Mar 18

Palavras para quê? São todos artistas portugueses…

Camionetas cheias de pessoas de vários pontos do País deslocaram-se até Lisboa para encher o auditório do Centro de Congressos. Ministros sem gravata e militantes, de idade avançada, até pediam licença para entrar numa sala apinhada para ouvir o líder do PS, que ontem subiu ao palco do Fórum Novas Fronteiras para fazer um balanço de Governo (Correio da Manhã).

Mas alguém pensa que os problemas de Marques Mendes e Ribeiro e Castro resultam das suas fragilidades? Essas dificuldades derivam de termos um Governo PS que está a implementar políticas de Direita iguais às que seriam seguidas por PSD e CDS/PP. A frase de Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP acabado de se recuperar de um problema de saúde, arrancou gargalhadas numa já inflamada plateia no Cinema Batalha, no Porto, que acolhia as comemorações do 86.º aniversário do partido (JN).

Luís Filipe Menezes apresentou, anteontem à noite, a sua disponibilidade para se candidatar à liderança do PSD. Portas enfrenta Ribeiro e Castro no primeiro combate de boxe verbal, diante da plateia do Conselho Nacional em Óbidos.

Palavras para quê? São todos artistas portugueses, segurando a cadeira nos dentes, em encenados palanques, à procura de boas poses para o telejornal, neste agravado regime dos emplastros, onde só os saudosistas usam pasta medicinal Couto. Porque nenhum deles alguma vez foi apoiado por Pinto da Costa ou Valentim Loureiro. Porque nenhum deles foi à romaria que assinalou o regresso de Andreia Elizabete ao lar que ainda não conhecia.

Todos os emplastros são postiços neste regime de amostragem de dentaduras à Albarran e de corpos sujeitos a dietas de imagem, onde Santana Lopes podia estar a enfrentar Sócrates diante do Conselho Nacional do CDS e Ribeiro e Castro, a ser aplaudido por Matilde Sousa Franco no encontro das novas fronteiras dos democratas-cristãos do PS, no palácio dos congressos na FIL. Onde a romaria da Andreia podia ser os estados-gerais da esquerda, no ensaio de festa do “Avante”, enquanto os sindicalistas do CDS promoviam um comício na Quinta Grande da Marinha, ouvindo o grande educador do proletariado, Diogo Freitas do Amaral, agora dirigente máximo do Círculo Católico Operário D. Manuel Gonçalves Cerejeira, depois de ter substituído José Hermano Saraiva, como comissário do concurso das sete maravilhas de Portugal, danado com a TVI por o ter saneado como defensor de Cunhal na definição dos nove maiores portugueses de sempre, depois dele.

Aliás, Lisboa vai, em Abril, palco de uma reunião de movimentos nacionalistas de toda a Europa. Ainda sem local marcado mas com a antiga Feira Popular como ponto de encontro, a Juventude Nacionalista vai trazer a Portugal oradores da Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Roménia, Suíça e Suécia para partilhar opiniões e experiências de activismo político. Alberto João Jardim não será convidado, mas um conhecido hierarca socialista já foi sondado para o efeito por um seu aliado da frente universal anti-laica e anti-ateia para participar na bebedeira colectiva com que se encerrarão os trabalhos desses resistentes da defesa da civilização ocidental, onde os autênticos cavaleiros antiduartistas da associação secreta de São Miguel da Pala desfilarão, ao som do fado castiço, executado por deputados eleitos pelo PSD.

Mar 18

Homens livres. Homens de sucesso.

Almoço, em solidão, em plena cidade, diante do sol, olhando as árvores e as rolas e sentindo a água correr, aqui nos Moinhos de Santana, para me olhar por dentro e esquecer os pequenos cabrais que continuam a instrumentalizar os nossos atavismos devoristas e inquisitoriais, gerindo os interstícios do poder com o manhoso jogo das promessas da habitual política de empregadagem, com que delambem os restos pútridos que caem da mesa do orçamento, onde não faltam os sempiternos intelectuários que se costumam manipular pela avença e a engenharia dos subsídios, a que agora chamam projectística e consultadoria. A culpa está na circunstância de os homens livres serem um bem escasso, dado que poucos podem viver honestamente, praticando o que vão pensando, porque a chamada história dos homens de sucesso parece registar esse híbrido de fascista cobarde e de ébrio inimputável, sempre à espera do favor decretino, mas propagando pequenas cortes de seguradores de copo e de abridores de garrafa, em sucessivas tragicomédias. Os que, de tanto se submeterem para sobreviver, já nem sequer sabem lutar para continuarem a viver.

 

As gentes de antes quebrar que torcer, que homens e mulheres dessas cortes não podem, nem querem, ser, já nem sequer têm cais de partida, donde larguem naus de sonho que nos levaram para a busca do paraíso ou a ilha dos amores. Porque quem ama a ideia de Portugal e a quer servir como português à solta, libertando-se das amarras que nos acirram o desterro interno, já nem sequer pode usar o primeiro direito dos homens que é oius ambulandi, neste cativeiro de homens-lapas, agarrados aos postos de vencimento. A pátria está presa nas teias das manigâncias dos filhos, sobrinhos e primos de algo, esses vingativos e invejosos carreiristas que nos amarfanham, procurando controlar-nos de acordo com os procedimentos constantes do manual das velhacarias e vigarices dos inquisidores, moscas e bufos, mesmo quando rezam o terço todos os dias, editam santinhos e se ajoelham na dominical missinha. Apenas agradeço que continuem nessa apoplexia acumuladora de cargos e suplementos financeiros, para que possam explodir em verdade, deixando que se quebre o verniz e surja o caceteiro impiedoso e devorista que faz parte da sua natureza.