Dez 30

Uma dúzia de breves princípios fundacionais para combate de concepções do mundo e da vida

30.12.09

1
Balanços do ano, balanços da década, profecias do que há-de vir e tudo ao ritmo dessa hiper-informação que não informa, com notícias históricas de hora a hora, semanários políticos de fim-de-semana e revistas cor-de-rosa, para colorirmos o que é cinzento…

2
De uma coisa tenho a certeza: tudo vai continuar como dantes, neste mais do mesmo de uma decadência que, entre nós, costuma durar décadas, quando apenas se vislumbram causas externas de crises financeiras e políticas, mas onde só existe aquilo que se pode medir em quantidades e gráficos, quando o problema é espiritual e metafísico, porque só por dentro das coisas é que as coisas realmente são.

3
Penúltimo dia do ano a que chegámos, com menos desdivinização e mais desencantamento, naquilo que alguns continuam a qualificar como choque de civilizações, só porque temem peregrinar pelas próprias origens. Chegariam à conclusão que não é a história, progressista ou reaccionária, que faz o homem, mas o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo…

4
O pensamento politicamente correcto deste último meio século sempre disse que caminhávamos para um fim da história, como muitos amanhãs cantando, em nome da revolução ou da contra-revolução. Os respectivos sucedâneos preferem o planeamentismo e dão-lhe hoje o novo nome de investimento público. Por mim, continuo a rejeitar o construtivismo…

5
A história é um ditadura de factos, de fenómenos resultantes da acção do homem concreto, gerando-se sucessivas ordens comandadas por uma espécie de mão invisível, onde o homem através de meios não desejados por ele, nem projectados por ninguém, é levado a promover resultados que, de maneira nenhuma, fazem parte das suas intenções.
6
Os detentores do poder são completamente indiferentes ao bem estar ou ao mal estar dos que não têm poder, excepto na medida em que os seus actos são condicionados pelo medo

7
Os princípios são o eixo da roda da mudança, pelo que, alterando-se a matéria, terão de variar as consequências que deles podem extrair-se.

8
Para um veículo avançar no caminho que o seu condutor determinou, tem que andar sobre rodas que monotonamente giram sempre em torno de tal eixo.

9
Não é por acaso que a roda é o símbolo antigo da corrente do devir, do círculo da geração. Tem um centro imóvel, um eixo, símbolo da estabilidade espiritual, mas movimenta-se, apesar de o eixo se manter íntegro, porque representa a permanência de certos valores.

10
O verdadeiro liberal é, por natureza, um reformador social, o paladino do humilde explorado e o adversário de todos os altos interesses dominantes e predatórios

11
Os capitalistas não são os únicos a terem privilégios egoístas e predatórios; o operariado bem organizado, abrangendo muitos milhões de trabalhadores, pode também ser predatório e perigoso ao bem-estar comum

12
Repetindo: o verdadeiro liberal nunca diz isto é verdade, apenas sendo levado a pensar que, nas circunstâncias actuais, este ponto de vista é provavelmente o melhor.

Os últimos oito parágrafos são mistura de citações: Tocqueville, Toynbee, Russell, Hill Green, Ferguson, Smith e Hayek. Já nem sei distingui-los de mim mesmo. Uma questão de fé na aventura da liberdade, contra os revolucionários frustrados que nos reaccionarizam, neste caminho para a servidão…

