Mar 29

Paris. Mariana, bandalhos, bárbaros e francos

Repórteres televisivos lusitanos, que ainda há semanas falavam no regresso do Maio 68, qualificam, hoje, certos desordeiros que aproveitam as manifestações de Paris como vândalos, eles que são descendentes de norte-africanos e centro-africanos que os mesmos vândalos, vindos da bárbara e civilizada Europa do Norte, invadiram, os tais a que nós costumamos dar a corruptela de “bandalhos”, quando afinal somos todos bastardos daqueles bárbaros francos e visigóticos, os tais que, depois de invadirem, por dentro e por acordo, o Império, encabeçaram a plurissecular resistência a mouros e otomanos. Compreendo que alguns meus amigos saúdem, nas manifestações, o belo e despido mito da Mariana, à Delacroix, dado que, por companheirismo antigo, querem os filhos da SFIO no poder. Coisa que aliás noto com alguma simpatia, até porque, estando nostalgicamente próximo dos gaullistas de ontem, detesto esta direita galicista dos fidalgotes, com muitos candidatos a delfins que se vão cordialmente golpeando, como Chirac tramou Chaban-Delmas e Valéry, o próprio De Gaulle, sem terem qualquer princípio que lhes dê “une certaine idée” de França e de Europa. Apenas disputam lugares gestionários de uma coisa que eles não construíram. Os tais “bandalhos” não são os disciplinados socialistas, comunistas e sindicalistas que se manifestam pela continuidade do “État-Providence” e não podemos continuar a usar aquele romantismo retroactivo que nos embaciava as lentes com que confundíamos este presente armadilhado com a juventude perdida. Os polícias da mangueirada preventiva também são filhos da mesma geração confusa, onde não falta até certo deputado europeu, cujo nome não propagandeio, mas que, ainda recentemente, confessou os seus desvios pedófilos, para não falarmos nas memórias de leveza de outras drogas duras, com que alguns faziam o pretenso “make love, not war”, para que olvidássemos que foram os resistentes da “Libération” que acabaram derrotados em Dien Bien Phu e na OAS. Os culpados desta anarquia ordenada não são os tais “bandalhos” do “banlieu”, que, encapuçados, vão aproveitando o vazio de sonho, ideias e esperança, para roubarem e agredirem. Somos todos Pilatos, mesmo quando nos disfarçamos em ideologismos. Até eu, que continuo pelas margens da direita liberal, começo a preferir os mitterrandistas de Fabius a retomarem o “rôle” da Europa, da tal que precisa do “oui par le non” para sair da encruzilhada, através de um baralhar e dar de novo.

Mar 29

Marcelo, ponte da feijoada, bacalhau e desastre da Ponte das Barcas

Neste dia do ano de 1996, Marcelo Rebelo de Sousa era eleito líder do PSD. Depois, veio Paulo Portas, mais Sampaio, mais Moderna, mais Barroso, mais Santana, mais e menos. Hoje é conselheiro de Estado. Com muitos sapos engolidos. E comentários televisivos.

Neste dia, no ano de 1998, era inaugurada a ponte Vasco da Gama, cheirando ainda a feijoada e a um produto que lavaria loiça, quando ainda se vivia em vacas semigordas de monetarismo keynesiano e gestão de subsídios que nos prometiam agricultura a pataco e reino dos céus com doze estrelas.

Neste dia, do ano de 1809, Portugal sentia o sabor dos balanços da balança da Europa, quando, em nova invasão dos franceses, acontecia na travessia do rio Douro, na ribeira do Porto, o desastre da Ponte das Barcas. Somos um povo antigo na dor e, hoje, meio vazio no desencanto, entre o “simplex” e a viagem de Freitas ao Canadá, que é país que só apareceu depois de por lá andarmos a pescar o fiel amigo. Boa sorte, senhor ministro! Hoje ainda estou no remanso orgulhoso de mais um voo das águias.