Afinal, voltou a Europa: vai haver uma cimeira, a começar no dia de São José, e, antes de carpinteirar, o PM, depois de “jogging africano, lá teve que ouvir a oposição em São Bento, quando chegam novas sobre a recandidatura de Barroso, expressamente apoiada por Gordon Brown em Londres. É evidente que, como português e como antigo colega, qualifico tal nova como uma boa notícia, embora só indirectamente se protejam os interesses nacionais. Por outras palavras, Barroso está para a política internacional, como Mourinho para o futebol e só os que padecem da mesquinha inveja o não reconhecem. Com efeito, ele que foi um sofrível chefe de governo em Portugal, bem como um líder partidário de simples nota de pé de página, como o demonstram os actuais barrosistas, tornou-se figura de justo destaque nos palcos da grande política global, com um discurso não plastificado e sempre diplomático, interferindo, com bom senso, na hierarquia das potências. Este antigo professor de teoria da decisão em política externa, profundo estudioso de ciência política, principalmente a partir do mestrado em Genebra, revela que não basta ser picareta falante para brilhar nesse universo.
Também ontem, a rainha da Jordânia, em plena Assembleia da República, veio dar uma imagem contrária à propalada pelos dois cardeais portugueses em conversas de Casino, para gáudio de Sampaio, o da aliança de civilizações, bem mais jogador da palavra que o antigo mestre da arte, Guterres, sem meios orçamentais adequados para o apoio aos refugiados. Ambos estão como Manuel José no Egipto e Calisto no Vietname, enquanto por cá mandam os Pinto da Costa, os Soares Franco e os Luís Filipe Vieira, assim se demonstrando que, tanto no futebol como na política, os emigrantes são mais conceituados.
É por isso curiosa a intervenção de um conselheiro de Estado sobre a necessidade de anúncio da recandidatura de Cavaco. No DN de hoje, ao comentar o comentário disse “que é costume fazer-se isto” (começar a pressionar o PR muito antes do fim do primeiro mandato). Porque tal “não enfraquece a função presidencial”. E tudo não passam de “manobras” para “encavacar o PS”, ou seja, para “fazer outros coelhos sair da toca” – referindo-se, aqui, especificamente, à eventualidade de Manuel Alegre voltar a candidatar-se (algo que o próprio não desmente nem confirma).
Também admiti que o evoluir da crise e a eventual emergência, após as legislativas, de um cenário de instabilidade política, nomeadamente com o PS a vencer mas desta vez sem maioria absoluta, poderão obrigar Cavaco Silva a “reformular calendários”. E a forçá-lo a redesenhar o exercício das funções: “Podemos ter Cavaco obrigado a ser moderador.” Prefiro estar atento à cimeira do G20 em Londres, ao eventual regresso à hierarquia das potências, agora medidas pela capacidade dos respectivos contribuintes pagarem a factura do aumento do capital das instituições financeiras globais. Por outras palavras, acabou a ilusão dos fundos estruturais, sobretudo para os que estão exageradamente endividados…
PS: Em homenagem a Rania, fui à estante e continuei a ler Ibn Warraq, Why I Am Not a Muslim, 1995 (Nova Iorque, Prometheus) e Leaving Islam. Apostates Speak Out, 2003 (Nova Iorque, Prometheus), bem como Cristopher Hitchens, God is not Great, 2007 (Londres, Atlantic Books) .