Ai da Europa, se persistir esta lógica de Congresso de Viena, com as potências a comandarem um pelotão de médios e pequenos Estados, porque o realismo impõe que a crise internacional seja apenas superada pelos grande, os tais vinte que abocanharam mais de 90% do produto planetário! Somos todos iguais, as duas centenas de Estados membros da ONU, mas há alguns mais iguais do que outros, os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Somos todos iguais nessa “animal farm” chamada União Europeia, mas há meia dúzia que vão às reuniões preparatórias do G20. Os outros, que, sem ser por acaso, são a maioria, apenas são figuras secundárias nesta quinta dos animais com poder, onde os Estados se medem pela força da economia. Os médios e pequenos Estados apenas servem para o teatro das cimeiras e para os espectáculos do Tratado do Mar da Palha, com muitos porreiros e muitos pás, de feitores e mestres de cerimónias. E, depois, os anti-europeístas somos nós, os que invocam a ideia de Europa dos pais-fundadores, os que continuam a estar contra este neofeudalismo de uma espécie de anarquia ordenada pelas potências directoras. Consta que o mesmo corpo, de costas espatifadas por um problema de espinha, já foi presidente da União Europeia da Democracia-Cristã e, ainda há anos, invocava o privilégio de ser o único português que era sócio individual do Partido Popular Europeu, o tal rival do PSE, agora integrado pelo PSD e pelo CDS de Portas. Tenho a honra de nunca militar em qualquer partido que ele dirigiu. Num deles, entrei quando ele saiu e tratei logo de sair quando ele voltou para resolver um problema de dívidas de uma campanha presidencial. Para portugueses atentos, este candidato a Talleyrand, é, aliás, igual a outros antecessores dele no Largo do Caldas, especialistas na filosofia da traição, como um deles foi qualificado categorialmente por Marcello Caetano. O tal que continua a ser considerado paradigma, por causa da constante conspiração de avós e netos, de que se vangloria. A hipótese que agora se coloca não desprestigia o PS, que já elevou o primeiro a ministro dos estrangeiros. Apenas liquida a direita a que chegámos, comprovando a ligeireza com que o PSE e o PPE tratam as secções nacionais portuguesas de tais multinacionais partidárias. Não passamos de terra de porreiros e pás, onde, nas elites, anundam candidatos a capatazes e feitores de um qualquer dono de poder alienígena. Por isso, continuo a sorrir com a demagogia de soberanismo Keynesiano que inunda o nosso discurso oficial face à crise. Até vi um ministro denunciar os alemães por causa da Qimonda, que cá o Estado do Zé estava disposto a abrir os cordões à bolsa do orçamento, como se o Estado do Marquês de Pombal, de Fontes Pereira de Melo, de Salazar ou de Cavaco Silva ainda existisse. Não passamos de potência secundária, com uma classe política que não sabe quem foi Febo Moniz e chama doidinhos a D. António Prior do Crato e ao Manuelinho. Há muitos candidatos a “ministros do reino por vontade estranha”. Eu continuo a ler Bandarra. Por isso, há sempre uma directora-regional do norte, um denunciante da pornografia do Carnaval, ou uma polícia que apreende Courbet, repetindo as anedotas que contávamos sobre o autoritarismo salazarento. Como há outros tiques do micro-autoritarismo sub-estatal, enquanto os tais ministros lavam as mãos como Pilatos. Aliás, os crimes de corrupção começam a poder entrar na contabilidade dos corruptores, porque, conforme já foi provado na barra dos tribunais, se alguém tentar comprar alguém com duzentos mil pode ser apenas condenado a multa de uns meros cinco mil…