E nestas efemérides da minha agenda, onde quase todas vêm da minha recolha pessoal de factos, e não dos almanaques que por aí se repetem e traduzem em calão enciclopédias, finjo que falo do passado, através de metáforas, sujando as mãos em compromissos do tempo que vai passando. Reagindo contra a ilusão de resolver guerras com o desespero das armas irresistíveis, através das quais costumamos medir a superioridade civilizacional da pretensa história dos vencedores. Abrindo a caixinha fechada dos nossos fantasmas. Das relações da Maçonaria e do catolicismo com o poder civil do Estado Contemporâneo. Desde a circunstância de a nossa última dinastia se ter irmanado com a tricolor maçónica de Garibaldi e Mazzini, o que tanto irritou o papa, à verdade de nosso Império Colonial recente ter sido uma criação de azuis e brancos e verde-rubros, também maçonicamente marcados, em nome da bela ideia de missões civilizadoras laicas, com que nos adaptávamos ao ritmo do nacionalismo místico da III República Francesa e do british modelo do white man’s burden. E outro fantasma é o de Rolão Preto. Que tanto foi um fascista autêntico como um anti-salazarista consequente, de golpe de Estado e tudo. Coisa que em Espanha é acompanhada por um Dionísio Ridruejo, o autor do hino da Falange, do Cara al Suel, que passa a democrata antifranquista. Por outras palavras, muitas lendas e narrativas de certa literatura de justificação dos camaleões, adesivos e viracasacas não aguentam a prova dos factos. É por isso que me divirto quando, ligando a televisão, reparo como antigos ministros que comandavam a PIDE nos continuam a dar lições de teoria da democracia.