Mai 19

Depoimento a o Público

Publico 19 de Maio 2007-05-19

 

“Dentro do esquema de transfiguração, tudo se pode esperar dele, desde montar um esquema para fazer uma coligação com o futuro líder do PSD, como para ser um partido de charneira, muleta do PS em 2009″, considera o politólogo José Adelino Maltês, antevendo que “o pós-ideológico Paulo Portas vai colher à rede quem vier com ele”. Para garantir o seu espaço, o líder do CDS não hesitará em assumir-se num dia como um líder populista e, no outro, como antipopulista, num jogo com o eleitorado que lhe permita alcançar a fasquia dos 10 por cento de votos em 2009.

Mai 19

Denunciando o trabalho de sapa dos animaizinhos que vão corrompendo a liberdade

Imaginem que um funcionário público qualquer, neste tempo de directores regionais que não gostam de anedotas sobre o nosso primeiro, escrevia coisas como estas: quem está nas cumiadas é que sabe de que lado sopra o vento, e que precisa de imitar a canna, que verga e se dobra para não ser arrancada ou quebrada. Se o furacão atirasse das alturas para as varzeas da vulgaridade os homens eminentes que por lá andam, quem perdia não eram elles, era a patria. Estávamos em plena monarquia liberal, com gentalha e quadros mentais de absolutismo e de reacção, mesmo quando invocavam inscrição em partidos de muito progresso e modernidade. Mas poderia dizer-se como hoje: a republica litteraria, como a civil, tem a sua aristocracia, a sua classe média e o seu vulgacho, e, como na republica civil, ha aqui sympathias entre os membros da mesma categoria, e ha malevolencias da plebe contra as superioridades… O homem liberdadeiro que assim escrevia dizia estar alheio da política militante, por não crer na redempção do país e dizia-se afastado das cousas publicas com indifferença, essa indifferença filha das serveras licções da experiencia. E dizia da Sancta Madre Igreja, quando esta foi desafiada por alguém que teimava na defesa das suas ideias, o seguinte: ela agacha-se quando lhe viram o dente. Pensam alguns que é medo. Enganam-se. É para começar o trabalho de sapa. Observava a seguir que a dita tem uma jerarchia interna que nem sempre corresponde à jerarchia official. No fim da escala estão os que possuem olhos no corpo, sem que por isso os tenham na alma. Serve esta espécie de animaesinhos … para aquelles trabalhos subterraneos que se vão abrindo debaixo dos pés dos maldictos...As antimaquiavélicas palavras são de Herculano e bem podem ser aplicadas a este ambiente de decadência que marca os actuais meandros das novas leis da rolha, este garrote sorridente que vai semeando um totalitarismo doce, sob a capa da partidarite, da compra de poder, do clientelismo e da personalização do poder. Espero que muitos continuem em resistência, na defesa da liberdade.

Mai 19

O bailinho da Madeira começa a propagar-se como mancha por todos os segmentos do aparelho público de poder

Os partidos dominantes do Bloco Central tratam a política como uma coutada de caça, com reservado direito de admissão. A política são eles, os partidos-sol, com as respectivas sociedades de corte, de acordo com o desespero típico da hierarquia das potências e todo o universo dependente de satélites, pretensamente independentes, para que possam baralhar e dar de novo. Neste sentido, mantém-se a principal herança de um absolutismo onde o príncipe não está sujeito à própria lei que edita e onde tudo o que ele diz é lei, para que continuemos submetidos à voz do dono, do supremo dono e dos pequenos donos do poder que eles vão propagando pela teia dos muitos micro-autoritarismos subestatais onde se reproduzem. Todos esses mandadores dizem que não estão agarrados ao poder e que têm a consciência tranquila, assumindo uma descarada partidocracia, onde dizem que tem razão quem vence. Se não estamos à beira de uma ditadura das finanças, donde possa emergir um velho Estado Novo, já temos amplas coincidências com esse regime da usurpação que, entre nós, teve exemplo em António Bernardo da Costa Cabral. E não é por acaso que, mais uma vez, entram em cena as figuras do governador civil e de sucedâneos como o director regional. O que hoje se lê no jornal sobre um processo disciplinar a um professor e ex-deputado que contou uma anedota sobre nosso primeiro em privado, talvez aconselhe a que os agentes do poder montem uma rede de detecção de anedotas contrapoder contadas nos corredores dos serviços públicos. Aliás, até poderíamos utilizar os recursos do salto tecnológico para inventariarmos os blogues críticos do poder, ou um serviço de espionagem de “mails” emitidos por funcionários públicos, quando estão no exercício de funções. Por outras palavras, o bailinho da Madeira começa a propagar-se como mancha por todos os segmentos do aparelho público de poder. Os meandros eleitorais da autarquia lisboeta já se aproximam do mesmo asco que quase todos podem observar noutros segmentos de assalto ao poder. Os supremos mandadores não estão isentos das normas constitucionais e penais em vigor. Os sinais da doença autoritária e os reflexos condicionados da persiganga estão a contaminar o edifício democrático e a confiança pública. O chamado défice democrático começa a penetrar nos fundamentos de um aparelho de poder que diz estar ao serviço do Estado de Direito, onde revigora o regime do enquanto o pau vai e vem folgam as costas.