Mar 28

Sociedade de Corte. Estado de graça

Quem duvidasse do estado de graça do presente ciclo de coabitação do regime poderia, ontem, se tivesse o dom da ubiquidade, ter desfeito as respectivas dúvidas, ao fim da tarde, indo ao lançamento dos livros de duas personalidades do PS: o embaixador Seixas da Costa, sempre potencial ministro dos estrangeiros, e o secretário de Estado José Conde Rodrigues, sempre em diálogo com os chamados operadores judiciários. Por dever de antigo professor tive que preferir este último, não podendo comparecer no Centro Cultural de Belém, junto do antigo aluno e actual professor do ISCSP, o nosso embaixador em Brasília. Já li naturalmente “A Política sem Dogma”, à procura do liberalismo de esquerda, onde concluí que, se me fiasse na argumentação, já nem eu poderia ser de direita. Senti que, nos “halls” da Católica, sob a biblioteca de António Sardinha, estavam juntas todas as altas esferas pensantes do situacionismo. E o bailado provocou-me um daqueles sorrisos típicos dos observadores radicais, diante dos armadilhados terrenos da barganha, onde me foi dado ver um conselheiro de Cavaco em ameno triângulo com um ex-conselheiro de Soares e um presente conselheiro do Senhor Duque de Bragança, mas onde senti a falta de ilustres hierarcas do Grande Oriente Lusitano, apesar de não faltarem hieracarcas de outras ordens menos regulares, mas ditas regulares. A minha radical presença gerou, naturalmente, civilizadíssimos cumprimentos de quem se interrogou sobre a minha discreta participação no acto, demonstrando como nem sequer em diagonal deve ter passado os olhos pelo texto apresentado. Quero, em primeiro lugar, agradecer ao autor as referências que me concedeu, evocando textos meus do século passado, alguns dos quais ainda nem sequer saíram do limbo da sebenta, quando, no velho palácio da Junqueira, trocávamos ideias antes e depois das aulas de um mestrado, donde fui obrigado a afastar-me, quando ilustríssimos inspiradores tal inspiraram, entre sussurros conselheirais e bancárias jantaradas, naqueles salamaleques típicos dos ineficazes assassinatos morais, quando a adjectivação diabolizante da teoria da conspiração não se adequa ao visado, que não é “opus”, “copus”, avental ou sacrista, como poderia constar da ficha das velhas ou novas pides, cujo quadriculado, pré-cibernético, não consegue conter a raiva dos homens livres. Por isso sorrio quando recebo “inputs” de estratégia indirecta sobre a alta azáfama que reina entre os meus vizinhos conselheirais do Palácio Cor de Rosa, na sua profissional e quotidiana leitura da jornalada e, talvez, da blogagem, catando os inúmeros recados analíticos que podem ter como objectivo o “bunker” principal da actual coligação. Mesmo o que, hoje, o semanário “O Diabo” transcreve das minhas palavras sobre o CDS e o PSD apenas quer dizer o que soltamente penso, mesmo que erre. Se consultarem no arquivo oficial a minha ficha da DGS, verificarão que sempre estive no mesmo sítio axiológico-político. As circunstâncias da conveniência e da oportunidade dos carreirismos é que se modificaram radicalmente, menos para quem faz contabilidade de ascensões e quedas. Sempre tive como máxima ambição política ser exactamente aquilo que sou e, neste tempo de homens lúcidos, tendo a lucidez de ser ingénuo, quando digo efectivamente aquilo que penso, engano sempre os que pensam que os outros dizem aquilo que não pensam, ou que vivem uma vida escondida face àquilo que proclamam. Por mim, continuo a tentar viver como penso e, por isso, não posso efectivamente ter de pensar como vivo. Até assino sempre o que quero comunicar. Mesmo em blogue.

Mar 28

Algumas notas sobre o diga trezentos e três, pouco simplexes e muito complexo-burocratilófilas, segundo as ciências que Gago considera ocultas

Duas comemoração há hoje a assinalar: primeiro, a de 1967, quando a Igreja Católica precebeu que chegou a globalização e o papa Paulo VI emitiu a encíclica “Populorum Progressio”; em segundo lugar, a de 1977, quando o Portugal pós-revolucionário e soarista solicitou a adesão às então CECA, CEE e CEEA, dado que a de 1835, a morte de D. Augusto, o primeiro marido de D. Maria II, apenas tem a ver com a nossa inserção na balança da Europa, dado que o dito consorte precedeu o segundo consorte, D. Fernando e ambos foram dados à jovem rainha de acordo com a influência da nossa potência directora, nos termos do tratado da quádrupla aliança de Abril de 1834. O primeiro era francês, da França dos Orleães; o segundo era alemão, mas dependente da rainha Vitória e da potência britânica e da sua subsecção continental, o rei Leopoldo de Bruxelas, que era o único belga que então existia, como ele próprio dizia.

