Jun 16

Gosto desse modo de ser português que nos dá raiva e revolta e que, palavra a palavra, nos pode conduzir para a esperança dos desesperados

Helveticamente derrotados, agora que Scolari nos abandonou por falta de patrocínios, apenas recordo que, de nada, valeu ao povo argentino ter o maradona e o título do mundial. Valia mais ensaiarmos esta amargura, eventualmente passageira, para prepararmos o “day after”, o tal que pode agravar a nossa depressão e mostrar, sem disfarce, o fim das ilusões, quando já mais ninguém estiver disposto a passar um cheque em branco aos que nos continuam a cantarolar este permanente inferno de boas intenções. Porque quando os comentaristas das noites da má língua e do eixo do mal se tornam realistas e a acção dos governantes, presidentes e deputados atinge o nível do anedótico, apenas se confirma que vivemos no país do faz de conta, marcado por uma governança em regime de pilotagem automática, programada para outros modelos e outras circunstâncias, mas onde permanece o beneficiário de sempre, esse conjunto das forças vivas que conseguem controlar os donos do poder, onde não há moralidade nem comem todos. É por isso, que eu, liberalão e monárquico, gostei da entrevista do Saramago, porque gosto mesmo do Saramago, esse velho senhor que continua acidamente lusitano nas suas mais íntimas fibras identitárias, ao mesmo tempo que se proclama comuna, para manter a coerência. Ele, pelo menos, sabe que, neste situacionismo, um qualquer pode ser decretado “persona non grata” pela presente coligação negativa de cobardes e oportunistas que vai gerindo as cunhas  e os encómios aos chefezinhos deste arquipélago de carreiristas dos micro-autoritarismos subestatais. Todos estes representantes da pilotagem automática, que nos está conduzindo ao naufrágio, pensam ter encontros imediatos com a “vox dei” da modernização, mas as pontes que projectam, mesmo que nos iludam com alta velocidade, assentam em pilares de muito tédio, sempre daqui para o nevoeiro da outra banda, enquanto vão mergulhando as cabecinhas nos preconceitos de esquerda e nos fantasmas de direita. Gosto do Saramago e desse modo de ser português que nos dá raiva e revolta e que, palavra a palavra, nos pode conduzir para a esperança dos desesperados, essa antiga, mas não antiquada, forma de servirmos a comunidade, ou república, através de certa acidez iconoclasta, que é uma das polarizações do nosso modo de ser, mesmo quando se disfarça de maria da fonte ou de anticlericalismo. Apenas não caio na esparrela de procurar uma espécie de D. Sebastião científico, daquela pretensa esquerda que pensa ter ideias só porque soletra uma ideologia de amanhãs que cantam. Por isso não gosto desse exagero de bom senso que aconselharam à pretensa líder da oposição, a tal que nos quer cavaquistanizar, encarquilhando a pátria em gráficos, curvas e listagens do deve e haver, mui orçamentalistas. Porque não quero que todos, e cada um, se reduzam a meros elementos fungíveis de fluxos e refluxos de adjectivações sem verbos em voz activa e sem substantivos que nos dêem corpo. Não é assim que nos vemos livres desta mentalidade inquisitorial, dos que, para os respectivos microfones, reclamam o monopólio do caminho e da verdade, fazendo apologética de demonização dos dissidentes e dos meros não louvaminheiros. Basta notarmos esse exagero de comentaristas que agora condenam os irlandeses, só porque estes praticaram a liberdade efectiva dos povos e disseram não aos caminhos gnósticos dos eurocratas, revoltando-se contra as abstracções que nos decretaram como salvíficas. De nada vale dispersarmo-nos em lamentações, só porque o mais recente D. Sebastião científico de uma falsa Europa sem ideia de Europa se confundiu com os falsos timoneiros que a muitos davam ilusão de sustento e aposentadorias. Deixem os povos livres para a democracia real, que eles, se calhar, estão mesmo fartos daqueles patrões e patroas que estão conduzindo as pátrias e a Europa a becos sem saída. Continuemos a dizer não aos fidalgotes e seus feitores, cujos chicotes apenas estão guardados, mas que continuam a ameaçar os nossos dorsos… A única salvação está em continuarmos com razão e paixão, na procura do eterno, aqui e agora, como transpira da imagem.

 

Jun 14

O situacionismo prestes a trocar o mundo da realidade virtual das cruzadas contra as heresias, pelas notícias reais, vindas da Irlanda

Encontro um velho companheiro de trabalho, numa das esquinas da vida. Comecei a labutar com ele, praticamente na mesma semana, na mesmíssima carreira da função pública e em idêntica universidade. Eu lá fiz o “cursus honorum”, degrau a degrau, enquanto ele decidiu gerir as amizades e viajou nos aviões da cunha  até à burocracia europeia, apenas aterrando há pouco tempo nestes restos de pátria madrasta, mas ornado de reforma antecipada e com muito mais salário para não fazer nada do que aquele que recebe um catedático lusitano no activo. Está à espera de entrar num desses cartórios de tráfico de influências e consultadoria, como o fizeram os respectivos patrocinadores que dizem mal de Medina Carreira. E eu a ter que aturar os gestores de administração escolar, os doutorados em educacionês e os controladores das verbas a que chamam investigação científica que só publicam os “papers” dos amigalhaços, censurando jovens geniais que não se submetam aos ditadores do carreirismo.