posted by JAM | 12/30/2009 11:03:00 AM

Dez 30

Princípios. Decadência

Balanços do ano, balanços da década, profecias do que há-de vir e tudo ao ritmo dessa hiperinformação que não informa, com notícias históricas, de meia em meia hora, semanários políticos de fim-de-semana e revistas cor-de-rosa, para colorirmos o que é cinzento… De uma coisa tenho a certeza: tudo vai continuar como dantes, neste mais do mesmo de uma decadência que, entre nós, costuma durar décadas, quando apenas se vislumbram causas externas de crises financeiras e políticas, mas onde só existe aquilo que se pode medir em quantidades e gráficos, quando o problema é espiritual e metafísico, porque só por dentro das coisas é que as coisas realmente são. Eis que chegámos, com menos desdivinização e mais desencantamento, àquilo que alguns continuam a qualificar como choque de civilizações, só porque temem peregrinar pelas próprias origens. Quando importa concluir que não é a história, progressista ou reaccionária, que faz o homem, mas o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo… O pensamento politicamente correcto deste último meio século sempre disse que caminhávamos para um fim da história, como muitos amanhãs cantando, em nome da revolução ou da contra-revolução. Os respectivos sucedâneos preferem o planeamentismo e dão-lhe hoje o novo nome de investimento público. Por mim, continuo a rejeitar o construtivismo… A história é um ditadura de factos, de fenómenos resultantes da acção do homem concreto, gerando-se sucessivas ordens comandadas por uma espécie de mão invisível, onde o homem através de meios não desejados por ele, nem projectados por ninguém, é levado a promover resultados que, de maneira nenhuma, fazem parte das suas intenções. Os detentores do poder são completamente indiferentes ao bem estar ou ao mal estar dos que não têm poder, excepto na medida em que os seus actos são condicionados pelo medo. Os princípios são o eixo da roda da mudança, pelo que, alterando-se a matéria, terão de variar as consequências que deles podem extrair-se. Para um veículo avançar no caminho que o seu condutor determinou, tem que andar sobre rodas que monotonamente giram sempre em torno de tal eixo. Não é por acaso que a roda é o símbolo antigo da corrente do devir, do círculo da geração. Tem um centro imóvel, um eixo, símbolo da estabilidade espiritual, mas movimenta-se, apesar de o eixo se manter íntegro, porque representa a permanência de certos valores. O verdadeiro liberal é, por natureza, um reformador social, o paladino do humilde explorado e o adversário de todos os altos interesses dominantes e predatórios. Os capitalistas não são os únicos a terem privilégios egoístas e predatórios; o operariado bem organizado, abrangendo muitos milhões de trabalhadores, pode também ser predatório e perigoso ao bem-estar comum. Repetindo: o verdadeiro liberal nunca diz isto é verdade, apenas sendo levado a pensar que, nas circunstâncias actuais, este ponto de vista é provavelmente o melhor. Os últimos oito períodos são mistura de citações: Tocqueville, Toynbee, Russell, Hill Green, Ferguson, Smith e Hayek. Já nem sei distingui-los de mim mesmo. Uma questão de fé na aventura da liberdade, contra os revolucionários frustrados que nos reaccionarizam, neste caminho para a servidão…

Dez 29

Presidenciais

Em 2011 há eleições presidenciais, pelo que é de esperar que as candidaturas apareçam em 2010. O cenário de confronto entre Cavaco Silva e Manuel Alegre é o mais provável?

 

O cenário dos presidenciáveis, pode ser a melhor demonstração de que, em muitos cargos electivos, o colégio eleitoral é previamente controlado pelos que podem lançar os nomes dos plebiscitáveis ao povo. Por outras palavras, no ano de 2010 vão jogar os influentes que querem nomear Alegre como candidato do povo de esquerda, procurando reduzir Cavaco à resistência do chamado povo de direita e colocando o situacionismo do PS entre o martelo e a bigorna, porque, em qualquer dos casos fica entalado… Isto é, vivemos num sistema bem mais gravoso do que o censitário, dado que há uma colecção de elegíveis, definidos pelos restritos electivos que os previamente eleitos nomeiam, para que, de eleitos, passem a elites que nada têm a ver com o mérito.Porque o essencial do poder conquistado (o estadão a que se chegou) é o mesmo procurar manter-se, com muita música celestial disfarçando o “apartheid”. Quem diz organização, diz necessariamente oligarquia, isto é, a degenerescência da aristocracia, e na véspera do cesarismo.

