Mar 23

Esta pesada mentalidade da chamada República de Catedráticos, herdada do salazarentismo

Ontem, depois de dar uma aula sobre o criador do Estado Moderno em Portugal, um tal Mouzinho da Silveira, o lançador das bases reformistas que permitiram o diálogo directo entre os indíviduos e o aparelho central de recolha de impostos, com a boa intenção de o povo pagar menos e o Tesouro receber mais, notei que a pátria se começou a debater com a questão da licenciatura do fugaz primeiro-ministro que, neste momento, a rege. Até recebi um “desalentado” mail de um pós-graduado que dizia: “às voltas com a minha sopa de letras, fico enjoado com mais este caldinho das berças. Valerá a pena estudar Zenão ou Schrödinger, quanto estamos sob o ministério de um verdadeiro paradoxo socrático: …”.

Sobre a matéria, eu, doutorado, agregado e catedrático, apenas tenho de salientar que, se muito critico politicamente Sócrates e se há muito sei do respectivo “dossier” na Independente, nada me desalenta sobre os meandros do tal processo que um dito jornal referência, na era pós-OPA, agora deu à estampa. As qualidades e qualificações de um homem político nada têm a ver com as respectivas tiulagens académicas e seria bom que ultrapássessemos a pesada mentalidade da chamada República de Catedráticos, herdada do salazarentismo. Aliás, Salazar, catedrático e tudo, nunca foi doutorado, dado que beneficiou de um passagem administrativa, conseguida por um decreto da I República, na sua fase sidonista. E até mobilizou para as respectivas cadeiras do poder outros ilustres catedráticos decretinos do mesmo teor que agora não enumero.

Importa também dizer que tudo isto tem a ver com as reformas de Mouzinho da Silveira, dado que ao tentar extinguir a teias da legitimidade patrimonialista do “Ancien Régime”, os decretos de 1832 não eliminaram os conceitos de ordens nobiliárquicas e clericais, onde o “sôtôr” acabou por se tornar num sucedâneo dos títulos e formas de tratamento das castas superiores, de acordo com certas pretensões da legitimidade racional-normativa do direito à carreira, assente no conceito weberiano de burocracia, pela via do mérito e da igualdade de oportunidades. E não é por acaso que a questão da licenciatura e do título académico de Sócrates surge no mesmo dia em que o vice-reitor da universidade privada, onde o actual primeiro-ministro fez algumas cadeiras, passou para o regime de prisão preventiva.

Por outras palavras, o drama das chamadas privadas resulta de uma lei da oferta e da procura que levou muitos pais a comprarem títulos à alves dos reis, pensando que, com isso, teriam direito à ascensão social. Como se, numa sociedade aberta, pluralista e competitiva, a função não devesse depender apenas da qualidade dos indivíduos, independentemente daquele falso doutorismo que continua a julgar que o hábito faz o monge.

Posso até dizer, na minha área, e em Portugal, há dois politólogos, justamente reconhecidos como tal, que nem sequer licenciados são em coisa nenhuma, mas são bem melhores que muitos dos catedráticos doutorados do sector, até que o próprio subscrevente deste postal.

Os homens medem-se pelas obras feitas e não pelo carimbo de terem licença para a prossecucação de estudos por si mesmos, que é isso que quer dizer “licenciado”. Neste sentido, Sócrates, no plano de carreira política, é mais do que mestre e do que doutorado e agregado, estando ao lado de muitos outros homens políticos das democracias da melhor cepa. Acho estranho que o PSD se tenha aproveitado desta demagogia, esquecendo-se que em casa desse ferreiro há muitos espetos de pior pau, bem como privadas do mesmo jaez.

Volta, Mouzinho da Silveira! A mentalidade que enreda o Estado a que chegámos ainda está à espera da Senhora da Rocha e da Vilafrancada, para que o Marquês de Loulé apareça assassinado em Salvaterra, quando apenas importa que o Tesouro receba mais e que o povo pague menos.

Importa mais reconhecermos que falta cumprir o programa liberal de Mouzinho, relendo alguns excertos dos relatórios dos diplomas de 1832: sem a terra livre, em vão se invoca a liberdade política, pelo que se impõe acabar a natureza dos Bens destinados a tolher o nascimento da elevação moral, salvos os direitos adquiridos…

Porque é necessário aquilo cujo contrário é impossível, e na sua aplicação a um fim determinado, é necessário aquilo que, não sendo dado, o fim se consegue.

