Nov 30

Cruzes, canhotos!

Andam aflitas as nossas almas agnósticas, com que muitos confundem a laicidade da república, face às reacções de certos militantes católicos quanto à nebulosa proibição de crucifixos nas escolas, executada por certos burocratas do ministério educativo, numa dessas tradicionais manifestações de intolerância levada a cabo por espíritos de geométrica tradução em calão do jacobinismo.

 

 

 

Eu que não sou filho dilecto do povo católico, que a si mesmo se define como povo de Deus, julgo que a exibição numa escola pública desse símbolo religioso faz parte de um conceito activo do princípio da liberdade religiosa e está plenamente de acordo com os princípios fundamentais da tolerância. Neste sentido, não subscrevo as declarações da deputada do Bloco de Esquerda (BE), Ana Drago, no programa da SIC Notícias, moderado por Mário Crespo, onde a deputada referiu que, “se numa escola do interior estivesse pendurado um enchido, um chouriço ou qualquer outra coisa ligada à nossa cultura popular ninguém levantava a questão”.

 

 

 

Até poderia dizer que as quinas do nosso símbolo nacional, enquanto representação estilizada da cruz, elevaram a mesma à dignidade de religião secular. A própria Cruz Vermelha não é no âmbito da nossa civilização ocidental um Crescente Vermelho, ou uma Estrela de David da mesma cor, e ainda não vi o grupo da deputada Ana Drago propor a mudança dos símbolos nacionais ou das doze estrelas da Europa, também estas retiradas de um vitral da Virgem da catedral de Estrasburgo. Qualquer dia até teríamos de escavacar os monumentos manuelinos para deles retirarmos a martelo as cruzes de Cristo que levaram o abraço armilar ao mundo inteiro.

 

 

 

Os símbolos plebiscitados plurissecularmente e referendados pelo próprio sangue dos que morreram pela pátria fazem parte daquele sagrado, sem o qual não há sentido de república. Ninguém morre por chouriços, sardinha assada ou bananas. Ai de quem não perceber que só pode crescer para cima se crescer por dentro.

Nov 30

António Rebelo de Sousa e ISCSP

Breve Nota Introdutória

 

Por José Adelino Maltez

 

 

Cabe-me a honra de fazer uma breve apresentação da obra “Análise Económica de Projectos” da autoria do meu companheiro de geração e de valores, Professor Doutor António Rebelo de Sousa, dada a impossibilidade do natural prefaciador do livro, o ilustre economista e professor, Eduardo Raposo de Medeiros, a cujo sentido de mestre, devemos que a escola tenha pisado os complexos terrenos epistemológicos da economia internacional e a equipa de trabalho que continua o caminho que nos apontou.

 

Aceitei a tarefa, não como especialista no ramo da árvore das ciências sociais em que se insere a análise de projectos, mas antes como alguém que, fazendo parte do mesmo colégio da “universitas scientiarum”, considera, como acto de fé central da sua missão profissional, que a “uni-diversidade”, legada pela mãe de todas as escolas que assumem o legado cultural do Ocidente, que foi a academia platónica de há vinte e cinco séculos, refundada no século XIII, sob o nome de universidade, deve voltar a ser peregrinada, neste momento de encruzilhada.

 

Porque foi também no século XIII que surgiu a actual ideia de “res publica” europeia, que nasceu o comércio e a liberdade económica, bem como o sonho de autonomias políticas, como se concretizou na consolidação do reino de Portugal.

 

Importa recordar estas verdades, agora e aqui, neste dealbar do século XXI e nesta escola que é o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, a poucos dias de nos lembrarmos do centenário da fundação de uma instituição que, tendo como impulso genético uma ideia apresentada por Luciano Cordeiro, foi concretizada por decreto de um dos governos do crepúsculo monárquico do rotativismo, o do progressista José Luciano de Castro, através do ministro Moreira Júnior. Importa também realçar que a escola até começou a funcionar numa prestigiada instituição da sociedade civil, a Sociedade de Geografia de Lisboa, cinco anos antes do Cinco de Outubro gerar a Universidade dita clássica, da capital, e cerca de um quarto de século antes da Ditadura Nacional federar várias escolas do mesmo género na Universidade Técnica de Lisboa.

