Ago 31

As duas faces da mesma moeda que não é boa nem má, mas o mais do mesmo

Está tudo doido. Alguns activistas do maneleirismo vêm a blogue declarar que terei dito na televisão que vou votar PS. Irra! E insinuam que o faço, porque terei sido maltratado pelo meu reitor, que seria do PS. Irra! Já chega de mentiras e até de trocar o nome aos bois! Abaixo o quem não é por mim, é contra mim! E tudo vem acompanhado por campanhas no Twitter quanto às minhas opções eventualmente místicas, não faltando as próprias ameaças sicilianas, segundo o melhor ritmo bufeiro dos moscas, formigas e outros que tais que fizeram, da nossa dita direita e da nossa dita esquerda, as mais estúpidas do mundo!

Ainda recentemente sofri no lombo a existência de um pseudo-blogue com o meu nome, para uso de lutas internas pelo poder na universidade. Julgo que o respectivo autor conseguiu finalmente ser promovido. Outro, que também anda pelas alturas, até o filho usava como testa de ferro em comentários de blogues que, apesar de adversários nas concepções do mundo e da vida, me respeitavam em diálogo de bela polémica de ideias. Não me consta que qualquer deles seja socrático, bem pelo contrário. E o pretenso socrático que o João Gonçalves, a posteriori, depois do meu comentário, tenta transformar em fantasma deve ser o mesmo que alinhou numa insultuosa campanha contra um paradigmático ministro socrático, servindo de ponta de lança a uma salada de estalinistas, fascistas não disfarçados e laranjadas. Agradeço a socráticos que, correndo risco de persiganga, defenderam comigo a liberdade. Mas nada disto tem relevância. E até gosto mais do João Gonçalves, porque quem bate tem direito naturalmente de levar, e não tem sequer de responder com outra figura do Walt Disney, porque preferiria a versão brasileira do Zé Carioca!
Será que um português não pode, hoje, misturar a mundivisão, que Sócrates diz subscrever, com a denúncia do dirigismo estatal, que Manela diz ser monopólio dela? Será crime gostar do poema satírico de Natália Correia sobre uma “gaffe” de um deputado …de Lamego, quando ela não era parlamentar do PS? Será que todos os do PS são contra o casamento e a família? Será que Manela não é mulher e divorciada? Será que o PPD/PSD não é de Francisco Sá Carneiro, aquele que, por causa de Snu, teve arcebispo de Braga e secretário-geral do PS, em plena televisão, a invocarem a imoralidade…
Não teve o PPD/PSD líderes como Rodrigues dos Santos e Emídio Guerreiro? Será que o PS não recolheu como secretário-geral um António Guterres? Será que a Constituição não admite a defesa política do catolicismo, do agnosticismo, do ateísmo ou do simples panteísmo? Será que a clivagem direita/esquerda passa por essas concepções do mundo e da vida? Irra! Não podemos ser liberais em Portugal? Mesmo sem partido?
Manuela Ferreira tem todo o direito de assumir as legítimas bandeiras axiológicas da doutrina social da Igreja Católica e até a linguagem de propaganda da fé do papa Bento XVI. Assim se explica a razão pela qual a Igreja nunca se quis comprometer com um partido democrata-cristão que tivesse dentro dele uma ala liberal. Sempre preferiu que os seus dilectos se juntassem a socialistas e sociais-democratas para melhor poder influenciar o poder. Lembro-me da história de um fundacional secretário-geral do CDS, quando foi à Madeira, nos primeiros dias de Abril, tentar implantar o partido. Segundo ele me contou, o senhor bispo aconselhou-o a regressar ao contenente, para não dividir o rebanho. O bispo tinha razão eleitoral em preferir Alberto João, como se pode concluir. Pena que este não se actualize em termos de Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, nome que, em 1965, recebeu a Congregação do Santo Ofício, designação dada à mais velha e permanente “Congregatio Sanctae Inquisitionis”.
Aliás, Sócrates ainda ontem se propagandeou, inaugurando a subsidiada Obra do Padre Miguel, para dizer que a IVG e as uniões de facto não são directamente proporcionais às IPSS. Por outras palavras, se considero que Manuela Ferreira Leite pode ser efectivamente democrata-cristã, sem ter que ficar condicionada pelos dogmas laicistas, talvez deva distanciar-se dos congregados de muita comunhão e proclamada libertação que andam por aí diabolizando quem não alinha nessas causas e voltam ao armazém dos martelos contra os heréticos, numa espécie de tentativa de estadualização da luta contra os os ortodoxos e os dissidentes. Apenas recordo que, se o autoritarismo diz que quem não é contra mim é a favor de mim, passa a totalitário quando proclama que quem não é por mim é contra mim.
Considero, contudo, um erro crasso acirrar a falta de compreensão histórica entre homens de boa vontade, sejam do humanismo cristão, sejam do humanismo laico, especialmente quando Roma já não usa a excomunhão para os que fazem dupla filiação. Só considera pecado grave para os que o praticam. E deixa totalmente livres de censuras tipos liberais como eu que não fazem parte do rebanho. Os do humanismo que dizem laico são mais permissivos, dado que deixam isso à consciência de cada um.
Se este estúpido ambiente de decadência agravar a demência, não há capacidade de análise politológica para as esquizofrenias. Bastam as análises de costumes sobre os anjos decaídos. É que, para o homem comum, onde a tolerância é o ar que se respira, não estamos divididos entre o atavismo inquisitorial da velha reacção congreganista e o delírio dos pretensos semeadores dos amanhãs que cantam.
O progresso dos declinadores do pretérito perfeito são os computadores, o ensino do inglês, as escolas profissionais, a paridade, o divórcio não litigioso, a IVG, as uniões de facto e as contas-poupança, enquanto os conjugadores do pretérito imperfeito preferem as PME, a baixa de impostos, a suspensão da avaliação dos professores, porque eu sou mulher e divorciada, vou suspender este TGV, apoio Cavaco, porque vetou as uniões de facto, e quero o regresso aos certificados de aforro, suspender o PEC, remunerar os juízes pela produtividade e baixar a taxa social única. Aliás, já o meu vice-presidente esclareceu que não deixo de querer a alta velocidade, a terceira auto-estrada troço a troço. Uso o futuro no condicional e não faço o catálogo panglóssico do presente governo. Não não vou por aí, não subscrevo os bonzos do rotativismo e, muito menos, os endireitas e canhotos que querem coligações à direita e à esquerda do que está, para que tudo fique na mesma, desde que eles sejam ministros.
P.S. Juro que tudo quanto aqui escrevo não tem mesmo nada a ver com o ex-reformador João Gonçalves. Ontem gargalhámos quanto baste ao telefone. Com todas as naturais divergências sobre o maneleirismo e o presidencialismo. Fui ler a seguir as teorias de Jung e os manuais de análise simbólica sobre os contos de fadas e os desenhos animados…