A grande e sólida popularidade nasce da estreita observância do preceito de “dar a cada um o que é seu”.

As Leis ou sejam sábias ou sejam ineptas uma vez que estejam em execução efectiva, boa, ou má, por um tempo considerável, fixam nas nações a quem regem, hábitos determinados, os quais formam depois o carácter moral dos Povos… E Portugal não pode continuar a ser Nação independente sem dar grande impulso ao trabalho, e indústria de sua Povoação.

Os Portugueses se atormentam, se perseguem e se matam uns aos outros por não terem entendido que o Reino, tendo feito grandes Conquistas, e que, perdidos os escravos, era preciso criar uma nova maneira de existência, multiplicando os valores pelo trabalho próprio.

Importa até notar os conselhos que deu ao seu sucessor: se cuidas que a popularidade é coisa diferente da justiça e da moral austera te enganas

Como dele disse Herculano, libertou a terra; lançou o machado à árvore podre das tradições quase feudais; acabou com a opressão da classe mais importante da família portuguesa – a classe dos agricultores. Mas faltaram-lhe desenvolvimento e provisões que facilitassem a sua execução, falta que subministrou pretextos no espírito da reacção para o falsificar e anular em grande parte.

Mar 23

Decretinos. Salazarentos. Mouzinho da Silveira

Ontem, depois de dar uma aula sobre o criador do Estado Moderno em Portugal, um tal Mouzinho da Silveira, o lançador das bases reformistas que permitiram o diálogo directo entre os indíviduos e o aparelho central de recolha de impostos, com a boa intenção de o povo pagar menos e o Tesouro receber mais, notei que a pátria se começou a debater com a questão da licenciatura do fugaz primeiro-ministro que, neste momento, a rege.  As qualidades e qualificações de um homem político nada têm a ver com as respectivas titulagens académicas e seria bom que ultrapássessemos a pesada mentalidade da chamada República de Catedráticos, herdada do Salazar entismo. Aliás, Salazar , catedrático e tudo, nunca foi doutorado, dado que beneficiou de um passagem administrativa, conseguida por um decreto da I República. E até mobilizou para as respectivas cadeiras do poder outros ilustres catedráticos decretinos do mesmo teor que agora não enumero. Importa também dizer que tudo isto tem a ver com as reformas de Mouzinho da Silveira, dado que ao tentar extinguir a teias da legitimidade patrimonialista do “Ancien Régime”, os decretos de 1832 não eliminaram os conceitos de ordens nobiliárquicas e clericais, onde o “sôtôr” acabou por se tornar num sucedâneo dos títulos e formas de tratamento das castas superiores, de acordo com certas pretensões da legitimidade racional-normativa do direito à carreira, assente no conceito weberiano de burocracia, pela via do mérito e da igualdade de oportunidades. Por outras palavras, o drama das chamadas privadas resulta de uma lei da oferta e da procura que levou muitos pais a comprarem títulos à alves dos reis, pensando que, com isso, teriam direito à ascensão social. Como se, numa sociedade aberta, pluralista e competitiva, a função não devesse depender apenas da qualidade dos indivíduos, independentemente daquele falso doutorismo que continua a julgar que o hábito faz o monge. Posso até dizer, na minha área, e em Portugal, há dois politólogos, justamente reconhecidos como tal, que nem sequer licenciados são em coisa nenhuma, mas são bem melhores que muitos dos catedráticos doutorados do sector, até que o próprio subscrevente deste postal. Os homens medem-se pelas obras feitas e não pelo carimbo de terem licença para a prossecucação de estudos por si mesmos, que é isso que quer dizer “licenciado”. Volta, Mouzinho da Silveira! A mentalidade que enreda o Estado a que chegámos ainda está à espera da Senhora da Rocha e da Vilafrancada, para que o Marquês de Loulé apareça assassinado em Salvaterra, quando apenas importa que o Tesouro receba mais e que o povo pague menos. Importa mais reconhecermos que falta cumprir o programa liberal de Mouzinho, relendo alguns excertos dos relatórios dos diplomas de 1832: sem a terra livre, em vão se invoca a liberdade política, pelo que se impõe acabar a natureza dos Bens destinados a tolher o nascimento da elevação moral, salvos os direitos adquiridos…  Porque é necessário aquilo cujo contrário é impossível, e na sua aplicação a um fim determinado, é necessário aquilo que, não sendo dado, o fim se consegue. A grande e sólida popularidade nasce da estreita observância do preceito de “dar a cada um o que é seu”. As Leis ou sejam sábias ou sejam ineptas uma vez que estejam em execução efectiva, boa, ou má, por um tempo considerável, fixam nas nações a quem regem, hábitos determinados, os quais formam depois o carácter moral dos Povos… E Portugal não pode continuar a ser Nação independente sem dar grande impulso ao trabalho, e indústria de sua Povoação. Os Portugueses se atormentam, se perseguem e se matam uns aos outros por não terem entendido que o Reino, tendo feito grandes Conquistas, e que, perdidos os escravos, era preciso criar uma nova maneira de existência, multiplicando os valores pelo trabalho próprio.  Importa até notar os conselhos que deu ao seu sucessor:se cuidas que a popularidade é coisa diferente da justiça e da moral austera te enganas Como dele disse Herculano, libertou a terra; lançou o machado à árvore podre das tradições quase feudais; acabou com a opressão da classe mais importante da família portuguesa – a classe dos agricultores. Mas faltaram-lhe desenvolvimento e provisões que facilitassem a sua execução, falta que subministrou pretextos no espírito da reacção para o falsificar e anular em grande parte.

