No primeiro julgamento em que participei, quando era estagiário de advocacia, um desses sábios julgadores tinha que decidir se mandava para a cadeia um ex-recluso qua acabava de furtar uma pele de carneiro. O senhor dr. juiz, analisando a biografia do velhote, fez as contas e reparou que o dito cujo passara mais de uma dezena de anos atrás das grades apenas por furtos que, somados em valores, não atingiam cinco contos de reis. Assim, com alguns pretextos legalíssimos, decidiu mandá-lo em paz e para a rua. Só que aconteceu o imprevisto, pois em plena leitura da sentença, o velho furta-peles teve uma crise de choro e clamou desesperadamente: “mande-me para a cadeira, senhor doutor, mande-me para a cadeia, os guardas são a minha família, tratam-me tão bem e tenho medo de viver lá fora, sozinho e sem saúde, com esta idade…”. Lembro-me sempre desta história, não por causa da bagatela que aparece na primeira página do jornal de hoje, que reproduzo, não por causa da leviatânica coima informática de que fui objecto, mas por causa do país onde vivo, onde todos gostamos mais de estar presos na burocracia do que sermos homens livres do emprego por conta de outrem, como rezam as estatísticas.