Jul 31

Um lugar do sul, um lugar de sal, entre alcatruzes e a terra estreita

Para os devidos efeitos se informa que estou por aqui, bem pertinho dos alcatruzes dos polvos, cá para as bandas de Santa Luzia, onde a componente autóctene e piscatória ainda domina os serviços turísticos. O arroz de lingueirão continua óptimo e a viagem para a Terra Estreita, para além de hora e meia de espera no passadiço, em certos dias, demora apenas cinco minutos.

Várias vezes, a ilha largou do continente, esquecendo-se da campanha para a eleição do líder do PSD e das novas contratações do Benfica. Há um poço de água fresca e sabe tão quente sentir cair o dia no sapal, com este cheiro intenso de maré vazia. Depois, há noites de lua cheia e barcaças que nos levam para o outro lado de quem somos.
Sobretudo, um braço de mar que entra por mim dentro. E sempre a procura de um sítio onde pensar-me, um simples lugar que me dê mais tempo, para poder perder meu tempo. Porque assim posso voltar a ser menino na praça das cidades abertas, voltar a ser olho marinho, com todos os sonhos que outrora me sustiveram, lá nas alturas da janela do meu sótão.
Não trouxe livros para ler nem consumo semanários de análise política. Porque vivendo em um novo lugar, andei absorvido durante os primeiros dias a captar a alma do sítio, dando passeios matinais para saber onde se compra o pão, onde fica a barbearia do senhor Bento, etc… Porque é melhor conviver numa vila onde viva gente do que refugiar-me na paliçada de um qualquer hotel com “spa” e fila para o pequeno-almoço sempre igual.
Ainda há pouco tropecei no imprevisto do dia, quando, na primeira caminhada, em plena rua, uma velhinha, de negro vestida, ao cruzar-se comigo, me saudou com um sonoro e feliz “bom dia”. E lá recordei esse resto de civilização que o mundo não urbano ainda conserva e que ostensivamente me envergonhou, eu, capitaleiro, de rurícolas origens, que já nem sequer é capaz de praticar as regras da boa educação que aprendeu de seus avoengos. Respondi-lhe evidentemente: “bom dia, minha senhora”.

Jul 28

Em tempo de homens ditos realistas, importa ter o realismo de ser idealista

Começo por recordar. Que na data de hoje, em 1914, com a declaração de guerra de Viena à Sérvia, se iniciaram oficialmente as hostilidades daquilo que, então, se assumiu como a Grande Guerra, que seria a última, mas que, afinal, não passou da I Guerra Mundial, depois de haver a Segunda. E a maior parte dos problemas que podem provocar as guerras mundiais de hoje ainda são problemas que este primeiro confronto pseudo-gnóstico não resolveu.

 

Comemorava então o seu aniversário, pelas doze primaveras, um tal Karl Raimund Popper, que a si mesmo se veio considerar como o último filósofo das luzes e a quem devemos a explosão solar que, na estrada para Damasco, cegou, de tanto brilho, alguns ex-ilustres marxistas-leninistas-estalinistas lusitanos, os tais que, mantendo ainda hoje a metodologia do georgiano, mas mudando de amanhãs que cantam, ainda por aí cantarolam o popperismo, procurando candidatar-se a supremos inquisidores da palaciana república. Por mim, já conhecia Popper antes de os ditos desembarcarem na biblioteca onde abriram as respectivas páginas pela primeira vez e continuo a não obedecer-lhes, embora tenha obediência.

 

Pedimos desculpa por esta interrupção dos nossos comentários de guerra. Vou ler em arquivo directo a última intervenção de Bush, porque os nossos propagandistas do dito talvez tenham cometido o erro de serem mais bushistas do que o próprio Bush. Queria acrescentar que, apesar de tudo, em matéria de política internacional, ainda sou do partido de Woodrow Wilson que, em tempo de homens lúcidos, tinha a lucidez de ser ingénuo. Até Hannah Arendt, que era judia, militaria aqui. Onde esperamos receber o mais lúcido contributo do próprio Bento XVI. Não tardará muito. Dizem que está a ler o relatório sobre o bombardeamento de alguns conventos no Líbano e a retomar o discurso de João Paulo II sobre o espírito de Assis.

