Mais um partido acaba de transformar as directas para o líder em mero plebiscito, onde faltou apenas que as abstenções se contassem como votos a favor de uma personalização de poder. Com efeito, este excesso de democracia formal do neobonapartismo dificilmente poderá enquadrar-se no conceito onusiano de “fair and free elections” e se os observadores internacionais aqui viessem teriam de reconhecer as faltas de pluralismo, debate e igualdade de oportunidades que começam a marcar a nossa partidocracia situacionista e oposicionista. Por outras palavras, também é abuso aquilo que Montesquieu dizia do pretenso excesso de virtude. Porque este exagero de directas, ao transformar-se numa caricatura plebiscitária, pode matar a democracia real. Corremos assim o risco de entrarmos numa zona subpolítica, porque, sendo a “polis” o mesmo que “urbs”, a autarquização do centro do Estado equivale a uma degenerescência suburbana. E a “consciência tranquila” só precisa de propaganda populista para nos enredar nos malhões de Felgueiras, Gondomar ou Oeiras, bem à imagem e semelhança daquele “bailinho” da Madeira que o PS clamava como défice democrático. Quem tem o palanque do situacionismo oficial, ou oficioso, e o controlo da “mesa do orçamento” pode correr o risco de confundir o monopólio da palavra com aquele concentracionarismo, onde “vencer”, como dizia Fernando Pessoa, pode equivaler a “ser vencido”, com os posteriores “tabus e pântanos”…
Fev
15