 

Jun 14

O situacionismo prestes a trocar o mundo da realidade virtual das cruzadas contra as heresias, pelas notícias reais, vindas da Irlanda

Encontro um velho companheiro de trabalho, numa das esquinas da vida. Comecei a labutar com ele, praticamente na mesma semana, na mesmíssima carreira da função pública e em idêntica universidade. Eu lá fiz o “cursus honorum”, degrau a degrau, enquanto ele decidiu gerir as amizades e viajou nos aviões da cunha até à burocracia europeia, apenas aterrando há pouco tempo nestes restos de pátria madrasta, mas ornado de reforma antecipada e com muito mais salário para não fazer nada do que aquele que recebe um catedático lusitano no activo. Está à espera de entrar num desses cartórios de tráfico de influências e consultadoria, como o fizeram os respectivos patrocinadores que dizem mal de Medina Carreira. E eu a ter que aturar os gestores de administração escolar, os doutorados em educacionês e os controladores das verbas a que chamam investigação científica que só publicam os “papers” dos amigalhaços, censurando jovens geniais que não se submetam aos ditadores do carreirismo.

Jun 13

Desgraçado daquele cuja prédica é resplandecente de glória, ao passo que é imoral nos seus actos.

Alguns dos tratantes que queriam construir uma Europa contra a Europa parece que continuam a morrer à vista da costa. Logo, como militante europeísta, proclamo que a Europa vai nascer de novo, contra os usurpadores do nome e da ideia de Europa. E tudo proclamo no dia em que nasceu Fernando Pessoa (há cento e vinte anos) e em que morreu Vasco Santana (há cinquenta anos). Convém reparar que quem nos (des)governa é o mesmo portugalório patriotorreca que atirou o Padre António Vieira para a Inquisição e que agora o tenta amarrar nos discursos oficiosos. Quem nos (des)governa é o mesmo partido dos fidalgos que perseguiu e silenciou Fernando Pessoa e que agora o tenta encerrar no museológico do sistema dos burocratas que administram e encunha  os concursos das bolsas para investigação científca. Tanto em Portugal como na Europa os povos e as suas almas são mais importantes do que os aparelhos partidários e corporativos que aprisionam a ideia, o projecto e o processo de construção europeia e de reconstrução nacional. Como ainda hoje nos nos desafiam as palavras António, o Santo de Lisboa e de Pádua, desgraçado daquele cuja prédica é resplandecente de glória, ao passo que é imoral nos seus actos. Apenas me apetece voltar a escrever o que denunciei face a Maastricht. Nos bastidores do projecto europeu já não estão as nobres figuras dos pais-fundadores, mas os eurocratas. Toda uma fauna de pretensos filhos de algo pela via da contiguidade burocrática e partidocrática. Todos eles exímios na metodologia, mas parcos no sonho, que, pouco a pouco, foram usurpando as decisões fundamentais, tanto através dos euroburocratas de Bruxelas, como dos europarlamentocratas de Estrasburgo. Uns viciados nas burocratices e outros na politiqueirice e todos com vencimentos de luxo, ambos se enredaram nos ares condicionados das respectivas torres de marfim supranacionais, perdendo-se nos corredores dos grupos de pressão e das partidocracias. Assim, o grande sonho europeu dessangrou-se. E a eurocracia burocrática e parlamentocrática, afastando a Comunidade do homem comum, deixou de entender a função de governar e de representar. A Europa é uma democracia de muitas democracias. Não é uma super-estrutura comissária, directamente irresponsável perante os povos – uma espécie de sacro-império burocrático em regime de despotismo iluminado, mesmo que com boas intenções construtivistas -, nem um super-congresso multitudinário sem respeito pelas democracias vivas e directas dos vários cantões nacionais. A democracia, para além dos democratas, precisa dos povos e que os povos só confiam em políticos. A Europa não pode nascer de cima para baixo, com émulos de Bonaparte, Metternich ou Bismarck. A Europa que temos, bem pelo contrário, foi criada pela multiplicidade unitária do dividir para unificar. Além disso, por melhores que sejam os euroburocratas e os europarlamentocratas, nenhum deles, por mais genial que seja, ou todos eles juntos, por muitos e bons que sejam, conseguem pôr os homens concretos e as realidades dos povos ao serviço daquilo que eles decretam como processo histórico. Hoje, quem ganhou foi a Europa, que assim teve a oportunidade de perceber que o europês não serve, porque a Europa só pode realizar-se através dos homens comuns. Aliás, a democracia é precisamente a decisão dos povos, através da voz autêntica dos homens concretos que os integram, nos momentos excepcionais. Só nos intervalos é que os governantes e os representantes podem falar em nome deles, mas dentro do mandato global que lhes foi atribuído. Ai dos políticos que julgam que em vez de um pacto de associação com os governos e os parlamentos, os povos constituíram pactos de sujeição, susceptíveis de levarem à edificação de Leviathans, sempre desejosos de homens novos e de povos novos. Quem manda, devem ser os são os que cá estão. Como cidadão de uma polis que, por acaso é a mais permanecente de todas as unidades políticas da Europa a que chegámos, aceito participar nas oscilações da balança da Europa porque o modelo de organização política dos textos fundamentais da União Europeia me garante a conservação daquelas liberdades nacionais que nos deram direito a república através da concretização do reino, no século XII. A Europa em que eu acredito, a Europa que leio nas entrelinhas dos pais- fundadores, é uma Europa que foi feita contra os erros políticos que levaram ao permanente confronto de impérios europeus. Daqueles impérios europeus que sempre foram uma degenerescência das poleis, daqueles impérios que, com o absolutismo, em nome da soberania una, inalienável, imprescritível e indivisível e do leviatânico Estado Moderno expropriaram os tais reinos, os únicos legítimos herdeiros da civitas da República Romana e da polis ateniense. A minha república, herdeira do regresso à política que ocorreu nos séculos XII e XIII, inspirada em Aristóteles e Cícero, se revoltou contra a dominância do Papado e do Imperium e proclamou que rex est Imperator in regno suo. O reino de São Tomás e do nosso Infante D. Pedro, o reino dos comuns, feito de um príncipe com toda a comunidade da sua terra. O tal reino que o mesmo Duque de Coimbra visionava indutivamente, como um concelho em ponto grande. Este reino tinha um Príncipe, tinha um poder supremo, uma vontade de independência. Mas o poder supremo era da mesma natureza dos