Ago 30

Para alguns, quem não é por mim, é contra mim! Continuo do contra, também contra este contra!

Interrompo o silêncio blogueiro do meu domingo para transcrever o mais recente postal do meu amigo e companheiro de ideias João Gonçalves: Num comentário a outro post, um leitor terá assistido a mais uma das derradeiras exibições televisivas do José Adelino Maltez. Não vi mas as ditas têm-me revelado apenas um “anti-maneleiro” brincalhão. Isto para não dizer mais nada. Sucede que aquele leitor refere que o José Adelino, na tal prestação televisiva, admitiu poder vir a votar no PS. Não é que isso tenha a menor relevância cósmica. Tal, aliás, como o sentido do meu voto. Por outro lado, não deixa de ser curioso ver o José Adelino a votar eventualmente ao lado do “reitor” da sua universidade na qual não consta que tivesse sido particularmente bem tratado nos últimos anos. E, sobretudo, por esse “reitor” em concreto. Todavia, é sempre encantador assistir a estes “momentos perdoa-me”. É o que não vai faltar nos próximos dias. Os leitores deste meu blogue, não precisam que repita os comentários que lhe deixei na caixa de comentários. Mas sempre o deixo: Meu caro João. Calma. Não vá no diz-se que diz-se. Neste caso, há prova, não disse em quem votava, nem o Jamais tem o monopólio do não ao PS. Calma, muita calminha. Não corra atrás de fotografias que não tirei, mas que também foram publicadas no site da Rádio Católica. E não identifique exactamente ao contrário o Reitor da UTL. Convém exactidão, mesmo nas divergências. Que raio, neste país estaremos tão encravados pela bipolarização! Como sempre me manifestei, ninguém duvida do meu combate ao socratismo, mas isso não me obriga a ter que aderir ao conceito de pilares do maneleirismo. Será que ainda vigora o quem não está por mim, está contra mim! É altamente improvável que vote neste PS ou neste PSD. Mas não rejeito poder votar num PS pós-socrático, ou num PSD pós-maneleiro.

