Jan 30

Por mim, que só sei que nada sei, também sei de quem sabe bem mais do que eu, dos incendiários aos corta-fogos, sem choque tecnológico

O ritmo dos acontecimentos, marcados pela febre prequiana do manicómio em autogestão, vai livrando-nos, em bebedeira, do frio da invernia. Não há factos, há apenas interpretação de factos. Por mim, que só sei que nada sei, também sei de quem sabe bem mais do que eu, mesmo que seja quem o quer tramar. Sei, por exemplo, que abundam incendiários e especialistas em corta-fogos, e que há pretensos bem intencionados que continuam a praticar o maquiavélico, julgando que os fins justificam os meios, mas esquecendo que o maquiavelismo é, além de uma péssima política, uma péssima moral. Ilude-nos no curto prazo, mas, a médio prazo, transforma-se num logro, mesmo no plano politiqueiro.

O presidente da república discursa em Fátima e toma como pretexto um relato jornalístico de umas bocas emitidas por um antigo assistente meu, ilustre professor de direito, que não pode ser considerado como responsável pelo mau estado da nossa produção legislativa. Outros, quase todos, enredados pela tríade sondagem, sondagem, sacanagem, julgam-se Dreyfus, como se houvesse tempo para que surgissem a “Action Française” e o sionismo de Herzl, confundindo Zola com Câncio. E tudo acontece quando o Papa Bento XVI, pressionado pelos seus fundamentalistas, vem solenemente reconhecer o Holocausto, enquanto o líder dos turcos islâmicos moderados vai a Davos encenar uma ruptura espectacular com o presidente do Estado de Israel, da mesma forma como denuncia o anti-semitismo. E lá temos dois antigos moderados a passarem do corta-fogo ao incendiário. Não há factos, há apenas interpretação de factos.

O descendente institucional dos otomanos e de Ataturk tem alguma legitimidade. Já teve como antecessores na liderança governamental ilustres judeus turcos, e representa uma terra que acolheu os Judeus que Portugal e Espanha expulsaram. E a intervenção papal merece, sem sombra de dúvida, o aplauso de todos os homens de boa vontade. Enquanto isto, na Grã-Bretanha, emerge o chauvinismo e a xenofobia dos sindicalistas, contra o emprego dado pelas refinarias a europeus do sol e do sul, minusculizados, nomeadamente a portugueses. Esperemos que o sionismo, o fundamentalismo e o nacional-socialismo não alastrem por outras paragens. Mesmo que sejam magistrados e polícias portugueses, duvidando de polícias e magistrados europeus. Esperemos que outro chefe de governo português não tenha que repetir Costa Cabral e entrar numa fila por onde já circularam Pinochet e Valle e Azevedo. Seria trágico.

Por outras palavras, também á chamada administração da justiça, chegou a badalada integração europeia e a globalista gestão de dependências e interdependências. Mesmo sem comentarmos as notícias de hoje e as parangonas dos telejornais de ontem, porque outras peças surgirão de forma mais esclarecedora, pouco me interessam as contabilidades das sondagens, as mecânicas dos cenários políticos ou os propagandismos dos defensores do situacionismo, incluindo os mesmos administrativistas que subscreveram pareceres ilibadores da actuação do Casino de Lisboa, em situação paralela. Até dou desconto a ilustres advogados que, certamente, continuam defensores dos seus clientes. Mas, nem por isso, devo passar para o lado dos acusadores, ou tomar partido neste maniqueísmo, onde quase nos querem dividir entre a direita e a esquerda, o oposicionismo e o situacionismo. Não se embebedem e desliguem a lareira se estiverem em ambiente fechado pela endogamia e o carreirismo. Não há factos, há apenas interpretação de factos. E quod non est in actis, non est in mundo. O que as polícias e os magistrados não puserem nos processos, não entra no processo, mesmo que venha nos jornais. Mesmo que Copérnico tenha provado o erro do heliocêntrico, até Galileu foi obrigado a reconhecer, perante os inquisidores, que tinha errado, confessando que o Sol é que andava à volta da Terra, mas acrescentando que nosso planeta, apesar da declaração processual se movia. Não há factos, mas apenas interpretação dos factos. Mas, hoje, o Papa já não tem inquisições para mandar na ciência que alguns, enganados, diziam que o poderia incomodar. Porque o mundo continua a mover-se e não são os sujeitos que andam à volta do objecto, mas antes os objectos que andam à volta do sujeito, para que o mundo processual se aproxime do direito, o direito volte a ser regido pela sujeita e essas criações artificiais deixem o mundo do teatro das relações jurídicas e comecem a aproximar-se da vida. Onde há factos e não apenas interpretações de factos.

