Mai 25

Antimaneleiros, uni-vos! A luta continua, temos a Ibéria connosco!

Leio, de Pancho Guedes: continuará a cidade dividida, doente, esquizofrénica? Continuará a cidade traída pela preguiça, estupidez e ganância dos homens ou começará amanhã a cidade a ser a casa grande de toda a gente? O grito de alma deste grande português, esquecido e silenciado, foi suspenso pela comissão de censura, num texto que estava para ser emitido em 9 de Junho de 1963.

 

Entro no aqui e agora e reparo como foram particularmente mobilizantes os primeiros dias de campanha eleitoral das europeias. O PS, com Zapatero a puxar por Sócrates, foi ao pavilhão do “vai tudo, união de coimbra” procurar fingir que a multidão do povo não se reduz aos dois mil camaradas que a máquina do Largo do Rato levou excusionisticamente a Coimbra.

 

Jerónimo esmagou, expressando a sua soberania de rua com oitenta e cinco mil manifestantes, vindos de todo o país, entre o Saldanha e o Marquês, coisa que só os cem mil devotos de Nossa Senhora de Fátima conseguem igualar entre as ruas da capital e as da outra banda.

 

Manela preferiu o recato de uns colóquios de alcatifa e “zoom” de telejornal, para uma qualquer frase da noite, conforme a engenharia comunicacional dos respectivos assessores, encenando a coisa com a presença de uma centena de seminarizantes, mobilizados pelo presidente da distrital ou o candidato a redeputado.

 

Paulo Portas foi enganado pelas estruturas locais e os assessores: pensou que tinha feira do queijo e não encontrou povo para o teatrinho de campanha do telejornal. Deu barraca que as televisões captaram, para gáudio do Jaime Silva.

 

Já o mano candidato, Miguel Portas, preferiu uma alentejaníssima paisagem de palha com um saltinho à feira islâmica e falou da terra, do cosmos e do último livro que publicou, cheio de belas fotografias. Por outras palavras, o momento mais exaltante foi o de Vital Moreira a confessar a sua tentação centrista pelo arroz doce da minha santa terrinha.

 

Portas Paulo vestiu camisa branca e casaquinho escuro, Melo levou a mesma farda, da direita chic. Miguel Portas preferiu a camisa azul, igual à de Louçã, outra farda do mesmo uniforme, mas do radical chic, da ponta esquerda da mesma ideia de família. Contra os dois lados, só um mesmo grito de dantas, pim!

 

 

 

Apenas concluo como a meritocracia continua longe da partidocracia. Porque o mal está nas pretensas eleites que se assumem como seleccionadoras nacionais do pensamento único. Porque elas sempre se deram mal com a criatividade e a imaginação. Pancho Guedes teve a ousadia de dizer que havia um Portugal lusotropical, vizinho de Durban, onde foi educado Fernando Pessoa. Pior do que isso: concorreu para edificar um grandioso monumento aos combatentes do ultramar, denunciou os massacres da guerra e os generais matadores, mas sem deixar de retratar Samora Machel como ele era, enquanto equiparou o 25 de Abril a um talho e a matadouro, donde se teve que sair para o exílio, para poder continuar a ser livre e artista.

 

Aqui e agora, Sócrates e Zapatero, apoiantes confessos da recondução de Barroso,  talvez não tenham esquecido que, quando Barroso ainda era chefe de governo de Portugal e já tudo era porreiro, pá, o actual presidente da comissão da UE ainda começou por lançar a candidatura de António Vitorino a esse lugar, coisa que não esteve tremida, porque nove Estados chegraram a ser mobilizados para tal objectivo. Acho que tudo falhou quando o PSOE, com pouca solidariedade ibérica, disse que família socialista por família socialista, o senhor Europa deveria ser Javier Solana.

 

Logo, discursos como o de Sócrates, com sotaque chavezista, qual Marinho Pinto contra a senhora da TVI, quando entram em delírio antimaneleiro apenas servem para enganar os papalvos. Por outras palavras, o tédio vai marcando o ritmo politiqueiro, onde, para argumentos fracos, surge a voz forte dos insultos e muitas viagens ao museu de cêra do pós-prec, porque quanto mais insultos, menos política e mais indiferença. Nem o “Manela ponto come” ou o “SOS voz amiga” de qualquer “telemarketing” nos livrarão dos diabos neoliberais e neolconservadores, ditos reaccionários, mas emitidos por quem é qualificado por fascista por jovens artistas.

 

 

 

 

Preferia uma qualquer lei europeia que só admitisse deputados eleitos se metade do corpo eleitral fosse às urnas. De outra forma, não tardará que venha o estadão admitir em lei que, da próxima, as abstenções contarão como votos a favor, à maneira do referendo de Salazar sobre a Constituição de 1933. Ou, melhor ainda: uma lista única, de adeptos do europeísmo do pensamento único, que seria automaticamente eleita, sem necessidade do povo ir às urnas, nos círculos onde não se apresentassem listas alternativas. Foi o que aconteceu em 1911, nas primeiras eleições da república portuguesa…

 

Por isso, acabo de desligar o televisor, depois de uma das propagandistas da euro-enegenharia subsidiocrática emitir um programa do novo SNI, onde se proclama que tudo quanto é nacionalista é de extrema-direita. Os meus amigos da Irlanda centrista, da esquerda basca e do liberalismo nacionalista da Catalunha repararam como os portugueses foram ocupados pela estupidez censória de um europês snob das tias de Cascais que estiveram inscritas no MRPP ou no Movimento Nacional Feminino…

 

Continuará a cidade dividida, doente, esquizofrénica? Continuará a cidade traída pela preguiça, estupidez e ganância dos homens ou começará amanhã a cidade a ser a casa grande de toda a gente?

 

P.S. Reproduzi dois quadros de Pancho, expostos no CCB. No primeiro, generais contando quantos mataram de um lado e de outro. No segundo, a importância dos olhos. No terceiro, um exemplo do provincianismo euro-situacionista. No próximo comício, Barroso deve ir à Madeira, com Manela e Jardim, em ritmo de Jaime Ramos. Prefiro o lusotropicalismo de quem se refugiou em Colares. O meu imaginário é mais armilarmente malagantana do que socrático, porteiro, jerónimo ou maneleiro. E nem o fato às riscas de rangel me leva a ceder. Gostaria mais de edificar o obelisco de Pancho, onde um poema de pessoa, um risco do arquitecto da casa grande de toda a gente e uma nota descritiva de mia couto nos poderia fazer largar da lama para que continuemos a perfeição do transcendente situado. Entretanto, vou relendo os avisos de Plutarco contra os aduladores…