Mar 24

Europeísta apetece voltar a ser, em tempo de homens de pouca fé

Os donos estaduais da Europa a que chegámos estão concentrados em Bruxelas, na dita cimeira da Primavera, dizendo discutir a actualização da estratégia para o crescimento e o emprego, bem como a definição dos objectivos de uma futura política energética comum. Com Chirac mais preocupado com o CPE e Berlusconi, mais mobilizado pela pugna eleitoral, não consta que tenha sido chamado à conferência Patrick Monteiro de Barros, até porque a Bielorrússia ainda mantém o KGB.

Preferia que a nossa democracia deixasse de fingir que é hipocritamente universal, que ela reconhecesse que os permanecentes subsistemas de medo dos modelos pós-totalitários só poderão se extintos com o necessário tempo da mudança cultural. E à democracia, a Rússia e a Pan-Rússia da união eslava, estão a demorar a chegar. Felizmente ainda não regrediram. Como aconteceu na Pérsia.

É preciso dar tempo cultural e educacional ao tempo do frenesim político e económico. A liberdade não se faz por decreto nem pela lógica de expansão dos hipermercados. E sempre prefiro a Rússia de Putine à China dos bonecos de cera. Quem viveu pós-autoritarismos, sabe de experiência vivida que só há consolidada democracia no Estado se ela assentar na democracia da sociedade civil feita de homens livres. Semeemos estes que aquela chegará, em paz.

Voltando à Europa deste lado, mas que já chega às fronteiras da Ucrânia, reparo que o nosso destino depende de continuarmos a ter esperança nesse espaço civilizacional que vai do Atlântico ao mais além do Ural. Mesmo que recuemos para melhor consolidarmos os passos que, com força moral, pudermos amanhã dar. A Europa do Imperador Valéry já foi. A Europa que aí vem, a do “oui par le non”, exige mais do que os propagandistas subsidiados pelos eurocratas, em campanhas de “marketing” eleitoral.

É nestas alturas que volta a ter sentido assumir-me como europeísta. Como nacionalista do “dividir para unificar”, à maneira de Rougemont. Como federalista das geometrias variáveis, típicas da complexidade, contra jacobinos e empregados de Bismarck e Napoleão. Tenho que voltar à minha agenda azul.

Mar 23

Fasci di Combattimento, horário das 8 horas, marxistas brancos, neolibs, neocons e viva Ortega y Gasset

Hoje se recorda, para além da primeira tentativa oficial de estabelecimento do horário das oito horas de trabalho em Portugal, em 1891, lei que, contudo, só lá nos anos trinta se efectivaria fora do mundo agrícola e da criadagem, a fundação em 1919 dos “Fasci Italiani di Combattimento”, os quais, três anos depois, ameaçando uma Marcha sobre Roma que nunca concretizaram, apenas aproveitaram a ocasião para assumirem o poder, criando a ilusão, na primeira metade do século XX, de uma alternativa revolucionária ao revolucionário bolchevismo.

 

Olhando a coisa tão post-cipadamente quanto ela hoje já é defunta, e muito influenciado por tipos de análise, à Benedetto Croce, sempre direi que um dos piores males do tal fascismo foi ter sido encenado pelo militante socialista Benito Mussolini e amamentado pelo mesmo subsolo filosófico do primitivo neomarxismo italiano, onde Gentile e Grasmci são filhos da mesma mãe ideológica, cruzada em corno maquiaveliano. Coisa que os neofascistas envergonhados dos dias que correm não gostam de admitir, porque também eles não passam de uns meros marxistas brancos como os seus antecessores, dado que a respectiva estrutura não aguenta as doses massificadas de idealismo alemão à Hegel que têm de inocular em serial killer, para parecerem robustos.

 

Cá por mim, pobre e isolado herdeiro de algum tradicionalismo lusitano, consensualista e liberdadeiro, longe das importações “neolibs” e “neocons” com que se embebedam alguns arrependidos do marxismo e do fascismo que se assumem como consciências ideológicas de uma das facetas do situacionismo, ou do beatério banco-burocrático, continuarei a dizer que não há pensamento sem pátria, até para podermos reconstruir uma identidade enraizadamente europeia e aceder ao abraço armilar, pela via de uma nação que tenha saudades de diluir-se na super-nação futura.

