A crise que vamos vivendo assume recortes inéditos, dado que, depois dos pescadores, os transportadores rodoviários, apenas replicam nesta praia ocidental, um movimento geral europeu. Por outras palavras, estamos a viver uma crise importada pela globalização e pela integração europeia, mas, em termos estratégicos, apenas se confirma que as nossas vulnerabilidades são maiores e que não as conseguimos transformar em potencialidades. O problema continua a estar em não sabermos, com alguma criatividade, fazer uma pega de cernelha a um touro de quem quisemos ser apenas bons alunos, com muitas traduções em calão tecnocrático. Continua a faltar política de sonho e muita imaginação, assente em criatividade. O Bloco Central já não clama o “porreiro, pá”. Só Scolari nos compensa, com trabalho de equipa, agora que chegaram as greves selvagens dos patrões e empregados da camionagem, com transmissão em directo desses “crimes” que se esquecem das leis da manifestação, da convocação de greves e da liberdade de circulação, um pouco como no “buzinão” contra Cavaco, apoiado pelo PS, ou nas manifes europeístas dos pescadores e camionistas, em França e em Espanha.
Daily Archives: 9 de Junho de 2009
Regresso da política.
Julgo que estas eleições marcaram o regresso da política, da política como coisa complexa, não da política com os assessores todos previsíveis, a pensar que as campanhas e os resultados são uma espécie de passeio, voltámos ao risco, à aventura, à vontade, à possibilidade da criatividade desempenhar algum papel». Contudo, a grande lição tem a ver com o silêncio maioritário do eleitorado. O nível da abstenção e do voto em branco confirma que o povo calou. Ora, quem cala nada diz (quis tacet nihil dixit), o que é bem diferente do “quem cala consente”, apesar de podermos também acrescentar que os silenciosos, em parte, consentiram no regime e na opção europeia, e, noutra parte, calaram quanto ao modelo de governação. A maioria do povo foi além do indiferentismo, pisou as raias do azedume, mas ainda não entrou em explosão e em revolta. A maioria puniu a partidocracia e a maioria dos que expressaram o voto reagiu contra este sistema de economia privada sem economia de mercado. Porque não estão apenas desprestigiados os partidocratas, mas também os empresários e os homens de negócios, onde a tradicional Dona Maria da Cunha parece ter-se enredado nas teias da percepção da corrupção, embora o que parece talvez seja inferior àquilo que naverdade é. E aqui a classe política tem culpas no cartório, não por ser maioritariamente desonesta, mas por não conseguir dar uma adequada imagem de regeneração e de arrependimento, livrando-se efectivamente dos mecanismos degenerados típicos do Bloco Central de interesses e da sua técnica corrosiva e devorista da nacionalização dos prejuízos e da privatização dos lucros, através do clientelismo, do nepotismo e das minúcias dos jobs for the boys, com o prévio estabelecimento de leis orgânicas de reforma do Estado feitas segundo o modelo dos boys for the jobs. O Banco Portugal resistiu ao 5 de Outubro e os próprios carbonários mandaram brigadas para o proteger. O 28 de Maio nunca lhe tocou, apesar do caso Alves dos Reis e o governador Inocêncio Camacho, um republicano histórico, foi mantido pelo primitivo salazarismo, tal como o 25 de Abril não deixou que o PREC o contaminasse. Seria trocarmos de rumo darmos mais razão a certos arguidos do que optarmos pela continuidade institucional de uma entidade cada vez mais necessária à república.