Ago 29

O quadrado da hipotenusa

O QUADRADO DA HIPOTENUSA

 

José Adelino Maltez

 

O interessante  acto de teatro de Estado em que o Presidente Cavaco não comentou os comentários sobre o segredo, também de Estado, das improváveis vigilâncias e das eventuais fugas de informação da respectiva casa civil, porque assumiu uma dimensão simbólica, apenas nos permite apenas elogiar a capacidade de encenação manifestada, com tanto rigor técnico. A cena vale mais pelo todo do que pelo texto das palavras expressas, sempre inseríveis noutro contexto. Vale, sobretudo, pelo rito facial de dramatismo. Ora, como salienta Lévi-Strauss,  “os factos sociais são, ao mesmo tempo, coisas e representações” e é o pensamento simbólico que “torna a vida social ao mesmo tempo possível e necessária”, dado que “os símbolos são mais reais do que aquilo que simbolizam”, até porque “o significante precede e determina o significado”. Assim, a razão de Estado da teledemocracia não permite que desviemos as atenções desse ritual político, onde não há factos mas apenas interpretação de factos, dado que, muitas vezes, o que parece, e o que aparece, é o que efectivamente passa a sê-lo. Só os manuais dessa claríssima geometria das angulosidades rectas nos permitem concluir que o quadrado da hipotenusa do actual paralelograma de forças pode ser igual ao quadrado dos catetos que a provocaram, coisa que tanto pode ir do “gato escondido com o rabo de fora” à falta de respeito que as fontes geralmente bem informadas manifestaram pelo actual Estado em figura humana.  Logo, muito atenciosamente, não comentaremos o comentário.

Ago 29

Entrevista ao Expresso

 

- Sem causar grande controvérsia, podemos falar de uma crise na democracia representativa em Portugal: taxas de abstenção elevadas, referendos ineficazes, aumento dos movimentos cívicos e descrença nos partidos políticos ou nos políticos (com alguns exemplos de políticos com processos judiciais em cima a aumentar o problema). Perante isto, como avalia o actual estado da democracia em Portugal? (Identificação dos grandes problemas)

 

A democracia porque não passa de um dever-ser-que-é nunca existiu em nenhum lado e em nenhum e nunca virá a existir. Tal como a justiça, não passa de uma ideia que visa subverter a realidade, em nome de valores, crenças e princípios. Logo, é da essência da democracia a própria crise, como é típico de tudo o que é vida. Porque só não há crise na paz dos cemitérios. Direi que esta democracia, apesar de péssima é o melhor dos regimes que até hoje experimentámos, porque, como dizia Popper, permite que se façam golpes de Estado sem efusão de sangue…

 

- De que forma prevê que esta evolua num futuro próximo?

 

O regime envelheceu, aproximando-se, em quantidade de tempo, do período de vigência do governo de Salazar e, inevitavelmente, começam a notar-se infuncionalidades no sistema representativo, marcado por uma partidocracia que não sabido olear as relações daquilo a que se dá o nome de sociedade civil com o aparelho de Estado. A herança do estadão, de marca absolutista e com a péssima tradição da personalização do poder, começa a sitiar a autenticidade da república, ou da comunidade. O Estado continua um “c’est lui” e não um “c’est nous”, marcado pela falta de autenticidade, dado que há uma grande distância entre os discursos de justificação do ministerialismo e a realidade participativa. Na prática a teoria é outra…

- Os movimentos cívicos parecem ganhar uma força crescente em Portugal. A tendência será para crescerem cada vez mais ou é apenas uma “moda” sem capacidade para se fixar?

 

 

- A crise das ideologias traz uma necessidade de tornar a política mais prática, com respostas concretas a problemas específicos. Como estão os políticos portugueses a responder a esta realidade?