 

Cumpre também salientar que foi já em plena crise da Primeira República, na fase pós-sidonista do regresso à república velha, que, em novo governo cinzentista, o ministro João Lopes Soares, patrocinou a protecção estadual da instituição, dando-lhe o estatuto de Escola Superior, permitindo-nos praticar de forma articulada o patriotismo científico e continuar servir a comunidade em regime republicano.

 

E à circunstância não é de estranhar o sonho maçónico de construtivismo civilizacional de um império colonial, ideia pela qual participámos na Grande Guerra, num altura que, depois da geração monárquica de António Enes, Mouzinho de Albuquerque e Paiva Couceiro, se assumia o esforço patriótico de republicanos como Norton de Matos, Brito Camacho ou Álvaro de Castro, com destaque para este último, um dos primeiros alunos da Escola Colonial, cujo exemplo de fidelidade ainda não foi suficientemente recordado pela instituição, devido ao peso do revisionismo salazarento que o remeteu para as brumas do esquecimento.

 

Por ironia do destino, será, mais uma vez em novo crepúsculo político, o do regime autoritário e para-ditatorial do salazarismo, no começo da década de sessenta do século XX, que a escola passará a integrar a Universidade Técnica de Lisboa, quando no respectivo historial de serviço já contava com quase meio século de autonomia e quase resistência.

 

Assumindo-se como uma entidade oriunda da sociedade civil, mas em plena consonância com a grande estratégia nacional, muitas mentalidades pretensamente clássicas, in-compreendiam o perfil pouco napoleónico de uma instituição universitária que se aproximava do perfil pragmático e interdisciplinar dos modelos anglo-americanos e até do velho sonho das antigas “escolas de sagres”, voltadas para aquilo que hoje se qualifica como mercado de trabalho, mas sem as desligar das profundas correntes dogmáticas. De outra maneira, a escola não poderia ser pioneira em matérias tão diversas como a ciência política, a antropologia, as relações internacionais, a história do pensamento político, a estratégia, o direito costumeiro, a integração económica ou os próprios métodos mecanográficos.

 

Porque, sempre que o cinzentismo, o servilismo, ou a decadência dos regimes políticos mergulham a universidade na indecisão, propícia a colonizações culturais exógenas e pouca adequadas a reconhecimento da velha ideia medieval de que todo o pensamento que queira ser universal tem que ter uma pátria, cabe às escolas que não dependem da sombra leviatânica da subsidiocracia, da empregomania e do favoritismo partidocrático e politiqueiro, demonstrarem que têm futuro porque são instituições vivas, assentes no ardor pela ciência e no sentido de serviço comunitário.

 

Foi em nome desta ideia de obra e de activas manifestações de comunhão dos antigos alunos, em profunda cidadania de escola, que a instituição renasceu em novo regime político português. E isto depois de duas tentativas de liquidação, promovidas tanto pelos últimos vagidos de um velho Estado Novo, como pelas primeiras manifestações de instabilidade da vaga revolucionária que se opunha à pretensa pesada herança de outra revolução, outrora dita nacional, mas também assente no vanguardismo que ocupava a cabeça do poder fáctico castrense.

 

Mais uma vez, a escola teve futuro porque tinha raízes e continuava a servir a pátria no quarto regime do mesmo Portugal Contemporâneo, onde um qualquer governo de cinzentismo rotativista apenas teve de reconhecer a resistência de uma instituição que se reconhecia pelos frutos da qualidade dos seus alunos no mercado vivo da actividade profissional que, afinal, constitui sempre a melhor prova avaliativa que, muitas vezes, certa pretensa educacionalogia avalióloga olvida.