 

Logo, de idealismo alemão por idealismo alemão, prefiro o mestre Immanuel, o tal Kant, bem os seus sucessores de Baden e Heidelberg que, em humanismo ibérico, se chamaram Ortega y Gasset, Sérgio, Gilberto Freyre ou Cabral de Moncada, para misturar maçons, protestantes e católicos na mesma fila. Já agora, quando é que um qualquer vereador da cultura da câmara municipal de Lisboa provoca a necessária homenagem ao homem da “Revista de Occidente” que sempre se assumiu como residente oficial nas nossas avenidas novas, enquanto durou o beatério autoritarista do franquismo?

Sempre receei esse terreno em pousio chamado direita, sobre o qual certos filhos-família da santa aliança decadentista, burguesóide e aristocretina, gostam de de implantar criaturas enxertadas em perfumes, pó de arroz e enxumaços apolíneos, esses epifenómenos societários de certa idiossincrasia histérica, massajados pelas mais ilustres leituras dos pretensos tempos modernos.

Mar 23

Que venha Bolonha, mas sem bolonheses! E alguns avisos aos homens livres da cunha estadual e suas cortes…

Já blogueei sobre Bolonha o suficiente para perceberem que, tendo de submeter-me para sobreviver, não deixarei de lutar para continuar a viver. Sou por Bolonha e não pela bolonhesa dessa legião de burocratas planeamentistas que a fauna dos educacionólogos, avaliólogos e outros ornitólogos fez crescer em banha, mas sem músculo, osso e nervo, a estrutura adiposa dos nossos ministérios, onde continua a mandar o ninguém.

 

Bolonha é a última bandeira dos profissionais da pseudo-reforma educativa, esse último reduto dos educacionólogos inventado pela veiga-simonice, onde as criaturas nem sequer têm a categoria do criador, dado que o respectivo papaguear da voz abstracta dos amanhãs que cantam foi recentemente retorcido pelos vários candidatos a reitor-primaz que passaram a circular pelas salas de consulta da renascida Junta de Educação Nacional, entre avaliadores encartadamente aposentados, mas que não dispensam novas aposentadorias, e superburocratas ressaibados que costumam fazer discursos abstractos contra o ensino tradicional, depois de uma viagem de turismo burocrático e sexo dos anjos.
Reparo que eles agora andam à solta, assentes numa gerontocracia dos que não sentem no quotidiano a realidade viva dos alunos e das novas gerações e pouco preocupados com as consequências de desemprego que as respectivas teorias e preconceitos ideológicos produziram, quando a lei atendeu a tal psicopatia sentenciadora. Que venha Bolonha, mas sem bolonheses! Basta usar um par de óculos… a verdade e o honesto esforço não cegam nem se reduzem à dimensão eclipsónica.

Em Portugal, importa notar, quem faz ciência são os cientistas que o praticam e não os metódologos que ocultamente a sentenciam, porque método é mais o caminho para … do que o discurso ideológico ou vingativo sobre o dito, segundo a teoria luisiana do depois de mim o dilúvio, habitual nas deduções cronológico-analíticas dos criadores de livros únicos e dos habituais rebanhos louvaminheiros das jovens viúvas. Ocultismo por ocultismo, prefiro o do regresso dos mágicos que esse ao menos não faz depender o respectivo conceito de investigador do computador que regista os estadualmente subsidiados, com pretende a colonização em curso do novo culturalmente correcto. Só é pena que passe a correr risco a liberdade de pensamento e a sua consequência criativa que é a de ensinar e de aprender. Como homem livre, resistirei!

Mar 23

Viagens ao país de Mariano Gago no século XXI, antes da chegada do MIT

Acabo de ouvir os noticiários radiofónicos do começo da tarde. Reparo no calendário e julgo-me no século XXI. Mas noto que, na primeira notícia, os sindicatos da função pública se manifestam contra as medidas de desburocratização que levam à utilização de novos meios tecnológicos, lançadas sem prévia audição dos trabalhadores e sem promessa de garantia dos respectivos direitos.

A segunda é mais interessante: contra as mesmas medidas clama a Associação dos Industriais de Fotografia, insurgindo-se contra as máquinas digitais, a serem instaladas nas repartições públicas e o cartão único, dado que assim acaba o negócio da fotografia tipo passe que é sessenta por cento da facturação do sector.