Mar 22

Da espuma suja das marés vivas que periodicamente nos visitam

Todo o transcendente tem que ser situado nas circunstâncias do tempo e do lugar, só acedemos às essências através das existências e até o direito da razão tem conteúdo variável. Depois, tive uma longa e pouco esclarecedora reunião com o meu patrão da função pública. Fui-lhe comunicar que, de tarde, iria constituir uma associação privada com fim público, federadora de liberdades académicas visando a defesa de uma ideia institucional de universidade, de pátria e de liberdade, de que darei novidades dentro de breves tempos. Não lhe fui pedir nada. Apenas recordo que a minha escola não nasceu de um decreto do poder estabelecido, mas da iniciativa de homens livres, os fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, quando Portugal ainda era demoliberal a nível do poder político e cumpria objectivos nacionais, fazendo aliar o poder ao saber, pelo reconhecimento da autonomia das pessoas e da autonomia da sociedade civil. Aliás, quase todas as unidades integrantes da Universidade Técnica de Lisboa nasceram da livre iniciativa da sociedade civil e entraram no sistema do público ensino superior “a posteriori”, obrigando a própria Ditadura Nacional a reconhecer que a universidade como uma federação, ainda hoje estatutariamente consagrada. Nunca fomos coisa napoleónica, suceptível de fundação de um qualquer artigo do decreto orçamental, jacobinamente engenheiral. Como federalista que sou, mantenho assim a ideia antinapoleónica e antidecretina, mantendo a minha interpretação do que foram as sucessivas fundações de academias, desde a platónica àquilo que um antecessor meu praticou com a AICP, embora prefira fugir ao decretino, em nome da autonomia das pessoas e dos próprios grupos que elas constituem, a que alguns dão o nome de autonomia da sociedade civil , num momento em que importa praticar a liberdade de expressão de pensamento e a própria liberdade de investigação.

Mar 20

Falido e modernizado, me confesso, em pleno salazarismo democrático..

Dizem os jornais que cada português deve ao estrangeiro cerca de 13 000 euros. Dado que tenho três filhos, ainda sem emprego permanente, a minha comunidade de dependentes deve mais de 50 000 euros, coisa que não tenho em numerário e que me faz um insolvente cívico, susceptível de penhora pelos credores globais do nosso desvario. Vale-nos que um antigo ministro das finanças, especialista no combate ao défice, vai aposentar-se no mês de Abril com uma pensão mensal de 9693,54 euros, de acordo com a listagem publicada pela Caixa Geral de Aposentações (CGA) para o próximo mês. Segundo consta do respectivo curriculum, trata-se de um acrescento à actividade privada que também exerce.

Perante as circunstâncias, a maioria dos portugueses, se tivesse direito à indignação entrava em greve de zelo. Especialmente os funcionários públicos que assistem a festivais de demagogia de dirigentes e ministeriais figuras que agora os querem modernizar com a emissão de listagens de indisponíveis, supranumerários e despedíveis, onde antigos pirómanos, recolhem os restos da respectiva incapacidade, quando se assumem como tecnocráticos bombeiros da modernização administrativa, sem que haja uma efectiva lei da responsabilidade política que os possa qualificar como inimputáveis.