Apenas lamento que a febre do facciosismo tenha chegado à blogosfera, onde anteriores serenos analistas estão a atingir as raias da loucura propagandística, muito além daquilo que deve ser a justa luta pela transparência, que o chamado quarto poder tem desencadeado. Porque até o senhor presidente da república já lê jornais e faz discursos baseados em pequenas bocas tiradas do contexto e reproduzidas mediaticamente, ofendendo ilustres cientistas do direito e representantes daquilo que foi a melhor escola de direito da família de Portugal, a fundada pelo meu querido mestre Pereira Coelho. Prefere tratar apenas de assuntos de Estado como os torneios de golfe, dado que o pingue pongue o irrita.

PS: Na imagem, exemplo de um eficaz corta-fogo que o plano tecnológico poderia introduzir, com acesso ao “Magalhães” e ao ritmo deste tempo de imagem, sondagem e sacanagem.

Jan 30

Por mim, que só sei que nada sei, também sei de quem sabe bem mais do que eu, dos incendiários aos corta-fogos, sem choque tecnológico

O ritmo dos acontecimentos, marcados pela febre prequiana do manicómio em autogestão, vai livrando-nos, em bebedeira, do frio da invernia. Não há factos, há apenas interpretação de factos. Por mim, que só sei que nada sei, também sei de quem sabe bem mais do que eu, mesmo que seja quem o quer tramar. Sei, por exemplo, que abundam incendiários e especialistas em corta-fogos, e que há pretensos bem intencionados que continuam a praticar o maquiavélico, julgando que os fins justificam os meios, mas esquecendo que o maquiavelismo é, além de uma péssima política, uma péssima moral. Ilude-nos no curto prazo, mas, a médio prazo, transforma-se num logro, mesmo no plano politiqueiro. O presidente da república discursa em Fátima e toma como pretexto um relato jornalístico de umas bocas emitidas por um antigo assistente meu, ilustre professor de direito, que não pode ser considerado como responsável pelo mau estado da nossa produção legislativa. Outros, quase todos, enredados pela tríade sondagem, sondagem, sacanagem, julgam-se Dreyfus, como se houvesse tempo para que surgissem a “Action Française” e o sionismo de Herzl, confundindo Zola com Câncio. E tudo acontece quando o Papa Bento XVI, pressionado pelos seus fundamentalistas, vem solenemente reconhecer o Holocausto, enquanto o líder dos turcos islâmicos moderados vai a Davos encenar uma ruptura espectacular com o presidente do Estado de Israel, da mesma forma como denuncia o anti-semitismo. E lá temos dois antigos moderados a passarem do corta-fogo ao incendiário. Não há factos, há apenas interpretação de factos. O descendente institucional dos otomanos e de Ataturk tem alguma legitimidade. Já teve como antecessores na liderança governamental ilustres judeus turcos, e representa uma terra que acolheu os Judeus que Portugal e Espanha expulsaram. E a intervenção Papal merece, sem sombra de dúvida, o aplauso de todos os homens de boa vontade. Enquanto isto, na Grã-Bretanha, emerge o chauvinismo e a xenofobia dos sindicalistas, contra o emprego dado pelas refinarias a europeus do sol e do sul, minusculizados, nomeadamente a portugueses. Esperemos que o sionismo, o fundamentalismo e o nacional-socialismo não alastrem por outras paragens. Mesmo que sejam magistrados e polícias portugueses, duvidando de polícias e magistrados europeus. Esperemos que outro chefe de governo português não tenha que repetir Costa Cabral e entrar numa fila por onde já circularam Pinochet e Valle e Azevedo. Seria trágico. Por outras palavras, também á chamada administração da justiça, chegou a badalada integração europeia e a globalista gestão de dependências e interdependências. Mesmo sem comentarmos as notícias de hoje e as parangonas dos telejornais de ontem, porque outras peças surgirão de forma mais esclarecedora, pouco me interessam as contabilidades das sondagens, as mecânicas dos cenários políticos ou os propagandismos dos defensores do situacionismo, incluindo os mesmos administrativistas que subscreveram pareceres ilibadores da actuação do Casino de Lisboa, em situação paralela. Até dou desconto a ilustres advogados que, certamente, continuam defensores dos seus clientes. Mas, nem por isso, devo passar para o lado dos acusadores, ou tomar partido neste maniqueísmo, onde quase nos querem dividir entre a direita e a esquerda, o oposicionismo e o situacionismo. Não se embebedem e desliguem a lareira se estiverem em ambiente fechado pela endogamia e o carreirismo. Não há factos, há apenas interpretação de factos. E quod non est in actis, non est in mundo. O que as polícias e os magistrados não puserem nos processos, não entra no processo, mesmo que venha nos jornais. Mesmo que Copérnico tenha provado o erro do heliocêntrico, até Galileu foi obrigado a reconhecer, perante os inquisidores, que tinha errado, confessando que o Sol é que andava à volta da Terra, mas acrescentando que nosso planeta, apesar da declaração processual se movia. Não há factos, mas apenas interpretação dos factos. Mas, hoje, o Papa já não tem inquisições para mandar na ciência que alguns, enganados, diziam que o poderia incomodar. Porque o mundo continua a mover-se e não são os sujeitos que andam à volta do objecto, mas antes os objectos que andam à volta do sujeito, para que o mundo processual se aproxime do direito, o direito volte a ser regido pela sujeita e essas criações artificiais deixem o mundo do teatro das relações jurídicas e comecem a aproximar-se da vida. Onde há factos e não apenas interpretações de factos..

