Depois de uma semana de limpeza de alma, lá volto ao centro do poder dos consórcios de obras públicas, ao toma-lá-dá-cá deste bloqueio central de um pretenso keynesianismo, dito “Welfare State”, feito de “pantouflage” de um liberalismo a retalho que prometeu socialismo de consumo, onde os feitores dos ricos apenas lêem as entrelinhas da cartilha da social-democracia e do socialismo democrático de antes da crise petrolífera, porque têm muitas preocupações com os pobrezinhos e os reformados, mas onde o ser ministro lhes dá pergaminhos de agendas contactos que lhes fornecem a chave das aposentadorias de gestores de construtoras e de patos bravos da banca, ávidos do comunismo burocrático onde a culpa morre sempre solteira. Nem sequer reparam que não passam de meros agentes de uma governança de pilotagem automática, marcada pelo ritmo do mais do mesmo, a tal que continua a colocar-nos na cauda da Europa das disparidades sociais, dado que somos campeões daquele modelo, onde os pobres, incluindo os novos pobres, são cada vez mais e também cada vez mais pobres, para que os ricos, sobretudo os novos-ricos, sejam cada vez menos, mas cada vez mais ricos. Porque nesta terra de macacos cegos, surdos e mudos, em ritmo de sociedade de casino, quem tem olho para a barganha negocista joga na teoria daquele homem de sucesso, segundo a qual o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido. Aliás, com esta expedita administrança da justiça, sempre em nome do povo, onde o burlão vai vivendo de aposentadorias, durante um longo trânsito em julgado, passível de ser manobrado pelo expediente dilatório dos colarinhos brancos, que pode durar um quarto de século e milhões de páginas de processos cosidos à mão, podemos concluir que, em terra de pobres de espírito, quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou já não percebe da arte. Entretanto, lá vamos tendo de aturar os discursos e os improvisos de suas excelências da governança, botando arrotos de pescada sobre serem da esquerda mais ou da esquerda menos, para que os direitistas anedóticos teorizem sobre as relações da justiça com a Senhora de Fátima, não faltando os gatos magistrais a dizerem que caçam os ratos que apitam dourado, neste grande armazém de queijo esburacado, onde os tecnocratas da engenharia financeira dos “off shores” nos continuam a meter as mão na bolsa e nos actos de branqueamento de imagem. Não faltam sequer outros belos discursos de música celestial dos universitários e magistrados que nos processualizaram, fazendo chorar as pedras da calçada. Desses ilustres e notáveis que têm prestígio entre o respectivo grupo corporativo, por se mexerem bem na classe política, mas que, ao mesmo tempo, assumem o transcendente do metapolítico entre os políticos, só porque se recobrem do etéreo da missão magistral, quando não passam de vacas sagradas que continuam magras de ideias. Este nosso “contenente” capitaleiro continua mesmo a pensar que é metrópole e “mainland”, dona de todas as ilhas adjacentes, incluindo as da interioridade, para onde mandam os governadores civis do Rodrigo da Fonseca e do Costa Cabral, em missões de soberania… Que tal remetê-los para o Piquinho sem direito ao verdelho do Czar, que é boa pinga?