Jul 27

A qualidade de uma democracia não se mede por sabermos quem manda

A qualidade de uma democracia não se mede por sabermos quem manda, mas antes por sabermos como de institucionaliza o controlo do poder. Democracia não é sondajocracia. Aliás, Hitler obteve uma maioria numa democracia, a da República de Weimar, e a Inquisição era bastante popular, com pressões do braço popular em Cortes, quando o rei queria abrandar o terrorismo de Estado, e amplas adesões das massas aos autos de fé. Aliás, em determinados momentos de pânico securitário, mesmo dos nossos dias, se a pena de morte fosse a referendo, logo revogaríamos a respectiva abolição, constante do Acto Adicional à Carta de 1852 e do decreto de 1 de Julho de 1867. Depois de séculos de Inquisição e de quase meio século de autoritarismo, se eliminámos os aparelhos de repressão, manteve-se o subsistema de medo que os mesmos geraram e não se apostou na revolução cultural educativa que desse autonomia às pessoas, com a consequente meritocracia. Deixámos subsistir os colectivismos, herdados do beatério catolaico ou comunista, onde qualquer um para se libertar dos pecados adere a uma dessas seitas, dizendo que não recebe lições de democracia dos adversários e demonizando-os com um qualquer adjectivo depreciativo. O poder não é uma coisa que se conquista em “spoil system”, mas antes uma relação, uma relação entre os aparelhos e a comundidade, entre o principado da governança e a república dos cidadãos, onde a sociedade civil não se reduz à CIP e aos loibos que sabem uivar e que não podem institucionalizar-se no parlamento, para não fazerem concorrência aos senhores deputados que pretendem monopolizar a actividade disfarçadamente, num país onde o importante não é ser ministro, é tê-lo sido

Jul 27

Boas férias, tudo como dantes, sem que o quartel-general esteja em Abrantes e sem que os loibos uvem em São Bento…

Dei agora um salto à RCP, para comentar a drenagem das charruadas e lá tive que recordar que a qualidade de uma democracia não se mede por sabermos quem manda, mas antes por sabermos como de institucionaliza o controlo do poder. Democracia não é sondajocracia. Aliás, Hitler obteve uma maioria numa democracia, a da República de Weimar, e a Inquisição era bastante popular, com pressões do braço popular em Cortes, quando o rei queria abrandar o terrorismo de Estado, e amplas adesões das massas aos autos de fé. Aliás, em determinados momentos de pânico securitário, mesmo dos nossos dias, se a pena de morte fosse a referendo, logo revogaríamos a respectiva abolição, constante do Acto Adicional à Carta de 1852 e do decreto de 1 de Julho de 1867.
Tem razão Alegre quando fala no medo. E também tinha razão quando falava do mesmo medo durante o cavaquismo e nos congressos do PS dominados pelo aparelhismo. Não tem razão Sócrates quando ironiza com estas lembranças. Depois de séculos de inquisição e de quase meio século de autoritarismo, se eliminámos os aparelhos de repressão, manteve-se o subsistema de medo que os mesmos geraram e não se apostou na revolução cultural educativa que desse autonomia às pessoas, com a consequente meritocracia.
Deixámos subsistir os colectivismos, herdados do beatério catolaico ou comunista, onde qualquer um para se libertar dos pecados adere a uma dessas seitas, dizendo que não recebe lições de democracia dos adevrsários e demonizando-os com um qualquer adjectivo depreciativo.
Acresce que o PS, com poucos dirigentes da ala histórica, ou que tenham estado na Alameda contra o gonçalvismo, como esteve Alegre e não estiveram os “correias de campos”, é a primeira vez que tem uma maioria absoluta, dirigida por um antigo JSD. E o tradicional partido plural, complexo, federativo e liberdadeiro, sentindo-se inquieto, vai-se contorcendo em azias, deixando que as vozes da rebeldia fiquem apenas com dissidentes como Alegre ou José Medeiros Ferreira.
Esquece-se que o poder não é uma coisa que se conquista em “spoil system”, mas antes uma relação, uma relação entre os aparelhos e a comundidade, entre o principado da governança e a república dos cidadãos, onde a sociedade civil não se reduz à CIP e aos loibos que sabem uivar e que não podem institucionalizar-se no parlamento, para não fazerem concorrência aos senhores deputados que pretendem monopolizar a actividade disfarçadamente, num país onde o importante não é ser ministro, é tê-lo sido, para recordar uma conhecida exclamação de António Almeida Santos, como amanhã glosarei na RTP.
Boas férias, tudo como dantes, sem que o quartel-general esteja em Abrantes…

Jul 27

Mare nostrum, mare liberum… viva o princípio da âncora!