poderes que lhe estavam abaixo, onde o vértice era apenas uma parte da pirâmide do poder da polis, uma parte que, sendo parcela do todo, era, não obstante, representante do próprio todo. Acontece que este reino foi, a partir do absolutismo teocrático, expropriado pelo renascimento do império, num processo que passou da república teocrática dos luteranos, calvinistas ou cromwellianos, os primeiros ensaios do terrorismo totalitário do estadualismo, ao L’État c’est moi dos despotismos esclarecidos, continuando a mesma natureza despótica, quando se substituiu o rei absoluto pelo povo absoluto, da Revolução francesa à Revolução soviética. Os Estados a que chegámos na Europa das potências e dos Estados em movimento, ainda continuam inconscientemente feudalizados por projectos imperiais frustrados. Da Espanha de Carlos V, à França de Napoleão. Da Alemanha de Hitler à Inglaterra de outras procuras de Império no além mar. Da Rússia sonhando-se polícia da Europa a outros impérios espirituais ou económicos. Estes modelos talvez contrariem aquilo que a Europa do pós-guerra tentou ser. Essa outra coisa que ousou procurar a esquecida unidade da respublica christiana na diversidade dos reinos, dos povos e das nações. Essa tentativa de escrituração de um novo capítulo para além da dinâmica da vontade de poder dos Estados Directores em confronto, instrumentalizando uma multidão de Estados secundários. Esse sonho que tentou refazer os Estados à maneira do chamado regresso da política, do dividir para unificar. Promovendo uma descolonização interna da Europa, para reconstruir a casa comum, em torno do que era efectivamente comum. Como português, fiel às Cortes de Coimbra de 1385, às promessas traídas das Cortes de Tomar e à solução de autodeterminação pela vontade nacional concretizada no dia 1 de Dezembro de 1640, acredito na Europa como a república universal a que temos direito. Acredito na Europa da respublica christiana – como o defendeu o humanismo cristão – acredito na Europa dos ius gentium – como o defenderam os estóicos e o humanismo laico dos projectistas da paz. Acredito na Europa que os democratas-cristãos, os sociais-democratas, os conservadores reformistas e os liberais éticos começaram a reconstruir face às últimas tragédias do Leviathan e do Behemot, como as conhecemos na Segunda Guerra Mundial. Não tenho, portanto, medo da Europa. Não tenho o receio atávico de certo conservadorismo britânico, com medo da Invencível Armada. Não tenho complexos do cordão sanitário luterano, como certos nórdicos da Europa enriquecida continuam a alimentar, para não falar nalguns descendentes dos huguenotes franceses que por aí circulam com outros nomes. O reino e a república são deste mundo, onde o homem deve voltar a ser a medida de todas as coisas e onde nada do que é humano pode ser alheio ao político. O Império é que é do outro. É daquilo que só Deus tem. Por isso, importa proclamar que devemos expurgar do Estado a que chegámos tudo o que não é do homem, todas aquelas religiões seculares dos Impérios e Leviathans que, em nome de essências e nominalismos, tanto desumanizam o Estado como ofendem o divino, quando transformam as ideologias em sucedâneos do transcendente. Temos de ter os pés assentes na terra e o coração no mais além. Não podemos ficar a meio caminho, servindo coisas etéreas que são o produto dos nossos fantasmas. Assim foram os impérios que ofenderam aquele verdadeiro Império que só Deus tem. Assim continuam a ser certas concepções de Estado moderno, filhas do despotismo esclarecido e das teocráticas razões de Estado. Pretendo apenas sublinhar que andam para aí, muitas concepções de uma certa Europa desumana que, em nome de um sacro-império tecnoburocrático, muito iluminista e desejoso de despotismo, pretende continuar na senda dos senhores da guerra, a destruir as repúblicas, as civitates e os reinos, imitando as formas do Estado moderno primitivo. Contra essa degenerescência estatolátrica, mesmo que revestida com as peles do cordeiro federativo, têm que estar contra os autênticos europeístas. Mas não confundamos a nuvem com Juno, não caiamos no engodo do Leviathan; não balbuciemos, sob o nome de nacionalismo, as teses dos irmãos inimigos imperialistas, desses que pretendem restaurar sistemas Metternich, embrulhando o cacete do czar entre o pietismo de falsas Santas Alianças e de falsas teologias de mercado. Quem me dera poder vir a dizer ser a vez uma República Portuguesa, num qualquer dos anos que me restam. Tem de ser uma vez a vez de um das nações-Estados mais permanecentes da Europa. Quando tivermos a liberdade de poder por dizer sim à autêntica liberdade europeia, mesmo dizendo não a anteprojectos de gabinetes eurocráticos. Quando deixarmos de nos sentir uma periferia a caminho da integração e voltarmos a assumir-nos como o próprio centro, tão europeus como qualquer outra parte da Europa. Quem me dera poder dizer ser a vez duma Europa mais livre que, abandonando a tentação dos Estados Directores, proclame que a unidade não exclui a diversidade e, muito menos, o orgulho das seculares franquias nacionais. Uma nova espécie de organização política de um grande espaço inter-estadual e inter-nacional. Uma realidade nova capaz de quebrar as estafadas classificações das federações e das confederações, ultrapassando o ius intercivitates procedente do modelo da Paz de Vestefália, esse cuius regio eius religio destruidor da unidade da respublica christiana, e do regime da hierarquia das potências consagrado na Conferência de Viena. Porque, na democracia, o que a todos diz respeito, por todos deve ser decidido. Porque na democracia não há reis-sóis, individuais ou gabinetais que possam dizer L’État c’est moi. Na democracia, L’État c’est tout le monde, L’État c’est nous. A Europa somos nós. Os dinamarqueses, os portugueses, os irlandeses, os gregos e os muitos outros povos das Franças, das Alemanhas, das Espanhas, das Britânias, das Itálias e dos Benelux. A Europa não são apenas eles, os eurocratas, os parlamentocratas, e todos os cratas que temem as vozes irreverentes dos que não são moldáveis pelos unidimensionais partidos, sindicatos e patronatos, cada vez mais neocorporativamente enquistados no statu quo, esses estados que condicionam os Estados. Quem me der poder dizer que chegou a hora de uma Europa mais livre e mais unida, enraizada no direito à pátria e já descolonizada de algumas tentações imperiais, capaz de dizer a todas as nações sem Estado deste nosso tempo que a exigência dos grandes espaços não tem que ofender os princípios da autodeterminação nacional.

