A “black box” do nosso sistema político entrou em sucessivos “activismos declaratórios” e a relação entre as duas fontes de legitimidade vindas do sufrágio universal passaram, da “coabitação”, a um certo estado de “out of control”, com o PS a procurar elevar Cavaco Silva a chefe da oposição e com o Presidente a cair nalgumas cascas de banana, vindos dos sermões semanais da televisão pública, proferidos pelos bispos da opinião do situacionismo, satisfeitos com a circunstância de a principal líder da oposição entrar em confronto com algumas das figuras humanas das presentes forças vivas que condicionam as relações do sistema social com o sistema político.
Daily Archives: 1 de Julho de 2009
O estado da desinstitucionalização em curso
A versão portuguesa do americaníssimo “state of the nation” é mais uma das nossas “traduções em calão” do que poderá ser o canto de cisne deste ciclo do regime, quando este já proclama que a esperança é sinónimo de, muito estatisticamente, já termos batido no fundo. Foi pena que a quantidade de energia que gastámos com este ciclo político de nova oportunidade perdida tivesse ficado, para sempre, naquela zona do desperdício da entropia, a que os analistas de sistemas chamam lixo. Porque as proclamadas “boas intenções” do pretenso reformismo não passaram do “inferno” de uma navegação à bolina, de um verniz que recobriu a efectiva engrenagem de uma desinstitucionalização em curso, contra as autonomias de professores, magistrados, médicos, militares, igrejas e forças morais tradicionais. Enquanto isto, regressavam os permanecentes “compadres e comadres” do “país oficial”, dependentes da “mesa do orçamento”, com muitos “anjos”, antes da “queda”, procurando “tacho” entre os capatazes e os donos do poder. Porque a competência voltou a ser inferior ao patrimonialismo da compra de poder e da lealdade neofeudal, em nome de doutrinarismos e abstracções, permitindo que a mão longa do ministerialismo de Estado ocupasse a República. Se antes poderíamos dizer que estava em crise o Estado, mas não a Nação, corremos agora o risco de de perder a própria vontade de sermos independentes.