Monthly Archives: Junho 2008
Sobre Portugal, pode-se afirmar que é o menos europeu e, ao mesmo tempo, o mais europeu dos países europeus
Depois de 48 horas de info-exclusão, só porque o Kanguru ainda não conseguiu dar o salto para as Flores e o Corvo, apenas uma frase de uma jovem açoriana de 25 anos, durante uma visita aos Estados Unidos: “sobre Portugal, pode-se afirmar que é o menos europeu e, ao mesmo tempo, o mais europeu dos países europeus” (Natália Correia). Apenas digo que ainda ontem vivi essa observação fisicamente, sobretudo quando, depois de uma travessia num frágil semi-rígido, desembarquei naquela ilha do Corvo que Mercator escolheu para meridiano anterior ao de Greenwich, porque, no seu tempo, a agulha de marear não sofria nenhuma declinação. E mais emocionadamente o pensei, quando a pátria, das malhas que o império teceu, construiu um recente monumento, em Vila Nova do Corvo, em memória de dois soldados corvinos falecidos em combate, lá mais longe, em Moçambique. Daí ter lido, neste mais Portugal do grande mar-oceano, a “Relação breve da grande e maravilhosa vitória dos moradores da ilha do Corvo, contra dez poderosas naus de Turcos. Anno MDCXXXII”. Porque, eu, português coimbrinha, também sei de Isabel de Aragão, a rainha santa que nos introduziu o quase herético culto do Espírito Santo e que, também perto da minha terra, na serra do Açor, há uma Santa Maria dos Açores, invocação que deu nome ao arquipélago, por causa da primeira ilha descoberta, tal como as doze estrelas da Europa vêm de um vitral da mesma invocação mariana, que ainda está na catedral de Estrasburgo, símbolo que o próprio Padre António Vieira usou para bandeira do quinto-império do poder dos sem poder que aqui foi comunitariamente assumido, neste paradoxo da pátria amada, azul de mar, com lágrimas de sal. E não foi um acaso, tudo ter sido cumprido pelo grão-mestre daquela Ordem dos Templário que o consorte de Isabel de Aragão, el-rei D. Dinis, transformou em Ordem de Cristo, nestas encruzilhadas de um espírito que nos continua a dar alma atlântica. ele <��n<h’�Xs�le=’font-size:10.0pt;mso-bidi-font-size:11.0pt;line-height:115%;font-family: “Sylfaen”,”serif”;mso-fareast-font-family:Calibri;mso-bidi-font-family:”Times New Roman”; color:red;mso-ansi-language:PT;mso-fareast-language:EN-US;mso-bidi-language: AR-SA’>provincianismo caciqueiro que costuma subsidiar as bandas filarmónicas ditas unânimes do montículo. Bem me referia, há dias, um meu amigo russo, quando salientava que o sub-sistema de medo dos modelos pós-autoritários radicava na falta de institucionalização dos conflitos, assentando em rebanhos educados para ninguém ter opinião crítica. Por isso, noto como, nalgumas ilhas, certas plantas exóticas de origem tibetana se tornaram numa praga, ameaçando os próprios muros feitos de hortênsias e a beleza dos dragoeiros. Porque mesmo um Estado de Direito pode viver segundo o ritmo dos unanimismos micro-autoritários, tal como acontece em muitas das zonas pós-comunistas da Europa, onde vinga a cultura da corrupção e da bandocracia. Quando, importa “espremer gota a gota o escravo que cada tem dentro de si”. As autonomias infra-estaduais já tiveram o seu estado de graça libertador. Agora, muitas enredaram-se no partidarismo e nas personalizações do poder, caindo nas teias dos velhos donos do poder que as podem manobrar para um regresso ao passado e ao poder perdido. As autonomias só têm sentido quando as comunidades vivas as conquistaram e não deixam que elas se transformem em concessões da revolução, do Estados, das constituições ou dos decretos regulamentares e homologações administrativas. As autonomias só são reais se resultarem do direito natural e dos pactos de união pelas coisas que comunitariamente se amam.
