Nov 17

As primárias dos estados gerais da direita, ou a escolha das sete maravilhas de Portugal

Começou ontem, com pompa e circunstância, a primeira fase do concurso das “Sete maravilhas de Portugal”, com o lançamento das primárias que hão-de mobilizar os estados gerais da direita. Quase em concorrência directa, tivemos os primeiros passos da campanha de Aníbal Cavaco Silva e de Pedro Santana Lopes, enquanto Maria José Nogueira Pinto (Avilez) era despedida por um descendente do ex-presidente Carmona na autarquia alfacinha e Pedro Duarte se zangava com Rui Rio, lá para as bandas da Foz do Douro, enquanto, em Navarra, António Ramalho Eanes se assumia brilhantemente como doutor em filosofia e letras, negando pertencer ao Opus Dei, com o CDS a abster-se na socrática lei das finanças locais.

 

Confesso que, de todos os espectáculos oferecidos nessa quinta-feira gorda, preferi o Pedro e pus o “video” a gravar o Cavaco, porque não gosto de enlatados que, como a pescada, antes de o serem já o eram. Quanto ao Doutor Eanes, também já vi o fim do filme, dado que, no próximo ano, estará nos claustros da universidade concordatária, talvez a disputar o cargo de John Charles Sword, tão atarefado que este anda a preparar as relações de Belém com as correntes profundas neocons e neolibs. Quanto ao resto, senti, ontem, que ardiam as orelhas do fafense, supremo comendador do PSD, talvez a pensar em engrossar as fileiras dos estados gerais de Manuel Monteiro, para que também já se mobilizou Ribeiro e Castro, enquanto Paulo Portas prepara o ensaio de regresso ao palco, agora que Rumsfeld o deixou.

 

Pedro, que prometeu nunca mais dizer nunca, mostrou estar disponível para receber o apelo dos seus exércitos de apoiantes, quando tiver a sua situação profissional estabilizada e receber os direitos da 50ª edição das suas obras. O crítico de cinema da SIC, Paulo Sacadura, assistiu à cena, mortinho de inveja, e não consta que tivesse convidado Marcelo Rebelo de Sousa para um almoço de paz de Deus. Entretanto, o antiquíssimo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, teve que reler o discurso que fez ao Concílio de Trento, percebendo que ainda não era desta que os seus padres da Serra do Barroso abandonariam a tradicional poligamia da sacristia lusitana, produtora dessa maravilhosa tribo, dita os filhos do senhor prior…

Nov 17

Mário Sottomayor Cardia, ou a coragem que nunca morre!

Acabam de me comunicar o falecimento do meu querido colega Mário Sottomayor Cardia. Não comunicarei aqui as necrológicas palavras do costume, porque quem pensa e semeia o pensamento nunca morre. Este homem de excessos, nos defeitos e nas virtudes, deveria ter sido o autor da necessária teoria da democracia deste regime. Mas preferiu andar sempre à procura e ensinar os amigos e alunos em peripatéticas conversas, algumas delas em longas noitadas, onde, os que dele receberam o privilégio do magistério, muito aprenderam. Eu fui um dos que tive essa honra de perceber o que era ter sido comunista por solidariedade e socialista da velha tradição do liberalismo lusitano. E aos outros tentarei comunicar sempre o que dele recebi. Não posso, contudo, deixar de proclamar que este foi o mais corajoso ministro da educação que tivemos neste regime, porque, contra a destruição da revolução, soube e conseguiu implantar a semente de uma reforma por cumprir, eliminando a estúpida mentalidade da guerra civil friamente ideológica. A Universidade e a democracia muito lhe devem. Para sempre!