 

É recordando estas verdades já quase seculares de uma escola que, tendo passado quatro regimes, muitos terramotos decretinos e alguns revisionismos históricos, sentenciadores, psicopatas ou oraculares, é a mais jovem da Universidade Técnica de Lisboa, em termos de corpo docente, que, como sub-decano da instituição, saúdo a publicação de um trabalho de alta especialização de matemática financeira, no ramo económico da árvore das ciências sociais.

 

E faço-o em comunhão de valores com um autor que, em boa hora, retomou o “cursus honorum” de uma antiga carreira docente universitária, com o companheirismo de quem sempre foi cúmplice na luta pela justiça, enquanto profundo sinónimo de igualdade de oportunidades, coisa que as ciências da ordem como são o direito, a política e a economia nunca podem esquecer.

 

Conheço o Professor Doutor António Rebelo de Sousa desde há trinta anos, quando começámos uma carreira como adjuntos políticos e peritos de um ministério económico, no último dos chamados governos provisórios do presente regime. Vivemos, com pensamento e entusiasmo, a fundação do presente modelo pluralista e competitivo e, apesar das nossas diferenças de bandeiras, sempre estivemos do mesmo lado da barricada, no plano dos valores fundamentais. Até quando muitos ainda trilhavam os erros da legalidade revolucionária ou do extremismo totalitário e anti-humanista.

 

Apesar de jovens, sempre alinhámos no partido do personalismo e da própria autonomia universitária, contra o hierarquismo estadualista, vanguardista ou contra-revolucionário. Por isso voltar a ser companheiro do António, agora ao serviço da mesma ideia de universidade, nos bancos da mesma escola, e fazê-lo quando é reposta a verdade de um “curriculum” animado de fé activismo vitalista é uma honra, da amizade pessoal e do companheirismo institucional.

 

Por isso, termino esta nota introdutória, com um dos lemas da nossa juventude, roubando ao nosso eterno mestre, Emmanuel Mounier, a seguinte ideia: não se resolverá uma crise económica senão com medidas económicas, mas não apenas com medidas económicas. Para bom compreendedor humanista, estas meias palavras bastam.

Nov 29

Vencendo as nuvens de que se faz viagem

Eis-me sentado, em espera, à tua espera, aqui, no meio de tanta gente onde até somos ninguém. Aqui à espera, à tua espera, como se fosse a primeira vez. Aqui sentado, em espera de alguém que há-de vir do mais além, vencendo as nuvens de que se faz viagem. Aqui sentado, entre vidraças abertas e gente em seu vaivém, aqui sentado, à espera, à tua espera, nas asas deste sonho reencontrado.

 

Que flor, que rio, quantas areias virão dentro de ti? Que névoa se guardará na curva terra de teu colo? Que tempo fará quando for dia e as mãos do sol, pela manhã, abrindo as janelas da cidade, nos inundarem de luz? Que mares trarás nos braços redes com que vais colhendo os restos dos naufrágios a que nos demos? Que tempo fará quando voltares e, à tua beira, sorver o tempo de sonharmos?

 

Aqui à espera, em tua espera, escrevendo por ter de escrever o que vou guardando, sem saber. Aqui à espera, em tua espera sorvendo assim o fogo lento deste dia. Aqui à espera, em tua espera, onde sei quem na verdade sou, onde, perdido, me encontro e reencontro e assim preso, me perco e redifino, no espaço livre que me dão teus braços. Aqui à espera, em tua espera, sorvendo a cartografia sentida da memória, neste mapa de silêncio que me dá força de chegar.

 

Vieste em deserto, assim dentro de mim e, no fundo do tempo de quem sou, longo mar me deu sinal, imensas dunas divagando nas veias de um tempo feito semente. Sim! Foi aqui e agora, num pedaço de tempo a que me dei, foi aqui e agora num mais além guardado e segredado, neste verde onde recolho o rumo que me segura, quando apetecia que o tempo se detivesse no longo declive de uma qualquer duna, que a tâmara trouxesse o sabor maduro que me deu a sombra de teu colo. Porque éramos desterro e desafio e, livres, nos prendemos a quem somos.