Jun 11

Portugal é… a procura do exílio…

Reparemos como, no “day after”, apenas somos a lista dos condecorados do dia de ontem, bem simbolizados pelo título de uma entrevista dada por um deles: “os empreendedores são os novos heróis”. Porque Portugal são eles, os homens ditos de sucesso, escolhidos pelos escolhidos para escolherem, onde os escolhedores, ou a elite, não são o escolhidos nem os eleitos, mas os que empreendem a adeuada intermediação que se esconde atrás do escol e dos eleitos. Portugal é ….um congresso de combatentes batendo palmas a um banqueiro feito “combatente” pela cidadania. Portugal é…medalhar e ser medalhado, transformar um catedrático de direito em comentador de jogos de futebol e esperar que surja um nova edição dos Anais da Restauração Nacional, onde se demonstre que os melhores ex-militares no activo estão com Cavaco ou que os mais premiados escritores estão com Cavaco. Portugal é… lermos editoriais de antigos militantes da extrema-esquerda aconselhando os actuais poderes à liquidação da extrema-direita, nesta sucessiva vomitadela de arrotos de uma longa ressaca, onde as fanfarronices racistas são usadas como pretexto para a esquizofrenia gongórica, confundindo-se simples casos de polícia com efectivas questões políticas. Portugal é … lermos que cerca de oitenta por cento dos anúncios dos grandes semanários de referência são propaganda de universidades públicas e privadas que dizem estar com Bolonha.

Jun 11

Quanto mais a crise demonstra que ao povo a alma falta, mais minha alma atlântica se exalta

Aqui, debaixo de uma árvore, à beira da Universidade, a passarada vai animada, talvez para compensar esta depressiva primavera que, afinal, não houve. Especialmente neste dia, antes do jogo dos scolusos com os checos e antes do referendo irlandês sobre o “porreiro, pá”. Especialmente, depois dos discursos do dia da pátria, da condecoração atribuída a Marques Mendes e das vaias que as correia sindicalistas do PCP lançaram contra Sócrates. Apetece apenas dizer que os analistas da antiga luta de classes e da envelhecida questão social parecem não compreender o essencial deste ensaio de maria da fonte dos camionistas.

