Foi publicada em 6 de Outubro de 2001 parcela de um entrevista que concedi à revista Focus, analisando o actual desencanto político. Aí assinalo que existe um evidente afastamento das pessoas em relação aos mecanismos institucionais da política partidária e da política parlamentar. Assumo que a democracia portuguesa está a passar por uma crise de crescimento, advertindo que esta crise pode ser de luxo se for bem aproveitada. Porque Portugal tem reservas de energias suficientes para fazer uma revolução individual e é preciso provocar uma balbúrdia criativa para que os melhores possam destacar-se e distinguir-se dos ineptos. isto é mais do que liberdade: é a libertação dos melhores contra o sistema que esconde os ineficientes. Concluo assinalando que a única forma de fazer uma revolução política é dando aulas, porque ser professor é preparar uma nova elite. Acrescento que estes políticos não sabem nada de psicologia dos portugueses: o português sempre foi bom quando lhe deram capacidade para ter ideias, mas agora fomentam-se os papagaios repetitivos. Aliás, as oligarquias dos partidos não querem alargar espaços de intervenção e faltam estímulos para as autonomias pessoais. Mais: os portugueses sempre souberam resistir, emigrando, mas desde 1974 o fenómeno mudou: estamos cá todos e o País não sabe o que fazer com a nova geração que está a ser educada e que irá formar a nova elite. Assim, estamos à beira de um novo Portugal, onde as pessoas vão procurar o paraíso da liberdade individual. Temos que fazer uma revolução libertacionista. Temos que libertar o indivíduo. Ora, acontece que o sistema político português está marcado pelo jacobinismo absurdo, de importação francesa: Afonso costa. António de Oliveira Salazar, Vasco Gonçalves, Mário Soares e Cavaco Silva são todos filhos do mesmo pai que é o centralismo. Isto impede o espaço de participação das pessoas e é por isso que tem de haver um reforço da individualidade. Neste sentido, a democracia portuguesa tem um problema estrutural na formação das suas elites políticas, quando há dois desafios fundamentais que cercam a democracia: o indiferentismo e a corrupção, enquanto processo de compra de poder… por enquanto os partidos ainda resistem às elites, mas vão acabar por ceder. Nas últimas palavras: o drama dos sistemas políticos é cada vez mais a abstenção e o problema é que não se trata de uma abstenção de desleixo, mas sim de uma abstenção que atinge a classe que devia ser politicamente activa. O maior partido em Portugal é o dos abstencionistas. eu não estou para aturar estes políticos…
Out
06