Depois de breve incursão naquele Portugal profundo que é a barresiana pátria, a terra sagrada pelos meus mortos, volto ao circuito capitaleiro, das grandes novas do Estado a que chegámos e do universo televisivo, feito à imagem e semelhança de um país bem pequenino: o dos valores dos colégios pretensamente finos do capitaleirismo que formaram esta geração que pretende controlar a nossa opinião pública, onde os heróis cívicos têm que ser ex-MRPPs como foi a mamã, nos velhos tempos do PREC, quando falava em libertação, só porque tinha no quarto um poster do “make love, not war”. Reparo que os discursos dos políticos continuam perdidos no inferno das boas intenções, onde continua a ter razão quem vence e onde, há muito, não vence quem tem razão.
Reparo que continuamos a ter medo de sermos quem devemos ser, esta mistura de pragmatismo e aventura que nos levou a dar novos mundos ao mundo, mas que hoje se vai diluindo nesta mesquinha procura do antes torcer que quebrar, com cedência aos neofeudalismos e neocorporativismos, especialmente quando a cidadania se esgota no indiferentismo. Porque continuamos dominados por aquela falta de organização do trabalho nacional que raramente consegue praticar a urgente avaliação do mérito.
Temo que continue esta falta de autenticidade dos políticos profissionais que tivemos de eleger e que se acentue o fosso entre as expectativas geradas e a constante falta de respeito pela palavra dada, levando a que se torne regra este processo segundo o qual, na prática, a teoria é outra. Bem gostaria que a honra voltasse a casar-se com a inteligência, que a moral voltasse a guiar os homens livres e que a economia não subvertesse a política.
Ouço que Saddam vai ser enforcado nos próximos trinta dias, temo que a guerra internacional contra o terrorismo assente na falsa ideia do conflito de civilizações e que a república imperial que resta não volta a ser luzeiro das liberdades e da justiça.
Reparo que Sócrates e os socialistas que nos governamentalizam correm o risco de nos continuar a Salazar izar, em nome de uma Europa de merceiros e contabilistas, enquanto a sociedade civil continua a rimar com Pinto da Costa e o PSD não consegue ser oposição ao Bloco Central, ao memso tempo que o CDS não consegue sair da sacristia e todos se diluem num ritmo de “agenda setting” fiel ao conceito dos mecenas bancários.
Bem apetecia que a União Europeia caminhasse do Atlântico para os Urais e integrasse Bizâncio, para que a igrejinha de Mértola voltasse a ser templo, sinagoga, mesquita e capela do monte. Para que os socialistas fossem mais liberais por dentro, para que os comunistas se convertessem ao pluralismo e os direitistas se tornassem menos reacionários. Para que também desaparecesse este refúgio de um centro mole e difuso e surgisse o necessário centro excêntrico, onde muitos pudessem radicalmente militar, sem necessidade de serem queimados como extravagantes, só porque não querem descobrir o que já está descoberto, nem inventar o que já está inventado