Os que nos fizerem as regras contra o “lock out” e as greves selvagens não inventariaram a patuleia de uma baixa classe média de PMEs, onde o patrão é ele próprio trabalhador e pode ter, como empregados, os filhos e as noras. Como não assumiram que poderíamos viver num regime onde a maioria dos factores do poder já não é nacional, especialmente perante crises importadas onde a governança lusitana é obrigada a patentear a respectiva impotência. Até merece ser elogiada porque proclama boas intenções e até aumentou o abono de família, que é coisa do mesmo tempo do dia da raça.

A nossa governança também não consegue deixar de mandar os homens dos impostos e da ASAE contra o biodiesal produzido pela Junta de Freguesia da Ericeira, dado que não admite que o regulamentarismo, apesar de lícito, pode ser injusto, mesmo que venham depois dizer que estavam a contribuir para a eliminação da crise petrolífera e até fazem dias da sopa em pleno parlamento. Não conseguem é compreender o homem revoltado, a intifada camionista e a utilização de comboios policialmente vigiados para a manutenção do capitalismo dos supermercados, do TGV, do aeroporto de Alcochete e de outros mimos, tipo EDP renováveis.

Os camionistas apenas confirmaram que há causas que não são controladas pela Intersindical ou pela TVI. Há formas de oposição social que não têm válvulas de transmissão sistémica, agora que Paulo Portas não vai às feiras discutir as mamites e que Manuel Monteiro já não tem a assessoria de Manuel Moura Guedes para caldeiradas em traineiras. Greves, vaias e manifestações sistémicas apenas são as que recebem o carimbo do Doutor Carvalho da Silva e o aplauso do Doutor Louçã. Por outras palavras, as velhas respostas para a antiquada questão social são cada vez mais reaccionários nos seus amanhãs que já não cantam. Valha-nos o Senhor D. Manuel Martins que o presidente Cavaco e o primeiríssimo Sócrates não têm a ousadia de descer de helicóptero perante um piquete de paralisadores do trânsito, dialogando directamente com a patuleia do volante.

Penso na crise do lixo de Nápoles e numa das razões que levou Berlusconi ao poder, dando imagem de poder combater os mafiosos, mas quando vejo os anúncios da GALP instrumentalizando a selecção de Madail, apenas confirmo que o nosso Estadão tem largos pés de crude que não conseguem ser estabilizados pelo Sebastião Dom Mário Lino, pelo regresso keynesiano a um revisionismo de obras públicas, conforme a cartilha de Duarte Pacheco. Porque quanto mais a crise demonstra que ao povo a alma falta, mais minha alma atlântica se exalta. Sócrates discursará se vencermos os checos e se o Tratado do Mar da Palha receber a unção irlandesa…

Jun 10

Hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

O vianense “lapsus calami” de ontem, deixado cair por Aníbal Cavaco Silva, implica que se fixem alguns conceitos fundamentais sobre a matéria e que nunca fizeram parte do “currículo” das escolas de economia. Não direi, imediatamente, que Cavaco virou salazarista, porque não foi o Estado Novo que inventou o dia da raça ou o dia de Camões, nem o conceito que, aliás, começou de forma não racista, quando, em 1913, Faustino Rodríguez-San Pedro, então Presidente da Unión Ibero-Americana escolheu o dia de Colombo, de 12 de Outubro, para uma celebração que unisse a Espanha e a Iberoamérica. Um dos principais defensores da matéria, o mexicano José Vasconcelos, defensor do conceito mestiço e sincrético de raça iberoamericana, dizia mesmo: Por mi raza hablará el espíritu. E que o nosso império colonial traduziu em calão, espetando monumentos de pedra em Bissau, Luanda ou Maputo, em nome da miscigenação…

Este Día de la Raza surgiu na Argentina en 1917, numa atitude anti-americana. Seguiu-se a Venezuela, em 1921 por decreto presidencial (Hugo Chávez, em 2002, de forma racista, passou a chamar-lhe Día de la resistencia indígena) e o Chile, em 1923 (desde 2000 é o Día del Descubrimiento de Dos Mundos). Em Espanha, tudo começou em 1918, como um governo liberal e só em 1958 é que Franco passou a chamar oficialmente à coisa Fiesta de la Hispanidad, apesar de já desde 1940 a preferir.

Também o dia de Portugal tem muito mais a ver com Teófilo Braga e o partido republicano, do que com Salazar e o “fascismo”, mergulhando no movimento da sociedade civil que, dinamizado por Ramalho Ortigão, originou as comemorações do centenário de Camões de 1880, reavivadas pelo “Ultimatum” e desenvolvidas pelo nacionalismo místico da I República. Por isso, para sublinhar o paradoxo, aqui deixo foto de Eduardo Gageiro, com um timorense enrolado numa bandeira portuguesa, enterrada no dia da chegada das tropas invasoras indonésias ao suco de Liquiçá e lá escondida até à libertação de Timor.

Com efeito, raça vem do indo-europeu wrad, isto é, raiz, através do italiano razza. No plano biológico. uma raça é um conjunto homogéneo de seres humanos caracterizados por uma série de traços hereditários, com destaque para a cor da pele, mas também atendendo a outros elementos como os cabelos, a forma da cabeça, os traços faciais, etc.