 

Depende do conceito de ideologia. Se falarmos nas ideologias que estão em fase agressiva de conquista da sociedade, isto é, das ideias ainda sem peso social, podermos falar de crise, até porque algumas delas apenas têm como destino a gaveta, quando o partido que as invoca chega ao poder. Se falarmos nas ideologias efectivas que marcam a força da inércia, é possível dizer que há uma que, em Portugal, é tão natural como o ar que se respira: é a do cepticismo pouco entusiasta, de marca utilitária, a que alguns dão o nome de pragmatismo, com algumas pitadas de maquiavelismo da velha razão de Estado, aquela que nos diz que tem razão quem vence e que apela ao paradigma do homem de sucesso. Chamou-se cavaquismo, envelheceu com Manuela Ferreira Leite e é subliminar ao discurso de Sócrates, com algum exibicionismo de autoritarismo de fachada e que leva ao recrudescer dos micro-autoritarismos sub-estatais, onde costuma haver mais papistas do que o próprio pagão invocado que talvez não passe de um tigre de papel

- Neste sentido, acredita que os partidos precisam encontrar uma nova forma de organização?

 

Os partidos são o espelho da nação. Não são causa, são sintoma e consequência e já demonstraram que não conseguem auto-regenerar-se, nomeadamente pela institucionalização do conflito interno, como se demonstra pelos recentes saneamentos de Alegre e de Passos Coelho. Foram construídos do governo para o povo, de cima para baixo, quase actualizando de forma pluralista o modelo salazarento, que instituiu o partido único através de uma formal resolução do conselho de ministros, imitando a fundação d

 

Ago 29

O processo de ministerialização em curso, deste Verão cada vez menos Quente

Joaquim Pina Moura vem considerar que o programa de Manuela é “mais duro e mais focado” do que o de Sócrates. É um documento “clarificador” e “divisor de águas” e tem como base a “assunção de que os recursos são escassos”. Sócrates ainda não comentou Pina. Esperemos por quem será o porta-voz da resposta. Vitalino? João Tiago? Augusto Santos Silva? O ministro do desemprego? Ricardo Salgado? Sugerimos Daniel Proença de Carvalho, dado que tem a mesma origem e também passou pela militância no PS. O processo de ministerialização deste Verão, cada vez menos quente, antes de o ser já o era. A fotografia não é um acaso. É um símbolo desta encruzilhada, onde o texto se tem de integrar no contexto. É tudo um problema de semiótica e de simbiótica. Porque qualquer signo tem sempre um elemento material, dito significante, e um significado. O sinal representa sempre alguma coisa, até o que pode estar por trás dele, implicando, antes, adequada sintaxe e remota semântica.

Ago 28

A razão de Estado da teledemocracia

A razão de Estado da teledemocracia não permite que desviemos as atenções de um ritual político, onde não há factos mas apenas interpretação de factos, dado que, muitas vezes, o que parece, e o que aparece, é o que efectivamente passa a sê-lo. As cenas do teatro de Estado valm mais pelo todo do que pelo texto das palavras expressas, sempre inseríveis noutro contexto. Valem, sobretudo, pelo rito facial de dramatismo. Ora, como salienta Lévi-Strauss,  “os factos sociais são, ao mesmo tempo, coisas e representações” e é o pensamento simbólico que “torna a vida social ao mesmo tempo possível e necessária”, dado que “os símbolos são mais reais do que aquilo que simbolizam”, até porque “o significante precede e determina o significado”.  Só os manuais dessa claríssima geometria das angulosidades rectas nos permitem concluir que o quadrado da hipotenusa do paralelograma de forças pode ser igual ao quadrado dos catetos que a provocaram, coisa que tanto pode ir do “gato escondido com o rabo de fora” à falta de respeito que as fontes geralmente bem informadas manifestaram pelo actual Estado em figura humana.  Logo, muito atenciosamente, não comentaremos o comentário.

Ago 28

Um programa sem portas esconsas, de acordo com a imagem primeira do respectivo “site”

Não sabemos quantos dos trezentos e setenta e nove políticos com direito a subvenção vitalícia estiveram na sala, nem se o programa teve inspirança naquele antigo conselheiro de Estado que guardava documentos numa parte esconsa da sua casa de banho, mas Rui Machete, Vítor Crespo, António Capucho, Deus Pinheiro, Couto dos Santos, Costa Neves, Pacheco Pereira, Fernando Negrão, Guilherme Silva, Graça Carvalho e Maria José Nogueira Pinto eram inequívocos sinais de renovação da pátria e com aquele ar de ministeriáveis com que nos habituaram há décadas. Ainda bem que o Nacional empatou na ex-Leninegrado, porque, como disse o respectivo treinador, quem não tem cão caça com gato e até tiveram que pôr um miúdo, defesa central, a ponta de lança. O Sporting de Soares Franco perdeu. Tal como o Benfica de Valle e Azevedo. Ainda não contrataram o motorista de Pinto da Costa.