Apenas sorrio. E passo às notícias internacionais, com os jovens franceses a fazerem uma grande manifestação em solidariedade com os jovens portugueses que ainda não têm CPE para também protestarem, dado que vivem em regime de recibos verdes, sob um governo da esquerda socialista pura.

Mar 22

O dia nacional do PP, do além-Coimbra e do (des)crédito agrícola

Hoje é um dia CDS demais em termos de efemérides, porque se assinalam duas datas que marcaram o fim do velho CDS: primeiro, em 1992, quando Manuel Monteiro, com o apoio de Paulo Portas, se tornou presidente do partido, sucedendo a Diogo Freitas do Amaral, com o qual tinha regressado José Ribeiro e Castro; segundo, em 1998, quando Paulo Portas sucedeu a Manuel Monteiro, sem o apoio deste, na mesma presidência. Por outras palavras, dois antigos estudantes da Universidade Católica assumiam, pela primeira vez, destaque na cena política nacional, antes de o director do IEP da mesma se transformar na sombra consultora, “neocon” e “neolib”, do palácio de Belém.

E tudo acontece no mesmo dia de 1911, em que se dava a criação das Universidades de Lisboa e do Porto, as quais passavam a fazer companhia à de Coimbra, depois de extinta a Universidade de Évora. Já em 1929, o salazarismo financeiro levava à estadualização do frutuoso e mutualista crédito agrícola que o ministro republicano Brito Camacho havia dinamizado, com o apoio do antigo ministro da monarquia, D. Luís de Castro.

Já me esquecia de dizer que ontem assisti à segunda intervenção quinzenal de Portas no “Estado da Arte”. Gostei do artista, não gostei do líder político feito o tradicional ausente-presente. Reparei como o antigo aliado de Rumsfeld não é tão flexível quanto Barroso. Ficou-lhe bem ser o último dos “bushiman”.

Mar 21

Portugal mestiço, sôtôres, o rolo compressor de Bolonha, tropa, juízes e Barroso

Hoje poucas são efemérides para o meu gosto de recordar, dado que apenas anoto a abertura ao público do Centro Cultural de Belém, em 1993, e o facto de Soares ser desterrado para São Tomé, em 1968. Prefiro saudar a chegada da Primavera e assinalar o dia mundial contra a discriminação racial, onde é divulgado um estudo de 2005 onde se considera que Portugal dos brandos costumes é o quarto país mais racista da Europa.
Por isso, notei que uma esforçada cidadã belga que, na Cova da Moura, tão esforçadamente tem animado o Moinho da Juventude, foi entrevistada pela televisão, em defesa do nosso belo princípio constitucional. Contudo, ao denunciar, e muito bem, a primitivíssima discrimanação entre os portugueses ditos “sôtôres” e os outros, caiu na esparrela de não considerar portugueses os covamourenses de origem africana, quando disse que “os portugueses” que com ela colaboravam como monitores não eram discriminados num local que António Ramos Rosa qualificou como “um lugar mestiço”, símbolo do novo Portugal.
Também eu quero esse Portugal mestiço, fiel a certa memória lusotropical, onde até se possa ter o crioulo reconhecido como língua nacional e uma ampla circulação de dupla cidadania entre as pátrias do fado, do samba e da morabeza, num triângulo estartégico-cultural que dê fundura morena e sulista ao Atlântico, para assim podermos honrar a esfera armilar que a república foi buscar ao Reino Unido de 1816. Por isso, saúdo o gesto do presidente Cavaco ao fazer a sua primeira viagem ao estrangeiro a Cabo Verde, para assistir à posse do presidente local.
Reparo, por acréscimo, que o primeiro diploma promulgado pelo novo presidente tem a ver com a introdução do modelo de Bolonha no ensino superior lusitano. Mesmo que discorde do espírito da coisa, sou obrigado a reconhecer que, perante as realidades do rolo compressor, para nos mantermos independentes temos que saber gerir as dependências e deixarmo-nos das habituais fosquices dilatórias, adaptando-nos rapidamente ao pronto-a-vestir. Porque, com o novo diploma, acabaram as antigas licenciaturas, a não ser para os pequenos núcleos de resistência corporativa, dotados de órgãos de soberania privativos ou de corporativas ordens profissionais.