Por isso é que os recentes acontecimentos do CDS são um verdadeiro espelho da nação e uma verdadeira imagem prospectiva do que nos irá acontecer quando faltar o pão, ou o poder, e entrarmos todos em mútuos ralhetes, onde até os beirões não batem em mulheres, mas as mulheres se sentem agredidas. Entre castreiros e porteiros, já nem monteiros ou naraneiros lhes podem valer, numa coisa que deixou de ser um grupo de amigos que se odiavam cordialmente, agora que saltou a tampa das zangas de jet set e as comadres e os compadres quase chegaram às vias de facto, por causa dos apetites de um ex-ministro de Estado que também andava por aí e pensava que chegava um veni, vidi, vinci, com um mediático aperto de mão ao líder que pretendia usar e deitar fora.

Aliás, o mar acabou por galgar a costa, porque o que tem de ser tem muita força. Entretanto, em muitos segmentos do micro-autoritarismo subestatal, onde não há gestores profissionais nem hierarquias funcionais, os restos do PREC, pintados de situacionismo, vivem as delícias absolutistas, julgando que segmentos do Estado podem estar sujeitos ao regime do spoil system, como acontece num partideco, onde os despojos se distribuem pelos vencedores, transformados em conquistadores daquilo que pensam ser o poder, onde continua em vigor a formosa frase de Salazar, segundo a qual o essencial do poder é procurar manter-se…

Mar 19

Da direita que convém à esquerda ao policiamento caçafascista

Afinal o mar não galgou a costa, durante a madrugada. Ainda bem! Foi aqui que, há um par de anos, me escrevi em mar salgado, em pleno nascer da manhã, quando, descendo o monte, a palavra me deu música de apetecer ficar diante de mim, diante do mar. Aqui ainda há sítios ermos sem gente a fazer turismo de fim de semana. Aqui não encontraremos esses restos de mortos vivos, plenos de penduricalhos que correm o risco de morrer engasgados pelas comendas que assinalam a respectiva inutilidade semovente que vai expelindo os resquícios de suas ressacas alambicadas que nos vão poluindo em desvergonha.

Por isso, acordo com as notícias de uma reunião de duas centenas de pretensos notáveis em reunião num hotel de 5 estrelas que acaba com gritos e pateada, em tempos de sucessivas conspirações de alcatifa, com Maria José Nogueira Pinto a ameaçar abandonar o partido. Porque um antigo notável do CDS e distinto economista acaba de proclamar sobre o PSD que “se Santana avançar com outra força partidária, não vai levar ninguém do PSD consigo, só alguns amigos mais chegados”. Porque um antigo presidente do PSD, que diz estar a reconstruir e a consolidar a sua vida profissional, replica: “não estou a preparar a minha saída. Estou é a dizer que não podemos ficar todos na mesma casa.” Maria José chegou a ser membro de um governo do PSD contra o CDS. Ribeiro e Castro chegou a abandonar o CDS e a colaborar numa campanha eleitoral do PSD. Paulo Portas começou na JSD e só entrou para o partido com Manuel Monteiro que, depois, derrubou, assim comfirmando esta coerente confusão de narizes na direita a que chegámos.

Vale-nos que a PSP – do Comando de Lisboa e da Direcção Nacional – tem vindo a recolher informação sobre movimentações políticas. Para já, tem dados sobre o que considera a extrema direita e diz ao JN ter conhecimento do ambiente de tensão acrescida, mas mantém-se confiante. “A informação que temos a vindo a recolher aponta para esse esforço da Extrema-Direita no meio escolar, mas a situação tem vindo a ser controlada por nós”. A PSP dá conta, aliás, de que a Extrema-Direita tem vindo a alterar gradualmente a sua conduta “Querem abandonar a imagem clássica do ‘skinhead’, violento e sempre disposto ao confronto, e assumir uma postura mais politicamente correcta, que lhes dê mais espaço de manobra”.

Espera-se que nos informe sobre o que está a acontecer com a extrema-esquerda, o fundamentalismo religioso, incluindo o católico e o islâmico, informando-nos, naturalmente, sobre os critérios constitucionais que lhe permitem qualificar de forma politicamente legal esse tipo de investigações. Porque qualquer conceito de extrema-direita minimamente consensualizado pelos que pensam de forma racional e justa implica que se investigue todo o campo do pensamento em causa, isto é, abrangendo tanto estudantes como professores, tanto movimentações na rua como movimentações no pensamento, dos blogues aos jornais, dos livros às conversas de bar.

