Mai 06

Gerontocracia

Este regime de gerontocracia corre o risco de não querer olhar-se ao espelho, para confirmar que tem quase o mesmo tempo de vida que o governo de António de Oliveira Salazar , começado em 1932. Está velho, precisa de tratamento e não chegam as papas e os bolos com que se enganam os tolos. Porque, como me contava um ministro do antigo regime, um dia, Salazar terá recusado a nomeação de um arcebispo para um certo cargo honorífico, invocando a circunstância de ele já ter feito setenta anos. O proponente argumentou que ele estava perfeitamente lúcido. Salazar concordou, mas logo disse que o perigo estaria em ele ficar sem saber quando faria setenta anos outra vez, o que seria terrível para o eclesiástico, porque ninguém teria a coragem de dizer ao mesmo que ele estava apenas no condicional e no futuro imperfeito, que ele já não era o que tinha sido em tempo de pretérito. Por ironia do destino, tanto Salazar como o então jovem ministro esqueceram-se do argumento. Um teve de cair numa cadeira ou numa banheira, o outro acabou por ser Talleyrand do regime seguinte e com esperança de o voltar a ser no próximo, isto é, sem saber conjugar o presente.