Para alguns, é um conjunto de indivíduos dotados de características físicas comuns transmitidas hereditariamente, nada tendo a ver com a língua, a nacionalidade e a cultura. Conforme Henri Vallois (1944), as raças são agrupamentos naturais de homens que apresentam um conjunto de caracteres físicos hereditários comuns, quaisquer que sejam as suas línguas, costumes ou naconalidades.

A classificação dominante, de origem francesa, refere a tripartição entre brancos, amarelos e negros, mas, em 1934, com Von Eicksted, começam a distinguir-se os europeus, os negros, os mongóis, os australóides e os ameríndios. William C. Boyd (1950) distingue o grupo europeu primitivo (p. ex. Bascos), o grupo europeu (caucasóide), o grupo africano (negróide) o grupo ameríndio (mongolóide) e o grupo australóide.

Em 18 de Julho de 1950 a UNESCO emitiu uma declaração sobre a natureza das raças e das diferenças raciais, declarando finalmente a falta de fundamento científico dos cientificismos em que se basearam as ideologias racistas.

Porque tudo começou positivista com a tríade race, milieu, moment, de Taine, fundadora do naturalismo do último quartel do século XIX. Quando se aceita que há um conjunto de caracteres biológicos transmitidos hereditariamente, pelo que as tradições, as crenças, os hábitos mentais e as instituições modelam os indivíduos. Esta, a perspectiva desse novo positivismo que vai marcar todas as correntes sociologistas, tanto de esquerda como de direita.

E foi daqui que derivou o racismo, a concepção segundo a qual existem raças superiores e raças inferiores e que estas devem submeter-se àquelas, pelos que as superiores devem evitar mistura-se com as outras, para que se mantenham puras, implicando também uma melhoria das mesmas.

O racismo teórico contemporâneo começa com Arthur de Gobineau (1816‑1882), antigo chefe de gabinete de Tocqueville, quando este foi ministro dos negócios estrangeiros francês, que em Essai sur l’Inegalité des Races Humaines, publicado entre 1853 e 1855, defende que a raça branca e, dentro desta, a raça ariana devem ser as raças superiores e dominadoras.

Uma opinião partilhada por outros autores da época como Victor Courtet (1813‑1867) em La Science Politique Fondée sur la Science de l’Homme, ou l’Étude des races Humaines sous le Rapport Philosophique, Historique et Social, e Vacher de Lapouge.

Este último, professor em Montpellier, em L’Aryen et son Rôle Social, de 1899, chega mesmo a propôr a criação de uma nova ciência, a antropossociologia, baseada na luta darwiniana pela sobrevivência da espécie. Para ele, as raças dolicocéfalas dos louros devem ser senhoras e dominadoras das raças braquicéfalas, defendendo, para o efeito, a prática da selecção biológica.

Este ambiente vai ser também assumido por Houston Stewart Chamberlain (1855‑1929), um inglês naturalizado alemão, genro de Richard Wagner, que em As Raízes do Século XX, de 1899, vem considerar que os teutões (os celtas, os eslavos e os germanos) é que caldearam as raízes gregas, romana e judaica da civilização ocidental, chegando a defender a intervenção do Estado no processo de desenvolvimento biológico da raça dos senhores.

Este cientismo positivista, misturado com o romantismo político, desagua nas teses assumidas por Adolf Hitler em Mein Kampf constituindo o eixo fundamental do nacional-socialismo que sobe ao poder na Alemanha em 1933. Um caso especial de racismo é o processo do anti-semitismo. Racistas são também as teses do colonialismo e do apartheid. Não menos racistas são alguns dos movimentos políticos anticolonialistas desde a negritude às teses de Frantz Fanon. Por outras palavras, apesar do brilhante “curriculum” académico do meu colega Professor Doutor Francisco Louçã, o Bloco de Esquerda faz demagogia quase doentia, nestas malhas que os economistas tecem, com pouca história e quase nenhum humanismo…

Jun 06

Só pode, portanto, avaliar-se um regime como se avalia um homem, isto é, em pensamento.