Anteontem, ontem e hoje já a situação era complexa e não simples nem simplex. Porque a complexidade sempre foi uma forma particular de agrupamento de elementos, diferente da agregação. Esta é uma reunião de elementos não combinados, enquanto a complexidade é uma heterogeniedade organizada, ligando os elementos num conjunto com um raio determinado, ligando os vários elementos entre si. Sem consultar o MIT ou um dos muitos assessores que Mariano Gago costuma despachar para vender nas universidades o espírito de Bolonha, sei, segundo Henri Lepage que esta “teoria dos sistemas complexos” regidos por “mecanismos de auto‑organização que respondem a flutuações aleatórias” está próxima de alguns teóricos da química molecular que defendem a existência de “processos de crescente complexificação, conducentes a ordens espontâneas, permanentemente reposta em causa, mas que, por sua vez, levam à constituição de ordens sempre mais complexas.

E isto porque a ideia estática de uma ordem universal imutável é cada vez mais contestada por uma filosofia dinâmica da desordem e da entropia, também ela fundamentada na ideia neo‑darwiniana de uma selecção natural de sistemas de propriedades estruturantes (Morin)”.

Com efeito, só a agregação, enquanto uma reunião de elementos não combinados é que é simples. Logo, uma máquina administrativa, enquanto a complexidade, é uma heterogeniedade organizada. É o preciso contrário daquilo que é simples. É o que caracteriza os sistemas abertos, em confronto com os sistemas fechados. Aqueles que são regidos por mecanismos de auto-organização, que respondem a flutuações aleatórias e que têm processos de crescente complexificação, conduzindo a ordens cada vez mais espontâneas.

Deste modo, cada nova ordem traz consigo novos desafios, donde surgem novas ordens ainda mais complexas. A complexidade diz respeito aos todos, às totalidades que não são simples justaposição de elementos simples, diz respeito aos todos centrados sobre si mesmos. A especificidade está na energia radial ou interna das coisas humanas, dessa anti-entropia que atravessa o mundo físico e o faz subir para o improvável. É esse poder que têm os seres vivos para a regeneração e para a multiplicação. Essa forma de energia que lança para cima e para dentro, para estados cada vez mais complexos e mais centrados. Essa forma de energia que liga os corpúsculos de centro a centro, de consciência a consciência sempre no sentido do improvável.

E nisso, os seres vivos divergem da lei da degradação da energia marcante no mundo físico, onde domina a entropia, aquela quantidade de energia que, sendo gasta numa mudança, se torna irrecuperável pelo sistema e fica para sempre na zona do desperdício. A entropia tende para a involução e para o nivelamento de conjuntos corpusculares marcados pela probabilidade, por esse jogo nivelador e homogeneizador que conduz à morte da matéria. Ela não passa de uma energia tangencial, mensurável.

Não sei se a ilustre criadora do simplex e colaboradora do “blogue” de Vital Moreira e Ana Gomes terá explicado ao Primeiro Ministro que burocracia veio doo francês bureaucratie, termo inventado por Gournay, na primeira metade do século XVIII. E que tal corresponde ao tipo ideal de uma organização formal da sociedade, caracterizada pela legitimação hierárquica da autoridade, com poderes e responsabilidades atribuídas a funcionários que ocupam posições numa determinada hierarquia marcada pelo direito à carreira. Onde cada posição tem objectivos previamente fixados e há uma codificação de todas as regras de conduta que tratam da organização como um todo, onde há ordens comunicadas por escrito.

Porque, segundo Weber, uma das características do Estado Moderno, um conjunto de pessoas marcadas pela competência e não pela fidelidade. O Estado Moderno seria, acima de tudo, um Estado Racional marcado pelo surgimento de uma administração burocrática. E isto porque em todos os domínios (Estado, Igreja, exército, partido, empresa económica, grupo de interesses,associação, fundação,etc.), o desenvolvimento das formas modernas de agrupamento identifica‑se muito simplesmente com o desenvolvimento e com a progressão constante da administração burocrática: o nascimento desta é, por assim dizer, o esporo do Estado ocidental moderno.

Por outras palavras, a burocracia racional é, pois, uma ditadura do funcionário. Apoia‑se na crença na legalidade de ordens estatuídas e dos direitos de mando dos chamados por essas ordenações a exercer a autoridade. Tem uma impersonalidade formalista, consistindo numa dominação graças ao saber que destrói os antigos sistemas de legitimação. Assim, o saber e a ideologia passam a ser os principais pontos de apoio do Estado.