As autonomias só são reais se resultarem do direito natural e dos pactos de união pelas coisas que comunitariamente se amam
Continuo a sorver este azul do grande mar-oceano, onde vou meditando sobre a interpretação de um princípio da subsidiariedade que esteja de acordo com o sonho dos modelos pós-totalitários, pós-autoritários e pós-soberanistas, libertando as autonomias da barganha negocial dos grupos de pressão e dos grupos de interesse. Porque até as universidades podem cair na teia de certas personalizações do poder, marcadas por um ridículo majestático, pretensamente omnisciente e omnigestionário, que, a si mesmo, se decrete como a via única para o bom senso, lançando todos os opositores e dissidentes para o ostracismo, só porque padecem da grave doença social de não submissão à unidimensionalização predadora, típica daquele provincianismo caciqueiro que costuma subsidiar as bandas filarmónicas ditas unânimes do montículo. Bem me referia, há dias, um meu amigo russo, quando salientava que o sub-sistema de medo dos modelos pós-autoritários radicava na falta de institucionalização dos conflitos, assentando em rebanhos educados para ninguém ter opinião crítica. Por isso, noto como, nalgumas ilhas, certas plantas exóticas de origem tibetana se tornaram numa praga, ameaçando os próprios muros feitos de hortênsias e a beleza dos dragoeiros. Porque mesmo um Estado de Direito pode viver segundo o ritmo dos unanimismos micro-autoritários, tal como acontece em muitas das zonas pós-comunistas da Europa, onde vinga a cultura da corrupção e da bandocracia. Quando, importa “espremer gota a gota o escravo que cada tem dentro de si”. As autonomias infra-estaduais já tiveram o seu estado de graça libertador. Agora, muitas enredaram-se no partidarismo e nas personalizações do poder, caindo nas teias dos velhos donos do poder que as podem manobrar para um regresso ao passado e ao poder perdido. As autonomias só têm sentido quando as comunidades vivas as conquistaram e não deixam que elas se transformem em concessões da revolução, do Estados, das constituições ou dos decretos regulamentares e homologações administrativas. As autonomias só são reais se resultarem do direito natural e dos pactos de união pelas coisas que comunitariamente se amam.
Algumas notas, retiradas da cartilha de Sá de Miranda, segundo a qual vencer é ser vencido
O poder, encasulado na sua formal maioria absoluta, continua a julgar que é possível gerir o poder pelo poder, distribuindo migalhas por todos os esfomeados que se aproximam da mesa do orçamento. O poder do estado a que chegámos retoma as lições do velho “raposa” Rodrigo da Fonseca, esse técnico da politiquice que aconselhava os governantes a tornarem os opositores de ontem em comensais, para que todos se banqueteassem com os devoristas. Não tarda que chegue aos desespero ético de um José Luciano e que proclame: não é o meu partido que me leva ao poder, sou eu que levo o meu partido ao poder. Mais: o poder sabe de ciência certa que as patuleias apenas são ocasionais e que se estiver aflito sempre pode dizer, como Saldanha, que a Europa tem de intervir para nos livrar de uma manobra miguelista, mesmo que o grosso da coluna dos revoltados venha a ser capitaneada por Sá da Bandeira, mobilizando todos os setembristas que não seguiram o viracasaquismo dos Cabrais. Haverá sempre uma divisão militar comandada por Concha e uma esquadra britânica que, manobrada pelo Paço, nos obrigará à vergonha da convenção do Gramido. Aliás, Cristóvão de Moura continua a prosperar na alta burocracia dos Habsburgos e o Miguel Vasconcelos, que ainda não foi adequadamente defenestrado, vai elaborando todos os pareceres jurídicos que sejam necessários para que Filipe II possa dizer, no fim do passeio, que nos herdou, comprou e invadiu. Não há nada de novo debaixo do tal sol que continua a não deixar que o olhemos de frente. Esta continuidade pós-autoritária e pós-totalitária, ao não educar para a cidadania dos homens livres, preferindo a estatística dos exames facilitados, impediu que cada um espremesse gota a gota o escravo que permanece dentro