Nov 29

“Libido dominandi”, neo-sidonismo encapotado e salazarismo democrático, com saldos de “marketing” político

A fauna que recebe os pretensos pais da pátria se reduz ao habitual frequentador de comício, com predomínio dos sessentões, até porque os chamados ministérios educativos ainda não lançaram a urgente campanha de cidadania que leve os jovens à inscrição no recenseamento eleitoral. É por isso que no domingo fui às rolas dos Moinhos de Santana, em busca do habitual cozido à portuguesa, com enchidos da Beira, num ambiente marcado pela imagem que encima este parágrafo, nesta memória de paisagem saloia no Alto do Restelo. Porque o subliminar de um neo-sidonismo encapotado, com pitadinhas de salazarismo democrático aproveita a embalagem da inércia. E até pinta de fresco propagadismos dos anos sessenta do século XX, entre o “I have a dream” de Luther King, dito agora “tenho uma ambição”, e as quase novas fronteiras do John Kennedy. Afinal os três principais presidenciáveis são o próprio situacionismo em figura humana que fazem discursos contra a degradação da presente democracia quando eles são os criadores da criatura que agora fingem rejeitar. Porque o Estado a que chegámos, apesar de ser grande demais na subsiodiocracia e na empregomania, não é suficientemente forte para combater a corrupção, a evasão fiscal ou o indiferentismo que nos seca a cidadania. Porque o sistema de financiamento da política, da partidocracia às campanhas presidenciais, passa pela habitual complacência do Bloco central de interesses face aos patos-bravos autárquicos, aos “lobbies” das consultadorias e empresas de estudos, com passagem pelo poder banco-burocrático que os encima e onde participa a procissão dos intelectuais que andam de mão estendida ao subsídio ou à avença.

Nov 28

Falta ainda muita viagem por cumprir..

Falta ainda muita viagem por cumprir para que os homens de boa vontade possam passar as tormentas a alcançar a boa esperança de um caminho para a humanidade, quando o ser não for medido pelo ter e o amor vencer a guerra. Quando tratarmos o outro como o próximo, o vizinho, o conterrâneo, o compatriota, o nosso irmão. Quando, sem negarmos as pequenas pátrias e as pátrias maiores, soubermos ascender à terra dos homens, à cosmopolis e pudermos dizer, como Pessoa, tudo pela humanidade, nada contra a nação, mas desde que cada nação seja entendida como caminho para uma super-nação futura. Quando vencermos os impérios que nos invadem, de forma visível e invisível, pelo mercado ou pela colonização cultural. Quando, de mãos livres, pudermos ter fé no homem, no seu destino ou no seu transcendente. Quando o abraço armilar nos voltar a aquecer. Não, ainda vivemos nas guerras civis ideológicas, nas guerras frias culturais, nas guerrazinhas de homenzinhos, desses que são marcados pela vontade de poder, nesta anarquia mansa que, subterraneamente, nos amarfanha pelas longas teias da cobardia, gerando as sucessivas ditaduras do situacionismo e da incompetência. Insurge-te contra este mais do mesmo, desobedece aos compadres e comadres desta partidocracia, não admitas que, no espaço público, em nomes das razões de Estado, se pratique aquilo que não admites em tua casa, na tua família, na tua rua, na tua terra. Volta a ser um homem livre, não tenhas medo! O tempo não está para filosofices ou politiqueirices, mas para sentir os pormenores da paisagem. Ter a liberdade de um pássaro peregrinando a paisagem, acariciar o chão de caruma e percorrer o espaço destas matas que nos restam. Porque apetece continuar feliz e poder olhar os outros, olhos nos olhos, sem o calculismo dos que encenam aquelas parecenças que destroem as chamadas relações sociais. Apetece esta saudade de mar, as ondas pequenas do bom tempo, a limpeza das areias infinitas e os passeios na maré baixa, de falésia a falésia, diante de quem sou. Que sejas sempre um homem livre, desses que cumprem o dever de bons filhos de seus pais honrados. Não temas alinhar com a contra-corrente e até com o contra-poder. Tem a coragem de ser minoria, não temas optar por aquela conduta que não está dependente do aleatório de uma escolha arbitral ou de um resultado eleitoral, onde domina a lógica do jogo de fortuna e de azar onde pode não ter razão quem vence. Pode ter razão quem perde. Há homens de sucesso que não sabem onde fica o seu próprio norte. Prefere que os outros te reconheçam como daqueles vencidos da vida que nunca cederam a respectiva rebeldia em troca de um prato de lentilhas, oferecido pelos poderes estabelecidos. Prefere dar-te àqueles projectos que a maioria dos que dizem pensar segundo aquelas modas que passam de moda sempre consideraram coisas falhadas. Não te disperses em pequenas intenções plenas de servilismo de que o inferno das frustrações continua cheio. Não te percas nos corredores frequentados por essa sub-gente que se dilui pelos meandros das sub-instituições. Não queiras servir ilusórios bobos de reizinhos sem reinos. Que escrevas o que pensas na altura certa, para poderes seguir livre o teu próprio sonho. Vale mais olhar o sol de frente, mesmo que se morra em combate ou que seja condenado por fuzilamento de ódios. Eu, pelo menos, sem saber tudo o que quero, sei perfeitamente o que não quero e sei que tentarei não pisar terrenos armadilhados pelas minas da subserviência, por todas essas procuras de uma qualquer prebenda dada pela cunha  ou pelas habituais manigâncias politiqueiras ou eclesiásticas, dessas alfurjas, lojecas e pequenas cortes de um mundo que já não há. Deixa algumas sementes de beleza e muito amor por cumprir. Que, de ti, ninguém possa dizer que, um dia, se vendeu pela posta ou pela comenda. Sê livre!

