Importa um “New Deal”, para evitar que os coveiros do sistema passem a coveiros do regime

Quase todos os que se apresentam como candidatos ao protagonismo estadual, partidário ou das pequenas quintarolas burocráticas, que permitem o micro-autoritarismo da mesa do orçamento ou da engenharia dos subsídios, utilizam a invocação, directa ou suliminar, de serem homens de esquerda. Uns, pelo oportunismo do politicamente correcto, para melhor se inserirem no situacionismo. Outros, como literatura de justificação para todos dos desmandos, esquecendo-se que Estaline e Pol Pot também eram homens ainda mais à esquerda, quando não invocavam as novas tecnologias da guilhotina positivista. Feliz, ou infelizmente, a direita começa a ficar reduzida ao espaço do berro e do “soundbyte” populista, com alguma dela à espera que o PSD a repesque para a dignidade do estadão e da consequente vantagem negocista. Entretanto, os mais destacados marechais do CDS, face às duas emergências de Cavaco, o tal que os secou, parece que optaram pelo PS, que assim os reduziu à veneranda postura de senadores colaboracionistas, a nível do ministerialismo ou da prebenda elogiosa. Mais do que isso: o PSD, quando não se assume em birra populista ou caciqueira, fica-se pela memória do estadualismo paternalista a que chama neoKeynesianismo, mas que não passa de mais uma versão do salazarismo democrático, vestido de respeitabilidade tecnocrática, dita prestígio. Ainda não assumimos que importava, antes de chegar a Grande Depressão, um “New Deal” à esquerda e à direita, um baralhar e dar de novo, para que estes coveiros do sistema não sejam coveiros da morte lenta em que o regime se enreda. Como observava Fernando Pessoa em 1928, também António de Oliveira, estabeleceu imediatamente o seu prestígio quando tomou posse, através de um discurso que é tão diferente dos discursos políticos habituais que o país aderiu a ele de imediato. E o público é incompetente para apreciar uma coisa tão profundamente técnica como as suas reformas financeiras. Ao fim e ao cabo, o prestígio é sempre não-técnico.

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