Eu pensava que, constitucionalmente falando, qualquer português pode ser da extrema-direita e até expressá-lo publicamente. Não pode é movimentar-se no âmbito de uma organização fascista, dentro do amplo conceito legal que abrange tanto racistas como separatistas. Logo, a PSP deve actuar imediatamente e investigar donde vêm os votos em Oliveira Salazar, num recente concurso televisivo e encerrar imediatamente a RTP que está assim a contribuir para que floresçam organizações constitucionalmente proibidas.

De qualquer maneira, acho extremamente perigoso que uma polícia repita comportamentos policiais do antigo regime. Julgo que foi com base em idênticos processos analíticos antifascistas que a polícia política do antigo regime fez uma limpeza dos nacionais-sindicalistas de Rolão Preto, para acabar com as camisas castanhas e ficarmos todos vestidos de camisas tipo feijão verde. E o mesmo método foi levado a cabo pela PIDE, fundada em 1945, que caçou todos os exilados nazis que por aqui estacionavam. Porque, em verdade, em verdade deve ser dito, Salazar foi um autêntico ditador anti-nazi e anti-fascistas italianos. Aliás, dizem os jornais, que ontem foi preso, num país governado pela esquerda e noutro continente, um antigo militante da extrema-esquerda italiana, com mandato de captura internacional. Porque os criminosos não têm cor e a direita e a e esquerda das extremas não são causas justificativas do crime.

Mar 18

Palavras para quê? São todos artistas portugueses…

Camionetas cheias de pessoas de vários pontos do País deslocaram-se até Lisboa para encher o auditório do Centro de Congressos. Ministros sem gravata e militantes, de idade avançada, até pediam licença para entrar numa sala apinhada para ouvir o líder do PS, que ontem subiu ao palco do Fórum Novas Fronteiras para fazer um balanço de Governo (Correio da Manhã).

Mas alguém pensa que os problemas de Marques Mendes e Ribeiro e Castro resultam das suas fragilidades? Essas dificuldades derivam de termos um Governo PS que está a implementar políticas de Direita iguais às que seriam seguidas por PSD e CDS/PP. A frase de Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP acabado de se recuperar de um problema de saúde, arrancou gargalhadas numa já inflamada plateia no Cinema Batalha, no Porto, que acolhia as comemorações do 86.º aniversário do partido (JN).

Luís Filipe Menezes apresentou, anteontem à noite, a sua disponibilidade para se candidatar à liderança do PSD. Portas enfrenta Ribeiro e Castro no primeiro combate de boxe verbal, diante da plateia do Conselho Nacional em Óbidos.

Palavras para quê? São todos artistas portugueses, segurando a cadeira nos dentes, em encenados palanques, à procura de boas poses para o telejornal, neste agravado regime dos emplastros, onde só os saudosistas usam pasta medicinal Couto. Porque nenhum deles alguma vez foi apoiado por Pinto da Costa ou Valentim Loureiro. Porque nenhum deles foi à romaria que assinalou o regresso de Andreia Elizabete ao lar que ainda não conhecia.

Todos os emplastros são postiços neste regime de amostragem de dentaduras à Albarran e de corpos sujeitos a dietas de imagem, onde Santana Lopes podia estar a enfrentar Sócrates diante do Conselho Nacional do CDS e Ribeiro e Castro, a ser aplaudido por Matilde Sousa Franco no encontro das novas fronteiras dos democratas-cristãos do PS, no palácio dos congressos na FIL. Onde a romaria da Andreia podia ser os estados-gerais da esquerda, no ensaio de festa do “Avante”, enquanto os sindicalistas do CDS promoviam um comício na Quinta Grande da Marinha, ouvindo o grande educador do proletariado, Diogo Freitas do Amaral, agora dirigente máximo do Círculo Católico Operário D. Manuel Gonçalves Cerejeira, depois de ter substituído José Hermano Saraiva, como comissário do concurso das sete maravilhas de Portugal, danado com a TVI por o ter saneado como defensor de Cunhal na definição dos nove maiores portugueses de sempre, depois dele.