Dez 28

Mestres-pensadores e engenheiros de conceitos, da cor do burro quando foge…

Há uma geração lusitana que se sente órfã, desde que acabaram os manuais de Organização Política e Administração Nacional (OPAN) dos dois últimos anos do ensino pré-universitário, dos tempos do livro único, e que geraram, por reacção, os mestres-pensadores das extremas, esquerdas e direitas, que agora vão escrevendo memórias…

Não faltam sequer os organizadores dos compêndios de doutrinas sociais e ideologias políticas, onde os plagiadores e filósofos da traição nos encarquilharam, para que os sobrinhos e afilhados os copiassem em argumentários pseudo-revolucionários, passados a “stencil”, todos se irmanando na procura dos ontens que mandam, disfarçados de amanhãs que cantam…

Política sem metapolítica é um vazio de alma que qualquer engenheiro de conceitos consegue transformar em falso sistema fechado, e reduzir a um manual de planejamento estratégico, para que apareça um general de alcatifa, ou um catedrático de espiões, invocando o Ocidente, a luta contra o terrorismo, ou o Estado de Segurança Nacional…

Há uma legião carreirista de idiotas úteis que procuram o conforto do posto de vencimento nessas zonas putrefactas da subsidiologia estatista, da universidade acrítica e do negocismo corrupto… Eles adoram teorias da conspiração e já vislumbram nigerianos de turbante em cada banco do avião…

O que resta da presente república dos portugueses continua a ser arrastado por cadáveres adiados que um quarto de hora antes de morrerem continuam emitindo arrotos de música celestial. E ninguém os denuncia como sepulcrais calhaus pintados da cor do burro quando foge, isto é, do pensamento dominante, à Júlio Dantas, em épocas de decadência…

Dez 28

Manuais de Organização Política e Administração Nacional

Há uma geração lusitana que se sente órfã, desde que acabaram os manuais de Organização Política e Administração Nacional (OPAN) dos dois últimos anos do ensino pré-universitário, dos tempos do livro único, e que geraram, por reacção, os mestres-pensadores das extremas, esquerdas e direitas, que agora vão escrevendo memórias… Não faltam sequer os organizadores dos compêndios de doutrinas sociais e ideologias políticas, onde os plagiadores e filósofos da traição nos encarquilharam, para que os sobrinhos e afilhados os copiassem em argumentários pseudo-revolucionários, passados a “stencil”, todos se irmanando na procura dos ontens que mandam, disfarçados de amanhãs que cantam… Política sem metapolítica é um vazio de alma que qualquer engenheiro de conceitos consegue transformar em falso sistema fechado, e reduzir a um manual de planejamento estratégico, para que apareça um general de alcatifa, ou um catedrático de espiões, invocando o Ocidente, a luta contra o terrorismo, ou o Estado de Segurança Nacional… Há uma legião carreirista de idiotas úteis que procuram o conforto do posto de vencimento nessas zonas putrefactas da subsidiologia estatista, da universidade acrítica e do negocismo corrupto… Eles adoram teorias da conspiração e já vislumbram nigerianos de turbante em cada banco do avião… O que resta da presente república dos portugueses continua a ser arrastado por cadáveres adiados que um quarto de hora antes de morrerem continuam emitindo arrotos de música celestial. E ninguém os denuncia como sepulcrais calhaus pintados da cor do burro quando foge, isto é, do pensamento dominante, à Júlio Dantas, em épocas de decadência…

Dez 25

Untitled

A metafísica não é monopólio de nenhuma religião revelada. Por isso vou reler esse magnífico livro de José Régio, “Confissões de um Homem Religioso”…

Por mim, sou crente, isto é, não sou ateu nem agnóstico. Só que crenças sempre houve muitas, até as dos que acreditam que pode haver pluralismo entre a unicidade absoluta, que está lá em em cima, e a divergência da vida e da historicidade, que está cá em baixo, entre o macrocosmos e o microcosmos que o pretende imitar pela ascensão mística da conversão…

Quando a Igreja de Roma optou por antedatar o dia tradicional de Natal, colocando-o por cima do solstício, não o fez por mero oportunismo. Seria também injusto monopolizá-lo com um banal fundamentalismo. Unir essa religião revelada com os mistérios antigos é convergir em universalismo!