 

O primeiro ciclo de estudos vai equivaler à quarta classe de antigamente ou ao 12º ano de hoje, transformando os três primeiros anos do dito superior num mero politécnico que dá bacharelatos, para que o antigo conceito de universidade comece no antigo quarto ano das licenciaturas, cujo valor será transferido para os novos mestrados, e estes para os os cursos de doutorado os substituam. A avalanche uniformista que obrigou a Europa do Norte a aumentar o número de anos do superior e a Europa do Sul a diminui-los parece-nos imparável e pode levar a uma competitividade e a uma selecção das escolas pela qualidade, dado que muitas universidades de hoje passarão a meros politécnicos e muitos politécnicos para a categoria liceal. De qualquer maneira, o desafio está lançado e a escolha vai passar a depender mais do consumidor transfronteiriço.

 

O velho conceito de “sôtôr” com que a república quis substituir o “barão” do liberalismo, tal como este sucedeu ao “frade” do “ancien régime” está quase morto, podendo abalar a tendência que temos para a caserna da sociedade de ordens e recordar-nos que o próprio liberalismo vintista começou abalado pelo confronto das novas ordens do “partido dos becas” (ou magistrados) contra o “partido da tropa”. Tal como o vinte e cinco de abril se traduziu numa revolta dos tais meritocratas do partido da tropa, para depois ser abafado pelo “partido dos partidocratas”, sem que o “partido dos becas” tenha conseguido instituir um “Estado de Juízes”.

 

Resta saber se hoje não se assiste, pelo contrário, a um confronto equivalente ao que tivemos na viradeira, entre o partido inglês e o partido francês, ou na guerra fria, entre o partido sovietista e o partido ocidentalista. Contudo, a deserção ontem manifestada por Durão Barroso, arrependido do apoio dado ao partido norte-americano, na invasão do Iraque, pode levar o partido europeísta a dar mais atenção à crise deste Estado de providência europeu a que chegámos.

Mar 20

Soberanos loucos que não regiam, verdadeiros métodos de estudar, patuleias, autoritarismos e as viúvas de Portas

Neste recomeço madrugador da longa semana que aí vem, sobretudo para quem está adoentado, noto, na minha agenda, que, hoje, se comemora tanto a morte da rainha louca, D. Maria I, que era soberana, mas não regia, em 1816, como também o passamento de Luís António Verney, em 1792, o tal que, da estranja, nos quis dar o verdadeiro método de estudar, coisa que ainda não encontrámos, porque nem todos os que, da estranja, nos dão lições têm sequer método e por cá já temos tudo, a começar por um ministro da ciência e da verdadeira inteligência.

A Itália e Paris já não são luzeiros da inteligência cristã, polida e civilizada. Os holofotes de Oxford e Navarra já estão fanados e foram quase todos recrutados por Belém e pela banca. E até Marques Mendes já não conta com a Universidade Atlântica que o sócio Isaltino lhe forneceu e para onde costumava convidar Sócrates, com o apoio do seleccionador nacional do grupo de Bilderberg que punha a coisa na primeira página do seu semanário.

 

Por isso, importa ir ao dia de ontem, que tem duas datas que não podem esquecer, dado reflectirem as tradicionais más relações que, em Portugal, existem entre o Povo e o Estado. A primeira tem a ver com o começo da sublevação da Maria da Fonte, em 1846. A segunda com o plebiscito que aprovou em 1933 a Constituição dada por Salazar à Nação, depois de afastar, do comando da Ditadura, o chamado espírito republicano e de mandar traduzir em calão o vaticanismo e o neo-organicismo galicista.

 

Na primeira, se, no terreno militar, a grande coligação de miguelistas e setembristas deu cabo do cabralismo, assinale-se que foi, também da estranja, em no0me do princípio da hierarquia das potências, que veio uma divisão militar espanhola, uma esquadra britânica e as teias da diplomacia francesa, do tempo do enrichez vous, as quais nos obrigaram a ter que voltar a gramar os Cabrais, através da Convenção do Gramido, sem a criação de um think, thank entre Georgetown e a Rua da Palma de Baixo que está por Cima, com o aplauso de Bilderberg.

