Aqui estou eu, no fim desta rua da Junqueira, mesmo ao lado do Palácio de Belém, à espera que chegue o meu novo vizinho. Vim agorinha mesmo de comentar a coisa na RTP, onde fiz umas continhas e chegue à conclusão que neste regime, com quase trinta e dois anos, o dobro do tempo da Primeira República, quase dois terços de vida da Ditadura, mas apenas com um terço da monarquia pós-vintista, Cavaco é o oitavo presidente eleito por sufrágio directo e universal, o primeiro civil que é professor doutor e o primeiro a assumir o cargo depois de ter sido derrotado numa prévia candidatura ao lugar. O segundo que tem como “curriculum” uma experiência de primeiro-ministro e o primeiro, neste regime, que não veio do chamado “povo de esquerda”.
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Claro que, neste nosso modelo constitucional, o presidente não é mera D. Maria II ou presidente da Constituição de 1911, mas também não pode ser chefe do executivo, como Sidónio. A cerimónia correu protocolar demais, neste nosso teatro da república, com muitas passadeiras vermelhas e nenhum povo, nem que fosse a pedir-lhe um gesto da janela. Os convidados estrangeiros foram tão parcos quanto o peso de um país que só tem duas dezenas e meias de embaixadores formais, excepção feita aos amigos dos PLOPs, ao pai Bush e aos príncipes de Espanha e a malta cá do país, nesta missa laica, até se portou civilizadamente, dentro das previsões desta pescada que antes de o ser já o era e que não costuma ser lustrosa em liturgias.
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Ninguém se lembrou que neste dia do ano de 1500 partiu de Belém a esquadra de Pedro Álvares Cabral que acabou por descobrir o Brasil, enquanto em 1836 foi fundado o jacobino Clube dos Camilos, dito Sociedade Patriótica Lisbonense, e em 1916 a Alemanha declarou guerra a Portugal. Por isso ninguém repara que tanto Cavaco como Sócrates são fabricados na mesma cepa do “action man”, entre complexos de esquerda e discurso populista que tende a agradar aos fantasmas de direita, pelo que a coabitação não causará turbulências entre os que subscrevem a mesma política europeia, a mesma política externa e a mesma política de defesa, podendo também dar as mãos quanto aos cheques e choques tecnológicos.
Imagem ainda colhida no tempo das obras de Sampaio
Sugiro contudo que, no caso do MIT, reparem que essa escola de Boston não é apenas de engenheirais comteanos, divulgadores do catecismo dos industriais do São Simão, dado que também se dedica às ditas ciências sociais, a que aqui costumam chamar ciências ocultas. Aliás, foi nesse sítio que um tal Norbert Wiener, lá para o ano de 1948, inventou a cibernética, baptizando aquilo que qualificou como a ciência da comunicação nos seres vivos, grupos sociais e máquinas, com a expressão grega que queria dizer “governo”. Infelizmente, por cá continuam os sistemas, mas sem o sistemismo dos Deutsch e Easton, porque epistemicamente continuamos típicas nabiças oitocentistas, não reparando que é do “superpower” que resta que vêm cerca de três quartos dos recursos mundiais em ciência política e relações internacionais.
Potencial ameaça biológica, não detectada pela segurança do Palácio
Por cá, nossa iliteracia dominante, incluindo a das cortes presidenciais, confundindo conhecimento com opinião e ciência com ideologia, cede ao predomínio do mediático e aos discursos justificadores do poder instalado, onde até os distribuidores de subsídios para a investigação, de tanta conversata com manitus salazarentos e beatos concordatários, ainda continua a fazer o jogo dos salamaleques da sociedade de corte. Esperemos que Cavaco cumpra o que prometeu, até nestes domínios, onde o corporativismo de certa república de catedráticos.