de nós. Logo, poderemos concluir, que a culpa de conservarmos esta escravatura doce, apenas está na circunstância de não haver a necessária revolta de escravos, só para parafrasearmos Tchekov e Beaumarchais, os tais que não tiveram que tecer loas à existência a ministros de inequívoco perfil de esquerda que, ipso facto, se julgam detentores do monopólio de uma ética antifascista, um pouco à imagem e semelhança dos tais Cabrais e das respectivas “restaurations” dos “anciens régimes”. Apenas esquecem que, do mesmo mal, padeceram antigos ministros de Salazar que lavavam as mãos como Pilatos, só porque, aos dezoito anos, tinham o carimbo de esquerdistas. Porque eles atingiram o despudor da total ausência da verdadeira ética republicana, aquela que Kant identificou como o imperativo categórico, quando praticando descaradas ilegalidades, injustiças e persigangas, típicas do despotismo ministerial, conseguiam, pela emissão de adequada literatura de justificação, assumir a dimensão de música celestial, que a jagunçada dos servos ia propagandeando. Aliás, tinham cuidado de deixar as cacetadas para os serviçais e feitores e sempre podiam mostrar que as respectivas mãos de macho de cabra estavam dotadas da necessária limpeza de sangue. Basta ver como em certas esquinas do nosso micro-autoritarismo sub-estatal continua a mesma música celestial, cantarolada pelos mesmos sacristães que perderam o sentido dos gestos, mas que têm o mérito dessa moral de sucesso, do poder pelo poder, congregando numa grande união nacional, estalinistas que se pintaram de democratas, fascistas cobardes que nem ao pós-fascismo aderem e outros tantos deste neocabralismo, a quem pedem serviços de neopidismo denunciante, com muita água benta e dobragem da espinhela. Ai dos que seguem o velho partido de Sá de Miranda, do antes quebrar que torcer, que homens da Corte não podem nem querem ser… só porque consideram que as leis universais só podem ser emitidas pelo exemplo das condutas de cada um, quando cada um ousa viver como pensa, mesmo quando se assume do contra e quer dar o exemplo do risco de viver cada uma das suas horas como se fosse a última. Os tais doidinhos que, neste tempo de homens lúcidos e situacionistas, têm a lucidez daquela ingenuidade que os obriga a ser do contra, mesmo quando foram os primeiros convidados para a tal mesa do orçamento… Só que leram Fernando Pessoa e sabem que vencer é ser vencido…
Os jogos florais da reforma do sistema político e da alteração da lei eleitoral…
Os partidocratas dominantes continuam a sua antiquada táctica dos jogos florais, fingindo que chamam a sociedade civil a debater o que apenas está dependente de um acordo neofeudal entre os dois partidos-sistema. Basta, aliás, recordar que as próprias revisões constitucionais vieram de acordos de salão entre o PS e o PSD, como o poderão atestar Marcelo Rebelo de Sousa, Fernando Nogueira ou António Vitorino, quando funcionaram como notários do regime. Trata-se do habitual bailado da oligarquia dona do poder, desse clube fechado, de rigoroso direito de admissão, e seria tolo pedirmos aos que usam e abusam dessa posição dominante para se auto-subverterem, através das habituais reformas vindas de cima para baixo, onde quem está em cima nunca deixará que se gere uma subversão vinda de baixo, ou do lado. Porque, tal como na União Europeia, também no plano doméstico vigora o princípio da hierarquia das potências, com dois partidos directores, o PS e o PSD, e vários poderes secundários, onde os primários não querem a subida dos secundários e os secundários se unem aos primários, na exclusão dos marginais que se colocam à porta do sistema. Basta recordar que a lei eleitoral vigente ainda vem de um grupo de trabalho criado pelo I Governo Provisório, da era pré-PREC, assim confirmando como, em Portugal, duram especialmente as reformas emitidas em ditaduras revolucionárias e reformistas. Como as que foram lançadas pela ditadura das finanças salazarista, com o 28 de Maio; pelo laicismo afonsista do governo provisório da república, em 1910-1911; pela liquidação das alcavalas do “ancien régime” semeadas