Lá dizia o primitivo mestre da política: há que fazer coincidir cada regime com o tipo de homem. Porque o homem tirânico é feito à semelhança da polis tirânica, o democrático, da democracia e os restantes, do mesmo modo. Só pode, portanto, avaliar-se um regime como se avalia um homem, isto é, em pensamento. E só deve avaliá-lo quem, em pensamento, for capaz de penetrar no carácter de um homem e ver claro nele. Porque há três espécies de homens: o filósofo, o ambicioso, o interesseiro, movidos, respectivamente, pelo saber, pelo prazer das honrarias e pelo lucro. E dessa fricção é que surgiria a dinâmica dos regimes. Logo, olhando em pensamento para dentro do nosso, aqui e agora, basta analisar alguns figurões que emergiram, a nível micro, desta maioria absoluta, especialmente os que, procurando imitar o macro, do “big brother”, animam o absolutismo dos cogumelos micro-autoritários. Gosto particularmente dos que, provindos da extrema-esquerda, foram transformados em democratas por um rápido preenchimento da ficha do PS, em troca de um emprego, como gestores empresariais ou directores-gerais. Aliás, os ditos cujos, a nível do seu micro, são tão democratas e pluralistas que logo elevam, a principais aliados, estalinistas não reciclados e até velhas peças do mobiliário fascista, folclórico e cobarde, onde não faltam conciliábulos com ilustres directores de gabinetes da União Nacional e muitas manobras de neopidismo, nomeadamente pelo recurso à técnica da velha ficha da legião, para o assassinato de carácter do que resiste em não submissão às muitas ofertas de compra de poder, que á forma de corrupção vista de cima para baixo, nomeadamente para o alinhamento de votos do absolutismo, conforme foi praticada pelas repúblicas ceausescas dos “conducatores”. Tinha razão o velho Platão. O tipo de homem tirânico continua tirânico, mesmo quando se veste com a farpela da democracia, porque o hábito não faz o monge, mesmo que o mesmo invoque, de vez em quando, a coincidência seminarista que unia Estaline, o georgiano, a António de Oliveira, o beirão. Não é por alguém ser formal professor de determinado aluno que este é pelo primeiro ungido e o deve engraxar para sempre, mesmo quando é elevado a chefe… Logo, tenho de concluir que a democracia continua a ser maltratada, não tanto por este governo, mas pelos muitos falsos seguidores deste governo, os tais que levam duzentas mil pessoas para a rua, em desespero de protesto. Por mim, estou farto e resta-me exercitar a não resignação através do desprezo, que é uma nova forma de exílio interno. Porque não apetece aconselhar ninguém a que se dobre à persiganga, nomeadamente contra os pequenos, mas dignos, funcionários que ainda têm a coragem da dignidade, e não subscrevem a declaração de ostracismo que foi lançada pelo grande chefe da cromice contra os dissidentes. Pinto da Costa só há um e dele muitos estão cansados.

Jun 04

Entre Ronaldos, Mourinhos, greve do pescado e a calma do lago Neuchâtel

Em comunicado, o Tribunal de Contas revela que “foi detectada despesa pública irregular nas auditorias realizadas acima de 800 milhões de euros, nos vários níveis da Administração – Central, Regional e Local”. A habitual hermenêutica dos comentadores oficiosos deve ter achado a matéria abstracta demais. Prefere lucubrar sobre o comício da nova esquerda, logo à noitinha. Ou silenciar a reportagem da TVI sobre o SIRESP, a que não compareceram António Costa nem Santana Lopes. O primeiro acaba de ser convocado para as alturas do Clube de Bilderberg, ao lado de Rui, onde sucedem tanto a Sócrates como a Santana e onde nunca foi Manuela Ferreira Leite.

O país está mais preocupado com a greve do pescado e as margens do Neuchâtel, entusiasma-se com Mourinho no Inter e entrou em maluqueira decisional, a caminho das legislativas do próximo ano. Peguntam-me sobre o que muda com Ferreira Leite?

E lá respondo que muda, acima de tudo, a gestão da percepção (“perception’s management”) do PSD, face a um PS socrático, marcado pelo delírio do controlo do “agenda setting”, num combate de teatrocracia deste Estado Espectáculo, onde já passou de moda o “soundbyte”, dado que este ficou limitado pelos cinco por cento eleitorais de PP e pelos eventuais dez por cento de PSL, apenas mobilizáveis pelos próximos estados gerais da direita que Manuel Monteiro venha a organizar.

Perguntam-me sobre o que muda no PSD? Lá insisto: Manuela apenas se inscreveu no PSD em 1985 e as directas confirmaram que o partido é mais cavaquista do que sá-carneirista e conseguiu vencer a tentação neopopulista. Se ela conseguir dar a essa nebulosa social-democrata o ar de questão social à maneira da Igreja Católica e de reforma de Estado melhor do que o desastre do PRACE de Sócrates, passa a ter com ela dois importantes “clusters” do centrão sociológico e desviar para o PSD grande parte de um milhão de votantes que costumam flutuar entre o PS e o PSD, aproximando-se subliminarmente da maioria sociológica.

Insistem. E nas relações com o PS? Respondo: enquanto Sócrates tem que gerir a indigestão da dissidência Alegreira, Manuela tem a oposição conveniente de Santana e consegue colocar a seu favor a memória esquerdista do PSD, através de Pacheco Pereira. Acresce que no PS já não há os militantes católicos da senda dos “jucistas” tipo Guterres, dado que o ministro Silva Pereira não parece suficiente. A Sócrates já não basta dizer ao Cardeal que vai desistir da causa fracturante do casamento de homossexuais, com que há meses pretendia copiar Zapatero.

Sobre as relações com Cavaco Silva, considero que Cavaco é o ausente presente que vai exercer uma função de importante apoio indirecto a Manuela, na mesma altura em que “che” Mário Soares escreve artigos críticos que embaraçam Sócrates. Acresce que a crise do petróleo e dos preços alimentares podem produzir uma vaga de dramatismo favorável a uma imagem de mudança que possa levar a esperança a encostar-se a uma cara como a de Manuela, habituada a gerir os silêncios e a não ir a todas, caindo nas rasteiras verbais em que tem caído Sócrates, ao responder às provocações de Louçã, Jerónimo, Santana e Portas.

