Abr 17

O 17 de Abril de 1969, escola dos ministros do estadão de hoje e a baía dos porcos, com Filipe II à mistura

Foi há pouco mais de um quarto de século, há tanto tempo. Em Portugal, vivíamos a guerra de Angola, da Guiné e de Moçambique e estávamos prestes a inicial a chamada primavera marcelista. A nossa esquerda continuava a traduzir a França em calão e com algum atraso, pelo que o Maio de 1968 nos chegou em Abril de 1969, com a chamada crise universitária de Coimbra.

 

Foi há pouco mais de um quarto de século, há tão pouco tempo. A Primavera ainda não voltara a florescer em Praga, onde ainda permaneciam os tanques do Pacto de Varsóvia; a Primavera ainda continuava a ser reprimida na Polónia de Walesa, na Rússia de Soljenitsine, na Hungria, na Roménia, na Bulgária em em todas aquelas pátrias onde a lógica de um comité central continuava a negar a evidência de ser o homem que faz a história e não a história que faz o homem. Porque, como dizia Winston Churchill (1874-1965), os regimes de liberdade, apesar de serem os piores de todos os regimes políticos, são, contudo, os menos péssimos de todos…

 

 

 

Aliás, para entendermos a temperatura da sociedade portuguesa de então, basta relermos Maio e a Crise da Civilização Burguesa, da autoria de António José Saraiva, bem como a contestação da mesma obra levada a cabo por Mário Sottomayor Cardia, intitulada Sobre o Antimarxismo Contestatário ou as Infelicidades de um Jadonovista Ofuscado pelo Neocapitalismo, onde o posterior ministro da Educação invocava a ortodoxia marxista-leninista para rebater o típico caso do ideólogo que volta as costas às raízes da sua própria ideologia.

 

Saraiva tinha assinalado que o mais importante de tudo o que fica deste acontecimento (Maio francês) é a revolução cultural. Cardia replicava, dizendo que Saraiva não poderia ter descoberto terreno ideológico mais favorável à transplantação dos velhos temas sebastianistas do Quinto Império.

 

 

 

Cardia ainda acreditava que o marxismo … abre perspectivas radicalmente inovadoras e coerentes com o desenvolvimento da globalidade das criações humanas e que o socialismo realizou e realiza na União Soviética e no conjunto dos países da Europa do leste… obra de grandeza verdadeiramente ímpar na história humana.

 

 

 

Por cá o heroísmo antifascista dos líderes estudantis iria em breve ceder ao método da barganha e dos salamaleques de Corte. Não tardaria que uma delegação dos estudantes visitasse o presidente Américo Tomás, para fazerem as pazes, naquilo que alguns viram traição e outros manha de animal político. Um dos líderes, aliás, começava assim uma auspiciosa carreira que o levaria ao pintasilguismo e à posterior adesão ao PS, onde chegaria a ministro da reforma do mesmo estadão com quem se reconciliara em autoritarismo, sendo hoje o emérito líder parlamentar do partido que em 1969 estava a quatro anos de ser fundado.

 

 

 

Na altura, eu ainda era mero estudante liceal de Coimbra e observava a coisa de fora, reparando como os adversários do processo praticavam os métodos que imputavam ao adversário. Lembro-me de ter andado pela universidade a reparar na lista e nas fotografias dos “traidores”, que era como chamavam aos adevrsários que não aderiram à greve, e até poderia reparar nas cenas de violência praticadas nos domicílios de alguns deles, por acaso mulheres e por acaso com uma delas grávida. Estórias que a história dos vencedores não gosta de registar.

 

Não se ficam por aqui as efemérides de hoje. Acrescente-se que o inventor das novas fronteiras, um tal John Kennedy, considerado o ídolo político de Pedro Santana Lopes e José Sócrates, autorizava o desembarque na Baía dos Porcos, uma falhada operação da CIA, realizada nesta data do ano de 1961, visando derrubar o nascente regime de Fidel de Castro.

 

E mais uma efeméride que ontem devia ter assinalado: a eleição de Filipe II de Espanha como rei de Portugal, nas cortes de Tomar.

Abr 17

Foi há pouco mais de um quarto de século, há tanto tempo

Foi há pouco mais de um quarto de século, há tanto tempo. Em Portugal, vivíamos a guerra de Angola, da Guiné e de Moçambique e estávamos prestes a inicial a chamada primavera marcelista. A nossa esquerda continuava a traduzir a França em calão e com algum atraso, pelo que o Maio de 1968 nos chegou em Abril de 1969, com a chamada crise universitária de Coimbra. Foi há pouco mais de um quarto de século, há tão pouco tempo. A Primavera ainda não voltara a florescer em Praga, onde ainda permaneciam os tanques do Pacto de Varsóvia; a Primavera ainda continuava a ser reprimida na Polónia de Walesa, na Rússia de Soljenitsine, na Hungria, na Roménia, na Bulgária em em todas aquelas pátrias onde a lógica de um comité central continuava a negar a evidência de ser o homem que faz a história e não a história que faz o homem. Porque, como dizia Winston Churchill (1874-1965), os regimes de liberdade, apesar de serem os piores de todos os regimes políticos, são, contudo, os menos péssimos de todos… Por cá o heroísmo antifascista dos líderes estudantis iria em breve ceder ao método da barganha e dos salamaleques de Corte. Não tardaria que uma delegação dos estudantes visitasse o presidente Américo Tomás, para fazerem as pazes, naquilo que alguns viram traição e outros manha de animal político. Um dos líderes, aliás, começava assim uma auspiciosa carreira que o levaria ao pintasilguismo e à posterior adesão ao PS, onde chegaria a ministro da reforma do mesmo estadão com quem se reconciliara em autoritarismo, sendo hoje o emérito líder parlamentar do partido que em 1969 estava a quatro anos de ser fundado. Na altura, eu ainda era mero estudante liceal de Coimbra e observava a coisa de fora, reparando como os adversários do processo praticavam os métodos que imputavam ao adversário. Lembro-me de ter andado pela universidade a reparar na lista e nas fotografias dos “traidores”, que era como chamavam aos adevrsários que não aderiram à greve, e até poderia reparar nas cenas de violência praticadas nos domicílios de alguns deles, por acaso mulheres e por acaso com uma delas grávida. Estórias que a história dos vencedores não gosta de registar.