Aliás, Lisboa vai, em Abril, palco de uma reunião de movimentos nacionalistas de toda a Europa. Ainda sem local marcado mas com a antiga Feira Popular como ponto de encontro, a Juventude Nacionalista vai trazer a Portugal oradores da Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Roménia, Suíça e Suécia para partilhar opiniões e experiências de activismo político. Alberto João Jardim não será convidado, mas um conhecido hierarca socialista já foi sondado para o efeito por um seu aliado da frente universal anti-laica e anti-ateia para participar na bebedeira colectiva com que se encerrarão os trabalhos desses resistentes da defesa da civilização ocidental, onde os autênticos cavaleiros antiduartistas da associação secreta de São Miguel da Pala desfilarão, ao som do fado castiço, executado por deputados eleitos pelo PSD.

Mar 18

Homens livres. Homens de sucesso.

Almoço, em solidão, em plena cidade, diante do sol, olhando as árvores e as rolas e sentindo a água correr, aqui nos Moinhos de Santana, para me olhar por dentro e esquecer os pequenos cabrais que continuam a instrumentalizar os nossos atavismos devoristas e inquisitoriais, gerindo os interstícios do poder com o manhoso jogo das promessas da habitual política de empregadagem, com que delambem os restos pútridos que caem da mesa do orçamento, onde não faltam os sempiternos intelectuários que se costumam manipular pela avença e a engenharia dos subsídios, a que agora chamam projectística e consultadoria. A culpa está na circunstância de os homens livres serem um bem escasso, dado que poucos podem viver honestamente, praticando o que vão pensando, porque a chamada história dos homens de sucesso parece registar esse híbrido de fascista cobarde e de ébrio inimputável, sempre à espera do favor decretino, mas propagando pequenas cortes de seguradores de copo e de abridores de garrafa, em sucessivas tragicomédias. Os que, de tanto se submeterem para sobreviver, já nem sequer sabem lutar para continuarem a viver.

 

As gentes de antes quebrar que torcer, que homens e mulheres dessas cortes não podem, nem querem, ser, já nem sequer têm cais de partida, donde larguem naus de sonho que nos levaram para a busca do paraíso ou a ilha dos amores. Porque quem ama a ideia de Portugal e a quer servir como português à solta, libertando-se das amarras que nos acirram o desterro interno, já nem sequer pode usar o primeiro direito dos homens que é oius ambulandi, neste cativeiro de homens-lapas, agarrados aos postos de vencimento. A pátria está presa nas teias das manigâncias dos filhos, sobrinhos e primos de algo, esses vingativos e invejosos carreiristas que nos amarfanham, procurando controlar-nos de acordo com os procedimentos constantes do manual das velhacarias e vigarices dos inquisidores, moscas e bufos, mesmo quando rezam o terço todos os dias, editam santinhos e se ajoelham na dominical missinha. Apenas agradeço que continuem nessa apoplexia acumuladora de cargos e suplementos financeiros, para que possam explodir em verdade, deixando que se quebre o verniz e surja o caceteiro impiedoso e devorista que faz parte da sua natureza.

Mar 17

Internet

A tecla e o fio que nos liga a esta nova biblioteca de Alexandria que é a Internet, estarão para o século XXI, como a máquina de escrever esteve para o século XX e a caneta para o século XIX. Mas não é por termos uma esferográfica que somos autores de livros. Não é a posse do “hardware” que nos permite fazer o “software”, não é o “continente” que gera o “conteúdo”, mas antes a maneira como aprendemos a navegar, navegando, pela invenção e pela criatividade. E neste nosso tempo de propagandismos sobre os choques tecnológicos há muito provincianismo e imensa iliteracia. Dizer que se faz um blogue ou que se tem uma página na Net faz parte da imagem da gente fina e, naturalmente, afecta a classe partidocrática. E não são raras as excelências ministeriais, deputáveis ou professorais que precisam do assessor, da secretária ou do assistente para que estes lhes abram os “mails” ou lhes fotocopiem os “blogues”. Um desses, por acaso das ciências exactas, estranhando que um homem das ciências humanas como eu andasse de computador à trela, muito desconfiado, cheio de manha, só depois de alguns anos ganhou coragem para lhe explicar como é que se podia usar o til ou meter a disquete. Outro chegou a adquirir o sistema “wireless” para a respectiva repartição, quando ele surgiu, mas deixou-o empacotado durante anos e anos. Por isso desconfio de todos este planos da pólvora dos engenheirais lançadores de megaprojectos que não se preocupam com uma estratégia de criatividade e se deixam enredar no charlatanismo dos plagiadores e carreiristas, a quem em épocas vindouras apenas chamávamos vigaristas. Nada disto tem a ver com a aventura de dois badalados políticos nos mundos da blogosfera oficiosa. Será sol de tanta dura quanto a interferência dos partidos ou das candidaturas partidárias neste domínios do ponto.come. Este espaço pertence aos indivíduos que quotidianamente se escrevem e comunicam com um público anónimo, mas fiel. O que seria se alguns ministros e partidocratas, todos os dias, se desnudassem em pensamento, lançando-se na rede, mas sem a rede dos assessores de imagem? Apenas confirmaríamos que vivíamos num deserto de ideias, onde muitos cães ladram, mas onde a caravana de quem tem uma ideia de obra, respeito pelas regras processuais e manifestações de comunhão entre o respectivo público.