Os símbolos cristãos da natividade e da imaculada concepção, quando deixam a rotina da liturgia, assumem aquela dimensão poética de uma infância que pode dar além, mesmo para os que não são crentes do povo encabeçado pelo Santo Padre. Este estes e os ateus e os agnósticos, há um largo espaço de complexidade

Dez 25

Um novo Buda está a ser desenterrado no Afeganistão

Um novo Buda está a ser desenterrado no Afeganistão. A bomba dos talibãs tem nova resposta dos mistérios antigos. Não tardará que se confirme: afinal o Buda foi copiado do deus grego Apolo. Afinal, todas as civilizações universais são filosoficamente contemporâneas. Viva o fundador do abraço armilar: Alexandre o Grande! Alexandre, Alexandria, Mediterrâneo, Persas que deram aos Árabes a Al-Kimiya e essa mistura de estoicismo e neoplatonismo que provocou Camões e o nosso Renascimento manuelino, contra o dualismo do corpo e do espírito, nessa arte que procura a eternidade contra os dualismos, em nome do “ora et labora”, de que resultou Newton e a ciência inteira… Os símbolos cristãos da natividade e da imaculada concepção, quando deixam a rotina da liturgia, assumem aquela dimensão poética de uma infância que pode dar além, mesmo para os que não são crentes do povo encabeçado pelo Santo Padre. Este estes e os ateus e os agnósticos, há um largo espaço de complexidade, insusceptível da tenaz de certo discurso maniqueísta. Mas todos podem ser homens de boa vontade! Quando a Igreja de Roma optou por antedatar o dia tradicional de Natal, colocando-o por cima do solstício, não o fez por mero oportunismo. Seria também injusto monopolizá-lo com um banal fundamentalismo. Unir essa religião revelada com os mistérios antigos é convergir em universalismo! Por mim, sou crente, isto é, não sou ateu nem agnóstico. Só que crenças sempre houve muitas, até as dos que acreditam que pode haver pluralismo entre a unicidade absoluta, que está lá em em cima, e a divergência da vida e da historicidade, que está cá em baixo, entre o macrocosmos e o microcosmos que o pretende imitar pela ascensão mística da conversão… A metafísica não é monopólio de nenhuma religião revelada. Por isso vou reler esse magnífico livro de José Régio, “Confissões dum Homem Religioso”…

Dez 22

E tudo o vento vai levando, neste cantinho de moinhos decepados

Partido onde não há votos, todos ralham e ninguém tem razão. Dizia-se do CDS freitista: “um grupo de amigos que cordiamente se odeiam”. Repete agora Santana sobre o PSD é “uma federação de pessoas que se detestam”. É tudo um problema de fome.

Foi, portanto, penoso ver, ontem, a Drª Manela, armada em Sancho Pança, num discurso para telejornal, não perceber o que ela própria tinha escrito, quando atingia o clímax comunicativo.

Foi, aliás, directamente proporcional ao discurso de Sócrates, no mesmo palácio dos jantares de Natal, numa caricatura de Quixote, elogiando Sérgio Sousa Pinto e Ricardo Rodrigues.

Todos eles são combativos. Pena que faltem moinhos, com tanto ventania…

Hoje foi Sócrates II, na casa da democracia, fazendo má propaganda. Porque a boa propaganda é aquela propaganda que não parece propaganda. Temo que, entre os situacionismos e as oposições, continuem a faltar lugares comuns e sem estes não pode haver diálogo. Temo que os adversários se transformem em inimigos…

Dez 22

Domingo, entrevista

Perfil:

 

Assume-se da direita, porque é liberal à antiga, mas pensa ser um desencantado, sempre aliado aos sonhadores activos de todos os quadrantes, desses que querem viver como pensam, com saudades do futuro. Por isso, ainda tem esperança na politica embora a exerça fora do sistema das pressões das forças vivas e do conservadorismo da partidocracia. Peretence à antiquíssima academia dos homens livres e só por acaso está no circuito das honrarias univiversitárias, mobilizando-se bem mais pelo abraço armilar da lusofonia, esse caminho de afectos para a  urgente república universal.