A guerra que não é guerra continua a queimar terra e consciências, enquanto passo os olhos pela agenda das efemérides e reparo que neste dia do ano de 1970 morria António de Oliveira Salazar, enquanto em 1953 se firmava o acordo de armistício que punha termo à guerra da Coreia, tal como ontem se assinalou a nacionalização do canal do Suez (1956) e a independência da Libéria (1847). Mas não vou falar de Salazar, nesta semana em que se ficaram a conhecer outros passamentos de alguns dos seus colaboradores, desde o fotógrafo e assassino de serviço, cujo nome não indico, a outros “zombies” que ainda andam por aí. Odeio quem odeia. E respondo ao ódio com o imprevisto da tolerância e o exercício do verbo que não precisa de concessões de verba e de chefia de contínuos. Resistirei sempre ao terrorismo de Estado.

 

Prefiro reflectir sobre o próprio sítio onde estou, numa espécie de exercício geopolítico dos afectos, aqui, à beira da extremidade ocidental do que foi o “mare nostrum” ou mar interior, dito mediterrâneo, onde a curva do mar antigo acaba e começa o mar sem fim, dito atlântico, o tal que apetece sonhar. Aquele que vira as costas à terra de guerra e, de olhos postos no infinito, a caminho do Sul, continua a tentar provar que a terra é circum-navegável, se rodarmos em torno do nosso próprio eixo, para parafrasear Toynbee. Só assim podemos aceder ao tal abraço armilar que é partir para regressar. “Mare nostrum, mare liberum”.

 

Perante a desesperada falta de soluções da racionalidade finalística, importa passear pelo tal lume da profecia, a que Weber chamou racionalidade axiológica. O recurso à violência estadual, mesmo na sua forma de guerra, pela qual os homens continuam a optar é sempre um mau conselho. Não vale a pena optarmos por ainda mais guerra e até sonharmos com esse clímax da violência institucional que é o uso ou a ameaça de uso daquilo a que demos o nome de “absolute weapon”, coisa que acontece quando alguns têm a ilusão da nova forma de solução final.

 

Prefiro continuar a pensar mar, aqui no limite Sudoeste daquilo que foi a “respublica christiana” e a “pax romana”, neste pedaço de terra que teve de ser reconquistado ao Islão, de que fizemos moiras encantadas, tal como em Marrocos ainda se fala nas portuguesas encantadas. Sou da terra de Alcácer Quibir, fui derrotado por eles, ajudados que foram por huguenotes e protestantes ingleses, quando D. Sebastião tentava criar um triângulo estratégico que passava pelo Rio de Janeiro e de Luanda, para assim recriar um novo “mare nostrum”. E é com a memória do derrotado que não me apetece voltar a ser derrotado. Porque também sei que vencer é ser vencido, como me foi ensinado por Fernando Pessoa. Salazar cai sempre de uma cadeira e pobre do verbo que depende da verba, ou da ideia que precisa de bombas para converter.

 

Voltemos à liberdade livre da imaginação como terceira potência da alma, a tal que nos treina para a transgressão criativa da rebeldia e da insolência do sonho. As crises de anarquia criativa podem corresponder a incubações que precedem a chegada das grandes emergências que juntam convergência e divergência, essas mudanças dramáticas que se traduzem pela bela quebra de fronteiras entre territórios até então hostis. Também no Médio Oriente poderemos sonhar como corpos vivos de povos que regressem, para organizações de complexidade crescente.