Mar 16

Parabéns aos homens de sucesso!

Almoço, em solidão, em plena cidade, diante do sol, olhando as árvores e as rolas e sentindo a água correr, aqui nos Moinhos de Santana, para me olhar por dentro e esquecer os pequenos cabrais que continuam a instrumentalizar os nossos atavismos devoristas e inquisitoriais, gerindo os interstícios do poder com o manhoso jogo das promessas da habitual política de empregadagem, com que delambem os restos pútridos que caem da mesa do orçamento, onde não faltam os sempiternos intelectuários que se costumam manipular pela avença e a engenharia dos subsídios, a que agora chamam projectística e consultadoria.

 

A culpa está na circunstância de os homens livres serem um bem escasso, dado que poucos podem viver honestamente, praticando o que vão pensando, porque a chamada história dos homens de sucesso parece registar esse híbrido de fascista cobarde e de ébrio inimputável, sempre à espera do favor decretino, mas propagando pequenas cortes de seguradores de copo e de abridores de garrafa, em sucessivas tragicomédias. Os que, de tanto se submeterem para sobreviver, já nem sequer sabem lutar para continuarem a viver.

 

As gentes de antes quebrar que torcer, que homens e mulheres dessas cortes não podem, nem querem, ser, já nem sequer têm cais de partida, donde larguem naus de sonho que nos levaram para a busca do paraíso ou a ilha dos amores. Porque quem ama a ideia de Portugal e a quer servir como português à solta, libertando-se das amarras que nos acirram o desterro interno, já nem sequer pode usar o primeiro direito dos homens que é o ius ambulandi, neste cativeiro de homens-lapas, agarrados aos postos de vencimento.

 

A pátria está presa nas teias das manigâncias dos filhos, sobrinhos e primos de algo, esses vingativos e invejosos carreiristas que nos amarfanham, procurando controlar-nos de acordo com os procedimentos constantes do manual das velhacarias e vigarices dos inquisidores, moscas e bufos, mesmo quando rezam o terço todos os dias, editam santinhos e se ajoelham na dominical missinha. Apenas agradeço que continuem nessa apoplexia acumuladora de cargos e suplementos financeiros, para que possam explodir em verdade, deixando que se quebre o verniz e surja o caceteiro impiedoso e devorista que faz parte da sua natureza.

Mar 14

O regime dos emplastros

Dia a dia que passa, sem espaço de exílio externo, mas também sem causas cívicas que me mobilizem institucionalmente, vou sobrevivendo e submetendo-me a estas circunstâncias, cada vez mais desterrado na minha própria pátria. Mas, todos os dias, confirmo que não estou sozinho, aqui e agora, apesar de sentir que a maioria dos meus concidadãos, prefere a segurança e o bem-estar dos remediadamente conformistas, a qualquer aventura da liberdade.

Sinto-me um pouco naquele ambiente decadentista dos “anciens régimes” que, em Portugal, costumam durar décadas, como aconteceu no crepúsculo da monarquia liberal, nos anos vinte da república velha ou na fase pós-delgadista do salazarismo. Recordo-me até da primeira causa cívica que assumi em artigos de jornais, quando, adolescente, defendi, em carta assinada, no jornal da terra, o velho “Diário de Coimbra”, uma mudança de horários contra os interesses de uma concessionária dos transportes públicos. Então, uma minha conhecida, cidadã de meia-idade, apoiante do regime, logo me veio admoestar porque muita sorte tinham os pobrezinhos de terem oferta de transportes públicos, em vez de andarem a pé ou de bicicleta…

Hoje, parafraseando Belmiro de Azevedo, quem não é por Cavaco ou por Sócrates ou é incompetente ou maluquinho. Logo, corre o risco de ir para a bolsa dos supranumerários ou de ser internado no pelourinho dos inconvenientes que não dizem “sim senhor” a estas ilustres vontades de modernização da pátria.