O programa, que não teve o “copy & paste” dos habituais sábios, consta, afinal, de sessentas vezes uma folha de A4, sendo de realçar aqueles gongóricos juridicismos que vão “emprestar” ao Estado a justiça, o bem-estar e a segurança, de acordo com as cláusulas gerais de uma qualquer sebenta de introdução ao constitucional. Porque qualquer homem ou mulher de boa vontade que possa ser chamado para uma eventual grande coligação é capaz de subscrever este menos Estado em termos de mensurabilidade quantitativa do aparelhismo. Porque as doutrinas do socialismo democrático, da social-democracia e da doutrina social da Igreja podem ser iluminadas pelos conceitos indeterminados deste caderno-catecismo, onde uns preferem a suspensão de não sei quê, outros, a continuidade disto ou daquilo, enquanto muitos outros continuam nas paragens, à espera de boleia para um qualquer flanco do poder.

Não me parece que a economia seja a rainha das ciências sociais, a não ser para uma qualquer tradução em teologia da modernização pelo neopositivismo de trazer por casa. Temo que a subespécie do contabilismo possa reduzir Portugal a uma qualquer claustrofobia numerológica que efectivamente asfixie a democracia, nomeadamente se a administração da justiça for reduzida a uma régua unidimensionalizante, mesmo que tenha os padrões economicistas da qualidade. O modelo, que já quase destruiu a deontologia da profissão médica e que quer avaliar os professores, vai agora enredar magistrados, para que todos nos integremos nas pautas da chamada classificação dos funcionários públicos.

Mesmo que se venha a falar em corrupção, as palavras não parecem corresponder ao sentido de verdade proclamado, depois de se confundir o preto com o branco e de se sanearem os hereges e dissidentes da fidelidade política da chefia do partido. Para se combater um PS situacionista, em cumplicidade com o devorismo, este partido maneleiro ameaça continuar a ser complacente com uma decadência que nos vai mirrando, até porque lavar as mãos como Pilatos face às práticas anteriores do cavaquistão é especialmente censurável em quem teve hipóteses de se libertar dessas algemas e de ajudar Portugal a fugir desta espiral crepuscular. O cálice da nossa benévola expectativa já há muito transbordou. Basta reparar na fila de bate palmas ministeriáveis que assistia ao evento, comparando-a com os Santos Silva, os Mário Lino e outros que tais. Este país não devia ser para estes velhos, aposentados, reformados ou vitaliciamente subsidiados, com muitas portas esconsas.

Ago 27

Mais uma lamúria de um liberal à antiga contra o Chão da Lagoa e outros benzidos conselheiros do tacticismo maoísta

Os chamados dois principais partidos não querem debate com os pequeninos e parecem que também têm pouca apetência para os confrontos directos. Preferem usar os vários heterónimos que cada um tem, a partir dos respectivos monólogos de palanque. Um varia entre o “gajo porreiro” e o “animal feroz”, a outra entre a directora-geral da contabilidade pública e a ministra da educação que teve como secretário de Estado o actual reitor da universidade de verão do partido. E assim temos uma direita encravada entre os devaneios de Marcelo Rebelo de Sousa e as especulações serôdias de um ou outro fantasma, pelo que só pode continuar a ser a direita mais estúpida do mundo, com a consequente tragicomédia, onde Jardim pede a expulsão de Moita Flores, porque este faz parte de uma listas publicadas de uma ordem onde, no Oriente Eterno, estão pelo menos dois antigos secretários-gerais do mesmo PPD-PSD, para não falarmos em cerca de metade das direcções que não eram influenciadas pelos actuais inquisidores de corredor e de neopidismo de revista para as classes A e B.

Já a esquerda dos socialistas, apesar do vigente presidencialismo de Primeiro Ministro que encavacou o PS, ainda não está suficientemente eucaliptizada. Claro que já não pode invocar que tem como programa uma mistura de Marx, Antero de Quental e António Sérgio, com as bochechas de Soares, os catequistas do Padre Milícias e a praça da canção de Alegre, reciclando, para o pluralismo, os sucessivos blocos de esquerda “radical chic”. Se Guterres ainda os tentou nomear directores-gerais do sistema, ao estilo da recente sondagem feita a Joana A. Dias, eis que Sócrates se ficou pelo modelo “jugular” da sua “new left” de estimação. Mantendo os elogios activistas de Ricardo do BES e de Roque do Banif, bem como as alianças com os construtores de obras públicas à Soares Franco e Jorge Coelho, tudo cheira muito a clientelismo, a consultadoria e a “outsourcing”.