 

Basta que regressemos a forma intuitivas de ideação. As tais que ainda não se sistematizaram por uma engenharia piramidal de conceitos, as tais formas de libertação que nos permitem voltar a ter organização, mesmo que seja organização inter-estadual. Estou a ler Koestler e aí reparo que uma organização é uma espécie de árvore, onde a hierarquia é feita de ramos superiores e inferiores, onde os superiores aparecem aos inferiores como um todo, dotado de unidade, mas onde os superiores olham para os inferiores como partes vivas e autónomas desse mesmo todo. Onde cada parte, mesmo a superior, é dotada de complexidades, isto é, marcada pelo princípio da autonomia, onde a variedade gera unidade, não pela unidimensionalização da bomba, mas pela subsidiariedade. Onde o controlo do todo pelas partes é levado a cabo pelo fluxo da rede, da unidade na diversidade. Pela tal coisa a que chamamos democracia. E que pode ser universal. Porque as coisas antigas podem não ser antiquadas. Como num barco ultra-sofisticado pelo choque tecnológico que não abandona o princípio da âncora, que sempre foi esperança.

Jul 26

Não, não vou por aí…

Tenho conhecido, ao longo da vida, tipos de bom e mau carácter, bem como amigos e adversários, de um ou outro teor. Detesto particularmente os que não têm bom e mau carácter porque, antes dos adjectivos, lhes falta o próprio substantivo, especialmente esses cobardes ambulantes que não têm vida, de tanto se submeterem para sobreviverem.  É por isso que as férias que amanhã iniciarei me farão retomar as energias de querer continuar a viver como penso, sem vocação para “homo partidarius”, candidato a partidocrata, ministro ou deputado, mas com muitas mágoas por sentir que instituições a que dei um pedaço da minha vida entraram em agonia ou em degenerescência, especialmente quando deixaram que os absolutismos as corrompessem por dentro, desde o absolutismo de um só, pretensamente reaccionário ou vaidosamente iluminado, ao absolutismo de uma maioria conjuntural ou de uma oclocracia a ritmo de serôdia RGA, com sabor a plenário das universidades privadas ameaçadas de encerramento ministerial. É por esta e por outras que me calo hoje, sobre aquilo que começou a emergir nos jornais tanto sobre uma agonia de pretenso partido como sobre segmentos universitários, coisas sobre as quais aqui tenho reflectido sem mantos diáfanos de hipocrisia, quase quotidianamente. Se a universidade não é o lugar adequado para se estabelecerem falsos tribunais ou palanques para a vindicta, deve ser um claustro da ciência e um dos redutos da liberdade académica contra a ameaça do pensamento único e, se for necessário, da própria resistência libertadora.  Uma universidade ou um partido só poderão reclamar do Estado autonomia se se assumirem como instituições. Porque, em primeiro lugar, são uma ideia de obra, uma criatura que se liberta dos criadores, até porque os cemitérios estão cheios de insubstituíveis. Porque, em segundo lugar, têm o dever de gerar manifestações de comunhão entre os respectivos membros. Porque, em terceiro lugar, exigem o leal cumprimento de regras processuais de um Estado de Direito. E o Estado de Direito nunca foi o princípio da legalidade do governo dos espertos, dado que, no seu íntimo, é o exacto contrário do absolutismo e do consequente despotismo pretensamente iluminado. Até quem manda está submetido à própria regra que pode fazer. Porque nem tudo o que quem manda diz é lei. Quem manda tem de obedecer a princípios como os da igualdade e da imparcialidade. Aliás, hoje, quem manda nem sequer existe fora de quem o elege, dado ter que ser o representante de todos.  Pode ter a aparência da legalidade dos senhores da guerra, ou de ditaduras castrenses e regulamentares, acumulando a sacristia com a cavalariça, através do regresso ao processo revolucionário em curso, mas não tem legitimidade. Ai de quem não reconheça que quem detém qualquer parcela de poder pode abusar do poder que lhe foi depositado pela comunidade, exigindo-se a separação de poderes e a cooperação estratégica entre eles. Ai de quem não reconheça que a autoridade, que vem de autor, é superior ao poderio transitório.  Não, não vou por aí! Sei o que são as subversões a partir dos aparelhos de repressão e de distribuição das prebendas e sei que as modas passam de moda e só tem aparência de novo aquilo que se esqueceu. Robespierres em latas de conserva são susceptíveis de apreensão pela ASAE…