por Mouzinho da Silveira na regência do Duque de Bragança, ex-rei D. Pedro IV; ou pela arquitectura de Estado do despotismo ministerial do Carvalhão. Talvez seja melhor notarmos que o actual sistema político, com a sua partidocracia controleira, não passa, hoje, de um simples subsistema, onde a maioria dos factores de poder já não são nacionais. E onde até o próprio poder político está fortemente condicionado pela união dos interesses económicos. Aliás, tanto a integração europeia como a globalização transformaram o PS e o PSD em meras secções de multinacionais europeias que nem sequer têm autonomia programática, principalmente em matérias de projecto europeu, porque partido integrado, deles, se pisar o risco leva expulsão. Pior do que isso: face a este concentracionarismo capitaleiro e castífero, a partidocracia nem sequer tem força para fingir que não é dominada pelos grupos de pressão patronais, como é bem patente na saga aeroportuária. A CIP, que nem sequer vai a votos, como a sua antecessora da I República, até se permite patentear guerras de patrões como os seus colegas nortenhos. Mesmo velhas heranças da democracia da sociedade civil, como eram os liberais clubes de futebol, acabam por poder ser comprados por singulares capitalistas, através de uma simples OPA. Até poderiam chegar à conclusão que a melhor solução para Portugal passa pela extinção do governo e da governação, pondo a concurso público internacional a gestão da coisa por uma qualquer firma de consultadoria da Patagónia. Eu até já vi um estudo estratégico-económico de um ilustre cipense pondo a hipótese de encerramento da Ilha do Corvo, tal como poderei ver outro, vindo dos vizinhos de Harvard, confirmando a inviabilidade da autonomia portuguesa, com esta classe política a que chegámos. Entretanto, seria bem mais aconselhável que os lusitanos que restam tivessem um reforço da autonomia das suas autarquias locais e regionais, entre zonas livres e zonas estipendiárias, que se federariam numa segunda câmara, a instalar no Porto, enquanto se continuariam a realizar eleições directas por sufrágio universal apenas para um parlamento partidocrático de listas nacionais e para um presidente que bem poderia ser um rei eleito. Julgo que o dinheiro dos portugueses poderia ser melhor gerido, evitando assim a nossa provável expulsão da zona euro, caso se mantenha esta confusão entre o mundo dos negócios, do futebol e da política, com lobistas, que são mais ratos do que lobos do homem, a não terem que se refugiar sob os honrados nomes de advogado e de deputado. Até não teríamos que levar outros lobísticos dirigentes partidários, a acumularem direcções de clubes de futebol e de associações patronais, com intervalos deputáveis cheios de muita barganha e requerimentos, em nome do realismo económico e ao serviço de quem lhe paga. Lobi há, oligarquia o põe. Em choco. Com gripe das aves a ameaçar, para que volte a Passarola.
Prefiro peregrinar pelos impérios do espírito santo e recolher-me diante da Sociedade do Amor da Pátria
Há por aqui uma paradoxal conspiração da Europa das pequenas regiões e das muitas ilhas autónomas, donas de muitas orgulhosas identidades e de muitas autonomias históricas. Não consta que, por aqui, se brinque ao poder pelo poder e às angústias neofeudais dos senhores da guerra. Por aqui apenas circula aquela autoridade que rima com o saber. E nestas ilhas ainda há sinais de defesa de concepções do mundo e da vida que respeitam o clássico princípio da subsidiariedade, onde o número de habitantes não se mede pelos palmos do quantitativo, mas pelo sentido político do humanismo e da cidadania, incluindo a cidadania académica que certos deslumbrados continuam a comprimir. Desliguei o telemóvel para as intigas capitaleiras do universitarês, mas, ainda assim, inundam a minha caixa de correio os desvarios. Prefiro peregrinar pelos impérios do espírito santo e recolher-me diante da Sociedade do Amor da Pátria. A resistência dos homens livres continua a semear revolta contra os pretensos funcionários da revolução frustrada que nos continuam a ocupar a mesa do orçamento.