1 -Acredita que o governo de José Sócrates vai resistir aos “ataques” das oposições e sobreviver a 2010, apesar da minoria parlamentar?

 

Sócrates pode resistir tanto como António Maria da Silva, dado que os instrumentos de controlo social da presente ditadura da incompetência, ainda tem suficientes recursos para que continue a teatrocracia de endireitas contra canhotos, para que os bonzos finjam que o rotativismo devorista permaneça. Quando, entre eles, se trocam qualificações como “inimputável”, “palhaço”, “vendido”, “esquizofrénico”, “aldrabice”, “trafulhice”, “tropa-fandanga”, “burrice”, eles apenas confirmam que o o Estado são eles. Vale-nos que temos um povo com brandos costumes, mas que, sem ser por acaso, é o que mais assassinou figuras cimeiras do Estado no século XX. Temam a revolta dos mansos!  Contrapartidas de armamento, trocas do BPN, afundações, baldrocas do BCP, sucatas e escutas, é, o grão a grão, com que se vai enchendo o papo. Não o da revolta. Não o da indiferença. Mas o do desprezo.

 

2 – É de esperar que algum partido da Oposição apresente uma moção de censura ao Governo? Qual he parece ser o partido mais disposto a avançar com uma iniciativa desse género?

 

O sinal dado pelo bolinho de mel do jardim madeirense em São Bento, se é menos do que um queijo limiano, pode ameaçar a funcionalidade da confraria do azeite porteira. Até o PS já concluiu que a democracia pode funcionar com o apoio do que apodava como défice democrático. A velha raposa de Alberto João, apesar de continuar a dizer que é perseguido por certa maçonaria internacional, tornou-se lebre….

 

3 – A acontecer um cenário de queda do actual Governo, como acha que os eleitores vão reagir?

Julgo que se vive uma espécie de degenerescência íntima do regime, naquilo que qualifico como privatização clandestina dos antigos serviços públicos, pela sublimação da velha engenharia feudal da cunha, destruidora da meritocracia. E tenho a consciência que alguém assumir um programa anti-estatista em Portugal, onde há quase um quinto do eleitorado a votar PCP e BE, como um enorme centrão socialista e social-democrata e um PP pouco liberal, será mera voz que clama num deserto de utopias intervencionistas que são a principal causa de sucessivas derrotas dos portugueses…

 

4 -  No PSD discute-se a liderança. É de esperar que o próximo líder consiga pôr o partido a falar a uma só voz, ou vamos continuar a ver o PSD dividido, continuando os ataques ao líder a ser a regra?

O PSD enredou-se na função de ser outra face da mesma moeda do rotativismo devorista. Aqui e agora, o situacionismo dos vários estados a que chegámos, sobretudo o dos micro-autoritarismos sub-estatais, já não teme esse tipo de opositores, os tais que podem tornar-se convivas da alternância na gamela. Apenas odeia os dissidentes que não se transformam na oposição que lhes convém e que não se confundem com os tradicionais inimigos da democracia. Apenas desejava que o partido de Sá Carneiro retomasse a sua pulsão libertacionista dos tempos da fundação.

 

5 – Educação e Justiça têm sido, nos últimos anos, as pastas mais sensíveis da governação. Que novidades podemos esperar nestas áreas durante o próximo ano?

