro de 1930. Outro em 28 de Novembro de 1974. É no contexto destas polaridades que deve ser lido o de ontem:

Entre o estadão e o povo, há velhas e permanentes instituições. A igreja. A tropa. A universidade. Os magistrados. Os funcionários públicos. Os sindicatos. Desinstitucionalizá-las é terraplanar a pátria. E não reconhecer que quase todas delas foram a principal fonte da igualdade de oportunidades, contra o conservadorismo da fidalguia, da oligarquia e dos que querem continuar a conservar o que está, em permanente viradeira, mesmo que mudem de feitor (imagem do mais eficaz).

Exemplo de um pombalista que se passou para a viradeira: em 24 de Janeiro de 1777, viviam na Trafaria cinco mil pessoas e Pina Manique, com 300 soldados em faluas do Tejo, incendiou a localidade. Os que não morreram no incêndio foram obrigados a ingressar nas fileiras militares.

Depois de comer uma posta de bacalhau, vejo, na televisão, que vamos todos morrer à fome, porque os chineses estão a comer carne de vaca. Na data prevista para esse fim do mundo, por causa da quantidade de água que cada bife exige para que o bovino o produza, já cá não estarei. Mas, a longo prazo, estaremos todos mortos. O líder do PAN, o Paulo Alexandre Esteves Borges, já o tinha denunciado, aqui. Continuou tudo a gostar de carne picada, bitoque e bifana.

Quando um procurador-geral diz que faltam verbas para determinado processo e a ministerial figura da justiça diz que nunca elas foram pedidas ao ministério, esta última está a cometer o erro de dizer que processos particulares dependem de tais pedidos ao poder discricionário do vértice estatal. O que não deve ser. E se o for, tem deixar de o ser.

Um rei é aquele que pede desculpa: “Lo siento mucho. Me he equivocado. No volverá a ocurrir”. Até o PSOE declara: “ha hecho bien en disculparse”.

O problema não está no enriquecimento ilícito, está no enriquecimento desonesto, o que costuma ser lícito e que o será sempre, se as leis forem feitas por quem lhes quer pôr vírgulas. Embora apetecesse dizer, como Proudhon, que toda a propriedade é um roubo, sempre reconheço que poderemos evitar que essa violência apenas prescreva. Basta evitarmos a emergência e consolidação de novos piratas, incluindo os dos “boys” do “spoil system”, mesmo que as almas de corsário já não usem chapéu de coco, mas apenas colarinho branco e banco.

Chaves, 17 de Setembro de 1961. “É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados.” (Miguel Torga, Diário IX)

6 de Março de 1975. “Quando formos apenas suporte de figurinos alheios, não seremos nós; quando a nossa voz não passar de um baldio uníssono, seremos escravos; quando nos detestarmos mutuamente, em vez de sadios cidadãos discordantes, seremos irmãos tragicamente divididos. É pois necessário interromper sem demora esta corrida louca que nos leva à perdição”. Miguel Torga, em A Capital.

Fui fundido, mas ainda estarei em fusão até negociações com a governação. Quem o decidiu foi uma coisa que me é estranha, os co-optados pelo poder estabelecido, os de cima e os do lado. Isto é, a coisa é deles, de quem se diz autonomia reforçada, não tenho que me preocupar com essa abstracção chamada cidadania académica. Em qualquer dos casos, é sempre o povo que paga às autonomias e à governação. Eu disso não sei. Só sei que nada sei. Eles sabem-na toda.

A democracia co-optada pela Goldman Sachs. A nova definição do sonho que alguns qualificam como neoliberal. Com tantos notáveis, é melhor não falar mais em justiça. Sempre podemos destruir o mundo.

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