Jan 30

Os poderes enlouquecem…

Os poderes enlouquecem e os que ficamà solta enlouquecem absolutamente

 

José Adelino Maltez

 

Pedem-me, deste querido jornal, que disserte sobre o caso que é um dos sintomas da maior crise da democracia portuguesa desde 1974. É começo da noite de sexta-feira, não estou informado sobre o que vai sair nos semanários de fim de semana e não tenho dados mínimos para fazer uma espécie de avaliação psico-socrática. Mas quero não confundir sintomas com causas, ou folhas de árvore com a floresta. Vamos ao fundo da questão e tentemos libertar-nos desta pressão que quase nos condena a tomar partido numa questão transversal, que não passa pelo confronto entre a direita e a esquerda, ou entre situacionistas e oposicionistas, apesar dos muitos incendiários e dos irmãos-inimigos, lançadores de corta-fogos, tentarem tapar o sol com a peneira da respectiva literatura de ódio, ou de justificação do poder.

Do Freeport, apenas apetece voltar a glosar Cícero: nem tudo o que é lícito é moralmente recomendável ou politicamente exemplar. Porque um quarto de hora antes de morrerem, os governos de gestão não devem pisar tanto as fronteiras do ilícito como as do politicamente reprovável, ou do moralmente execrável, em termos cívicos. Até porque, sobre este ponto, não são os magistrados que os podem absolver em termos políticos ou morais.

 

A própria prudência deve aconselhar os futuros ministros em gestão para que mais despachem os maiores “outlets” e “casinos” da Europa em tempo de vésperas. Porque, depois, ficam todos enlameados, mesmo que não tenham pessoalmenterabos de palha. Valia mais que os grupos de pressão e os grupos de interesse fossem legalizados e actuassem à luz do dia, como nos Estados Unidos ou no Parlamento Europeu. Valia mais que os promotores doFreeport ou os Casinos de Stanley Ho pudessem ter contratado lóbis registados, em vez de servirem de pretexto para a nossa Dona Maria da Cunha da endogamia e da sociedade matriarcal, plena de tios e sobrinhos, cunhados e genros, onde o que parece acaba por enredar alguns que não devem ter nada a ver com as trapalhadas. E quem atirar pedrados aos telhados de vidro do vizinho ou adversário pode chegar a casa e achar as suas vidraças totalmente quebradas, mesmo que recorra a pareceres ou perlengas dos mesmos ilustres administrativistas.

 

O poder dos polícias e dos magistrados não pode correr o risco confundir-se com as parangonas jornalísticas, pelo que nos resta ter esperança no sentido de missão dos nossos magistrados e dos nossos polícias. Porque uma das tentações do poder situacionista poderá ser a de consultar as sondagens e de confirmar aquilo que intuitivamente é perceptível:  a existência de uma maioria sociológica incomodada que não quer acreditar que o primeiro-ministro de Portugal possa estar envolvido naquilo que são as alegadas suspeitas que as polícias têm de descodificar, nesse terreno da amplo da investigação que vai da cabala a uma eventual processualização.

 

Outra das tentações socráticas, poderá ser a de denunciar  a eventual rede de agências clandestinas de informação e contra-informação, interessadas na confusão, para a salvaguarda ou restauração de certos poderes fácticos. A serenidade do PSD, do PP e do PCP tem dado espaço para que os poderes institucionalizados driblem a ofensiva. E mesmo que se confirme a teoria da conspiração, seria pior emenda do que o soneto atirarmos as culpas para o parco jornalismo investigação que esteve na base da fuga de informação para a opinião pública.

 

A saída policial ou judiciária para a crise será sempre lenta e garantística, porque estas são as regras do jogo que nos escolheram. Só uma saída moral regeneradora poderia refazer a destruição pouco criadora a que assistimos. Por mim, quase tudo passa por um acordo global dos partidos do Bloco Central, se estes se mostrarem dispostos à liquidação da mentalidade de Bloco Central de interesses em que assentam. E PS e PSD deveriam também pedir aos outros partidos parlamentares para que, em colaboração com Belém, se estabelecesse um novo contrato social que mostrasse ao povo como o sistema está pronto a defender o regime, num combate frontal às causas que levam à corrupção e ao consequente indiferentismo. Parafraseando Alain, sempre direi que todos os poderes, governamentais e oposicionistas, enlouquecem , tal como os poderes absolutos, isto é, à solta, sem sentido da responsabilidade, podem enlouquecer absolutamente. Tenhamos juízo!