Também por cá há ilhas de homens livres que procuram uma universidade livre do reformismo tecnocrático
Estava perdido em descobrir meu mar interior, olhando, a partir da ilha do Faial, neste cruzar do Canal, as ilhas de S. Jorge e do Pico, quando ouvi a Drª Manuela, do alto da sua memória ministerial, em oficioso relatório, a que chamam discurso. Confesso que apeteceu esquecer e continuar a escrevinhar sobre a Europa, sem ritmo eurobeato, mesmo quando vou correndo o risco de passar para a outra margem, junto daqueles que já alinham, em revolta activa, contra os meandros desta espiral de decadência que nos vai afogando em descrença. Apenas confirmo que, também por cá, mesmo com autonomia, se vivem as delícias daquele estadão fragmentador que desertificou a sociedade civil e nos transformou numa sucessão de quintas de animais falantes, onde há sempre alguns que são mais iguais do que outros, isto é, os apoiantes dos grandes e pequenos chefes da mesa do orçamento. Mas há também alguns outros que resistem e vão continuando a avivar as sementes daqueles passeios peripatéticos que continuam na senda dos que formaram gente como António José de Ávila, Antero de Quental, Teófilo Braga, Manuel de Arriaga. Eram universidade antes de haver a universidade do Professor Enes, sempre nas portas do ser, desde o tempo dos conventos aos cidadãos que nos liberalizaram a partir da semente deixada por S.M.I. o Duque de Bragança que aqui preparou o desembarque em Pampelido. Esperemos que as universidades a que chegámos, e que agora vivem no caldeirão borbulhante das assembleias estatutárias, fabricantes de quintais burocráticos, permitam a permanência de algumas dessas ilhas de meritocracia, para que o arquipélago federativo desses homens livres, num qualquer dia radioso, sem nevoeiro de reformistas tecnocráticos, a possam regenerar, em nome das permenecentes ideias de pátria e de “universitas scientiarum”.
Os micro-autoritários e os ajudantes do papão, podem ir de vitória em vitória até ao esquecimento final, pensando que a essência do poder é procurar manter-se. Apenas perdem as instituições que eles transformaram em bonecas que escarfuncham para procurarem, por entre a palha, uma simples agulha que pensam ser a chave da arca do segredo, quando o segredo é apenas não haver segredo. Insisto: terramotos destes apenas levam ao vazio da ideia de obra, à destruição das manifestações de comunhão entre os formais detentores da cidadania e à flagrante violação do mínimo das regras que permitem a continuidade das coisas seculares. Porque deixa de haver direito quando as regras apenas são o que o príncipe diz e quando este não está sujeito às próprias regras que pode fazer, favorecendo os amigalhaços e punindo os dissidentes. E iguais em indignidade são os Pilatos que pensam poder lavar as mãos, libertando Barrabás e pensando que serão ministros na próxima legislatura. Voltemos ao mar, esse “hiper-cluster”, o dia está azul demais para vermes…
As tácticas do enquanto o pau vai e vem, folgam as costas
Julgo que os portugueses puderam confirmar que a pomposa governança deste Estadão se assemelha cada vez mais a um sistema de pilotagem automática, programada para outras circunstâncias que entra em curto-circuito quando acontecem daquelas circunstâncias que não estavam no manual de programação do “porreiro, pá”. Também percebemos que a maioria dos factores de poder já não são meramente domésticos, dado que esta praia ocidental está aberta demais a certas nortadas da globalização predadora, sobretudo quando arrancámos os canaviais que nos protegiam e deixámos que os patos bravos limpassem a areia das dunas que nos davam alguma suavidade. Indo à outra face da moeda, direi que os primeiros sinais da crise demonstraram que a oposição social não teve adequados canais sistémicos no sistema político, à excepção do PCP que teve a agilidade de se assumir como voz tribunícia de vários grupos sociais em fúria, levando a que, nos mais recentes estudos de opinião, Portugal se tenha tornado no único país da Europa onde, à esquerda dos socialistas, há vinte por cento de preferências. O que também é um atestado de incompetência das direitas e dos centros que, enredados nas sereias de um populismo de personalizações do poder, não estiveram à altura das exigências de resposta à nova questão social. Mesmo forças morais como as Igrejas, perdidas nos enredos dos grupos de pressão e das barganhas dos passos perdidos, não deram voz ao poder dos sem poder, quando estamos perante causas que se configuram como novas patuleias da baixa classe média. Como diziam os clássicos, para haver diálogo, tem que haver lugares comuns entre adversários. Não podemos chamar diálogo às tácticas do enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. E temos que dar tempo ao nosso chefe do governo, para que ele se recompunha deste desafiante fim do estado de graça que ainda há meses parecia só ser possível analisar pelo verso épico do encómio e daquelas magníficas sessões inaugurativas, com filmes de ficção sobre o futuro do TGV e do aeroporto de Alcochete.