Com o PSD e o PS, mantém-se aquele tradicional “gentleman’s agreement” entre o estadão e as forças vivas, com o aplauso de certa casta bancoburocrática, que sempre gostou da caldeirada feita de socialismo de Estado, a que chamam “cainesianismo”, com o liberalismo a retalho, a que chamam “pragmatismo”, o de meter a ideologia na gaveta. Daí que seja de estranhar a zanga entre os dois irmãos inimigos, quando o PS acusa o PSD de reaccionário e salazarento e vozes do PSD invocam os fantasmas dos pedreiros livres, à José Agostinho de Macedo. Nem o ensaio de causas fracturantes já leva papalvos, muito menos essa mistura que o PS faz entre um candidato do LGBT e outra dos democratas cristão, porque nem esta se parece com a Engenheira Pintalsigo nem o primeiro parece ter o perfil de Zita Seabra, a mudar de opinião sobre a IVG.

É natural que muita gente de boa vontade, da não-esquerda, comece a salientar a coerência obreirista de Jerónimo e de Carvalho da Silva e a enredar-se pelo chique catedrático de Louçã, temendo ex-ministros que nos tragam sobreiros e submarinos. Aliás, com a direita balizada pelos tacticismos maoístas de benzidos conselheiros presidenciais e o PSD, enredado nos modelos disciplinares da velha doença infantil do comunismo, é natural que resulte, deste paralelograma de forças, um discurso de comício de Chão da Lagoa que, certamente, será assumido pela limpeza de sangue e de costumes de Pedro Santana Lopes.

Também me parece que o velho partido liberdadeiro, o PS, não tem a coragem de dizer que ainda gosta de política, contra este fantasma da governação como mercearia de despensa. Por mim, pobre homem de direita, liberal à antiga, radical do centro e tradicionalista, resta-me não saber como, através do voto, rejeitar este situacionismo. Por isso, queria debates, entre os dois grandes e entre todos os grandes e pequenos.

Ago 26

Mais uma independente comissão de nomeação dependente, com benção divina

Os sinais de degradação do Estado a que chegámos continuam a inundar-nos de estilhaços. Depois de há uns anos ter surgido a escandaleira de uma assessora da Procuradoria Geral da República, chegou agora o tempo de um administrador do Supremo Tribunal de Justiça. Por um lado é bom, porque significa que não temos telhamento nestes processos e tudo vem à luz do dia, com os investigadores policiais e judiciários em antecipação ao jornalismo de investigação. Por outro lado revela como neste regime de adjuntos e assessores, no melhor pano cai a nódoa. Entretanto, as parangonas informam-nos que um dos grandes hospitais portugueses, perante um caso revelado pelos jornais e televisões, revela desconfiança face aos processos institucionais normais do recurso ao Provedor de Justiça e aos esquemas normais da velha e central administração da justiça: decide nomear, de cima para baixo, uma dependente comissão dita independente, onde coloca na presidência um mediático juiz no activo, junatamente com um também mediático sacerdote da Igreja Católica.

Todos concordam, eu discordo totalmente, porque assim se vai o princípio da igualdade. E desconfio que possa ir à vida a chamada exclusividade dos juízes públicos. Logo me lembro daqueles magistrados, incluindo sobrejuízes, e também no activo, que ainda há uns anos davam aulas em privadas, mas recebendo apenas pelos chamados direitos de autor… Estranho que o tal serviço público hospitalar não tenha colocado na comissão um alto dignitário da maçonaria, um locutor de televisão e um director de jornal. Se não confiam no aparelho de administração da justiça para o efeito, como podem os homens comuns fazer de outra maneira?

Não me satisfazem estes modelos que juntam magistrados com o carimbo de origem na extrema-esquerda com representantes de D. José Policarpo, esta mistura de memória de activistas de célula com a sacristia. A Senhora Justiça não é canhota nem benzida pelo além. Não passa desse transcendente situado, cujos princípios gerais foram recebidos na Constituição e que, como tal, podem e devem subverter esta anarquia ordenada do situacionismo, desde que os aparelhos institucionais da mesma funcionem. Até criámos um mecanismo de equilíbrio pela equidade, chamado Provedor de Justiça, o qual funcionou muito bem no caso das vítimas do desastre da Ponte de Entre-os-Rios. Magistrados no activo, desviados das respectivas tarefas, apenas nos dizem que não é em “part time” que cumprimos os deveres constitucionais.

