Vistas à distância de um oceano inteiro, as nossas notícias da política doméstica, quase reduzidas a guerrazinhas de homenzinhos e mulherzinhas, são ridicularmente minúsculas. Que influência pode ter no diálogo Norte/Sul a anunciada demissão de Maria José Nogueira Pinto do PP e da autarquia alfacinha, ou a candidatura de Luís Filipe Menezes à liderança do PSD? Ou que influências tem no combate aos processos de combate à guerrilha urbana das favelas a detenção dos donos do poder na Universidade Independente?
A questão política em Portugal continua a ser a de confundirmos a polis com a oikos, a respublica com adomus, não assumindo que o político foi inventado para deixarmos de ter um dono, um dominus, ou um oikos despote. O despotismo paternalista de Salazar tem esta origem. O actual processo de compra privada do poder, a chamada corrupção, assenta na mesma estaca. Tal como o clientelismo, o favoritismo, a cunha e o nepotismo derivam da devorista privatização do que deveria ser público, onde o que é comum não pode ser de nenhum, conforme o lema das nossas aldeias comunitárias.
Quando lemos que a história da Universidade Independente (UnI) confunde-se com a amizade de três famílias: Carvalho, Verde e Arouca. Lima de Carvalho levou a mulher para a gestão da UnI, Rui Verde o irmão e Luiz Arouca dois filhos, quase poderíamos aplicar a história à política partidocrática, onde genealogias de filhos, sobrinhos, primos e dependentes de inúmeros filhos de algo se perpetuam em deputados, ministros, secretários de estado, chefes de gabinete, adjuntos e assessores, bem como em toda a fileira de nomeados. Basta fazermos científicas listas de jobs for the boys, em vez de colóquios internacionais, para declararmos a dimensão da nossa pequenez.