Nov 10

O justicialismo está para a administração da justiça, tal como a politiqueirice está para a actividade política

O justicialismo está para a administração da justiça, tal como a politiqueirice está para a actividade política, ou o pretenso moralismo para os fariseus. A medida está naquilo que nos falta: uma moral social, comunitariamente assumida pela autonomia da sociedade civil e pelos seus filhos mais queridos, a liberdade de expressão e a liberdade de pensamento.”

Justiça não se confunde com a constitucional administração da justiça. Que é tão política quanto o poder executivo, ou o legislativo. Aquela tem que aplicar a lei que não é ela que o faz. E acima da lei está o direito, tal como acima do direito está a justiça que, em cada momento, se expressa através dos programas ideológicos dos ideais conjunturais de sociedade, sem encontros imediatos de primeiro grau com a dita.”
Sócrates, político, só poder ser politicamente defendido e atacado. Não deve ser atacado através de uma fuga ao segredo de justiça. Não se pode defender, proclamando que o povo votou e que o povo é quem mais ordena. Há uma teoria pura da política. A que lhe dá o valor justiça como estrela do norte.”
O direito não é a vida, são relações jurídicas, uma simples minoria das relações sociais. E os processos não são o mundo. São teatro de formalismos. É hipócrita pedir a polícias e magistrados que façam moral ou que façam política. Como é igualmente hipócrita que políticos finjam que aquilo que é lícito equivale a um certificado de honestidade.”
Glosando Camus, podemos dizer que, depois da era dos filosófos, poderá ter desaparecido a filosofia, apesar de tantos professores de filosofia, desses que apenas ficham o pensamento pensado, sem qualquer resto de pensar, e até do pensamento pensante. Agora chegou a vez dos gestores que não sabem gerir, com maus exemplos nos públicos e nos ditos privados, enfilosofando-nos em sermões”
Em vez do hipócrita Frei Tomás, desse que vai pregando sem o fazer, prefiro mesmo o São Tomás que foi sempre teólogo e papista. Estou farto dos Tomásios que não são Américos só porque não foram Reverendos. O estado a que chegámos são eles. Os mexilhões são os mesmos.”

Nov 10

A outra sucata, diante da Feira da Ladra

Fui atingido por muitos restos de betão com que os Cias e os Kgbs desfizeram a obra erigida. Quem manda hoje nas subempreitadas globais são antigos empregados das gavetas desses jogadores. Não passam de feitores dos novos ricos que engordaram na mudança, escolhendo o patrão certo, neste neofeudalismo na anarquia ordenada, onde ninguém sabe mobilizar as sementes da revolta. Diante de duas pedras inaugurais de um edifício público, ou das comemorações de um aniversário qualquer, de uma outra inauguração, com nomes deste e doutro primeiro e dos pequenos primeiros que com ele comem, e comeram, à mesa do orçamento, apenas recordo António Sérgio e a diferença que ele dizia ir dos calhaus mortos às pedras vivas, mesmo que sejam pedaços de um muro…Como não estou a falar de pedras simbólicas nem das ralações que misturam, primeiro indirectamente, e agora já mais directamente, um segundo partido parlamentar lusitano com a sucata, apenas me é dado concluir que muitas mais minas e armadilhas vão enredar as poses de estadão e de oposição do sistema. O tal que vai sendo cada vez mais coveiro do regime. Logo, prefiro reler “A Crise da República e a Ditadura Militar” dos Luís Bigotte Chorão, uma dissertação de doutoramento, apresentada em Coimbra que agora vai ser publicada em letra de livro, no próximo dia 15 de Dezembro. Será, muito simbolicamente, no Tribunal de Santa Clara, diante da Feira da Ladra.