Ago 25

Em nome daquela transcendência que se chama humanismo…

Porque sou liberal, à Fernando Pessoa, odeio que artificalmente se criem clivagens entre a esquerda e a direita, ou, pior do que isso, entre laicistas e católicos, em nome de causas transversais, especialmente quando a demagogia pode levar à confusão entre política e religião e ao regresso às teorias da conspiração e da diabolização. Alguns catolaicos ainda estão na era de José dos Santos Cabral, esse que além da proposta de restauração da pena de morte, nos anos trinta do século XX, continuou até à primeira lei do regime do dito Estado Novo, já pleno de polícias secretos querendo extinguir aquilo que pensavam poder ser extinto, dando o primeiro sinal de ódio face àquele conceito de transcendência que se chama humanismo, mas que não pode ser medido por sacramentos, clérigos e dogmas, visando emancipar as consciências e não salvar as almas.

Grão a grão, nos vamos assim amargurando, com o consequente cortejo de intolerância, de fanatismo e de ignorância, tudo misturado com celestiais discursos de defesa do funcionamento regular das instituições. O primeiro passo foi a instrumentalização do fantasma centralista e capitaleiro, que certo neomilitarismo acarinhou com bandeirolas. Agora é a defesa de certos valores que se dizem falsamente conservadores, só porque querem conservar o que está, em vez de quererem salvar o que deve ser, com adequadas saudades de futuro. E ai de quem chame os bois pelos nomes, porque corre o risco de ser diabolizado, com velhos argumentos inquisitoriais, mosquíferos, formigueiros ou bufentos.
Claro que não há fogueiras nem grades, mas continua o sabor amargo da estrela amarela contra a liberdade de consciência, através do arremesso de adjectivações que tentam comprimir a possibilidade do jogo da dialéctiva, da palavra livre posta em discursos de racionalidades finalísticas e axiológicas. Apenas se tenta atirar sobre o adversário o manto do labéu, fugindo do debate das ideias e procurando passar-se, não para o insulto, mas para o carimbo unidimensionalizador, onde deixa de haver a possibilidade de uma troca de razões entre lugares comuns.
Caros amigos, quem saiba o significado da armilar ou da sagração da constituição, neste dia seguinte ao 24 de Agosto, deve ter reparado como há mais de duas décadas consolidei sementes que que vão além do aparente milenarismo e estão bem distantes do fugaz charlatanismo esotérico. Só quem diaboliza posições como a minha, ligando-as ao jacobinismo e não atendendo à nossa tradição regeneradora pode compreender como é difícil avivar a tradição liberal em Portugal. Porque, infelizmente, persiste certo vício congreganista, sempre disposto à denunciação e à perseguição dos heréticos. Não reparam num subsolo especulativo que vai de Fernando Pessoa a Agostinho da Silva e que talvez tenha direito de dizer o que pensa e de viver como pensa, nesta cidade pluralista, onde muitos não estão dispostos a depender de um relatório elaborado pelo Professor Abel de Andrade, ou pela Dedução Cronológica e analítica do velho despotismo ministerial.
A guerra civil de causas fracturantes poderá reavivar o caduco conflito entre política e religião, desenterrando um machado que parecia recoberto com as cinzas do referendo sobre a IVG. São directamente proporcionais aos argumentos extremistas de certos paradigma da defesa dos direitos LGBT, politizando-se um processo que tem mais a ver com a consciência individual do que com a benção decretina de uma qualquer ordem estadual. Porque o ideal conjuntural de uma sociedade, o chamado politicamente correcto, não pode confundir-se com a ordem profunda, apesar de não ser a história que faz o homem, mas o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo. As uniões de facto não são os casamentos de pessoas do mesmo sexo, não são bandeira da esquerda contra as bandeiras de direita e não têm nada a ver com as clivagens entre católicos e não católicos. Ponto final! Prefiro a coligação liberal, a que aderiu o bisavô de Manuela Ferreira Leite! E a ruptura desencadeada pelo avô da mesma senhora…Pessoa começou aí…