Uma burocracia que também se tornou possível pelo aparecimento de uma economia monetarista que permitiu ao Estado passar a pagar com regularidade aos seus funcionários, abandonando‑se o anterior pagamento em espécie, por exemplo, através do aluguer da função de cobrador de impostos.

Segundo Weber, tem a ver com a acção racional referente a fins (Zweckrational), onde os indivíduos são capazes tanto de definir objectivos como de avaliar os meios mais adequados para a realização desses objectivos, uma acção social marcada pela moral de responsabilidade, onde o valor predominante seria a competência. Aqui já nos situaríamos no campo do Estado racional-normativo ou do Estado-razão, onde domina a acção burocrática, aquela que faz nascer o poder burocrático, o poder especializado na elaboração do formalismo legal e na conservação da lei escrita e dos seus regulamentos, onde dominam a publicização, a legalização e a burocracia.

Mar 28

Cenas da permanecente sociedade de corte, neste reino que já não há

Quem duvidasse do estado de graça do presente ciclo de coabitação do regime poderia, ontem, se tivesse o dom da ubiquidade, ter desfeito as respectivas dúvidas, ao fim da tarde, indo ao lançamento dos livros de duas personalidades do PS: o embaixador Seixas da Costa, sempre potencial ministro dos estrangeiros, e o secretário de Estado José Conde Rodrigues, sempre em diálogo com os chamados operadores judiciários. Por dever de antigo professor tive que preferir este último, não podendo comparecer no Centro Cultural de Belém, junto do antigo aluno e actual professor do ISCSP, o nosso embaixador em Brasília. Já li naturalmente “A Política sem Dogma”, à procura do liberalismo de esquerda, onde concluí que, se me fiasse na argumentação, já nem eu poderia ser de direita.

Senti que, nos “halls” da Católica, sob a biblioteca de António Sardinha, estavam juntas todas as altas esferas pensantes do situacionismo. E o bailado provocou-me um daqueles sorrisos típicos dos observadores radicais, diante dos armadilhados terrenos da barganha, onde me foi dado ver um conselheiro de Cavaco em ameno triângulo com um ex-conselheiro de Soares e um presente conselheiro do Senhor Duque de Bragança, mas onde senti a falta de ilustres hierarcas do Grande Oriente Lusitano, apesar de não faltarem hieracarcas de outras ordens menos regulares, mas ditas regulares. A minha radical presença gerou, naturalmente, civilizadíssimos cumprimentos de quem se interrogou sobre a minha discreta participação no acto, demonstrando como nem sequer em diagonal deve ter passado os olhos pelo texto apresentado.

 

Quero, em primeiro lugar, agradecer ao autor as referências que me concedeu, evocando textos meus do século passado, alguns dos quais ainda nem sequer saíram do limbo da sebenta, quando, no velho palácio da Junqueira, trocávamos ideias antes e depois das aulas de um mestrado, donde fui obrigado a afastar-me, quando ilustríssimos inspiradores tal inspiraram, entre sussurros conselheirais e bancárias jantaradas, naqueles salamaleques típicos dos ineficazes assassinatos morais, quando a adjectivação diabolizante da teoria da conspiração não se adequa ao visado, que não é “opus”, “copus”, avental ou sacrista, como poderia constar da ficha das velhas ou novas pides, cujo quadriculado, pré-cibernético, não consegue conter a raiva dos homens livres.

Por isso sorrio quando recebo “inputs” de estratégia indirecta sobre a alta azáfama que reina entre os meus vizinhos conselheirais do Palácio Cor de Rosa, na sua profissional e quotidiana leitura da jornalada e, talvez, da blogagem, catando os inúmeros recados analíticos que podem ter como objectivo o “bunker” principal da actual coligação. Mesmo o que, hoje, o semanário “O Diabo” transcreve das minhas palavras sobre o CDS e o PSD apenas quer dizer o que soltamente penso, mesmo que erre.

Se consultarem no arquivo oficial a minha ficha da DGS, verificarão que sempre estive no mesmo sítio axiológico-político. As circunstâncias da conveniência e da oportunidade dos carreirismos é que se modificaram radicalmente, menos para quem faz contabilidade de ascensões e quedas. Sempre tive como máxima ambição política ser exactamente aquilo que sou e, neste tempo de homens lúcidos, tendo a lucidez de ser ingénuo, quando digo efectivamente aquilo que penso, engano sempre os que pensam que os outros dizem aquilo que não pensam, ou que vivem uma vida escondida face àquilo que proclamam. Por mim, continuo a tentar viver como penso e, por isso, não posso efectivamente ter de pensar como vivo. Até assino sempre o que quero comunicar. Mesmo em blogue.