Mai 11

Um de Agosto de 1938, a revolta continua…

Hoje, há mais para viver do que para dizer, porque a hierarquia dos valores assim o exige. Porque a esperança começa a conjugar-se sem necessidade das mesmas escadarias do hospital, uma, duas, três vezes por dia. Está tudo mais próximo e a recuperação continua. Daí que, espreitando os jornais e as televisões, considere totalmente artificial estas retóricas eleitoraleiras, governamentaleiras, presidencialeiras e politiqueiras. Pior ainda são as literaturas de justificação dos patifes que ainda há semanas tinham como inimigos os principais aliados. Bastou uma compra de votos, uma troca feudal de favores e a cooperação devorista à mesa do orçamento, de acordo com o plano do mais recente espião desempregado que nas horas vagas se costuma dedicar a passar a teoria das conspiração para uma mancha pé-de-página num qualquer jornaleco de província. Sua excelência volta a ter sonho secretarial no ministerialismo que inevitavelmente se vai renovar e tanto faz o social-democrata como o rosa, o comuna como o porteiro, já o vi meter cunhas adversário quando procurava manter o emprego. Por isso, sorrio.

 

 

Vou às aulas já com mais força, apesar dos corredores e finalmente, sem aviso prévio, lá me chegaram as provas de um livro que há mais de dois anos ando no prelo, sem ser por mim culpa, mas pelas volutas que também o fizeram jazer outros tantos anos à porta da decisão orçamental. Vale-me que o tempo beneditino do professor nada tem a ver com o curto-prazo dos maquivélicos detentores de um poder que precisa de ser pactado pelas pequenas e médias oligarquias das assembleias das pequenas e médias oligarquias. Os mandarins passam, as obras trabalham-se, mesmo quando se tem um nome estrangeiro como o meu.

 

 

Ontem espreitei na livraria o recente ficheiro dos condenados pelo salazarismo que Fernando Rosas mobilizou. E lá estava o avoengo que me deu um dos nomes que ainda consta no bilhete de identidade (“Eufrásio”). Confirmei que foi sentenciado em 1 de Agosto de 1938 e vou agora tentar compulsar o processo que não é referenciado no livro, dado que onde não havia organização do PCP e sucedâneos não ficavam registos nas efemérides anti-ditatoriais. Uma pequena revolta local contra o poder estabelecido, se não tivesse escritor, não ficava na história e o nome do sentenciado para mim não é mais um. Em qualquer caso, um obrigado ao Fernando Rosas por me lembrar o combate do Olho Marinho, onde meus avoengos resistiram, mantendo o espírito da Revolta do Grelo das gentes dos Campos de Coimbra de que sou mera consequência. Foi logo a seguir ao que a imagem comemora, o massacre de 1937. E os foros e costumes que defendiam eram umas regras medievais sobre regas e louvados, contra a interferência do estadão e das espingardas da GNR.