Quebrado o velho armístício, as duas correias de transmissão de interesses, pressões e canalizações do nosso situacionismo, continuam os insultuosos bailados de campanha, sem este garboso marcar passo dos restos de estalinismo bombista da revolução por cumprir. Por mim, que sempre prefiria um partido pirata, vou tentando ouvir as palavras da Professora Manuela Magno, as intervenções do Frederico do PPM, ou os ensaios de dinâmica de grupo da Laurinda Alves, em nome do respeito pelo princípio básico da igualdade de oportunidades. Rio-me com a polémica que rodeia o imposto vital, quase tão nebuloso para as massas que vão às feiras, quanto o testamento também vital que o parlamento ontem aprovou na generalidade, graças aos esforços da minha querida amiga Maria de Belém.
Noto que, na verdade, há muito pagamos impostos europeus, sem qualquer clandestinidade, como muito bem poderia explicar qualquer especialista em IVA. Porque qualquer transferência de soberania para uma qualquer comunidade política supra-estadual implica a inevitável democracia fiscal desta, apenas lamentando não haver um adequado imposto mundial que bem poderia incidir sobre as transacções bolsistas, conforme propostas de um prémio Nobel que sabe mais economia do que eu. Um qualquer federalista e um qualquer adepto de certos segmentos de república universal não pode desejar outra coisa, caso não padeça do pecado da hipocrisia.
Claro que não vou falar da poeira de Dakar, que as notícias transformaram em lama, nas desventuras das briosas avenças, ou naqueles lamentáveis comentários de um juiz sobre o caso da criança russa, onde ele confessou que apenas julgou por papéis fornecidos pelos burocratas do apoio social. Se a administração da justiça em nome do povo não resistir a estas tentações do microfone de “talk show” ao ritmo pimba, tais declarações ombrearão com as bocas dos ministros do trabalho e da justiça sobre a matéria. Isto é, são todas lamentáveis e susceptíveis de mais um choradinho do senhor bastonete dos abacates.
Claro que o Professor Vital, ao pisar o risco dos qualificativos serenos e ao confundir o partido concorrente com as zonas de roubalheira, ficou tão excitado que até trocou o Leste com o Oeste alentejanos dizendo que as Minas de São Domingos são as de Aljustrel, talvez porque no subconsciente estavam as da Panasqueira, com a inevitável lembrança das roubalheiras dos romances do volfrâmio de mestre Aquilino Ribeiro, que até rimam com Cova da Beira. Naturalmente, o mais jovem docente Rangel chama um figo a esses jogos florais do espumante da Bairrada e, com o verrinoso da Foz do Douro, mas sem pronúncia à moda do Norte, replicará com nova facada verbal, para que Manuel Alegre conclua, e muito bem, que nenhum deles está a querer discutir o mandato para a Europa que pedem ao povo.
Por estas e por muitas outras, somos obrigados a concluir que esta campanha não tem passado de um péssimo filme de série B, dependente das cenas de outras longas metragens, desde o BPN ao longo parto da eleição do novo Provedor de Justiça, dado que os sobreiros do BES, os submarinos e os sucessores do Chaimite ameaçam fazer concorrência de parangonas a Constâncio, a Berardo e ao futuro treinador do Sport Lisboa e Benfica, neste mais do mesmo que nos vai minguando em entusiasmo cívico.