A “caixa negra” do nosso sistema político vive em ciclo de andropausa histérica com muito sexo dos anjos à mistura. Temos estadão no vértice do principado, ou aparelho de poder, e muitos estados dentro do Estado nas plataformas comunicacionias com as forças vivas. Não conseguimos transformar o velho corporativismo neofeudal em autêntica poliarquia. Parecemos impotentes quando tentamos dar pluralismo à democracia e diabolizamos o federalismo, a regionalização e o municipalismo, apenas admitindo as conquistas pré-constitucionais dos Açores e da Madeira e a adesão dos povos aos seus concelhos.
Acontece também que as sucessivas reformas por cumprir dos vários governos deste rotativismo devorista do PS e do PSD acabou por gerar a desertificação dos grandes corpos da administração indirecta do Estado e a estatização dos restos de democracia da sociedade civil que ainda nos marcavam.
Quase podemos concluir que só conseguimos gerar reformas do Estado e da Sociedade nos ciclos ditatoriais dos governos provisórios fundadores de regimes. Como o de D. Pedro IV em 1832-1834, donde vieram os decretos de Mouzinho e de José da Silva Carvalho; o da I República, que laicizou o transcendente que restava; o da ditadura das finanças subsequente ao plebiscito que elevou Carmona ao altar; os seis governos provisórios de Abril. Esperemos que, agora, a partir de Outubro, quebremos o enguiço. Podemos refundar o regime, livrando-nos do sistema, nem que seja através de um qualquer governo de acordo interpartidário que acabe com esta alternância dentro do Bloco Central, com alguns acólitos e satélites pelo meio.
O país não pode continuar mais interessado em votações soviéticas ocorridas num grande clube de futebol e a discutir a administração da justiça de forma directamente proporcional à litigância militante dos que ocuparam os interstícios dilatórios do chamado Estado de Direito, onde está invertida a hierarquia das normas. A justiça tem de voltar a ser superior ao direito. O direito tem de estar acima das leis. E os operadores judiciários não podem pensar que são proporcionalmente inamovíveis e irresponsáveis por causa das vacas sagradas de um modelo que deve ser repensado, através da urgente “provocatio ad populum”.
Daily Archives: 5 de Julho de 2009
Contra os caçadores furtivos deste sinal de esperança
Depois de ter sido vítima anónima destas reformas do estadão a nível do serviço nacional de saúde durante os dois últimos dias da semana que passou, tenho de aturar mais uma conversata do ex-ministro da reforma do dito, bem como nova invocação de outra qualquer fotocópia dita reformista, que um rato de gabinete traduziu em calão do universitarês tecnocrático. Prefiro referir as nebulosas que nos vêm de um país político que vive na balbúrdia do interregno, entre o tudo e o seu nada. Logo, todos os que não estão disponíveis para que lhes torçam a espinha no amolecimento neofeudal que nos enreda e querem assumir a rebeldia de viverem como pensam correm o risco de ostracismo. Porque somos cada vez um pequeno Irão onde até há universidades que se prostram em assembleia diante de um qualquer revisionista da história que se assuma, pelo decretino, como santificado. Os discursos oficiosos são tão mórbidos que até se alegram com sinais de já termos batido no fundo e de nos compararem com uma qualquer média da comparação estatística dos outros, em certos segmentos onde não estaremos na cauda do bicho. Os desvarios das várias licensiosidades governativas que vamos tendo e os crescentes eleitoralismos e populismos da campanha permanente a que estamos condenados continuam a deixar-nos uma pesada factura que todos os vivos e nascituros terão de pagar, porque apenas continuamos a ter os governos que merecemos e os falsos sebastianismos que sufragamos. Quem for essencialmente contra este sistema, em defesa do regime, não pode cair na esparrela de passar um cheque em branco aos que agora mandam no situacionismo, ou aparecem como alternância do mais do mesmo, mas fingindo-se alternativa. Importa continuar a subverter o sistema em defesa dos princípios fundacionais do regime e da própria nação. Ai da democracia se, nos próximos actos eleitorais, se conservar o que está e não se fizer o necessário golpe de Estado sem qualquer efusão de sangue , ou de outra qualquer violência, incluindo a revolucionária. Caso as eleições não apontem para uma efectiva mudança e porque um 5 de Outubro, um 28 de Maio ou um 25 de Abril já são impossibilidades técnicas, eis que um novo regime, uma nova ditadura nacional ou um novo processo revolucionário podem ter como sucedâneo um mero acto de anexação dos nossos centros de decisão por protectorados supranacionais, seja da geofinança, seja de um qualquer directório da hierarquia das potências, colocando-nos sob estrita vigilância, a fim de pagarmos o que internacionalmente devemos. Não me comovem, portanto, as viúvas destas partidocracia com os seus discursos de justificação memorialista. Dentro de algumas crises, eles serão a insignificância das notas de rodapé da história. Poucos reparam que os ditos nasceram de cima para baixo, a partir da respectiva colocação na hieraquia do estadualismo que os decretou como pensadores oficiosos e vacas sagradas. Prefiro colocá-los definitivamente na minha zona de desprezo, lado a lado com outros protagonistas da suprema burocracia inquisitorial. Os “betos” estão à espreita destes cadáveres adiados que procriam retórica, os “jotas”, sedentos de uma aliança com os mesmos, e os controladores sociais das forças vivas julgando que, afinal, vai virar o disco para que a máquina que nos destruiu continue a tocar o mesmo. PS: A imagem que reproduzo foi tirada neste meu permanente lugar de exílio. É de uma selvagem e terna criatura, nascida há dias por entre o mato das redondezas. Espero que este sinal de esperança não seja caçado nos começos do Outono.