Nov 25

Um quadrado confuso e patético

No dia em que se marca no calendário o trigésimo aniversário do fim do PREC, as parangonas foram ocupadas pela libertação de um tal Carlos da Casa Pia, mas muitos reparam no discurso proferido ontem pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, para quem o governo mente e nada faz, enquanto Soares e Alegre trocam acusações de vagas mentiras, com o ex-presidente a denunciar a existência de um “quadrado confuso” que seria “poeticamente interessante”, mas é “politicamente patético”.

 

 

 

Com efeito, Nunes da Cruz, acusou o Executivo de José Sócrates de ser imprudente, incorrecto e indelicado, e de ter mentido aos portugueses: “o actual poder executivo passou a dizer que os tribunais fecham três meses por ano, o que não é verdade; passou a declarar que os juízes precisam de trabalhar mais para ter a justiça em dia, o que é inverdade; passou a afirmar que os juízes querem estar acima de tudo e de todos, o que não é verdade. Talvez outros o queiram”.

 

 

 

Enquanto isto, os três directores de informação dos canais televisivos, juntamente com os representantes dos cinco candidatos presidenciais sistémicos, assinam, diante das câmaras e holofotes dos donos da teatrocracia, um pacto de transmissão do espectáculo dos debates. Assim se demonstra como não há efectiva igualdade entre todos os cidadãos candidatos, dado que prepondera o critério da oportunidade jornalística, onde mandam os comandantes do contingente, nomeadamente os que têm acesso ao clube de reservado direito de admissão que convida Balsemão a perorar sobre a reforma presidencialista do chamado “sistema de governo”.