Na segunda, quando até as abstenções contaram como votos a favor, importa reter como lição que o pior do autoritarismo em Portugal não está na loucura totalitária do quem não é pela revolução é contra a revolução, como o desmando gonçalvista chegou a discursar, mas antes na manha autoritária do quem não é contra mim é a favor de mim, como o santacombadense praticou, em nome da providencialista e maniqueísta cidade de Deus. De um ao outro venha o Diabo e escolha. Ou uma revolta que, sem revolução, os esmague.

 

Já agora, anteontem, sábado, dia 18, reparo que, em 1897, foram criadas as escolas normais e que, em 1911, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Uma nota de pesar, de hoje, para a morte de Fernando Gil, o filósofo assessor de Mário Soares e de Mariano Gago, amigo pessoal deste último, que logo emitiu nota oficiosa do seu ministério, divulgando o infausto. As ciências sociais e humanas perdem assim mais um aliado que, apesar de logicista, sempre poderia alinhar na necessária resistência ao neopositivismo, com ar de pós-moderno.

 

Não sou capaz de comentar o que ontem ocorreu no CDS. Reparo que o dito antagonismo militante das viúvas de Portas põe um a dizer que quer um partido sedutor, atractivo, sexy e outro, a proclamar, de forma minhota, que a missão do mesmo é ser oposição ao Engenheiro António Guterres.

Apenas noto que, no processo do “lobby” portista para o regresso do criador, as pernas de tal criatura vão além da revista e do blogue referidos por José Pacheco Pereira, dado que importa assinalar a fábrica doutoral do Senhor Rumsfeld e as oficinas que a abastecem, bem como as próprias formas de gestão deixadas no Instituto de Defesa Nacional por um dos génios estratégicos que o “bushismo” caseiro nos invencionou.

Por isso, esboçamos um sorriso quando reparamos que, neste fim de semana, se comemorou o terceiro aniversário da intervenção da República Imperial na Mesopotâmia, na mesma altura em que se registou a inclusão do tal instituto, que foi nacional, na lista do PRACE.

Mar 17

Magia negra, Milosevic, Zaki Laidi, reforma do Estado, CPE/PRACE e apenas ardem as ruas de Paris

Em Barcelos, por causa do futebol, havia, à porta do estádio, galinha preta degolada, velas e onze ovos pintados com a caravaca…mas o feitiço não deu em golos. Ontem, aliás, importava recordar que, no ano de 2003, se deu a célebre cimeira das Lajes, onde Durão Barroso acolheu Bush, Blair e Aznar, assim lançando, com sucesso, a sua candidatura a presidente da Comissão Europeia e comemorando o ocorrido em 1974, dia do célebre golpe das Caldas que antecedeu o 25 de Abril.

 

Ontem também, as forças norte-americanas, integrando as iraquianas em estágio, lançaram o maior ataque desde a invasão de 2003. Hoje, comemora-se a data de 2002 que deu a Barroso uma vitória relativa nas eleições, obrigando-o a uma coligação com Portas, no mesmo dia em que, no ano de 1939, Salazar entrava em Pacto Ibérico com Franco e que, em 1913, surgia a União Operária Nacional, base da futura CGT, que era anarquista e tudo.

Ontem também o “Quartier Latin” continuava envolvido numa nuvem branca, da gás lacrimogéneo. O carniceiro dos Balcãs está prestes a ter funeral e o respectivo suicídio liquidou o que restava do TPI.

 

Por isso é que o PS convidou um professor francês de ciência política a dar-lhe um estágio renovador, longe da gendarmerie e do CPE. E o dito, Zaki Laidi, repetindo Lang, veio cá dizer que a esquerda tem que se “reinventar” para enfrentar os desafios da globalização, o que passa por modificar uma atitude de recusa da mudança, em favor de uma via reformista.

Mas não de qualquer maneira: as reformas não se fazem “sem concertação, sem parceiros sociais”, sem oferecer contrapartidas. E não se fazem no medo: “Quando se é de esquerda, não se pode construir um caminho reformista assustando as pessoas.” Ribeiro e Castro não será, por enquanto, derrubado por Portas e Manuel Monteiro não ameaça regressar.

