Indigna-se o Professor Doutor Vital Moreira com os meandros da acumulação de professores do ensino superior, onde dois dos casos paradigmáticos são excelsos coimbrões. Revolta-se também com os negócios da Católica na zona Centro e manifesta-o com justa analítica. Registo a ocorrência. Registarei como Pôncio Pilatos lavará as mãos, com a lei a ser mais do que o direito e a meter a justiça na gaveta. Como sempre. Nunca gostei de turbo-professores. Já fui professor acumulador e deixei de o ser quando verifiquei que, estando em exclusividade, passei a ganhar mais trabalhando bem menos. Verifico agora que todos podemos espiolhar, pela Internet, quem dá aulas onde, mas fiquei ainda sem saber como se processam as acumulações ocultas, resultantes das actividades liberais dos funcionários públicos que são professores públicos. Sugiro que, na Internet, se discriminem as actividades de consultadoria, avença e advocacia de tais agentes comunitários, bem como os proventos extraordinários que auferem de actividades prestação de serviço empresarial e político. Proponho que todos tornem disponíveis as respectivas declarações de IRS, para podermos comparar os acumuladores do “turbismo” com os acumuladores do “avencismo” e da “consultadoria”, especialmente nas zonas que são enquadráveis no conceito de “jobs for the boys”. Tanto as do Estado-Laranja, como as do presente estado a que chegámos. Tanto é criticável o professor que diz dar aulas em cinco ou seis universidades como o que faz parte de não sei quantos conselhos fiscais ou emite pareceres para não sei quantos ministros, porque às segundas, quartas e sextas é funcionário público e às terças, quintas e sábados é liberal que faz discursos contra os neoliberais e a favor dos socialistas. Por mim, posso indicar as tarefas que recusei em regime de parecerística a ex-ministros do PS e do PSD, para poder continuar a criticar o PS e o PSD. Posso também indicar as que recusei a autarcas do PP, PS e PSD, bem como os ilustres professores não acumuladores que me substituíram e os que me indicaram para a tarefa. Alguns são, ou foram, os excelsos discursadores contra as acumulações, quando devíamos apenas registar os contornos dos grupos de pressão e dos grupos de interesse nas suas ramificações universitárias e putrefacções partidocráticas, ministeriais, autárquicas, empresariais, tribunalícias, cardinalícias e mediáticas . Em Portugal, o silêncio é comprado a cheques, com cobertura pública. Como dizia o outro, sempre que me falam de inteligência puxo logo… do livro dos ditos. Pistolas já não são precisas! Muitas têm sido as boas almas que se mostraram indignadas com aquilo a chamaram denúncia, quando eu apenas disse o que posso perspectivar da minha postura. As chamadas proibições das acumulações, se apanharam alguns abusos, deixaram de lado inúmeras situações de “out of control”, nomeadamente de jubilados, aposentados, eméritos e reformados que passaram a monopolizar os lugares acumulativos, em boa aliança com políticos de todos os partidos, nomeadamente deputados que fazem as leis contra as acumulações. Sugiro também que percorram a lista dos chamados avaliadores e que se consulte a respectiva biografia acumuladora, para entendermos como a barganha pode ser a tal peneira que oculta o sol da verdade. Que se faça um adequado organograma da rede das influências de partidos, ordens maçonicas e ordens catolaicas no complexo intelectual-universitário e que se junte o picante das empresas de construção civil que são sócias, clientes ou gestoras de projectos das várias universidades públicas, concordatárias e privadas, para chegarmos à conclusão como entre os mundos da política, da pulhítica, do auatarquismo e do universitarismo há muitas coincidências. A chamada autonomia universitária entrou em degenerescência devido ao chamado método democrático de gestão das escolas. O poder resultante das eleições corporativas não consegue ter uma relação saudável com a autoridade típica daquilo que as leis democráticas reconhecem como instituição corporativa e meritocrática. Apesar de continuar um liberal pouco jacobino e nada estadualista, reconheço que importa que a lei geral e abstracta limpe estas cumplicidades endogâmicas. Importa pois que surja um ambiente de menos Estado e de melhor Estado, com efectivos concursos públicos e nacionais para professores, sem a prévia fotografia; incentivos de carreira à mobilidade; e uma urgente política nacional de apoio à periferia e de luta contra a desertificação do país interior. Continuamos a gastar demais por falta de organização do trabalho nacional. Uma boa reforma, copiando os modelos dos nossos parceiros irlandeses, espanhóis, franceses e italianos, sempre nos pode livrar da mentalidade terceiromundista e de alguns tumores…
Daily Archives: 21 de Setembro de 2006
Brasil, onde o pensamento consegue lançar raízes
Aqui, Silvestre Pinheiro Ferreira é mestre, José Bonifácio, um estandarte e até se conta a história de Avelar Brotero, o jurista, não o botânico, o tal que para aqui veio em 1825, depois de uma actividade de magistrado na pátria de origem, e que se transforma no primeiro lente da Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi secretário durante quatro décadas.Será que nos esquecemos dele, só porque pediu a nacionalidade brasileira em 1833.Mas mestre Agostinho da Silva sempre exibiu, até morrer, o seu passaporte da terra de Vera Cruz… Deparo-me com a reedição da antologia do pensamento político de Walter Porto, dita “Conselhos aos Governantes”, onde alguns portugueses têm as suas obras, como Sebastião César Meneses, D. Luís da Cunha ou Sebastião José de Carvalho e Melo, ao lado dos gigantes como Platão, Maquiavel ou Frederico II, num universo de apenas uma dezena de autores, coisa que espantaria muitos dos nossos tradutores em calão da “political ttheory”. Felizmente que nestas bandas o pensamento consegue lançar raízes. Que consigamos retomar as saudades de futuro.
