Jun 08

O verdadeiro vencedor de ontem

A democracia foi derrotada pela falta de comparência. Sitiada pela corrupção e pelo indiferentismo, caso não volte a confiança pública, podemos encenar uma democracia sem povo, mas com muita partidocracia, onde vencer poder equivaler ao ser vencido. A abstenção não é uma causa da futura crise. Foi apenas um sintoma, quando a indiferença já é azedume e pode volver-se em explosão, se se confirmarem os sinais do “out of control”.

Jun 08

O país da mesa do orçamento

Os principais aliados da CDU e do Bloco de Esquerda são os feitores da direita dos interesses e os capatazes desta economia privada sem economia de mercado, com lenta administração da justiça e um Estado com muita adiposidade de aparelhos, pouco músculo e quase nenhum nervo. A política passa a viver ao ritmo de comissões parlamentares de inquérito e de buscas do MP e da Judiciária. Como é difícil ser liberal em Portugal e assumir o ritmo da restante Europa…

Jun 08

O rosto de uma partidocracia sempre-em-pé, quando fala muito e não diz nada

Portugal tem o sistema partidário mais estático e mais hipócrita da União Europeia. Porque conservando o que está, o poder pelo poder, já passou a fronteira do reaccionário, com todos os tiques da esclerose salazarenta. Nem sequer compreendemos que o principal líder da União Europeia passou a ser Obama, apesar da muitas empresas de sondagens darem alento artificial ao situacionismo. Mas bastava a da LSE, mais antiga, e abrangendo todos os 27, para compreendermos como nos falha uma universidade pública como referência de estabilidade, não dependente das contratualizações. Vitalino teve a coragem de dar a cara, mas ninguém do grupo parlamentar do PS nem da presidência do parlamento apareceu em solidariedade. E não transformem Vital Moreira em bode expiatório!

Jun 08

O Bloco de Esquerda

O Bloco de Esquerda são dez anos de investimento político de antigos revolucionários profissionais. Exerce a função tribunícia dos Verdes europeus, ao ritmo da esquerda revolucionária, vive, sobretudo, da palavra e já é mais do que mero contrapoder. Porque o Partido Socialista deixou de ser soarista, isto é, reciclador de ex-comunistas e ex-extrema-esquerda.  Portugal tem o sistema partidário mais estático e mais hipócrita da União Europeia. Porque conservando o que está, o poder pelo poder, já passou a fronteira do reaccionário, com todos os tiques da esclerose salazarenta . Nem sequer compreendemos que o principal líder da União Europeia passou a ser Obama, apesar da muitas empresas de sondagens darem alento artificial ao situacionismo. Mas bastava a da LSE, mais antiga, e abrangendo todos os 27, para compreendermos como nos falha uma universidade pública como referência de estabilidade, não dependente das contratualizações. Vitalino teve a coragem de dar a cara, mas ninguém do grupo parlamentar do PS nem da presidência do parlamento apareceu em solidariedade. E não transformem Vital Moreira em bode expiatório!

Os principais aliados da CDU e do Bloco de Esquerda são os feitores da direita dos interesses e os capatazes desta economia privada sem economia de mercado, com lenta administração da justiça e um Estado com muita adiposidade de aparelhos, pouco músculo e quase nenhum nervo. A política passa a viver ao ritmo de comissões parlamentares de inquérito e de buscas do MP e da Judiciária. Como é difícil ser liberal em Portugal e assumir o ritmo da restante Europa… A democracia foi derrotada pela falta de comparência. Sitiada pela corrupção e pelo indiferentismo, caso não volte a confiança pública, podemos encenar uma democracia sem povo, mas com muita partidocracia, onde vencer poder equivaler ao ser vencido. A abstenção não é uma causa da futura crise. Foi apenas um sintoma, quando a indiferença já é azedume e pode volver-se em explosão, se se confirmarem os sinais do “out of control”.

 

Jun 08

Portugal em contraciclo

É muito complicado traduzir para o politiquês lusitano, sobretudo entre os que proclamaram o Europa é nossa, o modelo político europeu. Não há ninguém que aqui represente a terceira e a quarta das famílias políticas do Parlamento Europeu, isto é, os Liberais e os Verdes. Nem sequer a direita radical anti-europeia existe. Os três prováveis deputados do Bloco de Esquerda e os dois da CDU podem não conseguir ser a Primavera dos setecentos e trinta e seis. Apenas se confirma que mandamos 10 para o PPE (mais três, apesar de termos passado de 24 para 22) e 7 para o PSE. Primeiro, porque o PSD, que quis ser da Internacional Socialista e passou pelo grupo Liberal e Reformista, acabou, através de Francisco Lucas Pires, no PPE. Segundo, porque o CDS, que começou no PPE, com Diogo Freitas do Amaral, foi, depois, expulso, mas acabou por regressar à família. Os resultados eleitorais são meras consequências do paralelograma das forças vivas que nos pressionam, onde o estadão da partidocracia continua a desertificar a velha democracia da sociedade civil. Mas quem sair da endogamia partidocrática desta jangada de pedra e ousar compreender o todo da gestão de dependências e de interdependências, pode concluir que os principais factores de poder que a presente governação sem governo tem de gerir já não são maioritariamente domésticos. Entrámos definitivamente em contraciclo, não tanto por questões ideológicas, mas antes porque nos resignámos face ao instinto de crescimento do poder deste estado a que chegámos, a que a não-direita chama esquerda, e a que a não-esquerda justifica com o Keynesianismo de timbre salazarento, mas que, afinal, não passa de um um mero piloto automático que não nos deixa mudar de rota. Esta é a pesada herança de um capitalismo clientar e fidalgote que nos veio do mercantilismo, gerando-se esta economia privada que tem medo do risco e do mercado, enquanto prossegue a desinstitucionalização dos grandes corpos da democracia consociativa, que o discurso ministerialista chama de corporações. Falhando a imaginação e coragem da pilotagem do futuro, não é possível uma estratégia de patriotismo científico, capaz de nos fazer flexível estrada boiante, como eram as naus de outrora, as que fizeram de Portugal o porto de uma Europa que quis abraçar o mundo.