Nov 25

A árvore que provoca aridez à sua volta

Originário de Boliqueime, o candidato é hoje a espécie que mais atende as necessidades de reposição de matéria-prima para o processo regresso à idade de betão, seja ele para a fabricação de assessores de Belém, para o revigoramento energético do laranjal ou ainda para o abastecimento de esperança da produção banco-burocrática, acabamentos refinados da construção civil, pisos, postes e mastros para barcos. A vida também passa por aqui. A mudança também se faz por aqui. Cruzamento de culturas, encontro de vontades, partilha de saberes, espaço de informação e resultados, a Internet é “A” janela para o mundo. Nesse mundo, eu quero, nós queremos um Portugal que observa e age, conhece e modifica, descobre e avança . Um Portugal Maior. De acordo com a Miguel Cadilhe, foi graças aos empatas do professor hirto e firme que milhões de hectares de floresta nortenha que contribuem para a preservação da mata nativa, ocupando áreas antes devastadas pelo desmatamento, pela monocultura e a pecuária, além da comercialização ilegal de madeiras, ficassem sem regionalização. O maior atractivo para a implantação da Floresta de Eucalipto é que essa planta exótica se desenvolve em qualquer tipo de terreno do centro, da direita e da esquerda, principalmente em ambientes secos e solos pouco férteis. Em todo o mundo existem cerca de 700 diferentes espécies de Eucalipto sendo que o Viveiro Laranjá produz mudas de apenas três espécies: o Eucalyptus grandis, e o Eucalyptus urophylla destinados ao mercado das presidenciais; e o Eucalyptus citriodora para pequenos produtores da vingança anti-soarista. Na Sociedade da Informação, que Portugal todos os dias ajuda a transformar e a desenvolver, este Portal permite-me estar mais perto, também por aqui ouvindo, partilhando, aprendendo. Será um Portal pleno de vida, entusiasmo, inconformismo. Um Portal que mostra que Portugal cria, exige, cresce e afirma uma vontade nacional de vencer.

Nov 24

Os cordéis inconscientes da velha sociedade de corte

Acordo em mais um dia e mais uma semana onde tenho de enfrentar esta decadência política e social em estado de revolta individual. Danado, sobretudo, com este estúpido equilíbrio bipolarizado de um rotativismo, onde os actuais governantes já desistiram da alternativa e se mantêm como mera alternância do dominante Bloco do Centrão, não mudando, na essência, as regras do jogo, nem desalojando os efectivos donos do poder dos nichos onde os mesmos se acoitam. Assim, os ministros, deste e do anterior governo, não passam de meros cordéis de uma sociedade de corte, onde os cinzentões neocorporativos manipulam os subsídios e os holofotes do prestígio e da visibilidade mediática, para gáudio dos eternos idiotas úteis que vão sendo devorados pelo clássico “divide para reinar”.

 

 

 

Têm poder, não os que tomaram posse dos cadeirões, dos gabinetes e dos assessores, mas os que enceneram a récita, os que vão dizendo para os seus pares lobísticos que os ministros passam, mas eles vão ficando a ver as bandas passar pelos palácios da ilusão. Com efeito, os ministros, secretários de estado, altos-comissários, secretários-gerais, directores-gerais, deputados, chefes de gabinete, assessores e novos directores de jornais, vão ladrando discursos que outros já fizeram, enquanto a caravana das ordens em forma de conselho vai ficando empanturrada. Assim, os governos não passam da parte visível de um “iceberg” assente nos representantes dos sindicatos dos eternos situacionistas, algumas vezes com os seus cardeais-primazes, acobertados na sombra de um qualquer organismo mostrengo que ninguém elegeu.