Retalhos da vida quotidiana deste Brasil democrático
Tenho passado grande parte dos meus dias de trabalho na biblioteca do Senado brasileiro, para completar meu trabalho sobre a cronografia do pensamento político, que penso editar até ao fim deste ano. Não tenho qualquer cunha ou recomendação que me permitam aceder a este templo da democracia brasileira. Pego o táxi, desço, entro na recepção, digo que quero entrar, pedem-me o bilhete de identidade português, passam a maleta pelo raio X, dão-me um autocolante de visitante, dizem-me boa estadia e é entrar e circular por todo o lado das duas câmaras, sem qualquer desse sentido de “bunker” securitário que se respira noutras paragens. Viva a democracia. Reparo como é francamente interessante o balanço das publicações parlamentares, com inúmeros estudos plurais sobre a realidade política brasileira, com particular destaque para as origens do pensamento político, onde os grandes nomes lusitanos, com coincidência de labor com os inícios deste Estado, são talvez mais bem tratados do que na pátria madrasta. Aqui, Silvestre Pinheiro Ferreira é mestre, José Bonifácio, um estandarte e até se conta a história de Avelar Brotero, o jurista, não o botânico, o tal que para aqui veio em 1825, depois de uma actividade de magistrado na pátria de origem, e que se transforma no primeiro lente da Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi secretário durante quatro décadas.Será que nos esquecemos dele, só porque pediu a nacionalidade brasileira em 1833.Mas mestre Agostinho da Silva sempre exibiu, até morrer, o seu passaporte da terra de Vera Cruz…
Deparo-me com a reedição da antologia do pensamento político de Walter Porto, dita “Conselhos aos Governantes”, onde alguns portugueses têm as suas obras, como Sebastião César Meneses, D. Luís da Cunha ou Sebastião José de Carvalho e Melo, ao lado dos gigantes como Platão, Maquiavel ou Frederico II, num universo de apenas uma dezena de autores, coisa que espantaria muitos dos nossos tradutores em calão da “political ttheory”.
Felizmente que nestas bandas o pensamento consegue lançar raízes. Que consigamos retomar as saudades de futuro. Mas outras imagens me são transmitidas com a força da verdade, como a impressionante reportagem que vi na televisão sobre os catadores de carangujos dos mangues do Nordeste, assim se confirmando como continuam válidas as observações de Josué de Castro sobre “Homens e Caranguejos”. Continuo também a devorar os debates políticos, achando curiosamente arqueológica a intervenção de um representante da frente de esquerda de Heloísa Helena, com esquerda revolucionária, folclórica e comunista, ainda invocando o legado de Caio Prado Júnior, Celso Furtado e Florestan Fernandes. O que leva o próprio Partido dos Trabalhadores a se assemelhar cada vez mais ao nosso PS dos primeiros tempos da pós-revolução, coinfundindo-se com o grande Bloco Central, dito social-democrata.
Contudo, mais de metade do tempo dos noticiários, impressos, radiofónicos e televisivos, passam-se com a denúncia do mais recente escândalo que envolveu a classe política, neste caso do PT, com declarações sucessivas que esperam a salvação vinda dos operadores judiciários e policiais, num modelo que ameaça transformar este país numa espécie de Estado de magistrados e investigadores policiais, enquanto os tradicionais tutores da moralidade e do bem comum, como os militares ou os eclesiásticos se ficam por declarações tipo música celestial.
Imaginativos são alguns segmentos da campanha, como a utilização daquilo que aí, no Porto, chamavam cabeçudos e gigantones, com os bonecos dos candidatos, os quais se vão passeando aos saltitos pelo centro da cidade. Entretanto, o líder do Movimento dos Sem Terra trata de proferir uma conferência na Escola Superior de Guerra, onde foi aplaudido por grande parte da elite militar. O resto são sucessivas declarações daquilo a que chamam justiça trabalhista, uma invenção de Getúlio, que não anda à cata das tradicionais vigilâncias sobre as justas causas para os despedimentos, que aqui a legislação é bem mais liberal, mas antes do renascimento da escravidão e da chaga do trabalho infantil. Vale-nos que em Alagoas, as eleições costumam ser violentas e já se despachou para o território tropa federal, num sítio onde o coronelismo ainda usa arma e não aprece haver bala perdida, porque todas elas costumam ser eficazes na eliminação do adversário…