Apenas recordo um Mouzinho da Silveira que, ainda no Porto, em plena guerra de pedristas contra miguelistas, logo se demitiu da pasta da fazenda, quando resistiu ao oportunismo das expropriações, a velha tentação absolutista, a que continuam a dar o nome de Estado… Aliás, quando acusam os liberais de anti-estatismo, esquecem que quem edificou o Estado Contemporâneo foram as revoluções liberais. E o nosso resultou do programa de Mouzinho da Silveira, quando centralizou os impostos que o povo sempre pagou, mas que no “Ancien-Régime” eram desviados para o clero e a nobreza, ordens às quais cabia as políticas de educação, saúde, defesa e segurança! Por mim, continuo a dizer que quanto mais estatismo, mais corrupção! Sobretudo quando surge o Estado-Empresário que se transforma em patrão, tanto através de “empresas públicas”, como de “empresas de regime”. Mesmo nos ditos países nórdicos da Europa, se há um robusto Estado-Companhia de Seguros, não há nenhuma tentação de intervencionismo na economia… Por outras palavras, o direito não é a vida. O direito vigente são meras relações jurídicas, isto é, uma minoria das relações sociais. Logo, nem tudo o que é lícito é honesto e a licitude nem sequer corresponde a um mínimo ético. Porque a moral  e o direito não são círculos concêntricos, apenas coincidem nalguns segmentos. Hoje foram totalmente confundidos pela teledemocracia.

 

6 – Em 2011 há eleições presidenciais, pelo que é de esperar que as candidaturas apareçam em 2010. O cenário de confronto entre Cavaco Silva e Manuel Alegre é o mais provável?

Hoje não há nomeações, mas eleições. Só que, em muitos cargos electivos, o colégio eleitoral é substituído pelos que podem lançar os nomes dos plebiscitáveis ao povo, isto é, vivemos num sistema bem mais gravoso do que o censitário, dado ser uma colecção de elegíveis, definidos pelos restritos electivos que os previamente eleitos nomeiam, para que, de eleitos, passem a elites que nada têm a ver com o mérito.Porque o essencial do poder conquistado (o estadão a que se chegou) é o mesmo procurar manter-se, com muita música celestial disfarçando o “apartheid”. Quem diz organização, diz necessariamente oligarquia, isto é, a degenerescência da aristocracia, e na véspera do cesarismo.

 

7 -  Em 2009, a relação entre Cavaco Silva e José Sócrates foi marcada por várias polémicas e desentendimentos públicos. O que podemos esperar do entendimento entre o Presidente da República e o primeiro-ministro?

Pouco interessa esse teatro de indícios que alimenta comentadores e analistas, como o tenho sido. O importante, em Portugal, não é ser ministro, é tê-lo sido. Sobretudo, quando ainda se têm colegas no poleiro. Sempre podem ser um importante elemento de consultadoria e pressão, por causa dos meandros da mesa do orçamento. E, entre um grupo empresarial de obras públicas e um estabelecimento de ensino, pouca é a diferença de pecado, na privatização já não clandestina do que deveria ser público.

 

8 -  Com o desemprego a pressionar as despesas do Estado e o défice das contas públicas em aparente descontrolo, será possível ao Governo manter a promessa de não aumentar mais impostos?

 

Quando os jornais, no século XIX, substituíram o púlpito, dizia-se que conquistar o poder era conquistar a palavra. Desde Kennedy que entrámos em mediacracia mais videopoderosa. Política já não é apenas o que parece, mas a percepção do homem comum sobre o que aparece e que pode não ser o que é previamente ensaiado pelas agências de comunicação. Por outras palavras, se é inevitável o realismo de quebra do ciclo do endividamento, com medidas drásticas, temo que continuemos a música celestial de mais “imagem, sondagem e sacanagem”.

 

9 – Quais são, no seu entender, os temas que mais vão marcar o debate politico em 2010?

Anda tudo irascível, sempre à procura do adjectivo demoníaco que dê uma desculpa para ninguém dialogar com o adversário. Todos parecem carecer daquela ciência certa do ideologismo e daquele poder absoluto que adora pisar o opositor com um insulto. Será que o novo D. Sebastião não passa de um contabilista que se assuma como disciplinador externo? Alcácer-Quibir ainda nos mata. Depois do “sebastianismo científico”, o do esquerdismo marxiano ou fascitóide, e do sebastianismo merceeiro, o da ditadura das finanças, há muitos que anseiam por um qualquer invasor suave que nos traga “a bela ordem”, sobretudo se ele chamar “libertação” à efectiva ocupação heterónoma das coisas e das mentes.

