Abr 02

G20: a nova língua universal da aliança de civilizações pode entrar no ritmo da justiça, se a política continuar superior à economia

Os vinte mais ricos do mundo decidiram continuar a ideia de George W. Bush, o fundador dos G20, promovendo o espectáculo mediático de uma cimeira, ou cúpula, em brasiliense, para que os chamados anarquistas da antiglobalização continuem a partir montras. A questão central em causa tem a ver com a circunstância de haver uma sociedade global, com a sua geo-economia e a sua geofinança, mas sem que haja uma república global de regulação da economia e das finanças. Daí que o teatro de Londres nos pareça um espectáculo donde pode sair uma decisão histórica, como se essa cimeira fosse uma espécie de um jogo de futebol entre Portugal e a Suécia, onde ficou por assinalar uma grande penalidade, apesar do esforço do ponta de lança na simulação. Obama pode ser uma andorinha, mas a Primavera não virá depois do dia das mentiras, anunciando-se uma nova era sem trabalho de sapa, depois de argentinos, indonésios, indianos, mexicanos, brasileiros, japoneses, sul-africanos, sul-coreanos, turcos, sauditas, australianos, canadianos, britânicos, alemães, italianos, franceses e Durão Barroso darem pretexto para que norte-americanos se aproximem de russos e chineses. Cerca de noventa por cento do produto planetário sentado à mesa pode assinalar que findou o confronto entre as pretensas superpotências e os ianques também podem concluir que já não constituem uma república imperial, com a sua “pax mercatoria”, onde os interesses da humanidade se confundiam com os interesses nacionais interpretados por Washington, e o que era bom para a General Motors era bom para os States. Agora, Obama, como chefe de turma, apenas actua no palco da teatrocracia mundial como magnífico bom aluno e bom professor, lendo com todo o rigor um guião previamente reflectido pelo mais competente estado-maior do universo, naquilo que os sistémicos da teoria da decisão chamam “conscience”, ao estilo do nosso D. Jerónimo Osório. Obama nem sequer tem a autenticidade asneirenta de Bush, pelo que nada do que hoje acontecer vai cair na zona do inesperado. Até porque está em causa o pagamento da factura por milhões de contribuintes, não apenas norte-americanos, os tais que impediram a completa realização do modelo de Bretton Woods do segundo pós-guerra, nomeadamente pela instauração de uma organização mundial de comércio. Entre o tudo e o seu nada, a cimeira não vai ser o tudo, mas ficará muito acima do nada, sobretudo pela eventual triangulação de confiança entre Washington, Pequim e Moscovo, com o apoio da União Europeia, mesmo que Sarkozy continue o ritmo do menino birrento, ao reparar que tem de sentar-se ao lado de um qualquer Zé Povinho, à maneira de Lula, que, além de representar o Brasil, a comunidade lusófona e o Sul, também gostaria de ter ao seu lado uma qualquer instituição sindical, para que notássemos como o modelo de Estado Social em ploiarquia, como é o europeu, está desacompanhado neste processo. Com efeito, mesmo um marxista do século XIX tem de compreender como a luta de classes, perspectivada segundo o ritmo doméstico, pertence ao pretérito, como o próprio Lenine assinalou na sua teoria do imperialismo, quando reconheceu que um burguês capitalista de um povo explorado poderia alinhar num movimento de libertação nacional contra um proletário de um povo explorador. Contudo, mesmo este marxismo-leninismo já foi superado pelas circunstâncias do século XXI, não apenas pelas teses do Bloco de Esquerda, com Boaventura Sousa Santos a assumir-se como “guru” de Porto Alegre, mas, sobretudo, pelo vazio de teoria salvífica que hoje nos marca, porque também estas últimas teses já nem quer são subscritas por Lula. Todos temos, humildemente, que aprender com a ditadura dos factos. As tais realidades que quebraram todos os caixilhos ideológicos que nos tentavam explicar o processo histórico, onde alguns pensavam que a história é que moldava o homem. Todos temos de reconhecer que pode ser o homem a fazer a história, mesmo sem saber que história vai fazendo. Por mim, apenas confio. E, como liberal à Kant, mantenho a esperança dos desesperados. Prefiro assistir a estas reuniões cimeiras, onde dois dos vinte actores falam português e outros dois, castelhano, com seis anglo-saxónicos e apenas um em francês. Julgo que a nova língua universal da aliança de civilizações pode entrar no ritmo da justiça, se a política continuar superior à economia, mas sem que nos esqueçamos que os problemas económicos e financeiros se resolvem com medidas económicas e financeiras, mas não apenas com medidas económicas e financeiras. Acho que, apesar de tudo, depois de amanhã, o mundo vai ficar melhor. Sinto.-me da pátria do Padre António Vieira do Maranhão e do Zé Bonifácio do meu Conselho Conservador.