Já quanto ao sistema político, apenas acrescento, de forma irónica: Uma é lisboeta, bisneta de um chefe do governo da monarquia, ilustre maçon. O outro vem de uma pequena cidade da província. Uma apenas se inscreveu num partido onze anos depois de o mesmo partido existir (1985). O outro é militante jota, mais histórico no PSD do que ela. Por outras palavras, uma começou como tecnocrata e só chegou a militante partidária por conclusão, por serviço prestado ao seu mentor (Cavaco). O outro passou de jota a político profissional, com traquejo semelhante ao de Santana Lopes.

Uma saiu de ministra da educação para alta directora de uma instituição universitária privada (o ISLA) e de ministra das finanças para administradora da banca privada e ninguém lhe fez artigos como os que fizeram sobre Jorge Coelho, porque tem, à maneira de Cavaco e de Salazar, um aspecto enigmático de prestígio. Ao outro todos lhe denunciam a enorme fileira de partidocratas, não reparando que a primeira, como líder distrital, teve como principal colaborador um António Preto.

Um é socialista democrático da ala direita do PS que gostaria de ser semelhante a Blair, quando estamos no tempo de Gordon Brown poder ser derrotado pelos conservadores, com uma Europa marcada por Sarkosy e Berlusconi. A outra, encostou-se a intervenções semanais na Rádio Renascença que não ficaram registadas em papel de jornal e não podem ser objecto de pesquisa no Google, pelo que tem sempre na memória os dossiers do Estado que lhe vieram de ser Directora-Geral da Contabilidade e dirigente do Instituto de Participações do Estado, por onde também andou Guterres.

Um celebrizou-se na polémica da incineração, sendo memorável o debate televisivo em que esmagou o guru do BE, Boaventura Sousa Santos, por causa de Souselas, treinado que estava pelos debates dominicais na RTP com Santana Lopes. A outra, tem por Santana, a afinidade sportinguista e laranjeira e a doçura interventiva da emissora católica. Mas ambos lêem a cartilha neokeynesiana. Um é o subcavaquismo, assente no novo aeroporto e no TGV. A outra é o cavaquismo em plenitude, sem qualquer aspecto de sucedâneo. E entre a esquerda menos de Sócrates e a esquerda ainda menos de Cavaco, o centrão sociológico é capaz de preferir o regresso a esse mito do Bloco Central, se houver uma carga mais dramática, por causa dos preços da alimentação e dos combustíveis para o carro.

Um tem como inimigos principais um António Barreto e um Manuel Alegre. A outra tem a vantagem de ter como inimigo conveniente Santana Lopes. Um já esteve em estado de graça com Cavaco Silva. A outra estará sempre em estado de graça de quem é autêntico apóstolo.

Jun 04

Ao princípio, não era o Estado, mas o Homem…será o Estado a ter de se humanizar e não o Homem que se tem de estadualizar

Ontem, ao fim da tarde, estive na Assembleia da República, participando na cerimónia de homenagem que o parlamento, através dos grupos parlamentares do CDS e do PSD, quis prestar a Francisco Lucas Pires. Resguardei-me na última fila, que éramos mais dois os antigos membros da comissão política do Francisco, na sua primeira aventura eleitoral. Guardo-me para, daqui a uns dias, reflectir sobre o percurso de quem me meteu, como professor, o bichinho das aventuras na teoria política e até de quem me levou a filiar, pela primeira vez, num partido, do qual logo saí quando voltou o primeiro fundador. Daqui a uns minutos vou até à Academia Militar tentar comunicar uns tópicos sobre cidadania electrónica, onde falarei mais de cidadania que de electrónica, porque essa tarefa vai caber ao meu companheiro de painel, o Carlos Zorrinho, com quem, da última vez que estive, foi numa sessão idêntica, mas no PS do Barreiro, a convite do Eduardo Cabrita.

 

 

No intervalo, lá ouvi que o FCP foi suspenso das provas da UEFA, mas sem ainda me poder deliciar com os comentários de Pinto da Costa contra o Benfica e a Maria José Morgado. Ainda estou combalido com alguns dos discursos de ontem, onde brilhou Marcelo Rebelo de Sousa e cumpriu excelentemente o papel o José Luís Nogueira de Brito, dado que alguns dos outros falaram deles e das respectivas posições de hoje, com muita literatura de justificação e imensos conceitos retroactivos, sem qualquer réstea de pirismo. Um deles até disse, do alto do seu institucionalismo, que o Francisco criou o Grupo de Ofir depois da campanha eleitoral em que foi derrotado por Cavaco Silva…

 

 

Olhando para os participantes, reparei que eu era um dos raros alunos dele e que não o posso apenas olhar como líder ou companheiro de combates políticos, dado que nunca consegui tratá-lo por tu, apesar da proximidade e da cumplicidade. Apenas recordo a homenagem que lhe prestei na publicação de um livrinho meio jurídico de 1998: “Em memória do meu Professor, Doutor Francisco Lucas Pires. Porque ao princípio, não era o Estado, mas o Homem, donde será o Estado a ter de se humanizar e não o Homem que se tem de estadualizar”