 

10 – A aprovação do tratado de Lisboa abriu lugar a várias mudanças na União Europeia. O que é que podemos esperar de diferente?

O sonho de sempre, uma Europa, nação de nações, sem um super-Estado, mas com uma democracia de muitas democracias. O resto é saber se o Sarkosy sai do eixo e passa a preferir Londres a Berlim, de acordo com o ritmo da nova “Weltpolitik” de Washington…

 

11 – A discussão sobre a regionalização está de volta ao debate politico. Haverá, desta vez, condições para se fazer uma reforma administrativa desta natureza?

 

Não sou socialista nem social-democrata, logo quero menos “Estados”, mais sociedade e mais autonomia dos cidadãos, enquanto indivíduos, porque importa reinventar o aparelhismo, para deixarmos de ter os “donos” do costume

Essa abstracção chamada Estado passou a ser a medida de todas as coisas e ai de quem diz que devemos ter menos aparelho de Estado na economia e na sociedade, sobretudo quando já não há apenas o Estado português a que chegámos, mas um “Leviathan” plural, desde a União Europeia ao modelo de globalização da hierarquia das potências…

 

12 – Em relação à sua vida pessoal e profissional , que projectos tem para 2010?

 

Acabar o livro dito científico que tenho em conclusão e voltar ao livro de poesia que está quase em ritmo de unidade de sonho. Isto é, continuar o programa de viver como penso, mesmo que venha a ser, mais uma vez, punido pelas máquinas do respeitinho. Tenho péssimas relações com o poder quando ele entra em ilusão revolucionária ou em decadência situacionista…O essencial da nossa permanecente crise é, como dizia Sérgio Buarque de Holanda, a grande dificuldade de adaptação às virtudes do cálculo que estão na base dos formais planeamentismos colectivos, esquecendo a procura do paraíso pelos homens concretos, com aventura e pragmatismo… O nosso individualismo tem a ver com a aventura, pela visão de um Paraíso, misto de riqueza mundanal e beatitude celeste. Quando somos criativos e imaginativos como povo, não costumamos rimar com comemorativismos nem com subsidiologia…

 

PS – A entrevista inclui o pequeno perfil do entrevistado, pelo que lhe peço que indique a sua idade e projectos profissionais em que participa neste momento, para além da docência no ISCSP

 

 

Dez 21

Mais aventura e mais pragmatismo, para sonhadores activos

Não salvámos o mundo em Copenhaga, Obama não foi o anjo do Quinto Império, e Deus não fez milagre, como dizia o presidente Lula. A próxima cimeira será no México, onde o aquecimento poluidor é mais sentido. Se tivermos menos mania das grandezas e soubermos distinguir clima de poluição, poderemos evitar o estrondo de tratados com sabor a concertos do novo Maio 68. Grão a grão, a república universal pode vencer!

Continuam os restos comemorativos dos dez anos de passagem da bandeira em Macau. Noto as televisivas intervenções do macaense presidente do Instituto Internacional de Macau e do goês presidente do Instituto do Oriente. Tudo palavras do habitual sincrético do chamado luso-orientalismo, ressaltando-se o “time is money”.

Prefiro reler Jorge Dias e Sérgio Buarque de Hollanda. O primeiro diz que o sonhador activo, que marca o carácter nacional é o exacto contrário do tal “time is money”. O segundo diz que o nosso individualismo tem a ver com a aventura, pela visão de um Paraíso, misto de riqueza mundanal e beatitude celeste. Não costumamos rimar com comemorativismo e subsidiologia.

Sérgio Buarque (na imagem), o pai do Xico que queria desaguar no Tejo e dizia que a festa era linda, bem reconheceu o essencial da nossa permanecente crise: a grande dificuldade de adaptação às virtudes do cálculo que estão na base do espírito da globalização apátrida. Nunca funcionámos com planos colectivos, mas apenas com a procura do paraíso pelos homens concretos, com aventura e pragmatismo…