A um opositor não se bate nem com uma flor, mas apenas com um ferro embrulhado em papel vegetal, para que as marcas do poder não deixem rasto
Os pequenos micro-autoritarismos lusitanos, sobretudo os subestatais, não batem nem prendem, mas não deixam de ser mugabes ao ritmo de hugo chávez. Perseguem, usam o ostracismo e transformaram os instrumentos do Estado de Direito no princípio da legalidade do velho Estado Novo, nas suas extensões coloniais de governo dos espertos, onde a lei é permissiva para os amigalhaços e apoiantes da lista, mas implacável para os que dizem não ou decidem “dissidir”. Não lêem o que se diz nos órgãos próprios, não ouvem o que se denuncia às autoridades e só falam em literatura de justificação do poder pelo poder, porque consideram que a política é a técnica hobbesiana do homem de sucesso, ao ritmo da “Wille zur Macht”, com variantes freudianas. Até mandam fazer contrablogues, com as mais sórdidas campanhas de assassinato de carácter, porque pensam que, enquanto o pau vai e vem folgam as costas…
As quotas, os jotas e os cotas…ou de como o complex carreirista papa o simplex do cidadão incauto
Os vapores maníaco-depressivos, que nos revolvem as entranhas, as massas encefálicas e, sobretudo, a própria alma, anunciam que, hoje, é mais um desses dias adormecentes do interregno, por mais que o buzinão tente acordar-nos para o mais do mesmo e o vira o disco e faz “zapping” na procura do que não há. Daqui a uns tempos, o Estado são mesmo eles e eu me liberto de mais um fardo. Apenas espero que os senhores reformadores do Estadão não se lembrem desse magnífico sistema classificativo dos funcionários com tantos por cento de quota para os que podem receber muito bom e onde se fazem contabilidades na engenharia das promoções não dando muito bom aos muitos e bons que já não podem ser promovidos, para que se possam beneficiar os que ainda esperam uma subidazita na carreira. Apenas espero que este reino cadaveroso da Dona Maria da Cunha , da Arte de Furtar e dos gestores pracizados pelos choques tecnológicos, aplique a regra das elites quotadas aos governos e aos parlamentos, classificando com muito bom apenas dez ou vinte por cento dos ministros e deputados, mandando os outros para campos de readequação educativos. Por outras palavras, este estilo de nivelar pela média das estatísticas, impede qualquer tentativa de meritocracia, obrigando toda a gente que tem vontade de criar e de inventar a cair na rotina cinzentista de um regime que não nos permite avaliar os avaliadores, escolhidos sempre por golpada de assalto aos lugares donde se distribuem autoritariamente os valores e a literatura de justificação. Basta passar os olhos por muitos desses painéis de avaliadores que por aí andam e sabendo de ciência certa que aí funcionam os golpes de secretaria, baixando os fins da república, dado que os julgadores são eles os que se julgam os seus dependentes, segundo a velha técnica feudal da defesa despudorada dos próprios interesses. Entretanto, as velhas autonomias das universidades, das igrejas, das forças armadas e das magistraturas vão sendo sucessivamente eliminadas, através de uma santa aliança dos velhos métodos salazarentos e dos jotas à procura de carreira. Nada parece escapar a este rolo unidimensionalizador da estupidez. Ainda noutro dia espreitava o enlevo burocrático de um destes novos pretensos donos do poder, que se diz inscrito no PS, com um seu colaborador, antigo mentor intelectual da União Nacional (sic) e consabido mobilizador dos mais rascas pides que ainda resistem, pretando serviços de espionagem privada a quem tem massa para o pagamento. Sorri. Mas revoltei-me…