Nov 24

1640, Freitas Africano ou de como uma nação que nasceu e cresceu pode morrer

Por ironia do destino, teremos dentro de dias a comemoração inconveniente dos trezentos e sessenta e cinco anos daquilo a que convencionámos chamar a restauração da independência, depois de sessenta anos de domínio dito espanhol… apesar de nunca termos formalmente a independência e de apenas termos eleito um Filipe II que reinava em Madrid, Bruxelas e muitas outras partes da actual União Europeia, como rei de Portugal. Daí que seja particularmente simbólica a edição da obra de Freitas Africano que mais de três séculos e meio depois é tirada das brumas da memória e da proibição Pombalista. Porque vale a pena recuperar um dos textos justificadores de um movimento de libertação nacional, onde a acção insurreccional de 1 de Dezembro de 1640 apenas foi execução de um pensamento. Se, sobre a matéria, já foram escritas todas as frases necessárias e eu próprio repeti muitas dessas ideias no breve estudo introdutório ao texto, não me parece que seja útil fazer hermenêutica do que deve ser pausadamente relido e repensado. Apenas quero recordar que talvez ainda haja uma profunda corrente daquilo que pode ser qualificado como a tradição de um pensamento político português e que não se confunde apenas com um pensamento político em Portugal. Se para tanto se reunirem três condições: que continue a haver Portugal; que haja política; e que até possa existir pensamento. Porque, para haver Portugal, talvez seja necessário detectar seguras âncoras que mantenham o que Alexandre Herculano qualificou como a vontade de sermos independentes. Coisa que não tem que significar o mesmo do que o exercício de certo conceito de soberania do absolutismo, onde à soberania externa de Jean Bodin, acresceu o delírio centralista da soberania interna de Thomas Hobbes. Para querermos ser independentes, importa reconhecer-nos como instituição política, isto é, como ideia de obra, gerando manifestações de comunhão entre os cidadãos e com as consequentes regras processuais, a que podemos dar o nome de direito político, adequado a esse eu colectivo a que continuo a dar o nome de nação. Para tanto, importa reconhecer que Portugal, enquanto génio invisível da cidade (Ferrero) é algo que se pode discutir, dado que, como obra humana, nasce, cresce e morre. Porque só existe como tradição regeneradora, como permanência na renovação. Só existe como autonomia porque se foi sucessivamente reinventando e reidentificando, em torno de um eixo vital de objectivos nacionais permanentes. Porque a autonomia sempre foi a soma da memória com os valores, tal como a “polis” sempre se assumiu como federação de aldeias em torno de uma acrópole, de uma colina sagrada, onde tanto há o palácio da governação como o templo da nação, sufragados pela praça pública que lhes dá sustento e que eles representam, em nome da participação da cidadania. Só existimos porque, desde sempre, nos inventámos. Emergimos como “regnum” ou “respublica” na incubadora da liberdade europeia, dos séculos XII e XII, assumindo-nos como autonomia política, enquanto concelho em ponto grande, para utilizarmos a bela metáfora do Infante D. Pedro, e fizemo-lo quase federando muitas comunas, com e sem carta. Consolidámos o processo no cerco de Lisboa, no quadrado de Aljubarrota e no discurso dos legistas das Cortes de Coimbra de 1385, numa das primeiras revoluções pós-feudais do nosso espaço civilizacional, quando preferimos o senhorio natural ao senhorio de honra. Universalizámo-nos na armilar manuelina semeando concelhos e misericórdias pelo mundo fora e até aguentámos os desafios centrípetos da monarquia habsburga e vaticana, apesar de termos sido contaminados pelos receios da Inquisição madrilena. E reinventámo-nos em 1640, separando-nos de forma moderna, levando à prática o mapa de Fernão Álvares Seco de 1565 que, sem ser por acaso, é a primeira representação cartográfica de um Estado. Contudo, apesar de nos conformarmos de forma resistente, não pudemos ser impulso para a revolução atlântica, que passa pelas revoluções inglesa, norte-americana e francesa, porque nos perdemos em absolutismos de facto, até atingirmos esse clímax de despotismo a que demos o nome de Pombal. Depois nos perdemos entre terramotos políticos e Viradeiras, sem forças para regressarmos ao consensualismo. Esgotámo-nos em revoluções e contra-revoluções, com nacionalismos armados em soberanismos e centralismos e reaccionarismos usurpando a tradição dos factores democráticos de Portugal (Jaime Cortesão).  Quase chegámos a regressar ao consensualismo com a regeneração de 1820, mas fomos devorados pela balança de uma Europa das potências que nos proibiu o constitucionalismo da tradição. Mas, apesar de tudo, ainda resistimos, gerindo dependências e hierarquias internacionais e até conseguimos entrar na corrida colonial, em nome da qual entrámos na Grande Guerra de 1914-1918. Contudo, esgotados, entregámo-nos, depois, ao desencanto da Viradeira salazarenta  e a um restauracionismo despótico e doméstico com que voltámos a proibir a política. Reinventámo-nos mais uma vez nos anos de 1974-1975, aguentando a Guerra Fria, a descolonização e, depois, a integração europeia e aqui estamos em plena crise dos desafios da globalização, onde importa lutar pela memória e pelos valores que as modas que passam de moda querem fazer apagar.(lançamento do livro de Freitas Africano, na Faculdade de Direito de Lisboa, em 23 de Novembro de 2005)