Pouco mudámos nesta servidão voluntária, desde que surgiram os profissionais da contestação ou os canalizadores do protesto institucional, a que chamam partidos da oposição, cheios de antigos ministros da mesma situação de um permanente bloco central de interesses, a que hoje se chama coabitação em regime de cooperação estratégica. Basta olharmos uma desssas visitas de presidente ou chefe de governo a inaugurações de província, mesmo que fiquem em plena capital.

Nada melhor, para confirmarmos como vivemos em regime de emplastros, que numa dessas imagens de telejornal, verificarmos o que acontece quando Cavaco ou Sócrates têm que mandar umas bocas para o país através da camâra e do microfone. É vermos o ridículo de ministros e outras figuras do estadão se empurarrem todos, para ver se cabem no écran, encostando as cabecinhas ao microfone do chefe, só para aparecerem no boneco. Porque em política o que aparece é o que é.

Somos cada vez mais um regime de emplastros, onde cada chefezinho e cada subchefe da mão longa do estadão decidiram copiar suas altezas, com um gabinete de relações públicas e um assessor de comunicação e imagem, normalmente um desses jornalistas desempregados que consegue colocar uma notícia ou uma entrevista numa dessas folhas de couve que ninguém lê, mas o gabinete fotocopia e distribui, dando cinco minutos de fama ao vaidoso emplastro.

É pena que alguns não tenham o dom da palavra ou da carantona televisionável. E pior ainda é quando, assumindo a função de emplastro, não reparam como são baixinhos, pançudos, carecas ou coxinhos, levando a que meio povo se questione sobre quem é aquela alimária que anda aos empurrões atrás de Sua Excelência, só para furar o telejornal. É que os assessores pagos ter-lhe-ão dito como gostaram de vê-lo nessa manifestação de massas desta permanente sociedade de corte e até os familiares e as secretárias de função acabaram por lhe afagar o ego, sem lhe dizerem da triste figura que ele fez.

Neste regime de emplastros parece agora ter chegado a moda de suas excelências ministeriais fazerem blogues, não por causa da blogosfera, mas para que os jornais do dia publiquem duas páginas de reportagem sobre a matéria, a fim de confirmarem que a dita personalidade sabe usar os efeitos do choque tecnológico, neste “big brother” de uma crescente gargalhada, onde os sábios gestores do poder vão, de sondagem crescente em sondagem crescente, até ao tabu, ao pantanal ou a um convite para funções mais importantes, deixando os “saloios” a ter que gramar os emplastros.

Basta que um qualquer chefe da grande Europa mostre, ao presidente ou ao primeiro-ministro, os relatórios sobre negociatas e as escandaleiras que os adidos das embaixadas elaboraram, quando descreveram os nossos meandros dos passos perdidos à beira do poder.

Por outras palavras, estou cada vez mais do contra. Contra os que estão e até contra os que dizem que são do contra, de Zés Ribeiros a Marques Mendes, ou de Portas e Monteiro a Pedro Santana Lopes, nesses bailados de bonzos, canhotos e endireitas, onde todos vão explorando a nossa revolta, para reforço dos micro-autoritarismos subestais que se alimentam das sociedades de corte e das servidões voluntárias. Infelizmente, já não há revistas de “Homens Livres”, entre a “Seara Nova” e a “Nação Portuguesa”, nem um qualquer “Album das Glórias” que nos retrate. Já não somos quem sempre fomos, à espera de uma revolução, de uma “maria da fonte” ou de um “vinte oito de maio”.

Eu preferia fazer um golpe de Estado sem efusão de sangue, através de eleições, mas, infelizmente, não tenho partido onde militar. Já me enganei algumas vezes e tive que sair a tempo, para poder continuar a viver como penso, sem pensar muito como assim tenho de viver. Pior ainda, já nem na universidade posso dizer que há lugar para o pensamento livre, dado que o estadão, os emplastros e a partidocracia estão a dar cabo dela.