 

Reaccionário foi, entre nós, um condutor de 83 anos lançou ontem à tarde o pânico na A8, ao circular em contramão durante cinco quilómetros. Reformista é o governo de Sócrates que anuncia a circunstância de mais de 75 mil funcionários públicos serem “objecto de especial avaliação” e, entre extinções e fusões, desaparecem do mapa da administração pública cerca de 120 institutos e organismos.

Estes são os grande números do PRACE, versão final do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado, apresentado ao primeiro-ministro, José Sócrates, no final da semana passada. Marques Mendes continuará líder de transição na travessia do deserto do PSD. Nunca a vida em Bagadade foi tão insegura.

 

A Bolsa lusitana sobe, por causa das OPAs, entre os jogos das meias finais entre SONAE-PT e BCP-BPI, com reportagens sobre a vida quotidiana dos treinadores Belmiro e Teixeira Pinto. A Bolsa sobe, as bolsas minguam. Voltando ao politólogo francês, mesmo de esquerda, a “realidade poderosa, entre nós, não são os recibos verdes para os jovens, mas o desaparecimento de 18 governos civis.

Porque “é incontestável que a base social da esquerda se tornou muito conservadora.” O mesmo é dizer que não quer abdicar dos privilégios alcançados – tornando-se ela própria numa fonte das desigualdades que a esquerda, tradicionalmente, tenta combater. É o caso da Direcção Geral do Património, do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, do Conselho Superior da Protecção Civil, do Instituto de Defesa Nacional e mesmo do STAPE.

 

Cavaco conversou de forma civilizada com Sócrates, numa mesa austera e castanha e não em sofás vermelhos. Não sabemos se a conversa foi gravada, como nos tempos de Eanes. As inconfidências desta cimeira da coabitação serão em breve divulgadas pela RTP-Memória, que também transmitirá as cenas mais picantes do julgamento da Casa Pia, ocorrido ontem.

Mar 16

Viagem aos traseiros da “Révolution” de uma França que é pretérito, numa Europa sem presente

Também eu estava em Paris, quando os filhos e afilhados do Mai 68 fizeram uma viagem retro à bastonada da révolution, numa altura em que metade dos ministros da Europa são oriundos desses soixante-huitards, antes de se terem aberto lojas de santinhos que misturam, no mesmo altar, Iemanjá, Che Guevara, Gandhi e os pastorinhos de Fátima. Assisti, por dentro da própria rua, ao tradicional jogo do gato e do rato, na luta contra o CPE, Villepin e Sarko. E como pai de jovens licenciados lusitanos que vivem de recibos verdes, esbocei um sorriso, até porque ainda não cedi à tentação de meter cunha a um desses “amis” maoístas e trotskistas de outrora que agora são engenheiros deste Estado europeu a que chegámos, para fazer o habitual curto-circuito à falta de justiça que vai matando a “liberté, égalité et fraternité”.

 

Paris continua desequilibradamente viva entre o imaginário libertino do capitalismo selvagem e o proteccionista coitadinho de um État-Providence que obriga os africanos a fazer fila à procura da senha para consulta diante do edifício dos “Médécins du Monde”. É por isso que hoje, quem quiser estudar a coisa vai ao Collège de France e pode comparar em video a última conferência do especialista na coisa, o Professor Rosanvallon, antes da academia ter sido invadida pelos vizinhos estudantes da Sorbonne, que aproveitaram o vazio de vigilância da “gendarmerie” sobre o prédio ao lado, para ensaiarem as últimas técnicas de pedrada contra os representantes da globalização, aqui na rue des Écoles.

 

Os filhos dos pretensos pacifistas de ontem mostram como sem o freio da profiláctica policial por todo o lado semeariam carros incendiados, nesta Paris cujas colunas míticas são “les révolutions”, com muitas desordens e repressões que não levaram a nenhum lado, mas que continuam a ser escritas pelos revolucionários frustrados transformados em historiadores oficiosos, depois de instalados no calor dos seus “bâtiments” ultra-burgueses, onde maoístas e trotskistas se pintam hoje de eco-socialistas e radicais de extrema-esquerda, não compreendendo que há quem tenha estado sempre do outro lado, contra Laval e Vichy e a favor de Aron, Camus e Malraux, desfilando nos Campos Elíseos, em 1968 a favor de De Gaulle.