Nov 23

Filosofia de gente qualquer, num simples café da manhã, em plena cidade

Às vezes, o carimbo nominativo de uma diabolização inquisitorial tenta apegar-se à carapaça de um qualquer sujeito, procurando acorrentá-lo a correntes facciosas, para que ele deixe de ser um homem livre. Nessas alturas, apetece clamar à resistência, nem que seja a de um qualquer exílio interno. E há momentos em que apenas somos simples pilares da tal ponte do tédio que nos pode levar entre dois tempos, entre um pretérito a que não apetece voltar e um futuro que desejamos. Há momentos em que apenas somos gente qualquer, simples folhas de Outono que o vento pode conduzir para o outro lado. Há momentos de um silêncio que é pequeno intervalo de solidão sem angústia. Por isso, não vou hoje falar em presidenciais. Nos três principais cidadãos que apenas são mera consequência de uma teia sistémica que é a respectiva causa. Porque não passam de meros regressos anunciados, de simples divagações de uma literatura de justificação de vidas passadas, à procura de mais capítulos para as respectivas biografias, onde a pátria os deve servir, em vez de procurarem servir a pátria. Às vezes, os pesadelos nos acordam e volvem-se em insónias, pedindo para que os escrevamos. Essas frustrações oníricas que têm bem pouco de surrealismo ou de conto de fadas, mas muito daqueles filmes de terror infantil, tipo Feiticeira de Oz. Hoje, não. Nem sequer posso contar de uma qualquer serena tristeza que me tenha acordado em amargura de revolta. Racionalmente, observo a habitual persiganga lusitana, especialmente aquela faceta da mesma, dominante em períodos de decadência e a que desde sempre chamaram inveja. Coisa que, na chamada motorização da história, não foi posta em devido relevo por Karl Marx, apesar de podermos confirmar que ela é bem superior à falecida luta de classes. Há muitos que continuam a pôr-se em bicos de pé, só porque andaram, anos e anos, de pré-atrás, à espera de uma qualquer subtil oportunidade para assaltarem um lugar ao sol neste reino de sombras, com cadaveroso cheiro a putrefacção. Só a mobilização pelo sonho nos poderia levar a crescer para cima e a crescer para dentro. De outro modo, a possibilidade de uma revolta de escravos acaba por perder-se em ninharias, provocadas pela baixeza das ciumeiras, onde algumas figuras de inequívoca grandeza acabam por perder-se. Daí que muitos não queiram sair da encruzilhada e acabem por esmorecer, quando não por desistir. Quando o processualismo hipócrita dominante nos regimes marcados pelo governo dos espertos acaba por esmagar a necessária comunhão institucional, são as próprias raízes institucionais que acabam contaminadas. Assim vai secando a alma deste país de primas-donas que, em lugares de Estado, não sabem conter as respectivas idionsicrasias, só porque se fingem notáveis engenheiros na manipulação carreirística. Como se a pátria, que é de todos, possa estar dependente das incontinências de humor de tais sumidades. Prefiro ouvir, de vez em quando, as simples conversas de café, de operários bem aristocratas, discutindo esta ou aquela obra difícil que executaram, como se fosse artesanato feito com amor de mãos e mente. Quantos milhões e milhões de homens não perdem suas ideias na solidão de pensamentos inconversados e não registados pela escrita? Quantas vidas não há que, contadas, nos dariam brilhantes reflexões de viagens à volta de nós mesmos?