Jul 25

Brincando ao revolucionarismo

Alguns segmentos da dona universidade, em vez de aprenderem, investigarem e ensinarem, preferem brincar a certo revolucionarismo frustrado, onde não faltam bibliotecários que semeiam ameaças a torto e a direito, contra as esquerdas que não querem ser assimétricas e contra as direitas que não são compráveis, procurando impedir o urgente gesto do Zé Povinho contra a coligação de fidalgotes, inquisidores e pides não reciclados, a qual ameaça com o terror reverencial e a terra queimada saneadora, nesse explosivo misto dos verões quentes, donde costuma emergir a ditadura da incompetência, quando a assembleia do MFA dá origem ao V Governo Provisório. O cúmulo desta insanidade orgânica pode até levar a que a pretensa legalidade formal do governo dos espertos promova a reunião plenária de uma qualquer direcção-geral do antigamente, dominada pelos habituais administradores de posto, de colonial memória, para assumir por unanimidade medrosa uma nova lei orgânica digna do PRACE, onde se invoque a Constituição de 1933, porque a aprovada Constituição de 1976 ainda está à espera de publicação. Assaltando-se a “vacatio legis”, pode ser que alguns ex-estudantes de teologia interpretem a dita branda como mera vaquinha propícia à cow-boiada, onde não faltam promoções para os chefes de facção, concursos com fotografia para os pretensos chefes da oposição e imensas prebendas para os serviços prestados pelos senhores da guerra que feudalizaram a coisa, tudo à custa da mesa do orçamento e do consequente devorismo. Tudo o que digo coincide com a realidade dos que, degrau em degrau, lá vão descendo a caminho do delírio, com sucessivas bebedeiras contra-revolucionárias e revolucionárias, onde a índole de extremistas da esquerda e da direita rompe o verniz do pseudo-estadão dos cargos assaltados, só porque alguns dizem fazer cesarianas de alienígenas, mas com os métodos típicos da autópsia, dado que outros proclamam não seguir os adequados manuais de medicina forense, de que se assumem como os únicos especialistas, mesmo sem preparação básica. Por mim, quero continuar a pensar pela própria cabeça. E não temo os bufos. Da direita e da esquerda. Incluindo aquele que, fingindo-se meu companheiro de valores, se mostrou portador do habitual neodogmatismo petensamente antidogmático, com os degenerados trejeitos maneiristas do anti-inquisidor realmente inquisidor, sem reparar que, mui avençadamente, entre o “mosca” do Intendente e o “bufo” da PIDE, houve alguns “formigas” que tramaram tanto Afonso Costa como o 25 de Abril. Desta feita, os chefes não foram parvos e sabem que tudo sai dos meus privatíssimos arquivos da memória que adequadamente informatizei e donde não constam fichas nem contrafichas do “Lumpen”.

Jul 25

Contra o medo de pensar pela própria cabeça, contra o medo de discordar, contra o medo de não ser completamente alinhado

Como não vou pagar quotas ao PSD, espero, ansioso, a pausa de Verão, embora ainda hoje tenha que aturar mais um filme série B de mais uma consequência de prequianos golpes de revolucionários frustrados, sentados nas alcatifas directoriais dos suplementos de vencimento, com que costumam ser prebendados os cabos eleitorais e que não lêem os que têm razão antes do tempo, como o poeta Manuel Alegre que, hoje, traça a causa desta decadência: “medo de pensar pela própria cabeça, medo de discordar, medo de não ser completamente alinhado”, com a consequente “tradição governamentalista”, que leva um partido, quando está no Governo, a transformar o “seguidismo” “em virtude”.