 

Por mim, que sempre desconfiei dessa floresta de equívocos a que dão o nome de revolução e que conheço as técnicas das guerras de multidões, continuo a notar que qualquer cobarde, no seu seguidismo, pode ser arrastado pela torrente das massas, quando julga que se transfigura em herói, só porque repete o slogan e a “palavra de ordem” que os conspiradores de manual previamente ensaiaram. Mas reparo que alguns destes artistas secundários e figurantes se sentam hoje nos cadeirões ministeriais e paralamentares da dita Europa, perdidos que foram os sonhos juvenis daquilo que qualificaram como militância. Hoje dão ordens aos mesmos agentes repressores que ontem denunciaram ou são os principais beneficiários dos ditos aparelhos movidos a violência e a ideologia burguesas. Isto é, entre ontem e hoje, há o mesmo deserto de ideias e a mesma falta de espinha.

 

A Europa não passa de uma velha praça onde estão abertas muitas pensões frequentadas por estudantes Erasmus, cantores de ópera do Paquistão, canalizadores uzbeques e outros que tais que agora ameaçam tirar o emprego ao proletariado universitário dos arrondissements. Mas em Le Parisien, que todos lêem, não há uma só primeira página sobre a crise do Mundo que vai além do Hexágono, demonstrando como a União Europeia, nas suas intimidades nacionais, continua apenas a discutir os pequenos dramas da vizinhança, neste glocalismo provinciano e egoísta em que nos enrodilhamos.

 

A França é cada vez mais um pretérito de uma Europa sem presente. De um bairro antigo do defunto Euromundo, onde temos vergonha de o ter sido, só porque continuamos a viver uma espécie de guerra civil fria, onde todos vamos definhando. É a simples memória de uma pretensa grandeza que faz desta Europa dos pequeninos um tempo que já não há. Por mim, português antigo, mais próximo da geração da “valise de charton” que dos exilados da Boulevard Haussman que tratavam por tu mon ami Mitterrand, apenas sei que nunca tivemos Vichy, colaboracionistas e ocupação alemã. E nada tenho a ver com essas culpas alienígenas, porque já me bastam os traumas das minhas próprias guerras coloniais, para desfiar meu rosário de vergonhas. Apenas sei que também em França as muitas guerras coloniais fizeram da nação uma ideia sem raça.

 

Já por aqui aconteceu dessa moda que passa de moda, onde só é novo aquilo que se pode esquecer. Já por aqui houve a ilusão das vanguardas e da revolução, com algum terror, muito desespero e imenso fingimento. Porque a revolução deu em guilhotina e em invasão e só se aguentou com os massacres da Vendeia, acabando por chamar-se Napoleão, coisa que, em português, se foi traduzindo por Junot, Soult e Massena, com traidores, Ponte das Barcas, protector inglês e mudança da capital para o Rio de Janeiro.

Agora podemos passear no bairro do Marais entre rabinos de barbicha, bandeiras arco-íris e estrelas de David, fazendo bric-a-brac do sagrado, antes de voltarmos para o doce lar dos brandos costumes, percorrendo a fumarada destes traseiros da globalização, que são a fealdade típica das megacidades produzidas pelas teias de um tecnocracia possidente que vai gaguejando o pensamento único derramado pela secção intelectual da República Imperial que resta.

Afinal, o radical-chic já não rima com Paris, mas eu continuo a ser francês, apesar de desconfiar cada vez mais dos preconceitos de esquerda e dos fantasmas de direita das nossas classes A e B que vão reduzindo o mundo aos quintais dos bares, ginásios e restaurantes frequentados pelos nossos capitaleiros de sucesso e que acabam por inibir os processos criativos e as próprias vocações literárias e artísticas, sobretudo quando o abstracto “ninguém” dos pretensos críticos se transforma num sindicato das citações mútuas, deste minimalismo pós-moderno das letras e artes do novo cavaquistão.

Mar 15

Efemérides

Hoje, dia 15, quando em 1939, Hitler invadiu a Checoslováquia, importa ir atrás, aos tempos da Grande Guerra, para dizermos que em Portugal, no ano de 1916, surgia o governo da União Sagrada, com democráticos e evolucionistas, sob a formal presidência de António José de Almeida, mas sem os evolucionistas de Brito Camacho e até sem os monárquicos que lá deviam estar se o governo fosse efectivamente de unidade nacional, dado que na guerra morreriam todos.