O mundo das universidades portuguesas que, muitas vezes, não se confunde com a ideia de universidade, vive dias intensos de mudança, com a tomada de posse do novo reitor-primaz, Seabra Santos, de Coimbra, que defende a necessidade de manter a universidade pública e inclusiva, enquanto escola de cultura e de cidadania, bem como o reforço da autonomia universitária, mutuamente responsabilizante: com prestação de contas por parte das instituições, mas acompanhada pela transferência do financiamento devido pelo Estado.
Por outras palavras, o tal Conselho de Reitores, apesar de continuar a ser engenheiralmente presidido, ameaça transformar-se num contrapoder face ao conformismo gaguista, nesta fase pós-veiga-simonista-maputiana da sua curta existência. Porque toda a inside information que nos chega aponta o apoiado por António Avelãs dos Nunes como o mais conservador dos reitores, ao mesmo tempo que é o mais próximo de Jerónimo de Sousa, sem qualquer paradoxo, face ao progressismo da literatura de justificação do situacionismo.
Aliás, quase todos os que circulam neste pequeno mundo observam a atitude que vai tomar o senhor ministro face a uma das mais engenheirais e british das ditas privadas, instituição que o Primeiro-Ministro bem conhece e sobre cujos meandros deve ter uma informação convicta e experimentada. Segundo consta, as parangonas recentemente geradas por palavras como gatunos, roubos e vigarices podem vir a afectar a boa intenção da criação de uma universidade dita europeia que, agregando três cadáveres adiados, parecia poder ser procriada pela engenharia de influências, com cunhas à mistura, que alguns partidocratas iriam lançar, em ligação a uma grande instituição universitária dos States, especialista em terceiromundismos.
Já na nossa dita pública, com amplos sinais de novas privatizações devoristas, outros jotas e outros betas, congregados em lista única de meia dúzia de hierarcas, dita AZ, para abranger tudo, onde todo o mundo não passa de ninguém, vão parodiando o conceito de gestão democrática, com ilustres democratas a não perceberem que o manto diáfano da legalidade pode não corresponder à verdade da legitimidade. Aconselhamos que releiam os discursos do ex-venerando Chefe de Estado depois das últimas eleições marcelistas de Outubro de 1973, a que não compareceu a oposição, quando esta nem dava ao situacionismo a mera categoria de oponível, porque um quarto de hora antes de morrer ainda estava vivo.
Há coisas que têm muita identidade e pouca memória. Espreitem-se algumas das bocas que anunciam o estudo da rede de pesquisa International Social Survey Programme, que em Portugal está integrado no programa Atitudes Sociais dos Portugueses, do ICS. Os portugueses engrandecem o passado na mesma medida em que desprezam o presente. Estão pessimistas, desconfiados. E, nas “médias de patriotismo”, numa escala de 1 a 4, Portugal fixa-se nos 2,14, contra 2,71 de média na União Europeia. Mas cerca de 92 por cento de portugueses dizem sentir orgulho na história do país. Em 42 países auscultados no âmbito desta investigação, é uma percentagem só ultrapassada nos Estados Unidos e na Venezuela. E, surpresa, os portugueses sentem-se mais orgulhosos com as suas artes e literatura do que os nacionais de países como a Irlanda, os EUA ou a Rússia.
Por outras palavras, estamos cada vez mais próximos do mundo de Bush e de Chávez, sem a sociedade civil do primeiro e sem o petróleo do segundo, mergulhados num passadismo esquizofrénico, alheio ao presente, porque nos faltam saudades de futuro. Daí o regresso ao encanto por Salazar, neste desespero por cacetes e déspotas, a que, muitas vezes, damos o nome micro-autoritário do senhor director, especialmente quando ele é brasonado e se veste num alfaiate de finórios, porque sempre podemos, muito freudianamente, fazer uma dessas viagens autistas, entre os vapores da ressaca, mesmo que, no day after, acordemos com a boca a saber a papel de música…
Basta saber ler a lei do cherne, onde o Barroso anda a fazer campanha para ir desta para melhor, deixando-nos o rigor de Santana e os belos fatos de Portas, enquanto o Sampaio vai consultando constitucionalistas sobre o momento exacto da intervenção externa naquele universo onde, depois de frémitos ingentes, a montanha costuma parir ratinhos…