(é evidente que onde está Governo pode ler-se qualquer outro agente de poder ou de distribuição de subsídios, promoções ou viagens, podendo a coisa ser substituída por “chefe”, chame-se director-geral, presidente, directivo, reitor, delegado ou governador-civil, incluindo os pretensos filiados nos partidos de Sócrates, Salazar, Marques Mendes, Portas ou Jerónimo de Sousa, especialmente quando o chefe tem uma corte de plurais comedores do dinheiro do povo)
Também alguns segmentos da dona universidade, em vez de aprenderem, investigarem e ensinarem, preferem brincar a certo revolucionarismo frustrado, onde não faltam bibliotecários que semeiam ameaças a torto e a direito, contra as esquerdas que não querem ser assimétricas e contra as direitas que não são compráveis, procurando impedir o urgente gesto do Zé Povinho contra a coligação de fidalgotes, inquisidores e pides não reciclados, a qual ameaça com o terror reverencial e a terra queimada saneadora, nesse explosivo misto dos verões quentes, donde costuma emergir a ditadura da incompetência, quando a assembleia do MFA dá origem ao V Governo Provisório.
O cúmulo desta insanidade orgânica pode até levar a que a pretensa legalidade formal do governo dos espertos promova a reunião plenária de uma qualquer direcção-geral do antigamente, dominada pelos habituais administradores de posto, de colonial memória, para assumir por unanimidade medrosa uma nova lei orgânica digna do PRACE, onde se invoque a Constituição de 1933, porque a aprovada Constituição de 1976 ainda está à espera de publicação.
Assaltando-se a “vacatio legis”, pode ser que alguns ex-estudantes de teologia interpretem a dita branda como mera vaquinha propícia à cow-boiada, onde não faltam promoções para os chefes de facção, concursos com fotografia para os pretensos chefes da oposição e imensas prebendas para os serviços prestados pelos senhores da guerra que feudalizaram a coisa, tudo à custa da mesa do orçamento e do consequente devorismo.
Tudo o que digo coincide com a realidade dos que, degrau em degrau, lá vão descendo a caminho do delírio, com sucessivas bebedeiras contra-revolucionárias e revolucionárias, onde a índole de extremistas da esquerda e da direita rompe o verniz do pseudo-estadão dos cargos assaltados, só porque alguns dizem fazer cesarianas de alienígenas, mas com os métodos típicos da autópsia, dado que outros proclamam não seguir os adequados manuais de medicina forense, de que se assumem como os únicos especialistas, mesmo sem preparação básica.
Enquanto isto, na macropolítica politiqueira, com o caso Charrua arquivado e com o caso dos sobreiros em acusação formal, eis que a governança se engasga com a teatrocracia do plano tecnológico, devido à encenação das agências de comunicação que recorreram ao trabalho infantil, para que aquilo que apareceu no telejornal pudesse continuar esta paradoxal conspiração de avós e netos, onde, depois dos velhinhos que vieram de Cabeceiras de Basto fazer o comício a António Costa, tudo se assemelha, cada vez mais, aos figurantes contratados para os sucessivos programas dos “prós e contras”.
Julgo que Sócrates não deve transformar-se em Fátima Campos Ferreira, nem o parlamento que volver-se em auditório da Casa do Artista. Quanto às criancinhas, se aplaudo o golpe oposicionista de Zita Seabra, mais me irrita que o governo tenha servido de campo de promoção para a empresa que forneceu computadores ao Estado, e que utilizou o primeiro-ministro de nós todos como figurante de filme de propaganda comercial.
Por mim, quero continuar a pensar pela própria cabeça. E não temo os bufos. Da direita e da esquerda. Incluindo aquele que, fingindo-se meu companheiro de valores, se mostrou portador do habitual neodogmatismo petensamente antidogmático, com os degenerados trejeitos maneiristas do anti-inquisidor realmente inquisidor, sem reparar que, mui avençadamente, entre o “mosca” do Intendente e o “bufo” da PIDE, houve alguns “formigas” que tramaram tanto Afonso Costa como o 25 de Abril. Desta feita, os chefes não foram parvos e sabem que tudo sai dos meus privatíssimos arquivos da memória que adequadamente informatizei e donde não constam fichas nem contrafichas do “Lumpen”.

Jul 25

Depoimento a Pedro Correia, sobre as direitas

Direita procura novas vias para conseguir sobreviver

PEDRO CORREIA

 

Santana pondera criação de novo partido à direita

Pedro Santana Lopes está a ponderar a criação de uma nova força política que mobilize a direita e o centro- -direita, apurou o DN. O recente resultado em Lisboa, na perspectiva do ex-presidente do PSD, demonstra que o actual ordenamento partidário está à beira do esgotamento. “Não pode ficar tudo na mesma. Concordo com aqueles que dizem que estamos no fim de um ciclo”, declarou ontem Santana aos jornalistas que o interpelaram no Parlamento. Na sua opinião, “o centro-direita vai passar por uma grande reformulação. As candidaturas independentes em Lisboa são prenúncio de mudanças no sistema.”

