Todas as revoluções são pós-revolucionárias… e o 25 de Abril chama-se hoje Cavaco e Sócrates, com quatro candidatos a Provedor

Bastam as sondagens de hoje, as tais que confirmam a existência de uma maioria absoluta de portugueses que não se revê nesta partidocracia. No entanto, continuam a dominar os especialistas em casca de árvore, sem que alguém seja capaz de compreender que a causa da crise tem a ver com coisas mais gerais, como o Estado, a Democracia e a Nação, dado que nos faltam adequados macropolíticos que sejam mais do que constitucionalistas, estasiologistas ou etnólogos. Por outras palavras, quanto mais ao povo falta, mais as instituições se exaltam com palavras que perderam o sentido dos gestos. Como dizia Ortega y Gasset, todas as revoluções são pós-revolucionárias. Medem-se menos pelas intenções dos primitivos revolucionários e mais pelas acções concretas dos homens concretos que fazem a história, sem saberem que história vão fazendo. Ninguém percebe que o 25 de Abril, nos seus efeitos, não se chama Otelo nem Zeca Afonso, Aníbal Cavaco Silva. Mas, de boas intenções, está o inferno do nosso quotidiano cheio… Confesso que também eu atingi o grau zero de confiança nestes frades que continuam a pensar que o são, apenas porque ostentam o hábito. Veja-se  a menos partidocrática das instituições, a senhora dona Administração da Justiça, transformada em mero cálculo de probabilidades sobre encontrarmos uma agulha no palheiro, isto é, um juiz ou um magistrado que saibam colocar a justiça acima do direito, o direito acima da lei e a lei dentro dos princípios gerais de direito, com superioridade face ao despacho e à ordem de qualquer chefezinho. Passemos para a universidade, feita campo laboratorial de reformismos e de conservacionismos de forças vivas, onde a cenoura do carreirismo e o chicote do cala-te e come, e confirmemos o processo de desinstitucionalização em curso, a que não escapam as próprias forças armadas. Quase todos se esquecem que o 5 de Outubro de 1910 acabou com a operação de Alves dos Reis, porque, quando se atinge o vazio de mobilização comunitária, todos entram na lógica do sapateiro de Braga, segundo a qual, ou há moralidade ou comem todos. E aqui e agora, o tal bem comum de São Tomás de Aquino deixou de ser a síntese de uma ideia de Ordem com uma ideia de Justiça. Daí que sejam pouco estimulantes as discussões sobre a pensão de Otelo e de Jaime Neves, ou os meandros da tipificação do crime de enriquecimento ilícito, quando, perante a corrupção, todos os partidos deveriam ser chamados a Belém, para fazerem uma autocrítica e entrarem num começar de novo, pedindo desculpa ao povo…

Comments are closed.