A nova força política poderá chamar-se Aliança Democrática Portugal (ADP). É essa a sigla já registada por Ricardo Alves Gomes, ex-adjunto de Santana no Governo, que abandonou o PSD em 2005 e mantém uma página “em construção” na internet com o logótipo da ADP – em tons verde, branco e azul.

A palavra mudança será hoje certamente pronunciada nos conselhos nacionais do PSD e do CDS. Mas Santana não irá à reunião social-democrata, alegando motivos pessoais.

A antecipação da eleição directa para a escolha do líder e do congresso nacional do PSD, decidida por Marques Mendes, e a “reflexão” anunciada por Paulo Portas no CDS indiciam que tudo já começou a mexer. Com alguma ironia, José Miguel Júdice recomendava ontem a fusão entre os dois partidos, em declarações ao Diário Económico. Isto numa altura em que Manuel Monteiro prepara a saída da liderança do Partido da Nova Democracia.

Estarão mesmo reunidas as condições para uma reformulação da direita portuguesa? Há quem pense que sim. É o caso de José Adelino Maltez. “Há uma crise grave do sistema partidocrático. A situação está esclerosada”, afirma ao DN este politólogo, apontando o exemplo de Lisboa: “Somados os que se abstiveram aos que preferiram as candidatura dissidentes, há 74% de eleitores indiferentes aos partidos instalados ou que os rejeitam expressamente”.

Este especialista em Ciência Política ironiza: “A direita que convém à esquerda chama-se Marques Mendes e Paulo Portas.” Entre os sociais- -democratas, sublinha, a mudança é difícil. E porquê? “Certos elementos encavacam o PSD. Incluindo Manuela Ferreira Leite, um D. Sebastião de saias que tolhe a criatividade do PPD profundo.” O problema, a curto ou médio prazo, será de todos: “Qualquer dia reparam que não têm povo.”

Rui Ramos admite que a eleição em Lisboa “propicie mudanças no sistema partidário português, “caracterizado por uma certa rigidez”. Ao DN, este historiador reconhece a existência de um “cansaço dos eleitores”, devido à consciência de “existirem conchas partidárias que albergam realidades muito diversas”. Na sua opinião, não existe um só PSD – existem pelo menos três. E não há um só CDS – há dois, bem diferentes.

Rui Ramos lembra que a direita “já foi refundada” em países como Espanha, Itália e França. Também ao DN, o politólogo Rui Oliveira e Costa recorda o mesmo. Mas adverte: “O país profundo, nesta matéria, é conservador. A principal dificuldade ao reordenamento partidário são as autarquias locais. O PSD é o partido do poder local e tem a presidência da Associação Nacional de Municípios. Nele uma mudança profunda só se fará da província para a capital.”

 

Jul 23

Quando quatrocentos metros demoram dois meses a percorrer, neste Estado de Direito feito “simplex”

Um governo (regional) diz que não vai cumprir uma lei da República. Um presidente da mesma República aconselha os cidadãos a protestarem junto da morosidade da justiça. Os cidadãos calam e concluem que assim o presidente pode correr o risco de não cumprir a lei constitucional que o erigiu em garante das instituições constitucionais. Porque os nossos primeirinhos, treslendo, podem acumular com as memórias de antecessores e dizer que não cumprem a lei, na sua letra e no seu espírito, incluindo a lei constitucional que determina haver Estado de Direito no próprio circuito burocrático e político da administração directa e indirecta do Estado. Porque uma grávida que legalmente poderia abortar, ao recorrer aos tribunais, pode até ver que a coisa demore três a cinco anos a chegar ao fim, sobretudo se o Tribunal de uma qualquer boa hora demorar dois meses a enviar cinco quilos de processo para o tribunal superior que fica a quatrocentos metros de distância, por falta de transporte. Ainda não foram oferecidos computadores a baixo custo a todos os chefes, até para evitar que eles recorram à blogosfera anti-socrática.